I. Biografia de Aluísio de Azevedo
II. Obras de Aluísio de Azevedo
III. Período literário
IV. Ação
. Resumo
. Capítulos
V. Personagens
1. João Romão
2.
VI. Conclusões
a) Forma
b) Conteúdo
I. Biografia de Aluísio de Azevedo
II. Obras de Aluísio de Azevedo
III. Período literário
IV. Ação
. Resumo
. Capítulos
V. Personagens
1. João Romão
2.
VI. Conclusões
a) Forma
b) Conteúdo
1. Caracterização social
2. Características Psicológicas
3. Características Físicas
4. Trajetória e Conflitos
§ Come restos de comida que encontra na venda.
§ Dorme no chão, ao lado do balcão, sem gastar com móveis ou conforto.
§ Usa roupas simples e remendadas, recusando-se a investir em itens desnecessários.
Esta
avareza é uma marca da sua personalidade e um reflexo da sua visão
utilitarista, na qual cada centavo é poupado e investido para expandir os
negócios. João Romão trabalha desde o amanhecer até altas horas da noite,
movido pela ambição de enriquecer, sendo descrito como alguém que não se
permite descanso ou lazer, dedicando toda a energia ao progresso financeiro. A
rotina incansável é um dos primeiros sinais de sua transformação quase
animalesca, guiada por um instinto de sobrevivência e pelo desejo de ascensão
social.
Um marco
importante do seu início como comerciante é a relação com Bertoleza, uma
escrava fugida que se torna sua parceira de trabalho e vida. João Romão engana-a
desde o início, pois promete ajudá-la a comprar a alforria, mas, na realidade,
utiliza a sua força de trabalho para economizar custos e expandir os negócios.
Deste modo, Bertoleza trabalha incansavelmente na venda, cozinhando, limpando e
auxiliando João Romão, tornando-se essencial para a acumulação de seus
primeiros lucros. A exploração desta figura feminina é um exemplo claro do
caráter explorador e antiético de João Romão desde o início da sua trajetória.
O início da
personagem como comerciante reflete a sua essência: ele é o símbolo do homem
que se faz sozinho, mas à custa de trabalho incessante, economia obsessiva e
exploração dos outros. A pequena venda é o núcleo da sua trajetória, marcando o
ponto de partida para a sua ascensão.
O início de
João Romão como comerciante em O Cortiço ilustra como ele utiliza as
ferramentas disponíveis – trabalho duro, avareza e exploração – para superar a sua
condição de pobreza. Esse momento é essencial para compreender a sua
personalidade: é um homem pragmático, inescrupuloso e completamente focado na
acumulação de riqueza, mesmo que isso signifique sacrificar a dignidade própria
e alheia.
Desde logo,
convém notar que a construção do convento mostra que a personagem principal de O
Cortiço possui uma visão de longo prazo. De facto, João Romão percebe o potencial económico do terreno baldio que existe ao
lado da sua venda, inicialmente utilizado como depósito de lixo. Imagina o
local como uma oportunidade de gerar lucro por meio da construção e posterior
aluguer de habitações populares, dando origem ao cortiço. Deste modo, dedica-se
obsessivamente à construção do empreendimento (ele próprio conduzia pedras,
areia e tijolos, como se fosse um operário), atuando diretamente nas obras.
Trabalha dia e noite, economizando ao máximo e utilizando materiais baratos
para erguer as moradias.
Por outro
lado, a construção do cortiço reflete a sua avareza extrema. Ele economiza em
tudo, incluindo no ser humano: emprega Bertoleza como força de trabalho
gratuita, aproveitando-se da sua condição de escrava fugida; usa materiais
baratos e mão de obra simples para economizar ao máximo, indiferente às
condições precárias que isso criará para os futuros moradores.
Face ao
exposto, podemos concluir que o cortiço é uma metáfora da própria ambição e do
caráter de João Romão, caracterizando-se pela desorganização e instinto de
sobrevivência (tal como o protagonista é movido por instintos básicos de
acumulação, o cortiço também se torna um espaço caótico, onde a luta pela
sobrevivência prevalece), pela animalização (o cortiço é descrito como um
"formigueiro humano" ou uma "colmeia", metáforas que
evidenciam a degradação dos seus habitantes; João Romão, como criador desse ambiente,
é implicitamente comparado a um animal predador, que manipula e explora os mais
fracos para prosperar) e pelo foco no lucro (a forma como administra o cortiço
reflete a sua frieza e o seu pragmatismo: não se importa com o bem-estar dos
moradores, apenas com as rendas que recebe).
