Português

sábado, 8 de julho de 2023

Caracterização do Sapo Cururu

    O Sapo Cururu é o companheiro do Vento e a figura que conta a história ao narrador. É considerado no parque alguém ilustre e culto, um intelectual e académico (“Doutor em Filosofia, Catedrático de Linguística e Expressão Corporal…”), que denuncia o Gato por plagiar sonetos.

Caracterização da Vaca Mocha

    A Vaca Mocha é uma figura com prestígio que possui um estatuto semelhante ao da Velha Coruja, por isso é uma das figuras mais importantes do parque e respeitada por todos por ser descendente de um touro argentino, porém não é tão sensata como ela, já que é vingativa, bastante temperamental e bisbilhoteira e com um humor instável. Além disso, mostra ser algo solene, tranquila, atenta, muito circunspecta e irónica. Por outro lado, fala uma mistura de português e castelhano, procurando que tal lhe dê um certo prestígio.

Caracterização do Reverendo Papagaio


    O Reverendo Papagaio é professor de religião. O seu epíteto deriva o facto de ter passado algum tempo no seminário, onde aprendera a rezar e decorara algumas frases em latim, o que lhe granjeara a reputação de erudito. Vaidoso, faz questão de alardear as suas supostas qualidades, porém, de acordo com a Velha Coruja, era hipócrita e cobarde, visto que tinha muitos comportamentos incorretos que não condiziam com o seu discurso. Além disso, fazia propostas indecentes aos animais do género feminino. É o único bicho que fala “a língua dos homens”.

    Por outro lado, ele vive inúmeras aventuras amorosas, demonstradas pelo filho ilegítimo que tem com a pomba. Procura seduzir as suas alunas da catequese, escondendo-se atrás de um eloquente discurso religioso e moralista, o que só realça o seu caráter falso, hipócrita e dissimulado. Secretamente apaixonado pela Andorinha, embebeda-se na noite do seu casamento e diverte quem o ouve com brincadeiras e piadas de mau gosto, de caráter erótico. Deste modo, Jorge Amado denuncia o comportamento de determinados membros do clero, nomeadamente a falsidade e a hipocrisia.

Caracterização da Velha Coruja

    A Coruja é uma ave idosa e muito respeitada pelos outros animais por causa da sua sabedoria e sensatez(simbolizada pela sua velhice). Conhecia a vida de todos os habitantes do parque e era com ela que o Gato Malhado mais falava. Em suma, era uma ave sábia e conselheira.

Caracterização do Rouxinol

    O Rouxinol é uma ave bela e gentil, cantor reconhecido de serenatas, professor de canto da Andorinha e seu pretendente, o que faz com que desperte ciúmes no Gato. É com ele que a Andorinha casa.

Caracterização da Andorinha Sinhá


                 A Andorinha Sinhá é uma jovem risonha (“ria para todos”), alegre, destemida e aventureira, gentil, bondosa, que adora conversar e manter boas relações com todos os restantes animais. Levava uma existência tranquila até conhecer o Gato Malhado, de quem já ouvira falar de forma muito negativa, tendo até sido proibida de chegar junto dele. Como era atrevida e um pouco «louca» e apesar de ser obediente, viu-o como um desafio (duvidava das histórias que ouvira sobre ele) e a proibição só fez com que a vontade de o conhecer aumentasse, até porque gostava que a convencessem das coisas com argumentos credíveis.

                Aprende a cantar com o Rouxinol, o seu prometido, mas, depois de conhecer o Gato (passava horas, escondida no ramo de uma árvore, a observá-lo) e contra todas as convenções, nomeadamente a lei das gaivotas, que a proibia de casar com o felino, dado que eram inimigos, apaixona-se e namora com ele durante a primavera e o verão, apesar de ter consciência de que esse amor nunca se poderia concretizar. Quando é «obrigada» a tomar uma decisão, não contraria a lei a que está sujeita, renuncia ao amor pelo Gato e casa com o Rouxinol.

                Fisicamente, era uma andorinha muito jovem e bela, pelo que era desejada para casar por todos os pássaros solteiros (“não havia pássaro em idade casadoira que não suspirasse.”).

