O capítulo começa com uma referência ao tempo (“Era no tempo do rei…”), que remete para o início dos contos tradicionais populares, e ao espaço. Há uma descrição do espaço, que aponta já para um certo realismo pelo tema, ponto de vista e forma como essa descrição é feita, e uma integração das personagens.
A
função deste capítulo é apresentar o protagonista do romance: Leonardo. O
narrador, baseando-se na história que um sargento de milícias reformado lhe
contou, narra a vida e os costumes do Rio de Janeiro durante a época em que D.
João VI, fugindo das Invasões Francesas, viveu no Brasil.
A
descrição dos meirinhos – que se reuniam num local, conhecido por canto dos
meirinhos, localizado na Rua do Ouvidor, no Rio de Janeiro – é feita com base
na oposição entre os meirinhos do passado e os do presente. Assim, os atuais –
segunda metade do século XIX – são uma mera sombra dos do tempo do rei, gente
temida e temível, respeitada e respeitável, com grande influência social, que
se distinguiam pela grande influência social que tinham, pelo porte físico e
pelo traje (casaca preta, calção e meias da mesma cor, sapato afivelado,
espadachim e chapéu), enquanto os demais não se distinguem das demais pessoas.
Integra-se
depois a história de Leonardo Pataca, que era meirinho, e de Maria da Hortaliça.
É da relação de ambos que nasce o herói da história. A única personagem
identificada com o nome é Leonardo Pataca; as outras personagens representam
tipos sociais e, por isso, não são apresentadas com nome próprio. O narrador coloca-nos
na esquina da rua, onde um grupo de meirinhos conversa sobre diversos assuntos.
Dentre eles destaca-se Leonardo Pataca, uma rotunda figura de cabelos brancos e
carão avermelhado, molengão e pachorrento. Por causa destes traços, ninguém o
procurava para negócios, por isso ele passava os dias sentado na esquina, na
companhia da sua bengala. Como se queixava constantemente dos 320 réis por citação,
deram-lhe a alcunha de Pataca.
De
seguida, o narrador relata um pouco do passado de Leonardo. Cansado da sua vida
em Lisboa, viaja para o Brasil e, a bordo do navio que o transporta, conhece
Maria da Hortaliça, uma quitandeira nas praças da capital de Portugal, saloia
rechonchuda e bonitinha. Ele viu-a quando ela estava encostada na borda do
barco e, ao passar, de modo supostamente distraído, pisou-a fortemente no pé
direito. Maria, como se já estivesse à espera daquilo, sorriu e respondeu com um
grande beliscão nas costas da mão esquerda. Os dois tornam-se amantes; quando
desembarcam, ela começa a sentir enjoos e vão morar juntos. Sete meses depois,
nasce o herói do romance, um bebé comprido (de quase três palmos de
comprimento), gordo e vermelho, com muito cabelo e chorão. Mal nasce, mama
durante duas seguidas, sem largar os seios maternos.
A festa
de batismo é de arromba: a madrinha é a parteira e o padrinho um barbeiro. Este
leva uma rabeca e todos dançam o fado e o minueto. A festa vai aumentando de
intensidade e transforma-se numa grande gritaria e algazarra, que só termina
quando se apercebem da presença próxima do Vidigal. A última a sair é a
madrinha, que, antes de se retirar, coloca um pequeno ramo de arruda no bebé.
Nota-se,
no relato, uma grande rapidez na apresentação dos factos e motivos; cómico dos
factos e da linguagem, ironia e gradação do discurso.
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