5. Relação com a temática do Naturalismo
6. Relação com outras personagens
Os dois são
vizinhos e as suas propriedades refletem as suas posições sociais. Assim, o
cortiço é um espaço de miséria que contrasta com a casa bem organizada e a loja
respeitável de Miranda, que despreza o cortiço e o vê como uma ameaça ao «bom
tom» da vizinhança, enquanto o protagonista vislumbra no seu empreendimento a
possibilidade de ascensão económica. Neste contexto, Romão sente-se inferior em
comparação com a posição social do oponente e ambiciona igualar-se a ele, quer
económica quer socialmente. O seu projeto de se equiparar e até superar Miranda
passa por comprar propriedades e se casar com Zulmira, a sua filha, mesmo sem a
amar, pois vê no casamento uma oportunidade única de ascender socialmente e se
distanciar do estigma de «dono do cortiço». Este comportamento evidencia a sua
visão pragmática das relações humanas, sociais, sempre orientada para o lucro,
o dinheiro, a riqueza.
Curiosamente,
no início da obra, o protagonista comporta-se de forma quase subserviente em
relação a Miranda, tratando-o com deferência e respeito, o que mostra que o
reconhece como superior socialmente, daí que não seja de admirar que o procure
imitar. Porém, à medida que vai enriquecendo, torna-se mais competitivo,
passando a olhar para Miranda como um obstáculo e/ou um rival. Por seu turno,
este olha para o protagonista apenas como um vizinho incómodo e vulgar que,
conjuntamente com o cortiço, representa uma ameaça à sua posição e reputação.
Ao longo da obra, conserva sempre uma postura de superioridade relativamente ao
vizinho, nunca o vendo como seu igual, mesmo quando tenta imiscuir-se na elite.
O casamento
com Zulmira é um momento fundamental da relação entre João Romão e Miranda. Para
este último, o matrimónio é uma forma de resolver problemas financeiros, em
virtude de a sua situação económica estar em declínio, e manter aparências. Por
sua vez, o protagonista olha para o casamento como a oportunidade ideal para
ascender socialmente, permitindo-lhe alcançar o lugar que tanto ambiciona no
seio da sociedade burguesa. Além disso, essa união matrimonial espelha a
hipocrisia das relações sociais e a fragilidade das diferenças entre as classes
sociais.
Já o
cortiço, o grande empreendimento de João Romão, é o principal foco de conflito
entre as duas personagens: para o protagonista, ele simboliza a sua conquista e
riqueza, enquanto para Miranda constitui um símbolo de degradação, um espaço
que mancha a reputação da vizinhança. O seu desprezo pelo cortiço e pelos seus
moradores evidencia a visão elitista, enquanto a defesa que Romão faz do
empreendimento reflete o seu orgulho como criador e explorador. No fundo, o que
está aqui em causa é um conflito social: de um lado, temos Romão a representar
a ascensão do capitalismo selvagem e das classes emergentes que, embora
economicamente poderosa, lutam por reconhecimento social; do outro, encontramos
Miranda, símbolo da elite tradicional, a qual procura preservar os seus
privilégios e evitar misturar-se com os «novos ricos».
João Romão
controla o cortiço e os moradores por completo, exercendo o seu poder através
da cobrança de rendas e da manipulação das suas condições de vida.
Curiosamente, o protagonista possui origens humildes, como os habitantes do
cortiço que erigiu. Não obstante, ele distancia-se deles, vendo-se superior a
eles. Ele procura ascender socialmente e rejeita qualquer associação às pessoas
que vivem no espaço que administra. Nesse contexto, Bertoleza simboliza a
exploração de João Romão: ela trabalha incansavelmente, acredita que está a
juntar dinheiro para comprar a sua alforria, contudo o protagonista nunca teve
a intenção de cumprir sua promessa.
Deste modo, quando Bertoleza se torna um problema para os seus planos de
ascensão social, não hesita em a entregar às autoridades como escrava fugida, o
que desagua no suicídio dela.
O cortiço é
descrito como um organismo vivo, um «formigueiro humano» ou uma «colmeia»,
repleto de pessoas que lutam pela sua sobrevivência no meio da miséria que os
afoga. Romão é o criador do empreendimento, sendo o responsável direto pelas
condições que promovem a degradação social e moral. A relação entre ambos
reflete a dinâmica do capitalismo selvagem, em que o lucro de um depende da
exploração de muitos. Por outro lado, os moradores do espaço são frequentemente
comparados a animais, tendo em conta as condições desumanas em que vivem. Essa
animalização dos moradores é um reflexo da própria animalidade de João Romão,
que, qual animal, age por instinto.
