terça-feira, 17 de dezembro de 2024
Análise da cantiga "Orraca López vi doente um dia", de Afonso Anes do Cotom
Nesta
cantiga, a velhice é concetualizada como doença. O trovador começa por dizer
que viu Orraca López doente e, logo de seguida, a própria revela a sua doença:
a velhice.
Ao
vê-la doente, o trovador pergunta se ela guareceria (se curaria) e a mulher
responde em tom de brincadeira (jograria) que é velha e cuida (pensa) em se
cuidar. Como resposta, ele diz que ela pensa grande folia (loucura), pois disso
(da velhice) mais vê ele as velhas morrerem.
Note-se
que, na época, os conhecimentos de medicina eram muito limitados. Por exemplo,
nos locais afastados das cidades, as doenças eram tratadas por curandeiros e
ervas medicinais. Nos meios urbanos, muitos médicos eram judeus, ao passo que,
no ambiente rural, persistiam aquelas figuras a quem era atribuída uma
competência tradicional e das quais se dizia possuírem duas especiais: velhas,
que usavam ervas, e parteiras, que tinham ganho experiência com a prática.
Assim, é evidente que a prática da medicina era escassa, sendo algumas doenças
encaradas como um castigo divino, o que era agravado pela ocorrência de doenças
até então desconhecidas e de pestes que dizimavam a população. Em muitas
cidades, os doentes eram colocados em lugares afastados das restantes pessoas
para evitar contágios e mais mortes. A lepra é, ao longo dos séculos, um bom exemplo
desta prática. Nos Congrés d’Arras, dois trovadores leprosos descrevem o momento
em que se despediram dos amigos antes de partirem para a leprosaria.
Até ao
final da Idade Média, a velhice está associada a uma imagem negativa. A mulher
velha, só e pobre, situa-se no ponto mais baixo da escala social e é
frequentemente equiparada às forças do Mal.
Esta
cantiga assenta no jogo pergunta-resposta, para lhe imprimir vivacidade,
assenta na contradição da deixa, da própria figura feminina, “sõo velha e cuid’a
guarecer”.
Note-se
que a velhice, no caso dos homens, assume outros contornos, sendo associada à
sabedoria e à experiência, à conservação da memória dos ancestrais, obtendo
valor social como conselheiros das gerações mais novas. Por seu turno, a mulher
velha, se prudente e virtuosa, poderia servir de exemplo às outras, além de
ensinar e corrigir as mais jovens. Por outro lado, muitas velhas consideradas
anciãs viviam uma vida pecaminosa, isto é, gostavam de tagarelar, escondiam o
corpo deformado e amolecido pela idade / velhice com roupas e cosméticos,
buscavam com enganos os prazeres da carne a que deveriam ter renunciado há
muito. A esta figura da velha arrebicada e pintada, sobrepõe-se a da mulher
alcoviteira que se insinua nas casas alheias como mensageira insidiosa, junto
das mulheres, das lisonjas dos amantes, e da “vetula” feiticeira que engana por
dinheiro, através de adivinhações e sortilégios, mulheres simples que a
consultavam.
Análise da obra O Cortiço, de Aluísio de Azevedo
I. Biografia de Aluísio de Azevedo
II. Obras de Aluísio de Azevedo
III. Período literário
IV. Ação
. Resumo
. Capítulos
V. Personagens
1. João Romão
2.
VI. Conclusões
a) Forma
b) Conteúdo
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Conclusões sobre O Cortiço: Conteúdo
1. Reação dos habitantes do cortiço para com Leonie e depois para com Pombinha mostra a ingenuidade estúpida e cínica de quem adora algo nefasto.
2. É um romance de tese: como influem as circunstâncias, o ambiente e os acontecimentos na modificação do caráter. Existe entre estes aspetos e as personagens uma relação de causa-efeito. Tanto o comportamento humano como as relações sociais se sujeitam à mesma inevitabilidade científica de causa-efeito.
3. Evolução cíclica, ideia que fica não só em relação ao espaço (cortiço), mas também em relação às personagens.
4. O romance visa a análise do elemento negro na sociedade do Brasil. O olhar romântico do negro ficara para trás; agora há um novo olhar: o negro já não se revolta; aceita e submete-se (ex.: Rita, Bertoleza). Esta submissão do negro advém do facto de o branco ser considerado uma raça superior, da qual há de resultar o melhoramento da raça negra.
5. Bertoleza mantém-se sempre fiel, até a essência dessa fidelidade ser destruída (com a traição). Há uma certa mitificação do elemento negro, porque ele submete-se, mas também é capaz da coragem no mais alto grau.
Mas em relação ao negro, há ainda um duplo preconceito:
. Rita e Bertoleza aproximam-se do branco como forma de ascensão social: preconceito da parte do negro;
. O branco vê o elemento negro como fonte de prazer e sensualidade ou como fonte de outras potencialidades em relação ao trabalho: preconceito da parte do branco.
6. A mulher: podemos estabelecer alguns grupos:
= Leonie e Pombinha (e Senhorinha)
= D. Isabel e Piedade
= Rita e Bertoleza
Estes são grupos diferentes, com motivações e destinos diferentes, mas nenhum deles consegue resistir à influência do ambiente. O elemento mais íntegro acaba por ser Bertoleza. Também Rita acaba por perder a sua força inicial quando se adapta a um novo tipo de vida.
7. Ironia: evidencia-se no final, mas existe ao longo de todo o romance de modo refinado e subtil e, por isso, é mais significativa.
A visão fatalista do amor que víramos em Machado de Assis mantém-se em A. de Azevedo: a sociedade está destinada a uma constante degradação, a uma degradação inevitável, em que os principais meios de influência são o meio e a raça.
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