A obra
está dividida em duas partes: a primeira é composta por 23 capítulos e a
segunda por 25.
Por outro lado, temos dois
momentos na narrativa, que correspondem a preocupações diferentes:
. na primeira, temos o
tratamento irónico das personagens;
. a
segunda começa no capítulo XVIII da 1.ªparte da obra e caracteriza-se por
aumentar a análise psicológica e introspetiva. Há uma mudança no drama, na
intriga urdida entre as personagens e também a nível da estratégia narrativa.
Na verdade, na 2.ª parte, a peça fundamental é Leonardo enquanto adulto e não
Leonardo criança, com as suas travessuras e criancices.
Assim,
passa-se de uma parte, em que era fundamental o cómico para uma parte em que
prevalece a análise psicológica. O cómico como que é substituído pelo que o
narrador pensa das personagens. Podemos quase contrapor a infância (cómico) e a
vida adulta (análise psicológica) de Leonardo, embora haja elementos que se mantêm:
. pseudo-superficialidade:
resulta do caráter cómico e irónico da obra. Embora possa parecer que ele
apenas se interessa por este aspeto, tudo o que escreve abrange um domínio mais
profundo, chegando a fazer crítica moral e social;
.
pragmatismo: esta característica nota-se em toda a sua escrita; tudo o que diz tem
uma função. Se ele refere um dado elemento, é porque é importante, seja qual
for a sua função. Isto é verdade, quer em relação à linguagem, personagens ou
costumes;
.
simplicidade de ações e no tratamento das personagens e dos factos;
.
primitivismo no tratamento dos factos e das personagens. É como que a conclusão
de todas estas características. Apesar de M. A. Almeida não se inserir ainda no
Realismo totalmente, a sua ligação a este movimento deve-se precisamente a este
primitivismo. Ele não é romântico, mas também ainda não é totalmente realista.
Os
acontecimentos narrados na primeira parte parecem esparsos, mantendo pouca
relação entre si, como se estivéssemos perante recortes de eventos marcantes da
sociedade, concretamente dos estratos médio e baixo, do Rio de Janeiro na época
de D. João VI. Ao longo das páginas, predomina o tom de crónica jornalística,
em episódios como, por exemplo, o batizado de Leonardo ou a Via Sacra do Bom
Jesus. Já a segunda parte é típica de um romance, focando-se em Leonardo e na
sua história.
Os
diversos episódios narrados funcionam com grande autonomia, sendo ligados pela
presença de Leonardo, o que confere ao texto uma estrutura mais novelística do
que de romance.
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