1. Externa:
. o
travesseiro para costurar;
. a
touca;
.
os véus.
2. Retrato social: Inês é uma jovem
pertencente à pequena burguesia.
3. Linguagem:
.
trocista;
.
crítica;
.
revoltada;
.
irónica;
.
mordaz.
4. Psicológica:
1. Solteira:
. é
ociosa e preguiçosa (“finge que está lavrando”), detesta a costura e despreza a
vida rústica do campo;
. o
seu quotidiano é monótono e entediante: costura, borda e fia;
.
vive descontente, revoltada e insatisfeita com a sua vida: aborrecida e
enfadada com as tarefas domésticas; presa, fechada e confinada à casa;
impossibilitada de se divertir como as jovens da sua idade e sem liberdade;
. é
alegre, quer sair de casa e divertir-se, mas é contrariada pela mãe;
. é
ambiciosa, sonhadora e idealista, anseia casar-se com um homem que, ainda que
pobre, seja “avisado” (isto é, discreto), sensato, meigo e saiba cantar e tocar
viola (características do homem de corte), para fugir à vida que tem, viver
alegre e livre e ascender socialmente;
.
julga que, sendo “aguçosa” (delicada), não lhe será difícil arranjar marido e
casar;
. a
carta que Pêro Marques envia não lhe agrada; considera-o um “vilão” disparatado
e simplório;
. insensível
e cruel, troça e desdenha de Pêro Marques quando este a visita e rejeita-o, por
o considerar rústico, simplório, um “vilãozinho”
que não corresponde ao seu modelo de marido;
.
leviana e pretensiosa, por considerar que Pêro Marques é antiquado por não se
aproveitar do facto de estar sozinho com ela
. segundo
a sua conceção, o casamento faz-se por amor e é sinónimo de libertação (do
“cativeiro” da vida de solteira e da sujeição à mãe), daí que deseje um homem
sensato, meigo e com dotes musicais; os bens materiais não são necessários.
2. Casada e viúva:
.
casa com Brás da Mata, o Escudeiro (homem que parece corresponder às suas
exigências e constituir o meio de emancipação e de ascensão social), sem saber
que ele é pobre e interesseiro;
.
fica a viver em casa da mãe, que se retira para viver num casebre;
. é
infeliz, pois o marido não a deixa cantar e prende-a em casa:
-
reclusão em casa;
- falta de contacto com o exterior e com
outras pessoas;
- absoluta submissão aos ditames do marido;
- entrega ao trabalho;
.
fica sozinha, vigiada pelo Moço, quando o seu marido vai para Marrocos lutar
contra os mouros, o que revela o seu estatuto social desfavorecido;
.
mostra-se revoltada com a sua situação e conclui que foi imprudente na escolha
do marido, arrependendo-se por não ter optado por um pretendente mais dócil;
.
reconhece, num momento de autocrítica, que errou ao rejeitar Pêro Marques e ao
casar-se com o Escudeiro;
.
deseja a morte do marido e jura que se casará uma segunda vez com um marido que
seja submisso, para gozar a vida e se vingar das provações sofridas enquanto
foi casada com Brás da Mata;
.
não se comove com a morte do marido, pelo contrário, sente-se alegre e livre;
. é
hipócrita, fingida e dissimulada (quando é visitado por Lianor) ao chorar pelo
marido morto e ao dizer que está triste, simulando dor e luto;
.
reconhece que a experiência de vida ensina mais do que os mestres (o saber
livresco, teórico: “Sobre quantos mestres são / experiência dá lição”): o
casamento com o Escudeiro ensinou-lhe o engano dos seus ideais;
. o
casamento com o Escudeiro altera o seu conceito de “libertação”:
-
inicialmente: sinónimo de casamento com um homem da corte, discreto;
- após o casamento: consciência de que o
matrimónio pode ser sinónimo de cativeiro e subjugação;
- após a notícia da morte do Escudeiro:
opção por um “muito manso marido” como forma de emancipação / libertação.
3. Casada em segundas
núpcias:
. materialista,
pragmática e calculista, decide casar-se com Pêro Marques (pois este é abastado
e ingénuo e tem consciência de que se lhe imporá e ultrapassará, com este
casamento, as limitações da sua condição de mulher);
.
casada com Pêro Marques, ganha a autonomia que sempre desejou, a ascendência
sobre o marido e a liberdade que lhe permite ter um amante, num contraste claro
com o encerramento em casa e a opressão de que era vítima às mãos do
Escudeiro);
.
canta e, livre, sai de casa com o consentimento do marido;
.
tem o hábito de dar esmola ao Ermitão de Cupido;
.
inicialmente, não reconhece o Ermitão como um apaixonado do seu passado, mas
acaba por cometer adultério com ele;
.
abusa da ingenuidade do segundo marido e pede-lhe para a acompanhar à ermida,
para um encontro amoroso com o Ermitão;
.
adúltera, trai o marido com o Ermitão (“Corregê vós esses véus / e ponde-vos em
feição.” – Inês vem descomposta porque teve um encontro com o religioso).
Inês participa simultaneamente da
natureza de personagem plana (tipo
de rapariga fantasiosa e leviana) e modelada (carácter).
Podemos considerar que a sua
caracterização contempla três fases:
. enquanto solteira é alegre, amiga de viver à
sua vontade, mas preguiçosa, pensando somente em casar e contentando-se com um
marido “pobre e pelado” e que saiba “tanger viola”, cantar e falar bem;
. após ter
recusado Pêro Marques, que insulta com nomes bastante ofensivos, casa com o Escudeiro, mas a sua vida
modifica-se para pior, passando a viver como uma reclusa;
. quando o
marido morre em Arzila, fica de novo livre, desta feita para casar com Pêro Marques, o “asno” que a leva.
A Inês da parte final demonstra, por um lado, ter evoluído em relação ao
início, sendo mais materialista, pragmática e calculista (abandonou a fantasia
e aprendeu a lição da experiência); por outro lado, quando decide visitar o
Ermitão, seu antigo pretendente, deparamos com a mesma Inês leviana e pouco
consciente.