sábado, 16 de janeiro de 2021
Variedades geográficas ou diatópicas
Variação histórica ou diacrónica
▪ Português Antigo (séculos XII –
XIV);
▪ Português Clássico (séculos XVI –
XVIII);
▪ Português Contemporâneo (séculos
XIX – XXI).
Variação linguística
▪ ao longo
do tempo (não falamos hoje como falávamos na época medieval, ou noutra
época passada);
▪ em função
da geografia (local onde são faladas) – o português falado em Lisboa não
é exatamente igual ao falado no Porto ou nos Açores;
▪ dentro da sociedade
(contexto em que são usadas e falantes que as utilizam, em função quer do nível
social e cultural dos falantes, quer da situação de comunicação).
Com
efeito, o tempo, a geografia/ o espaço, a sociedade/o
meio social e a situação discursiva constituem os fatores
que justificam essa variação.
De facto,
é evidente que a língua portuguesa evoluiu ao longo dos tempos (basta
ler, por exemplo, um extrato de um texto de Gil Vicente ou de Camões, etc.,
para compreender que o português dessas épocas era muito diverso do atual), mas
é igualmente claro que um falante do Porto fala de modo diferente de um do
Algarve, ou que uma criança possui um discurso diferente do de um adulto, ou
ainda que falantes de diferentes extratos socioculturais, embora comuniquem
entre si, o fazem recorrendo a registos distintos.
Em
suma, todas as línguas naturais:
▪ têm variação;
▪ mudam e estão sempre a mudar.
Esta
propriedade das línguas possui, pois, a designação de variação linguística.
▪ variação histórica;
▪ variedades geográficas;
▪ variedades sociais;
▪ variedades situacionais.
quinta-feira, 14 de janeiro de 2021
terça-feira, 12 de janeiro de 2021
IP azul: Este comentador pensa sempre em termos individuais
domingo, 10 de janeiro de 2021
Contradições da poesia de Alberto Caeiro
Alberto Caeiro: reflexão existencial – o primado das sensações / o sensacionismo
▪ Sensacionismo: a sensação sobrepõe-se ao
pensamento
Alberto
Caeiro recusa o pensamento, o conhecimento intelectual e vive de impressões,
privilegiando as sensações, sobretudo as visuais. O pensamento perturba-o,
fá-lo sofrer, é fonte de enganos, não lhe permitindo conhecer o real (“Pensar é
estar doente dos olhos”), por isso procura libertar-se dele, privilegiando o
conhecimento sensorial da realidade.
Para o poeta, o conhecimento do mundo e
do real circundante faz-se através das sensações. De uma forma que se quer
espontânea e natural, elas revelam uma existência que, em contacto com a
natureza, dispensa a ciência e a técnica.
Assim, vive em harmonia consigo e com
os outros, aceitando o mundo e a vida e sendo feliz, precisamente porque recusa
o pensamento e dá primazia às sensações. Perceciona a realidade através do
olhar, sem intelectualizar essa perceção, daí afirmar-se que a sua poesia é
sensacionista, na medida em que substitui o pensamento (que associa a uma
doença) e o sentimento (subjetivo e convencional) pela sensação. A
subjetividade não existe para ele.
Caeiro apreende o real através dos
sentidos / das sensações, nomeadamente as visuais, recusando o pensamento. Este
corresponde a uma atitude reflexiva que impede a compreensão e a uma doença da
visão [“pensar é estar doente dos olhos” (Poema II)], que constitui um
obstáculo à fruição do que os sentidos percecionam (nomeadamente a Natureza).
Caeiro valoriza a realidade exterior
concreta e observável: “Creio no Mundo como num malmequer, / Porque o vejo”
(poema II).
Ao recusar o pensamento e ao optar pelo
concreto, encontra a felicidade: “Sinto todo o meu corpo deitado na realidade,
/ Sei a verdade e sou feliz”. O real é o único meio de atingir a verdade e a
felicidade, desde logo porque a realidade existe sem necessidade do pensamento.
Para o poeta, nada existe para além
daquilo que é percetível, para além daquilo que o ser humano capta os sentidos.
Caeiro recusa o conhecimento
intelectual e defende o primado das sensações.
O poeta nega que a Natureza tenha
significados ocultos. As coisas são o que são, resumem-se à sua aparência e
àquele cabe-lhe aceitá-las como elas são, sem pensar, porque "pensar é não
compreender”.
O mundo é claro, evidente, simplesmente
é – ser é o único valor possível. O conhecimento chega apenas através dos
sentidos, nomeadamente do olhar, pois o pensamento incomoda-o, perturba-o, é
fonte de infelicidade: “Pensar incomoda como andar à chuva”.
Caeiro rejeita a filosofia (bem como o conhecimento
intelectual, a metafísica, a ciência) e, consequentemente, constrói uma nova
filosofia: “Eu não tenho filosofia: tenho sentidos” (Poema II). Ou seja, ao
percecionar a realidade como se fosse um simples pastor que acompanha o seu
rebanho, encontra na Natureza e nas sensações uma nova filosofia de vida.
