O poema “No
meio do caminho”, composto por uma quadra e uma sextilha, num total de 10
versos, alternando versos rimados (ABAA) com brancos (o sexto, por exemplo),
foi publicado pela primeira vez no número 3 da “Revista de Antropofagia”, em
julho de 1928. Posteriormente, integrou o livro Alguma Poesia, datado de
1930.
Começando
pelo título, este remete para um espaço (“No meio do caminho”), antecipando o
imprevisto: a pedra.
O texto é
caracterizado pela redundância e pela repetição. De facto, se as eliminássemos,
a composição seria a seguinte: “No meio do caminho tinha uma pedra. Nunca me
esquecerei desse acontecimento na vida de minhas retinas tão fatigadas”. As
pedras simbolizam os obstáculos ou problemas com que as pessoas se confrontam
durante a sua vida, descrita, metaforicamente, como um “caminho”. Por outro
lado, as pedras, enquanto obstáculos, podem impedir o indivíduo de prosseguir o
seu percurso, isto é, os problemas podem impedi-lo de avançar na vida.
Os versos 5
e 6 transmitem uma sensação de cansaço por parte do sujeito poético e do
acontecimento que ficará sempre na sua memória. Assim, as pedras também podem
indicar um acontecimento relevante e marcante para a vida de uma pessoa.
Há autores
que fazem uma interpretação biográfica do poema, associando-a a um drama
familiar do poeta. De facto, em 1927, Drummond de Andrade foi pai de um menino
que sobreviveu apenas meia hora. Entre janeiro e fevereiro desse ano, foi-lhe
encomendada a escrita de um poema para o número 1 da “Revista de Antropofagia”.
Imerso na sua tragédia pessoal, o escritor enviou este poema.
O crítico
Gilberto Mendonça Teles sublinha o facto de a palavra “pedra” conter as mesmas
letras do vocábulo “perda”, um fenómeno de hipértese. Mera coincidência ou
recurso intencional?
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