Este
capítulo narra a vida do pequeno Leonardo em casa do padrinho, que vive
preocupado com a educação do afilhado: quer que seja padre.
Inicialmente,
enquanto tudo é recente e novidade na nova casa, a criança porta-se bem, porém,
assim que se familiariza com o ambiente, o barbeiro, cego pela afeição ao
pequeno, tolera todas as diabruras, atribuindo-as e desculpando-as com a sua
ingenuidade. Esta postura do padrinho justifica-se, antes de mais, com a sua
idade – já tinha mais de 50 anos –, e depois com a ausência de afeto na sua
vida e com o seu isolamento, já que sempre fora celibatário. Perante tal imunidade,
a criança faz tudo o que lhe apetece, desde caretas aos fregueses da barbearia,
o que causa o riso de uns e a fúria de outros, acabando muitos por saírem com a
face cortada, até esconder a navalha mais afiada do padrinho, o que leva a que
o freguês esteja imenso tempo à espera, com o rosto cheio de sabão, enquanto
aquele a procura. Em casa, atira pedras aos telhados dos vizinhos, incomoda
quem passa na rua ou algum vizinho que esteja à janela. Deste modo, ninguém por
ali gosta dele, todavia o padrinho de nada se apercebe e acarinha-o sempre.
Além disso, preocupa-se com o seu futuro e tem grandes sonhos para o afilhado:
uma grande fortuna, uma alta posição social e o meio de os alcançar,
nomeadamente enviando-o para Coimbra, para se tornar padre.
Certa
manhã, o barbeiro chama Leonardo, então com nove anos, e diz-lhe que se deveria
fartar de travessuras até ao final dessa semana; daí em diante, só aos
domingos, após a missa. A criança leva a fala do padrinho à letra e
interpreta-a como uma licença para fazer o que lhe apetecesse. Na noite dessa
quarta-feira, realiza-se a Via Sacra do Bom Jesus. Quando o apercebe, Leonardo
recorda as palavras do barbeiro e mistura-se no meio da multidão, pulando,
gritando, cantando, etc.
Outro
aspeto importante da obra é a constante referência ao leitor e a intromissão do
narrador, através da ironia, comicidade e da crítica social à educação escolar
e à religião. Temos ainda a referência aos costumes da época com a descrição da
Via Sacra do Bom Jesus.
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