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sábado, 23 de setembro de 2017

Autárquicas 2017: o princípio de Peter Pan


Autárquicas 2017: o onanista


Autárquicas 2017: o Malho do pombal


"Dizem que o Caldas glutão"

                    Dizem que o Caldas glutão
                    Em Bocage aferra o dente:
                    Ora é forte admiração
                    Ver um cão morder na gente!”
                                                              (IV, 133) 

         Os epigramas são composições poéticas breves, muitas vezes estruturadas em quadras, mas sempre animadas pela sátira mais ou menos maliciosa, incisiva e sarcástica.
         Este epigrama tem como alvo um confrade da Arcádia, Domingos Caldas Barbosa, que se teria excedido nas críticas a Bocage. De facto, este texto aparece como resposta a um outro do padre Caldas, censurando a maledicência de Elmano Sadino:
De todos sempre diz mal
O ímpio Manuel Maria;
E se de Deus o não disse,
Foi porque o não conhecia.
         A violenta resposta do poeta não se fez esperar, comparando a maledicência do adversário a nada menos que uma investida canina.
         Acrescente-se que para a compreensão da sátira é importante ler a rubrica que muitas vezes antecede o próprio texto poético. Neste caso, pode ler-se que o epigrama era dedicado «A um mulato comilão que murmurava de mim».

Autárquicas 2017: Morte é o futuro...


Autárquicas 2017: uma candidatura morta à partida?


"Já sobre o coche de ébano estrelado"


Introdução:
            O soneto é da autoria de Bocage, poeta pré-romântico do final do século XVIII, um dos grandes sonetistas portugueses. Tendo recebido uma formação inicial neoclássica, tendo sido sócio por pouco tempo da Nova Arcádia, de temperamento rebelde, aderindo aos ideais da Revolução Francesa, abandonou essa Academia e seguiu um caminho poético próprio, dando forma às vicissitudes da sua vida e ao forte individualismo que sempre o orientou. Desta forma, tornou-se um dos vultos do chamado Pré-Romantismo.