Caracterização do Gato Malhado


                 O Gato Malhado é um animal adulto (de meia-idade), egoísta e solitário, mal-humorado, muito mal visto e temido pelos outros habitantes do parque, que o julgam mau e violento e o acusam de várias maldades, apesar de não existir nenhuma prova concreta que sustente essas acusações. Assim, não tinha amigos/relações de amizade com os vizinhos e raramente retribuía os cumprimentos que alguns lhe dirigiam, por medo e não por gentileza.

                Depois de conhecer e se apaixonar pela Andorinha, muda o seu comportamento e as suas atitudes e torna-se mais simpático, o que motiva a inquietude e a apreensão dos restantes animais. Além disso, é orgulhoso, não lhe interessa o que pensam dele e detesta a hipocrisia.

                Fisicamente, é um gato de meia-idade, de olhos pardos, feios e maus, com um corpanzil forte e ágil e riscas amarelas e negras.

Papel das personagens de O Gato Malhado e a Andorinha Sinhá

     As personagens da obra podem distribuir-se por dois grupos, a saber: o das personagens da história de amor (Gato Malhado, Andorinha Sinhá, Rouxinol, Coruja, Reverendo Papagaio, Vaca Mocha, etc.) e o das que não fazem parte dessa história (Manhã, Vento, Tempo...).

    No que diz respeito ao papel ou relevo que elas desempenham:

Personagens principais / Protagonistas: Gato Malhado e Andorinha Sinhá.

Personagens secundárias: Velha Coruja, Manhã, Tempo, Vento, Sapo Cururu, Rouxinol, Reverendo Papagaio, Galo D. Juan de Rhode Island, etc.

terça-feira, 4 de julho de 2023

Análise de Memórias de um Sargento de Milícias

 I. Introdução


II. Contexto


III. Resumo da obra


IV. Resumo por capítulos

    . 1.ª parte

        . Capítulo I

        . Capítulo II

        . Capítulo III

        . Capítulo IV

        . Capítulo V

        . Capítulo VI

        . Capítulo VII

        . Capítulo VIII

        . Capítulo IX

        . Capítulo X

        . Capítulo XI

        . Capítulo XII

        . Capítulo XIII

        . Capítulo XIV

        . Capítulo XV

        . Capítulo XVI

        . Capítulo XVII

        . Capítulo XVIII

        . Capítulo XIX

        . Capítulo XX

        . Capítulo XXI

        . Capítulo XXII

        . Capítulo XXIII

    . 2.ª parte

        . Capítulo I

        . Capítulo II

        . Capítulo III

        . Capítulo IV

        . Capítulo V

        . Capítulo VI

        . Capítulo VII

        . Capítulo VIII

        . Capítulo IX

        . Capítulo X

        . Capítulo XI

        . Capítulo XII

        . Capítulo XIII

        . Capítulo XIV

        . Capítulo XV

        . Capítulo XVI

        . Capítulo XVII

        . Capítulo XVIII

        . Capítulo XIX

        . Capítulo XX

        . Capítulo XXI

        . Capítulo XXII

        . Capítulo XXIII

        . Capítulo XXIV

        . Capítulo XXV


V. Estrutura da ação


VI. Personagens: papel, caracterização, representatividade

    . Introdução

    . Leonardo

    . Luisinha

    . Vidinha

    . Comadre

    . Compadre barbeiro

    . D. Maria

    . José Manuel

    . Major Vidigal

    . Leonardo Pataca

    . Maria da Hortaliça

    . Chiquinha

    . Maria Regalada


VII. Tempo


VIII. Narrador - participação e focalização


IX. Classificação


X. Características do romance

Análise do poema "Antítese", de Castro Alves


    O título do poema aponta para um contraste presente no texto entre o homem branco (livre) e o negro (negro e escravo).
    Partindo do título, podemos dividir o poema em duas partes:
        - uma parte de festa: riqueza, luz e som;
        - a descrição do ambiente em que se vai integrar a personagem.
    De um lado, temos a festa, que é cor de vida, mas também falsidade e hipocrisia; do outro lado, está o velho desamparado.

    O poema abre com a descrição de um baile sumptuoso, num ambiente luxuoso, cheio de luz, requinte, cor e vida, onde se destacam os enfeites (“serpentinas”), o vestuário dos presentes (“sedas e querubins”), a orquestra, a riqueza e o luxo. A alegria que se vive é tão grande que os pares dançando parecem silfos numa valsa mágica: “como silfos / na valsa os pares perpassam / sobre as flores, que se enlaçam nos tapetes de coxins”.

