José
Mauro de Vasconcelos nasceu em Bangu, no Rio de Janeiro, no dia 26 de fevereiro
de 1920, no seio de uma família pobre, oriunda do Nordeste brasileiro e com
raízes portuguesas (era filho de um imigrante lusitano). Viveu uma infância com
parcos recursos, tendo ido viver aos 8 anos para casa de uns tios, na cidade de
Natal, no Rio Grande do Norte. Os seus primeiros anos foram marcados, portanto,
por um contexto socioeconómico desfavorável, um facto de que contribuiu para
que tivesse um olhar bastante crítico sobre o mundo. A nova família educou-o
com esmero, porém acabou por se aperceber de que era um «menino dado», o que
deixou marcas no seu trabalho adulto como uma nostalgia de perda.
Aos 9
anos, aprendeu a nadar e recordou, ao longo de toda a sua vida, com grande
prazer, a época em que mergulhava nas águas do Rio Potengi para se preparar para
competições de natação em que participava regularmente, tendo vencido diversas.
O seu primeiro emprego sucedeu aos 16, 17 anos, como parceiro de treino de boxers
peso-pena.
A sua
juventude foi agitada, nomeadamente após os anos de frequência da escola,
marcada por um curso superior inacabado e incursões em áreas profissionais
muito distintas (carregou bananas numa quinta em Mazomba, foi pescador,
garimpeiro, pugilista, professor primário em Recife...). No curso ginasial, leu
romances de Graciliano Ramos, Paulo Setúbal e José Lins do Rego.
A
frequência durante dois anos do curso de Medicina permitiu-lhe que se tornasse
uma espécie de enfermeiro, enquanto viajava pelo interior profundo do Brasil.
Por outro lado, serviu de modelo para o Monumento à Juventude Brasileira, uma
estátua da autoria do escultor Bruno Giorgi, em 1941, que foi colocada nos
jardins do Ministério da Educação, no Rio de Janeiro.
À
semelhança do que sucedeu com o escritor Lima Barreto, conviveu de perto com a loucura,
dado que o pai adotivo era diretor de um hospício e aí teve oportunidade de ler
livros de psiquiatria e conviveu com os loucos. Numa entrevista dada à revista “Manchete”,
em 1973, declarou que talvez esse interesse o tenha conduzido à frequência do
curso de Medicina.
Depois
de ter concluído os estudos secundários, José Mauro de Vasconcelos frequentou
sucessivamente as faculdades de Medicina, Direito e Desenho e Filosofia, sem,
contudo, ter concluído qualquer curso. Em 1952, beneficiando de uma bolsa de
estudos, frequentou durante três dias a Universidade de Salamanca, em Espanha,
saindo com o pretexto de que “tudo ali era muito chato”, facto que evidencia o
seu empenho em dar prioridade às múltiplas experiências que se inscrevem no
lado mais prático e emocional da sua vida, em detrimento de um saber académico
que condicionasse a liberdade da sua imaginação. De Salamanca partiu para
Madrid, Itália e França, a expensas próprias. Regressado ao Brasil,
estabeleceu-se no Rio de Janeiro, cidade onde trabalhou como lutador de boxe,
como referido anteriormente.
Começou
a escrever em 1940, tendo sido os romances de estreia – Banana Brava e Barro
Blanco – bem recebidos pelos críticos literários, tendo chegado a ser
comparado a Jack London. As experiências vividas foram criando a matéria-prima
para as suas histórias. Com efeito, os traços realistas e autênticos das suas
obras decorrem, de facto, do seu contacto com questões como a pobreza extrema,
as desigualdades sociais, a mudança, a família, a morte e os sonhos. De facto,
o conhecimento que foi adquirindo, sobretudo durante as suas viagens, a partir
dos 20 anos, pelo Brasil e pela Europa, constituiu uma das principais bases da
sua criação literária. Por exemplo, da sua primeira viagem à selva, durante a
qual abriu mato a peito, morou com os índios e se aventurou no garimpo, nasceu
a obra Banana Brava, um livro-experiência que lhe “custou a perna
direita quebrada em três lugares”. No regresso da aventura, ao subir o rio
Tocatins, trazia a obra pronta na cabeça, tendo-a escrito em 27 dias. Quando
chegou a São Paulo, onde residia por favor na casa de uma tia, decidiu tratar
da perna paralisada, por isso viajou para o Rio de Janeiro a fim de se tratar
num hospital de indigentes, onde conheceu um grade dominicano que leu o livro e
o levou para a Editora Agir.
José
Mauro de Vasconcelos, apesar das suas origens bem humildes, frequentou a alta
sociedade paulista, aparecendo com frequência nas colunas sociais de Tavares de
Miranda, da revista “O Cruzeiro”. Por outro lado, soube também valorizar as dedicatórias
inscritas nos seus textos. Por exemplo, em O Meu Pé de Laranja Lima, faz
uma oferta a Ciccillo, com a advertência “para os vivos” na edição original, e “para
os que nunca morreram”, nas edições posteriores à morte do amigo, antes de
mencionar os parentes já falecidos.
José
Mauro de Vasconcelos participou também no cinema nacional. Assim, em 1956, no
romance Arara Vermelha foi adaptado e distribuído pela Columbia Pictures
do Brasil, com Tom Payne na realização e Anselmo Duarte, Odete Lara, Milton
Ribeiro, Hélio Santos e Ricardo Campos no elenco. Em 1961, estreou-se como ator
no filme Mulheres e Milhões, tendo sido galardoado com o prémio Saci de
melhor ator. Em 1962, participou em A Ilha, ao lado de grandes nomes,
como Eva Vilma, Elizabeth Hartman ou Laura Verney.
José
Mauro de Vasconcelos faleceu em São Paulo, a 24 de junho de 1984, aos 64 anos,
vítima de uma broncopneumonia.