Além disso,
o protagonista evita a todo o custo qualquer envolvimento direto com os
problemas e conflitos que estalam no cortiço. A violência, as lutas e os
escândalos são o pão nosso de cada dia, porém Romão nunca se envolve nem
interfere, desde que esses acontecimentos não afetem o pagamento das rendas,
mantendo, pois, uma constante postura de distanciamento e superioridade, como
se não tivesse qualquer responsabilidade pelas condições que fomentam esses
conflitos. Como já foi referido anteriormente, Romão, apesar das suas origens
humildes, não demonstra qualquer solidariedade com os habitantes do cortiço;
pelo contrário, ele afasta-se cada vez mais das suas origens sociais,
procurando associar-se à elite burguesa e desprezando os habitantes do espaço
que ele próprio criou. Este distanciamento reflete a sua alienação social e
moral, evidenciando o vazio que a sua ambição acarreta: enriqueceu à custa de
outros, contudo permanece isolado e desumanizado.
Simbolicamente,
a relação entre João Romão e os habitantes do cortiço configura uma crítica à
exploração das camadas mais desfavorecidas pela ambição desmedida e pelo
capitalismo selvagem emergente. Deste modo, o narrador denuncia as
desigualdades sociais e as condições de vida degradantes resultantes da
indiferença, da ambição desmedida e da procura desenfreada da riqueza. João
Romão representa o capitalista que vê as pessoas como meio para alcançar os
seus objetivos.
7. Símbolos Associados a João Romão
8. Transformação ao Longo da Narrativa
No início,
o protagonista é apresentado como alguém de origens humildes, um imigrante
português simples e pobre que inicia a sua jornada rumo à riqueza e a outro
estatuto social como dono de uma pequena venda. Nesta fase, apresenta-se como
alguém trabalhador, avaro e obcecado pelo dinheiro e pela acumulação de
riqueza, mostrando-se disposto a sacrificar o conforto, a ética e a humanidade
para poupar o vil metal, daí não ser de estranhar que o vejamos a comer restos
ou a dormir no chão, tudo para economizar até ao último cêntimo, usando como
referência o atual euro. Nesta fase da sua vida, usa Bertoleza como mão de obra
gratuita, prometendo-lhe uma alforria que jamais tem a intenção de cumprir.
Posteriormente,
Romão começa a investir no terreno localizado ao lado da sua venda, até o
transformar num espaço de moradias populares: o cortiço. Esse empreendimento
reflete os traços de caráter que já se adivinhavam na fase inicial: usa
materiais e mão de obra barata durante a construção, ignorando os reflexos que
tal terá nos moradores. Em última análise, o cortiço torna-se uma fonte
constante de lucro, consolidando o seu estatuto de homem de negócios, mas
sempre à custa da exploração do seu semelhante. Neste contexto, apesar dessa
riqueza que o cortiço lhe proporciona, distancia-se, emocional e socialmente,
dos seus habitantes, vendo-os somente como meras fontes de rendimento.
À medida
que o empreendimento cresce e se consolida, com o aumento dos alugueres, João
Romão acumula riqueza. Nessa acumulação constante, compra outras terras e
propriedades, diversificando os seus negócios e investimentos e consolidando a
sua fortuna. Em simultâneo, cresce igualmente a indiferença e a insensibilidade
perante o sofrimento e as necessidades humanas, não revelando qualquer empatia
pelos moradores do cortiço, nem por Bertoleza, que tanto o ajudou na sua
ascensão social. Neste passo da narrativa, Romão está totalmente consumido pela
ganância, agindo de forma desumana, cruel e calculista, traindo Bertoleza ao
entrega-la às autoridades como escrava fugitiva, a partir do momento em que se
torna um obstáculo aos seus planos.
Quando o
final do romance nos bate à porta, constatamos que o protagonista atingiu os
seus objetivos, tanto o do enriquecimento como a ascensão social, mas fê-lo
graças a uma postura de alienação e desumanização que atinge o clímax no mento
em que trai Bertoleza e a denuncia às autoridades para se casar com Zulmira. O
suicídio desta personagem constitui uma espécie de preço moral que Romão tem de
pagar pelo seu trajeto alienante. Deste modo, no desfecho de O Cortiço,
João Romão não passa de um homem muito rico, mas totalmente desumanizado e sem
qualquer vínculo afetivo com os outros, símbolo do capitalista que tudo
sacrifica pelo lucro, mas permanece moralmente pobre.
9. Representatividade no contexto do
Naturalismo
·
João Romão
simboliza o modelo capitalista emergente no Brasil, no século XIX, em que o
lucro e a acumulação de riqueza se sobrepõem a qualquer valor ético ou humano.
·
Exploração como
base do sucesso: Ele usa o trabalho
de Bertoleza como mão de obra gratuita e explora os moradores do cortiço,
cobrando rendas elevadas em condições precárias.
·
Acumulação e
desigualdade: João Romão representa a figura do
empreendedor que enriquece à custa da exploração de classes sociais mais
vulneráveis, ilustrando as desigualdades inerentes ao capitalismo.
·
Como português
imigrante, João Romão reflete o papel histórico de muitos imigrantes no Brasil,
que chegaram à procura de melhores condições de vida e acabaram a desempenhar
papéis de comerciantes, pequenos proprietários e empreendedores.