    A partir da segunda estrofe começa a desenhar-se a antítese. O poema sai do ambiente de festa para “a névoa da noite, no átrio, na vasta rua”, enquadrando aquele que “como um sudário flutua / nos ombros da solidão”, isto é, aquele que recebeu como prémio o desprezo e uma carta de alforria: o escravo. O espaço que este habita não é o dos salões de festa, mas a praça: “a praça em meio se agita”. Ele é uma espécie de “cão sem dono”, imagem que evidencia a degradação da condição humana, que se acentua nos versos seguintes: “Desprezado na agonia, / Larva da noite sombria, / Mescla de trevas e horror.”

    A penúltima estrofe descreve o ser em questão e a sua situação social: “É ele o escravo maldito, / O velho desamparado / (…) / Tem por leito de agonias / As lájeas do pavimento, / E como único lamento / Passa rugindo o tufão.”

    Na última estrofe, o sujeito poético manifesta a sua solidariedade em favor do escravo: “Chorai, orvalhos da noite, / Soluçai, ventos errantes. / Astros da noite brilhantes / Sede os círios do infeliz!”. Os quatro últimos versos retratam a morte social do escravo (“cadáver insepulto”), que a alforria e a liberdade, embora não assistida, não conseguem ultrapassar.

    O elemento brasileiro (o escravo velho) não está numa posição dominante; o que está em causa é uma ideia romântica: a procura da liberdade, através de um processo muito caro ao Romantismo – a evasão.

segunda-feira, 3 de julho de 2023

Análise do poema "A Terra do Nunca", de Nuno Júdice


Análise do poema "Adormecida", de Castro Alves


                 “Adormecida” é um poema de 1868 de Castro Alves, publicado na obra “Espumas Flutuantes”, datada de 1870. Trata-se de uma composição constituída por sete quadras em versos decassílabos e com rima cruzada nos versos 2 e 4 de cada estrofe, sendo o primeiro e o terceiro brancos ou soltos.

                Este é considerado um dos poemas mais bem conseguidos da poesia romântica de Castro Alves, que descreve a mulher amada pelo sujeito poético adormecida, como é indiciado pelo título do texto. De facto, estamos na presença de uma descrição romântica da cena de uma mulher a dormir. Por outro lado, o título recorda-nos o conto tradicional “A bela adormecida”: quando completasse quinze anos, espetaria o dedo no fuso de uma roca e dormiria durante cem anos, até um príncipe a desencantar com um beijo. O despertar, em ambos os textos, constitui uma metáfora da passagem da adolescência para a idade adulta, para  amaturidade.

                O poema parte de uma epígrafe retirada de Musset, um poeta romântico francês, que se refere aos cabelos, à sensualidade e à cruz, símbolo da religião. Aqui, junta dois elementos: a sensualidade e a religiosidade, que será o assunto do texto. A epígrafe não é sinal de imitação, mas estabelece a ponte para o sonho e para a evasão, associando-se ao título por remeter também para a circunstância de uma jovem adormecida: “Ses longs cheveux épars la couvrent tout entière / La croix de son collier repose dans sa main, / Comme pour témoigner qu’elle a fait sa prière. / Et qu’elle va la faire em s’eveiliant demain.”

                A descrição é feita a partir da memória, pois trata-se de uma recordação do sujeito lírico: “Uma noite eu me lembro…”. Ele recorda a imagem da mulher a dormir numa rede, uma cena prenhe de serenidade, doçura e sensualidade: ela está encostada “molemente”, de roupão “quase aberto”, cabelos soltos e pé descalço. De facto, na primeira quadra, é construída a imagem da mulher amada, associando-a à sensualidade e à languidez suave, ideias sugeridas, por exemplo, pelo advérbio de modo «molemente», pelos adjetivos (“aberto”, “solto”, “descalço”). Por sua vez, as reticências abrem as portas ao onírico e deixam algo em suspense, à imaginação, enquanto elementos como a noite, a rede, o roupão, o cabelo ou o tapete contribuem para a construção do ambiente íntimo da figura feminina, sugerindo claramente a intimidade e a proximidade do «eu» e da amada.

