Português: Estrutura de Memórias de um Sargento de Milícias

quarta-feira, 19 de julho de 2023

Estrutura de Memórias de um Sargento de Milícias


    A obra está dividida em duas partes: a primeira é composta por 23 capítulos e a segunda por 25.
    Por outro lado, temos dois momentos na narrativa, que correspondem a preocupações diferentes:

. na primeira, temos o tratamento irónico das personagens;

. a segunda começa no capítulo XVIII da 1.ªparte da obra e caracteriza-se por aumentar a análise psicológica e introspetiva. Há uma mudança no drama, na intriga urdida entre as personagens e também a nível da estratégia narrativa. Na verdade, na 2.ª parte, a peça fundamental é Leonardo enquanto adulto e não Leonardo criança, com as suas travessuras e criancices.

    Assim, passa-se de uma parte, em que era fundamental o cómico para uma parte em que prevalece a análise psicológica. O cómico como que é substituído pelo que o narrador pensa das personagens. Podemos quase contrapor a infância (cómico) e a vida adulta (análise psicológica) de Leonardo, embora haja elementos que se mantêm:

. pseudo-superficialidade: resulta do caráter cómico e irónico da obra. Embora possa parecer que ele apenas se interessa por este aspeto, tudo o que escreve abrange um domínio mais profundo, chegando a fazer crítica moral e social;

. pragmatismo: esta característica nota-se em toda a sua escrita; tudo o que diz tem uma função. Se ele refere um dado elemento, é porque é importante, seja qual for a sua função. Isto é verdade, quer em relação à linguagem, personagens ou costumes;

. simplicidade de ações e no tratamento das personagens e dos factos;

. primitivismo no tratamento dos factos e das personagens. É como que a conclusão de todas estas características. Apesar de M. A. Almeida não se inserir ainda no Realismo totalmente, a sua ligação a este movimento deve-se precisamente a este primitivismo. Ele não é romântico, mas também ainda não é totalmente realista.

    Os acontecimentos narrados na primeira parte parecem esparsos, mantendo pouca relação entre si, como se estivéssemos perante recortes de eventos marcantes da sociedade, concretamente dos estratos médio e baixo, do Rio de Janeiro na época de D. João VI. Ao longo das páginas, predomina o tom de crónica jornalística, em episódios como, por exemplo, o batizado de Leonardo ou a Via Sacra do Bom Jesus. Já a segunda parte é típica de um romance, focando-se em Leonardo e na sua história.
    Os diversos episódios narrados funcionam com grande autonomia, sendo ligados pela presença de Leonardo, o que confere ao texto uma estrutura mais novelística do que de romance.

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