·
Ascensão económica: Ele personifica o estereótipo do "imigrante trabalhador"
que, através de muito esforço e poupança, consegue enriquecer.
·
Contraste cultural: A sua ambição e frieza contrastam, frequentemente, com valores mais
"tradicionais" e "moralistas" da sociedade brasileira da
época, como os representados por Miranda.
·
João Romão é
representativo da figura do "novo-rico", que acumula riqueza
material, mas luta por reconhecimento social.
·
Ele aspira a integrar
a elite tradicional (representada por Miranda) e utiliza o casamento com
Zulmira como estratégia para obter prestígio, mas a sua origem humilde e os métodos
desumanos de enriquecimento que emprega continuam a constituir barreiras à sua
plena aceitação.
·
A evolução de João
Romão reflete o processo de desumanização provocado pela ambição desmedida. Ele
é frequentemente descrito de forma animalesca, guiado por instintos básicos,
como sobrevivência, acumulação de riqueza e poder.
·
Animalização
naturalista: Esta característica reforça a visão
naturalista segundo a qual os seres humanos são moldados pelos seus instintos e
pelo ambiente social. João Romão é uma criatura do seu meio, explorando e sendo
explorado pelas dinâmicas sociais e económicas.
·
João Romão é um
exemplo de como a ascensão social pode ser conquistada por meio de trabalho
duro, mas também por exploração e desumanização.
·
Ambiguidade moral: Ele é, ao mesmo tempo, admirado pela sua perseverança e criticado pelos
seus métodos antiéticos.
·
Falta de integração: Mesmo ao alcançar a riqueza e o status ambicionados, João
Romão nunca se encaixa completamente na elite, o que evidencia a dificuldade de
transição entre as classes sociais no contexto da sociedade brasileira da época.
· João Romão é um
símbolo da obsessão pelo materialismo. A sua procura incessante por riqueza
leva à perda da humanidade e à destruição de relações interpessoais, como a
traição de Bertoleza exemplifica.
· Vazio moral: Apesar de alcançar sucesso financeiro, João Romão, no final do romance,
está só e isolado, desprovido de vínculos afetivos e sem qualquer satisfação
emocional ou ética.
João Romão é uma figura central em O Cortiço, representando a ganância e a exploração na sociedade brasileira do século XIX, e serve como uma crítica contundente à desigualdade social e à moralidade da época.
A. A Ascensão de João Romão
João Romão é um português pobre e ambicioso que, por meio de
trabalho árduo e métodos desonestos, constrói um cortiço em um subúrbio do Rio
de Janeiro. Ele rouba materiais de construção, explora trabalhadores e guarda
dinheiro de forma obsessiva. Sua companheira, Bertoleza, é uma escravizada que
foge acreditando estar livre, mas vive em regime de quase escravidão sob João
Romão.
João Romão começa o cortiço como uma pequena habitação
coletiva. Com o tempo, o local cresce e se torna uma representação da pobreza e
da degradação social, abrigando dezenas de famílias que vivem em condições
precárias.
B. A Vida no Cortiço
O cortiço é um microcosmo da sociedade brasileira. Ele
abriga personagens de diferentes origens, que compartilham as dificuldades da
vida cotidiana. Os moradores vivem em um ambiente insalubre, marcado por
brigas, festas, promiscuidade e luta pela sobrevivência. Entre os moradores
destacam-se:
O cortiço é descrito como uma entidade viva, quase um
personagem, que influencia o comportamento de seus habitantes. O local é
frequentemente associado a imagens de calor, fermentação e animalização.
C. O Conflito entre João Romão e Miranda
Miranda, um comerciante rico e vizinho de João Romão,
representa a elite brasileira. Embora seja economicamente superior, Miranda é
um homem hipócrita, que despreza o cortiço, mas também age de forma corrupta
para manter seu status. João Romão inveja o prestígio social de Miranda e tenta
se aproximar dele, buscando ascender à classe burguesa.
João Romão, com seu desejo incessante de riqueza e respeito
social, decide ampliar seus negócios e transformar sua imagem. Ele planeja
casar-se com Zulmira, filha de Miranda, para se integrar à elite, mesmo que
isso signifique trair Bertoleza.
D. A Queda de Bertoleza
No final da obra, João Romão denuncia Bertoleza às
autoridades, revelando que ela ainda é legalmente escrava. A traição é motivada
pelo desejo de se livrar dela e se casar com Zulmira. Ao perceber que será
recapturada, Bertoleza, em um ato desesperado, comete suicídio, esfaqueando-se
diante dos policiais.
O destino de Bertoleza simboliza a opressão dos mais pobres e a desumanidade de João Romão, que sacrifica tudo – inclusive suas relações pessoais – em nome da ascensão social.