Desenvolvimento:
. Tema

. Assunto





. Estrutura externa















. Estrutura interna
– 1.ª parte

































– 2.ª parte











– Articulação dos dois momentos




. Sentimentos










. Formação arcádica















. Elementos neoclássicos e pré-român-ticos








. Recursos poético-es-tilísticos


            Neste soneto, como noutros, é abordado o tema do desejo da morte, fruto da angústia existencial de um sujeito poético que se revê num cenário que se costuma denominar “locus horrendus”: um ambiente nocturno, triste e solitário. De facto, a Noite já vai alta e o silêncio é total, não se ouvindo qualquer ruído nem de pessoas nem de aves nem de coisas: tudo adormeceu. Apenas ele está acordado e, consolado com o ambiente fúnebre que o rodeia, pede ao Destino que lhe dê a morte.
            O texto é constituído por duas quadras e dois tercetos (um soneto), sendo doze versos decassílabos heróicos (acentos dominantes nas 6.ª e 10.ª sílabas) e dois decassílabos sáficos (versos 7 e 12, com acentos dominantes nas 4.ª, 8.ª e 10.ª sílabas) e apresentando o seguinte esquema rimático: ABBA / ABBA / CDC / DCD. A rima é toda grave ou feminina, toante nos versos 2 e 3, 6 e 7 (“feia”/”rodeia”), consoante nos restantes (“estrelado”/”vedado”), rica nos versos 2 e 3, 6 e 7, 9 e 11, 10 e 12, 11 e 13 (“feia”/”rodeia”), pobre nos outros (“estrelado”/”vedado”). Trata-se portanto de uma forma clássica que, pela sua rigidez, condiciona o tratamento do tema em poucos momentos, articulados com lógica rigorosa. Ainda neste parâmetro da análise, destaque para o encavalgamento ou transporte nos versos 1 e 2, 3 e 4, 9, 10 e 11, 13 e 14, e para o ritmo, mais lento nas quadras e mais movimentado nos tercetos.
            O soneto pode dividir-se em duas partes. A primeira, correspondente às duas quadras, é descritiva: apresenta o cenário que rodeia o sujeito. A Natureza está imersa em profundo silêncio; por outro lado, temos a Noite, caracterizada como “escura e feia”, entidade mitológica que conduz uma carruagem negra, um “coche de ébano estrelado”, elemento dominante porque condicionante de todos os outros. Com efeito, o silêncio profundo que reina na Natureza acontece porque a Noite vai alta e tudo dorme. Não é, pois, difícil justificar a presença dos outros elementos do cenário como o Zéfiro, vento brando e agradável, que não exerce a sua função, o Tejo, cujas águas adormecem, o rouxinol, ave do canto perfeito, que não tem espaço para cantar, o mocho, ave nocturna, cortesão da Noite, como é denominada noutros textos, até essa não faz ouvir seus pios agourentos. Nem era preciso, pois tudo é tão solitário e silencioso que faz lembrar a própria morte. Compreende-se por que razão a Natureza se encontra personificada: é que o sujeito poético revê nela o seu estado de espírito, numa atitude romântica, construindo-a à sua imagem e semelhança. A nível estilístico, é notável o paralelismo de construção na 1.ª quadra: o verso 1 transporta-se sobre o verso 2 e o verso 3 sobre o verso 4, criando dois segmentos melodiosos, reforçando o paralelismo a anáfora “Nem (...) Nem (...)”. As duas quadras formam o momento descritivo estático, salientando-se nele a presença de grande quantidade de adjectivos, ora antepostos, ora pospostos. De todos, deve salientar-se aquele que tem uma carga semântica maior: profundo (silêncio). Na verdade, o silêncio é o elemento que melhor caracteriza o ambiente físico e o ambiente psicológico. Não é sem razão que este nome aparece repetido e domina todo o texto. A tonalidade nasal (frequência de consoante nasais /m/ e /n/), as repetições de fonemas consonânticos sugestivos de ausência de ruído (/s/ e /ch/), tudo se conjuga para evidenciar de forma exemplar o estado em que se encontra o sujeito.
            A 2.ª parte, correspondente aos tercetos, é “narrativa”: acordado, o sujeito poético pede a morte, que vê prefigurada no silêncio da Natureza. Silêncio e solidão são palavras-chave deste soneto. Esta 2.ª parte inicia-se pelo advérbio de exclusão , repetido com o pronome pessoal de primeira pessoa: “Só eu velo, só eu”. Está justificada a localização do sujeito poético: “Neste deserto bosque”. Deserto exterior e deserto interior, porque só assim se compreende o seu comportamento: “... pedindo à Sorte / Que o fio, com que está minh’alma presa / À vil matéria lânguida, me corte”. Deserto interior reforçado com a aliteração do fonema /s/: “Só eu velo, só eu, pedindo à Sorte”.
            Está, pois, evidenciada a solidariedade entre os dois momentos do soneto, que pode caracterizar-se por afinidade e por contraste. Afinidade, porque cenário e estado psicológico se casam perfeitamente; contraste, porque enquanto tudo dorme, o sujeito poético vigia. O cenário favorece a reflexão, a interiorização, a expressão espontânea de sentimentos.
