Português

sexta-feira, 15 de outubro de 2010

Ranking 2010

          A nossa escola surge em posíções bem antagónicas nos «rankings» (relativos aos exames nacionais) do passado ano lectivo:

                    . 3.º ciclo: lugar 220 em 1295 escolas.

                    . Secundário: lugar 568 em 601.

quinta-feira, 14 de outubro de 2010

"Humor" político

          "Depois do átomo e da descoberta do neutrão, do protão, do fotão, do electrão, do quark, do fermião, do busão, do gluão, o governo da nação portuguesa acaba de revelar ao mundo a existência... do 'pelintrão', um corpo sem massa nem energia, que suporta toda a carga."

domingo, 10 de outubro de 2010

"Isto"

          Este poema parece ter sido uma espécie de resposta ou de esclarecimento em relação à questão do fingimento poético enunciada em "Autopsicografia": não há mentira no acto de criação poética; o fingimento poético resulta da intelectualização do "sentir", da sua racionalização.

. Assunto: tal como "Autopsicografia", esta composição poética funciona como uma espécie de arte poética, na qual o poeta expõe o seu conceito de poesia como intelectualização da emoção.


. Tema: o fingimento poético (como afirmou Álvaro de Campos, "Fingir é conhecer-se.").


. Estrutura interna

     . 1.ª parte (1.ª estrofe) - Tese do sujeito poético:
               . não mente;
               . antes sente com a imaginação:
                        - simultaneidade dos actos de sentir e imaginar;
                        - fingimento poético através da imaginação;
               . não usa o coração → a base da poesia não reside nas sensações, no coração, mas na inteligência, no seu fingimento.

     . 2.ª parte (2.ª estrofe) - Fundamentação filosófica do uso da imaginação:
          A realidade de onde o sujeito poético parte é apenas a aparência ou o terraço (fronteira) que encobre outra coisa: as ideias, a obra poética, o Belo. Socorrendo-se do pensamento, da imaginação, o sujeito poético pretende ultrapassar o que lhe "falta ou finda" e contemplar "outra coisa (...) que é linda".

     . 3.ª parte (3.ª estrofe) - Conclusão:
               . o poeta liberta-se do que "está ao pé", do seu "enleio" → as sensações, o mundo das aparências, em busca daquilo que é verdadeiro e belo ("a coisa linda");
               . escreve "em meio do que não está ao pé" → o mundo das ideias, da inteligência, da imaginação que transforma as sensações, através do fingimento, em arte poética - a recusa da ideia da poesia enquanto expressão imediata das sensações;
               . o sentir é para quem não é poeta, para quem se limita ao mundo do sensível, das aparências - o leitor -, pois o poeta não sente.


. Forma

          Formalmente, o poema é constituído por três quintilhas de versos hexassílabos e rima cruzada e emparelhada, segundo o esquema a b a b b.


. Linguagem e estilo

          Em termos fónicos, é destacar o recurso frequente ao transporte (vv. 3-4, 8-9, etc.) e à aliteração:
               . em "s": "Eu simplesmente sinto / Com a imaginação / Não uso o coração";
               . em "f": "O que me falha ou finda";
               . em "l": "Livre do meu enleio".
          Por outro lado, nas duas primeiras quintilhas dominam os sons fechados e nasais ("Não", "Sinto", "imaginão"), que desaparecem na última estrofe, o que pode indiciar a evolução de um estado de arrastamento para outro de clarividência ou convicção.

          A nível morfossintáctico, é de destacar o recuro à primeira pessoa ("finjo", "minto", "escrevo", etc.), ao contrário do sucedido em "Autopsicografia", o que parece indicar a preocupação de conferir um tom intimista e confessional ao texto, por oposição ao carácter eminentemente programático do outro poema.

          Por outro lado, predominam as frases de tipo declarativo, que,  associadas ao ponto final, traduzem a procura de formulação de uma teoria, de uma arte poética. No último verso, porém, encontramos uma frase interrogativa e outra exclamativa, que encerram alguma ironia e remetem o sentir para o leitor.

