Português: Tempo histórico

segunda-feira, 6 de junho de 2011

Tempo histórico

1. Dados históricos:
  • o título realça o desejo de recordar, remetendo para um passado que é o da construção do convento;
  • os planos da construção do convento e da construção e voo da passarola estão relacionados com a realidade histórica;
  • diversos acontecimentos históricos são abordados no romance:
-» as referências ligadas ao convento de Mafra respeitam os anos, os dias e até as horas (por exemplo, a colocação e bênção da primeira pedra, cujas cerimónias tiveram início às 7 horas da manhã do dia 17 de Novembro de 1717, o que corresponde, efectivamente, à verdade);
-» a batalha de Jerez de los Caballeros, que enquadra o aparecimento de Baltasar;
-» a promessa do rei, por volta de 1711, que deu origem à construção do convento;
-» a bênção da primeira pedra do convento;
-» a indecisão do rei acerca do número de frades que o convento albergaria;
-» a procissão do Corpo de Deus;
-» a sagração do convento;
-» a importação de materiais, artistas e obras de arte de vários países da Europa e do Brasil;
-» o desejo do rei que a cerimónia de sagração ocorresse no 41.º aniversário do seu nascimento – 22 de Outubro de 1730;
-» o apressar dos trabalhos para que os prazos fossem efectivamente cumpridos;
-» o recrutamento em larga escala de trabalhadores para a obra;
-» os custos elevados da obra e a dificuldade de os calcular;
-» a origem das pedras de Pêro Pinheiro;
-» as remessas de ouro do Brasil;
-» os conflitos no Brasil;
-» os ataques franceses às embarcações portuguesas;
-» a chegada da nau de Macau;
-» a elevação do inquisidor a cardeal;
-» a epidemia em Lisboa;
-» a morte do infante D. Miguel;
-» o casamento dos infantes portugueses e espanhóis;
  • personagens históricas: o rei D. João V, a rainha D. Maria Ana, os infantes, membros do clero nomeados, Bartolomeu de Gusmão, Ludovice e Domenico Scarlatti são personagens históricas.

2. Dados ficcionados:

          O narrador assume que o seu relato é alternativo à História oficial, porque conta aquilo que outros omitiram e que foi esquecido. Consciente da imortalização que acontece sempre que a História é escrita, o narrador tenta imortalizar o maior número possível de pessoas esquecidas pelo discurso oficial.
          Assim, quando descreve os homens que foram a Pêro Pinheiro buscar a pedra que ficará sobre o pórtico da igreja, refere o maior número de nomes próprios na tentativa de os imortalizar, já que é esse o seu objectivo: “… tudo quanto é nome de homem vai aqui (…), deixemos os nomes escritos, é essa a nossa obrigação, só para isso escrevemos, torná-los imortais, pois aí ficam, se de nós depende, Alcino, Brás, Cristóvão, Daniel, Egas, Firmino, Geraldo, Horácio, Isidro, Juvino, Luís, Marcolino, Nicanor, Onofre, Paulo, Quitério, Rufino, Sebastião, Tadeu, Ubaldo, Valério, Xavier, Zacarias, uma letra de cada um para ficarem todos representados…”.
          Mas outros factos históricos sofrem alterações ou não correspondem exactamente à História. Bartolomeu de Gusmão é uma das personagens em que a correspondência entre a História e a ficção é apenas parcial, como se nota até no nome da personagem, que na obra aparece como Bartolomeu Lourenço e só mais tarde de Gusmão. As notícias mais ou menos nebulosas acerca das suas experiências voadoras são aqui amplamente desenvolvidas e chegam, por momentos, a tornar-se o centro do romance. A própria conversão de Bartolomeu de Gusmão ao judaísmo é já aqui preparada, quando da apresentação das suas reflexões acerca da unidade ou trindade divina. Também a fuga à Inquisição para Espanha e a sua morte nesse país são relatadas no romance com mais ou menos ingredientes ficcionais.
          A figura de D. João V e do seu reinado sofrem igualmente adaptações várias, mas mais ligadas ao processo da ironia e ao comentário de uma voz anacrónica do que a alterações históricas consideráveis.
          A Inquisição e as suas práticas, os eventos populares e religiosos e o casamento dos infantes de Portugal e Castela servem mais para recriar a ambiência de uma época, sobre a qual o narrador tece comentários vários, sobretudo críticos, do que para adensar a intriga.

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