            Enquanto a morte não chega, o sujeito poético tem ao menos o cenário fúnebre que o consola, pois é o retrato da Morte, que é prefigurada pela Noite. À maneira clássica, esta é uma entidade que cobre com um manto os seres que atinge. Destacam-se dois sentimentos: horror e tristeza. O uso do determinante demonstrativo este, esta e da aliteração do fonema /t/ apontam o sofrimento, a mágoa e o desespero do sujeito lírico. Bem se quer iludir afirmando que lhe dá consolação “o silêncio total da Natureza”, mas o que ressalta no final é a expressão de um forte masoquismo, o que mascara uma profunda angústia existencial.
            Este soneto volta a manifestar a formação arcádica de Bocage, pois o recurso a mitologia é revelador desse facto. A “Sorte” é sinónimo de Destino, Fado, entidade que superintende, quer aos deuses, quer aos humanos. É ele que concede às irmãs Parcas o poder de dar ou tirar a vida. Átropos tinha nas mãos uma tesoura e entretinha-se a cortar os fios da existência humana. Além disso, a construção perifrástica e o uso do eufemismo são elementos exemplificadores do Neoclassicismo. A imagem do fio que prende a existência do corpo à alma é recorrente na poesia clássica e na sabedoria popular. O sujeito não tem nenhum gosto pela vida, caracterizando o corpo como “vil matéria lânguida”. À sua volta, tudo é silêncio; dentro de si, tudo é escuridão, solidão; não pode, pois, estar sossegado como as coisas: sofre. O verbo velar sugere sofrimento, lembrando as vigílias nocturnas e fúnebres. Só lhe resta a morte, que resolveria todos os seus conflitos.
            O texto apresenta elementos neoclássicos e pré-român-ticos. Por um lado, a forma poética (soneto), o verso decassílabo, a presença da mitologia (Noite, Zéfiro, Sorte), as várias perífrases (vv. 1 e 2, 5, 10 e 11) e as personificações são os elementos clássicos. Por outro, o tema do desejo da morte como solução para os conflitos, o “locus horrendus”, a subjectividade, a afirmação do indivíduo (egotismo), os sentimentos de terror e solidão são as características românticas dominantes. Integra-se, pois, na estética de transição denominada Pré-Romantismo. Confirma-se também a ideia de Bocage se constituir um poeta de transição.
            No que diz respeito aos recursos linguísticos, são de considerar os seguintes, além dos que já foram tratados. A nível fónico, a rima entre Sorte e corte, tristeza e Natureza é bastante expressiva. No primeiro caso, aproxima palavras que traduzem o desejo do sujeito poético: a Sorte (Destino/Fado) é quem tem nas mãos o poder de tirar a vida, através de uma Parca; no segundo, a Natureza apresentada é necessariamente triste. Por isso, a rima não é um mero artifício sonoro, mas aproxima palavras, fazendo a comunhão do sentido. As aliterações existentes nos verso 5 (/ch/), 9 (/s/) e 12 (/t/) sugerem, respectivamente, a ausência do vento, a solidão do sujeito e a acentuação da mensagem, o que comprova que houve um investimento sonoro bastante expressivo. Além disso, ainda é nítida a tonalidade nasal que percorre o texto e traduz a temática da tristeza. O ritmo, predominantemente binário, casa perfeitamente com os dois pólos do discurso: o cenário e o EU; lento nas quadras, devido ao estatismo da descrição, mais rápido nos tercetos, devido ao comportamento do sujeito poético.
            Relativamente aos aspectos morfossintácticos,  como é natural, na descrição predominam os adjectivos, que, antepostos aos nomes, adquirem cariz subjectivo; pospostos, mantêm a objectividade. O vocabulário de índole clássica e as perífrases (“coche de ébano estrelado”, “Zéfiro abafado”, “me corte o fio”) indicam a formação arcádica de Bocage. Por outro lado, com esse vocabulário podemos formar dois conjuntos lexicais: um ligado à ausência de luz, outro ligado ao silêncio, realizando o “locus horrendus”. Os verbos encontram-se no pretérito perfeito e no presente nas quadras e no presente nos tercetos. No primeiro caso, indicam estados passados que permanecem inalteráveis, observados pelo sujeito; no segundo, traduzem a expressão da vontade e dos sentimentos no momento da interiorização. De referir ainda que, na 1.ª parte, descritiva, domina a coordenação e, na 2.ª, subjectiva, domina a subordinação, de acordo com os dois tipos de enunciado. A anáfora nos versos 7 e 8 intensifica o silêncio da Natureza.
            A nível semântico, comecemos por destacar as perífrases longas, de sabor clássico, em que assentam as duas quadras e o primeiro terceto. A personificação da Noite, do Tejo, do Zéfiro e da Sorte permitem a construção do cenário de acordo com o estado de alma do sujeito poético, à maneira romântica. A personificação da Morte faz lembrar a entidade que cobre com um manto os seres vivos, roubando-lhes a luz (vestígio clássico). O eufemismo no primeiro terceto (“... o fio... me corte...”), recurso clássico, traduz de maneira mais suave o desejo de morte do sujeito poético e mostra uma vez mais a formação árcade de Bocage.


