A narrativa
é feita de acordo com a cronologia, embora seja entrecortada por vezes para o
narrador produzir os seus comentários, introduzir uma ou outra analepse ou
explicar algo.
A ação
decorre no início do século XIX, no período em que a família real portuguesa
vivida no Brasil, depois de ter fugido às Invasões Francesas. Essa instalação
da corte no Rio trouxe mudanças à cidade. Uma delas foi a criação de novas
instituições, como a Real Junta do Comércio, a Mesa do Desembargo do Paço e a
Intendência-Geral da Polícia, que está presente ao longo da obra através da
figura do Major Vidigal. A ação da polícia estendia-se por um campo amplo,
desde a segurança pública até às questões de saúde, passando pelos conflitos
familiares e pelo recrutamento, exemplificado pelo de Leonardo filho. O
Intendente da Polícia da Corte e do Estado do Brasil atuava, na prática, como
uma polícia política, dado que mantinha a estabilidade das instituições
políticas da nova corte; garantia a segurança pública (através da criação de quartéis
para a Guarda Real da Polícia, em articulação com os juízes do crime dos
bairros da cidade); controlava os espetáculos e os festejos populares (como as
súcias do grupo de amigos de Leonardo e do antigo sacristão da Sé); fichava os
moradores da cidade; coletava informações sobre a conduta de pessoas suspeitas
de algo; arbitrava conflitos conjugais e familiares; era o depósito de mulheres
desprotegidas, nomeadamente por motivos de divórcio; elaborava devassas e
sumários da criminalidade na cidade do Rio de Janeiro; perseguia os marinheiros
desertores, etc. Um dos traços e temas que caracterizam a obra é a repressão
policial do período joanino, personificada na figura autoritária e omnipresente
do Major Vidigal.
Outros
aspetos características da época são as modinhas populares difundidas pelo
gosto popular na nova corte; as festas, patuscadas, comemorações; a burocracia
transmigrada para o Rio, coincidente com a mudança da corte, exemplificada
pelos oficiais superiores do Pátio dos Bichos, figuras meramente decorativas do
Palácio Real; a presença e a ação de imigrantes portugueses no Brasil; a
Justiça e as transformações ocorridas com a vinda da corte, exemplificadas pela
figura de D. Maria, alucinada por demandas judiciais e a descrição dos
meirinhos e da sua importância naquele tempo; a corrupção, bem visível no
capítulo sobre os meirinhos; a maledicência; as festas e tradições populares,
nomeadamente as religiosas; a capoeira, representada por Chico-Juca; os
costumes dos ciganos, retratados como pessoas ociosas e festivas entregues a
expedientes proibidos; as práticas educativas da época, simbolizadas pela
figura do mestre-de-rezas, sempre com a palmatória à mão); as profissões de
homens livres e pobres, etc., etc., etc.
Sem comentários :
Enviar um comentário