Português: 10/06/25

terça-feira, 10 de junho de 2025

A obra de José Mauro de Vasconcelos

    Miguel Neves Santos, numa análise de O Meu Pé de Laranja Lima, publicada na coleção Análise de Obras Essenciais, da Fábula Educação, pronuncia-se sobre a obra de José Mauro de Vasconcelos nos seguintes termos: “A nitidez dos cenários que apresenta nos seus textos decorre, então dos espaços e ambientes que ele mesmo percorre, à medida que interiormente vai dando forma aos seus romances, através da memória e da imaginação. O autor define da seguinte maneira a génese do seu processo criativo: «Quando a história está inteiramente feita na imaginação é que começo a escrever. Só trabalho quando tenho a impressão de que o romance está saindo por todos os poros do corpo. Então vai tudo num jacto.»
    É talvez por isso que as obras de José Mauro se revestem de uma linguagem simples, tantas vezes corrente e popular, mas com uma acuidade tremenda, que coloca o leitor em permanente contacto com os aspetos concretos da realidade em que o autor quis reparar e nos quais quis que o leitor se focasse.
    Neste contexto, O Meu Pé de Laranja Lima (1968) surge como um dos momentos mais altos da carreira literária do autor. Redigido numa fase de inquestionável maturidade artística, esta obra coloca em evidência as suas virtudes poéticas, naquela que é também uma viagem ao passado, num romance com um evidente cariz autobiográfico, posto desde logo em destaque pela escolha do nome do protagonista, Zezé, mais uma das múltiplas ocasiões em que a infância de José Mauro se projeta literariamente.
    A história desta criança de seis anos, personagem principal do enredo, criou um estrondoso impacto em leitores de todas as idades, facto que se mantém até aos dias de hoje, visto tratar-se de uma das obras mais lidas de sempre. De facto, continua a ser admirável o número de pessoas que, ao longo dos anos, vai afirmando que foi esta a sua primeira leitura significativa enquanto jovens, que foi esta a primeira vez que entenderam o valor emocional que um livro pode acarretar, que foi após a leitura desta obra que se tornaram verdadeiramente leitores.
    Em suma, José Mauro de Vasconcelos coloca nas suas obras as vivências quotidianas de um mundo contemporâneo que definitivamente tarda em revelar-se moderno e sofisticado para todos. A sua escrita expõe o seu apreço pela clarificação dos pensamentos e sentimentos das personagens a cada instante. Além dos papéis sociais, importa sobretudo a dimensão psicológica e a carga emotiva que cada pessoa traz consigo (nada melhor que uma criança para reparar com profundidade nos aspetos mais simples da existência). São esses cenários repletos de humanidade que privilegia e é precisamente esse lado pessoal que permite ao leitor ligar-se às vidas que vão surgindo página após página. Muitas das obras do autor estabelecem, inclusivamente, interessantes nexos de intertextualidade com outros romances e autores da época, como, por exemplo, a célebre história d’ Os Capitães da Areia, publicado em 1939, por Jorge Amado.”

Obras de José Mauro de Vasconcelos

. Banana Brava (1942)

. Barro Blanco (1945)

. Longe da Terra (1949)

. Arara Vermelha (1953)

. Arraia de Fogo (1955)

. Rosinha, Minha Canoa (1962)

. Doidão (1963)

. O Garanhão das Praias (1964)

. O Meu Pé de Laranja Lima (1968)

. Rua Descalça (1969)

. O Palácio Japonês (1969)

. Farinha Órfã (1970)

. Chuva Crioula (1972)

. O Veleiro de Cristal (1973)

. Vamos Aquecer o Sol (1974)


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