                A segunda quadra centra-se na janela aberta, por onde entra um cheiro agreste, proveniente das silvas da campina, e através da qual se pode ver uma noite “plácida e divina” e “um pedaço de horizonte”. O «eu» evoca o cheiro agreste das silvas e, de seguida, o jasmineiro, cujos galhos entravam pela janela e tocavam na mulher, que dormia sensualmente. Ocorre aqui uma divinização ou espiritualização do momento, quando o «eu» refere que a noite era plácida e divina e, na quarta, se alude a um «quadro celeste», que é desenvolvido nas estrofes seguintes. Enquanto isso, a brisa suave invadia o compartimento, fazendo com que o jasmineiro, que estava em flor, balançasse e tocasse a mulher. Esse instante em que a flor a tocava e ela, ao senti-la, a procurava suavemente, causava sensações eróticas no sujeito poético.

                As duas estrofes seguintes apresentam um “quadro celeste”, doce e sensual: o jasmineiro, personificado, é apresentado num movimento cujos galhos, obviamente também personificados (“galhos encurvados / indiscretos entravam pela sala… / Iam na face trémula beijá-la”), quais braços humanos, balançam, ora se aproximando, ora se afastando da mulher adormecida, constituindo cada aproximação da face feminina uma tentativa de a beijar. O jasmineiro, um ser inanimado, é, de facto, personificado, isto é, são-lhe atribuídas características dos seres animados, de modo a poder executar as ações que o «eu» não pode ou não consegue. Assim, a planta passa a desejar a mulher, sendo que esta o manipula por meio da sedução, ou seja, permanecendo dormindo, sedutora, na rede.

                O que se segue é uma espécie de jogo de sedução, em que o jasmineiro e a mulher brincam como “duas cândidas crianças”: quando a flor da planta beija a figura feminina, esta, mesmo que em sonhos, estremece e, quando tenta devolver o beijo, aquela foge com o balanço do jasmineiro. O sujeito poético coloca-se na posição de observador e contempla esta cena. Por outro lado, ao colocar a natureza e a mulher em contacto físico – e logo através de algo tão profundamente íntimo como um beijo – prossegue a construção da cena de sensualidade. O recurso a formas verbais no pretérito imperfeito (“estremecia”, “serenava”, “beijava”) e a insistência nas reticências criam um clima de erotismo comedido através da interação e troca contínua de carícias entre a mulher e a flor. O jasmineiro age como um amante que, sorrateiramente, acaricia a figura feminina, beija a sua face e depois se afasta quando ela tenta devolver o beijo. Atente-se ainda no facto de a flor, para a biologia, ser o órgão reprodutor das plantas, pelo que se pode entender como metáfora do órgão sexual feminino, constituindo o seu desfloramento a perda da virgindade.

                É curioso observar dois movimentos contrários. Num primeiro momento, o jasmineiro, através dos seus galhos, seduz a mulher, beijando-a (o que deleita o sujeito lírico: “quadro celeste”), contudo, posteriormente ocorre uma inversão de papéis quando ela tenta beijar a planta, que, no entanto, foge. Ou seja, ela não só aceita a sedução, como também a retribui, porém é recusada.

                Por que razão é escolhido o jasmineiro e não uma outra planta ou árvore para contracenar com a mulher? O jasmineiro é um arbusto pequeno, ereto ou trepador com caules longos, o que permite encará-lo como metáfora do órgão sexual masculino. Por outro lado, essa planta também possui propriedades afrodisíacas, o que reforça a ideia da sedução presente no texto.

                A quinta estrofe infantiliza a mulher e coloca-a num plano virginal, ao associá-la a uma criança, enquanto a brisa, que agitava as folhas verdes, fazia ondular os seus cabelos negros entrançados. Vocábulos como «doce», «brincavam», «cândidas» e «crianças» conferem à cena ingenuidade, infantilizando a figura feminina e valorizando a virgindade, característica de sociedades antigas e mais conservadoras.