Caeiro é, talvez, o heterónimo mais
complexo, visto que recusar o pensamento ou qualquer tipo de filosofia é pensar
e filosofar, e tentar atingir o grau zero do pensamento implica já uma complexa
operação mental. De facto, a recusa da filosofia e a apologia da sensação pura
constituem uma outra filosofia, pois recusar a filosofia é filosofar, tal como
afirmar que não se pensa é já pensar.
Caeiro aceita o mundo e as coisas como
são, relacionando-se com eles de forma harmoniosa, visto que recusa o
pensamento e a abstração, privilegiando as sensações, nomeadamente as visuais.
Segundo ele, devemos fazer a
“aprendizagem do desaprender”, devemos aceitar a vida e a morte sem mistérios,
despojados de todo o pensamento, de toda a reflexão, de toda a subjetividade.
Para este heterónimo, o real é a única
fonte de felicidade e de conhecimento. Também isto explica que viva em comunhão
com a Natureza, aprendendo com ela, através das sensações, a ser feliz.
Em suma, Caeiro, aceita o real e a
vida, não problematiza a existência, contentando-se em sentir, ver e ser feliz.
Alberto Caeiro: o fingimento artístico – o poeta «bucólico»
Logo
no começo do poema “O guardador de rebanhos”, Caeiro declara-se pastor por
metáfora, o que constitui, no fundo, o despontar daquilo que Pessoa ele mesmo
considerou um «poeta bucólico de espécie complicada».
De
facto, na carta que dirigiu ao seu amigo Adolfo Casais Monteiro, na qual
explica a génese dos heterónimos, o ortónimo afirma que, certo dia, desejou
criar um poeta bucólico para pregar uma partida a Sá-Carneiro, mas que essa
ideia se concretizou apenas em 8 de março de 1914, quando se acercou de uma
cómoda alta e escreveu «trinta e tantos poemas a fio, numa espécie de êxtase»,
cuja autoria atribuiu a Alberto Caeiro, heterónimo que lhe suscitou a sensação
de que tinha nascido o seu Mestre, tratando também de lhe inventar mais uns
discípulos. Caeiro é, por isso, o Mestre de Pessoa ortónimo e dos outros
heterónimos.
Caeiro
resulta do fingimento poético de Fernando Pessoa: foi inventado e modelado pelo
ortónimo como «poeta bucólico». Ou seja, imaginariamente, Caeiro é uma figura
que vive no campo, com simplicidade, sem estudos e de modo rústico, em contacto
com a Natureza e longe da agitação da cidade. O que nele há de bucolismo
aparece como imitação da vida dos pastores que, na chamada poesia bucólica,
eram as figuras que o poeta celebrava, pela sua pureza e inocência.
Caeiro
é um poeta deambulatório (como Cesário Verde). De facto, ele deambula livremente
pela Natureza, pelo campo, observando e apreendendo instintivamente o que o
rodeia e captando o real através dos sentidos, extasiado pela eterna novidade
do mundo.
A
poesia de Caeiro visa o primado do exterior / da variedade maravilhosa do real.
Caeiro
procura viver em plena integração e comunhão com a Natureza, aprendendo com ela
a aceitar o bom e o mau, a felicidade e a infelicidade, a vida e a morte. A sua
alma «conhece o vento e o sol», segue o ritmo das estações e frui «a paz da
Natureza sem gente», sendo que a ausência de outros seres humanos lhe traz paz
e tranquilidade. Ele procura viver em harmonia e simbiose com a Natureza,
alegre e tranquilamente no seio da mãe Terra.
Deste
modo, atinge o verdadeiro conhecimento e a felicidade plena: «Sinto todo o meu
corpo deitado na realidade, / Sei a verdade e sou feliz”.
Poeta
do real objetivo, observa as coisas com um olhar ingénuo e puro: “pensar é não
compreender. / (…) E a única inocência é não pensar…”. No entanto, na verdade,
Caeiro, o poeta da visão instintiva e natural das coisas, é um falso ingénuo e
a sua aparente simplicidade resulta de uma elaborada operação mental.
De
facto, a simplicidade de Caeiro é posta em causa, pois, além de se apresentar
como metáfora, aparenta contradizer-se: “Sou um guardador de rebanhos” ≠ “O
rebanho é os meus pensamentos”. Ou seja, ele só é pastor bucólico enquanto
metáfora; quando muito, deseja a existência simples que está associada à vida
pastoril.
Para
Caeiro, não há passado (ele considera que recordar é atraiçoar), nem futuro
(pois este tempo é um campo de miragens). Assim, vive o presente, gozando cada
impressão como se fosse única e original.
Caeiro
mascara-se de pastor-mestre inculto e iletrado, de forma a passar a imagem de
um homem simples na forma original e primitiva de (vi)ver o mundo, imagem essa
que esconde todo um conhecimento filosófico e cultural.
Caeiro
finge ser um pastor (o tal pastor-metáfora, pois, na realidade, não o
é), um homem simples, que deambula pela Natureza, apreendendo instintivamente o
que o exterior lhe oferece. Deste modo, a sua arte poética/criação artística é
algo espontâneo e não artificial (artificialidade reacional da elaboração do
texto), daí que critique os “poetas que são artistas / E trabalham seus versos
/ como um carpinteiro nas tábuas”, como se se tratasse de uma construção.
Este
fingimento tem como meta a (tentativa de) abolição do pensamento, fingindo que
é um homem instintivo que vive só para fora, para o exterior.