Conclusão:
. Visão global da poesia de Bocage
            Se alguma vez, em literatura, “o estilo é o homem”, pode afirmar-se que a vida de Bocage está registada na sua produção poética. O seu temperamento irascível, registado no soneto “Apenas vi do dia a luz brilhante”, a sua infelicidade amorosa expressa em tantos poemas, a sua entrega a exageros de toda a espécie, como se pode constatar no soneto “Meu ser evaporei na lida insana”, a saudade e o exílio, o fatalismo que o perseguia, o ciúme atroz expresso em sonetos como “Guiou-me ao templo do letal Ciúme”, “A loira Fílis na estação das flores”, “Há um medonho abismo, onde baqueia”, o desejo da morte, a angústia existencial de quem não encontrou sentidos para a vida, tudo isto faz deste poeta um bom representante dessa estética que se irá afirmar anos mais tarde.


sexta-feira, 22 de setembro de 2017

Autárquicas 2017: a ereção do candidato


Autárquicas 2017: não há amor sem confiança


Autárquicas 2017: Miguel Rodrigues vai a todas


Modos e géneros literários I - Correção (G 43)

1. Os excertos a seguir apresentados pertencem a autores e/ou obras do programa do 10.º ano.
Indica o respetivo autor e classifica-os quanto ao modo e género literários.

Excerto
Autor
Modo literário
Género literário
Mha senhor fremosa, direi-vos ua ren:
vós sodes mha morte e meu mal e meu bem!
                E mais… porque vo-lo-ei eu já mais a dizer?
(pág. 29)
Nuno Eannes Cerzeo
lírico
cantiga de amigo
O Page do Meestre que estava aa porta, como lhe disserom que fosse pella villa segundo já era percebido, começou dhir rrijamente a galope em çima do cavalo em que estava, […] (pág. 87)
Fernão Lopes
narrativo
crónica (histórica)
Inês – Renego deste lavrar,
e do primeiro que o usou;
ao diabo que o eu dou,
que tão mau é d’aturar.
[…]
Mãe – Logo eu adivinhei
lá na missa onde estava,
como a minha Inês lavrava
a tarefa que lhe eu dei… (pág. 131)
Gil Vicente
dramático
(em versos rimados)
farsa
Amor é um fogo que arde sem se ver,
é ferida que dói, e não se sente;
é um contentamento descontente,
é dor que desatina sem doer. (pág. 226)
Camões
lírico
soneto
As armas e os barões assinalados
Que, da Ocidental praia Lusitana,
Por mares nunca dantes navegados
Passaram ainda além da Taprobana… (pág. 265)
Camões
narrativo
epopeia (poema épico)
Carregada a nau de muita fazenda no belo porto da vila de Olinda, deu à vela com vento em popa a 16 de maio de 65. (pág. 318)
António Sérgio (adaptação)
narrativa
narrativa (relato) de batalha



          Ficha

Protótipos textuais

                Embora cada texto seja uma unidade distinta, não deixa de ser agrupável num tipo ou género, a partir das suas marcas verbais, semânticas, formais e pragmáticas.
                Os tipos textuais são modelos mentais, abstratos, que o leitor, de acordo com os conhecimentos adquiridos na audição e na leitura, guarda na sua memória e lhe permitem reconhecer, produzir e classificar textos com marcas específicas. Cada tipo de texto define-se, pois, por um determinado conjunto de características, umas constantes e outras variáveis.
                Os textos são constituídos por sequências, estruturalmente organizadas entre si e em relação ao todo que constituem, configurando assim a organização do texto. Essas sequências poderão atualizar diferentes tipos textuais, podendo, num mesmo texto, ocorrer sequências de diferentes tipos. Por exemplo, é frequente que, num texto narrativo, ocorram sequências descritivas ou dialogais, além das narrativas.
                A configuração de um texto representa, assim, a sua estrutura global, permitindo classificá-los em diferentes tipos.
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