                A sexta retoma o tom erótico que percorre o poema, ao recuperar o jogo de sedução entre a flor e a figura feminina e o contacto físico entre ambas: “E o ramo ora chegava ora afastava-se.” Sempre que a mulher, despeitada pela «recusa» do «eu», parece que se vai zangar, o jasmineiro derrama-lhe uma “chuva de pétalas no seio”. O adjetivo «despeitada», além de idealizar os seios nus, exprime também a noção de ressentimento. Note-se que ela não é alheia ao clima de sensualidade, antes parece participar, pois, durante a espécie de dança entre ambos, estremece a cada carícia que a planta lhe faz e tenta retribuir os beijos que ele lhe dá. A chuva de pétalas no seio reforça todo o ambiente erótico: trata-se de algo íntimo, delicado, que pode ser interpretado como uma chuva de beijos no peito da mulher adormecida ou, de acordo com uma leitura intensamente erotizada do poema, como a metáfora da ejaculação masculina.

                O verso “e o ramo ora chegava, ora afastava-se” pode ser interpretado de forma mais profunda que não a mera imagem da boca do amado que ora se afasta ora se aproxima para beijar a amada: funciona como metáfora do ato sexual, isto é, indicia o movimento de vaivém do órgão sexual masculino (o jasmineiro) no interior do corpo feminino, sugerindo a consumação daquele ato. A antítese “chegava” / “afastava”, as reticências e a reiteração de «ora» remetem para o ato e a sua duração. Contudo, no final, ficamos a saber que a jobem permanece virgem, o que significa que a relação sexual nunca aconteceu. Neste contexto, a chuva de pétalas podem interpretar-se também como a metáfora do sémen e da ejaculação.

                A última estrofe enaltece o caráter virginal da mulher amada e estabelece a relação de identificação entre a mulher e a natureza. Nos dois versos iniciais, o sujeito lírico clarifica o seu estatuto de observador da cena (“Eu, fitando esta cena”) e, nos dois últimos, começa por caracterizar o jasmineiro de “virgem das campinas”, para, no derradeiro, se dirigir à amada, apelidando-a de virgem e a definir como a flor da sua vida. Assim, ao denominar a natureza e a mulher por meio do mesmo vocabulário, promove a identificação entre ambas. Na verdade, podemos concluir que o «eu», ao observar o jogo de sedução entre o jasmineiro e a jovem, o vento que lhe agita os cabelos, os beijos da flor e o subsequente retraimento, na realidade, desejava ser ele mesmo a  acariciá-la, beijá-la e repeli-la. Note-se também que a imagem final que ressalta passa pela negação da sedução negativa e pela exaltação da pureza e virgindade da mulher: ela permanece virgem, apesar de toda a sedução de que é objeto e da ação do jasmineiro / da flor. Atente-se na expressividade do adjetivo «lânguida», que caracteriza a noite, o qual significa “doçura”, “sensualidade”, “voluptuosidade”, mas também “abatimento”, “fraqueza emocional ou física”.

                Ao longo do poema, existe uma oposição entre as ideias de sedução/sensualidade (o roupão aberto, a carícia, os beijos, a chuva de pétalas no seio, o estremecimento da mulher, o cabelo solto, o adormecimento, etc.) e de pureza, sugerida pela adjetivação (“cândidas”, “celeste”, “divina”, “doce”), pela associação a uma criança ou por nomes como “virgem” ou “sonhos”.

                Neste poema, já não temos a natureza em todo o seu esplendor, mas sim uma cena de interior, em que aquela está presente apenas em parte: aquilo que entra pela janela. É uma natureza muito expressiva e essencialmente romântica. No Romantismo, a natureza começa por ser cenário; depois é mais que isso: participa na ação e pode identificar-se com a mulher – “Brincavam duas cândidas crianças” (natureza + mulher).

                Apesar de ser um poema romântico, há elementos específicos do Brasil, como a «rede», elemento específico dos costumes brasileiros, símbolo da sensualidade e que aparece ligada à mulher. Esta é identificada com a natureza, mas também com a criança. A descrição surge de uma atitude de contemplação do «eu» poético: é retórica e principalmente expressiva e tem como características fundamentais a sensualidade. Essa identificação acentua-se nos dois últimos versos do poema, ao ser classificada como «virgem» a flor e a «virgem» como flor.

                Além dos traços românticos anteriormente apurados, há que atentar também ao quadro simultaneamente de volúpia e naturalidade da mulher adormecida, para o qual contribuem o detalhe do espaço físico, o realce dado ao perfume do ambiente, o estado da mulher, a janela aberta e a exaltação da natureza.

Lua enorme


 

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...