          Em termos semânticos, o maior destaque vai para a comparação presente entre os versos 6 e 9, que apresenta a realidade vivida pelo sujeito poético como uma mera passagem para a «outra coisa», isto é, a obra poética, expressão máxima do Belo.

quarta-feira, 6 de outubro de 2010

«Orpheu»

          A revista Orpheu pretendia ser uma publicação trimestral de literatura, destinada a Portugal e ao Brasil, no entanto não ultrapassou as duas primeiras edições.
          O primeiro número foi dado à estampa em 1915, correspondente aos meses de Janeiro, Fevereiro e Março, e era constituído por 83 páginas, impressas em excelente papel de tipo elegante. Abria com uma «Introdução», da autoria de Luís de Montalvor, que pretendia definir os objectivos da publicação, produto de um grupo de jovens autores que se reuniam, com frequência, nalguns cafés da baixa lisboeta.
          A pretensão deste grupo «é formar, em grupo ou ideia, um número escolhido de revelações em pensamento ou arte, que sobre este princípio aristocrático tenham em Orpheu o seu ideal esotérico e bem nosso de nos sentirmos e conhecermos».
          Por alturas do rebentar da Primeira Guerra Mundial, conheceram-se em Lisboa Fernando Pessoa, cuja adolescência tinha sido passada na África do Sul, em contacto com a cultura inglesa; Mário de Sá-Carneiro, que, entre 1913 e 1916, passou grande parte do tempo em Paris; Almada Negreiros e Santa-Rita Pintor, que trouxeram da capital francesa as novidades literárias e plásticas, nomeadamente o futurismo e correntes afins.
          Na época, estas figuras foram apelidadas de loucas e só posteriormente foram reconhecidas como fazendo eco de um sentimento geral de crise latente.
          O projecto do Orpheu nasceu por volta de 1914, graças a Luís de Montalvor, acabado de regressar do Brasil, que pretendia o lançamento de uma revista luso-brasileira. Dela saíram dois números (os únicos publicados), ambos em 1915. Neles, é possível encontrar textos de Fernando Pessoa, Sá-Carneiro, Almada Negreiros, Luís de Montalvor, Cortes Rodrigues, todos portugueses, bem como dos brasileiros Ronald de Carvalho (que, regressado do Brasil, constituiria a ponte que unia os modernismos brasileiro e português) e Eduardo Guimarães. Outras colaborações pertenceram a figuras como Ângelo de Lima, internado no manicómio, ou Álvaro de Campos, heterónimo de Pessoa.
          O primeiro número, saído em Abril, esgotou-se no espaço de três semanas. Não se conclua, no entanto, do seu sucesso, pois as pessoas adquiriram a revista para se horrorizarem com o seu conteúdo e soltarem a sua raiva contra os que nela colaboraram. Armando Cortes Rodrigues relatou que os autores órficos eram apontados a dedo quando passavam na rua, olhados com ironia e escárnio e julgados loucos, pelo que para eles reclamavam o internamento urgente no hospício de Rilhafoles.
          Mais tarde, em Julho de 1915, saiu o segundo número, este com um conteúdo claramente futurista. O terceiro número chegou a estar impresso, em parte, mas acabou por não chegar junto do público por falta de verba para a sua publicação, pois as edições anteriores tinham sido financiadas pelo pai de Mário de Sá-Carneiro. O suícidio do próprio Sá-Carneiro, em 1916, em Paris, agudizou a crise e Orpheu morreu mesmo ali, ao segundo número.
          Feitos, parcialmente, como os próprios autores confessaram, para escandalizar e irritar o burguês, os dois números de Orpheu atingiram plenamente o seu objectivo.
          Findo o projecto, o grupo modernista continuou a publicar noutras revistas: Exílio (1916), Centauro (1916), Portugal Futurista (1917), Athena (1924 - 1925) e Presença (1927 - 1940).
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