Português: 20/01/25

segunda-feira, 20 de janeiro de 2025

Análise da obra O Cortiço, de Aluísio de Azevedo

 I. Biografia de Aluísio de Azevedo


II. Obras de Aluísio de Azevedo


III. Período literário


IV. Ação

        . Resumo

        . Capítulos

            . Capítulo I

            . Capítulo II

            . Capítulo III

            . Capítulo IV

            . Capítulo V

            . Capítulo VI

            . Capítulo VII

            . Capítulo VIII

            . Capítulo IX

            . Capítulo X

            . Capítulo XI

            . Capítulo XII

            . Capítulo XIII

            . Capítulo XIV

            . Capítulo XV

            . Capítulo XVI

            . Capítulo XVII

            . Capítulo XVIII

            . Capítulo XIX

            . Capítulo XX

            . Capítulo XXI

            . Capítulo XXII

            . Capítulo XXIII


V. Personagens

    V.1. Caracterização

        1. João Romão

        2. Bertoleza

        3. Miranda

        4. Rita Baiana

        5. Estela

        6. Léonie

        7. Pombinha

        8. Jerónimo

        9. Piedade

        10. 

    V.2. O percurso existencial das personagens femininas



VI. Conclusões

        a) Forma

        b) Conteúdo


Caracterização de Maria da Piedade

    Piedade é uma mulher modelar, no contexto dos padrões do patriarcalismo, de trinta anos. Fisicamente, possui uma boa estatura, carne ampla e rija, cabelos fortes de um castanho fulvo, dentes pouco brancos, mas sólidos e perfeitos, cara cheia e fisionomia aberta. Psicologicamente, é subserviente, diligente, sadia, forte, obediente, honesta, correta, fiel, sem qualquer vaidade, vive para o marido e em função dele, dando-se bem com tudo e com todos e trabalhando de sol a sol. O seu perfil é o oposto do de Rita Baiana e de outras mulheres fortes e decididas que vivem no cortiço. Nostálgica, ela conserva os hábitos e a rotina da terra natal, não se deixa contaminar pelo meio, mantém as suas tradições e a esperança de crescer ao lado do marido. No entanto, acaba por ser vencida pela força do meio e, quando o marido se envolve com Rita, tenta fintar a dor da perda, as más influências, a briga com Rita Baiana e a miséria. Assim, acaba por se entregar à bebida e tornar-se alcoólica ao ser abandonada pelo esposo: “[...], Piedade de Jesus, sem se conformar com a ausência do marido, chorava o seu abandono e ia também agora se transformando de dia [...]. Deu para desleixar-se no serviço [...] fez-se madraça e moleirona. [...] aconselharam-Ihe que tomasse um trago de parati. Ela aceitou o conselho [...]; e, gole a gole, habituara-se a beber todos os dias o seu meio martelo de aguardente, para enganar os pesares.” (op. cit., 2004, pp. 191-192).
    De facto, tal como o consorte, a esposa de Jerónimo também sofre uma transformação ao longo do romance de Aluísio de Azevedo. Ela luta contra a influência do cortiço e, inicialmente, consegue vencer essa luta: mantém-se afastada dos vícios e prazeres mundanos. Claramente, contrasta com a personagem Rita Baiana, uma nativa brasileira. Envolvem-se numa disputa pelo mesmo homem – Jerónimo –, mas diferenciam-se pela cor, pelo cheiro, pelos hábitos de vida e também pela linguagem. No fundo, os três constituem um triângulo amoroso que gera conflitos e desemboca numa morte: a de Firmo, às mãos de Jerónimo, que depois foge com Rita. Abandonada pelo marido, Piedade enfrenta grandes dificuldades financeiras e, com isso, a sua filha, Senhorinha, é adotada por Pombinha, o que constitui um paralelismo com o que sucedera com Leonie no passado. Está escancarado o caminho da prostituição para Senhorinha, enquanto à sua mãe resta apenas a perda do marido e os lamentos motivados pelos infortúnios da vida, como se pedisse piedade a Deus, o que é acentuado pelo seu apelido. Quando o esposo a abandona, revolta-se contra a natureza que causou aquela mudança em jerónimo: “[...] não era contra o marido que se revoltava, mas sim contra aquela amaldiçoada luz alucinadora, contra aquele sol crapuloso, que fazia ferver o sangue aos homens e metia-lhes no corpo luxúrias de bode. Parecia rebelar-se contra aquela natureza alcoviteira, que lhe roubara o seu homem para dá-lo a outra, porque a outra era gente do seu peito e ela não.” (op. cit., 2004, p. 173)
    Fiel ao seu homem e aos seus princípios, ela tinha absoluta certeza de que ele fora seduzido pela vulgaridade de Rita. Para ela, o marido era apenas uma vítima. Jerónimo envolvera-se com a mulata que simboliza o Brasil. Ele "cedeu à atração da terra, dissolveu-se nela e com isso perdeu a possibilidade de dominá-la". Segundo CANDIDO, ao "agir como brasileiro redunda para o imigrante em ser como brasileiro" (2004, p. 119), e, à medida que se entrega ao amor de Rita, o lusitano vai sendo absorvido pela terra, até mudar completamente a sua personalidade. Todas as metáforas usadas para descrever a mulata dão ideia de dominação do elemento brasileiro sobre o português. É a mulher brasileira que enfeitiça e mantém sob seu domínio o português, antigo colonizador.

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