A obra
abre com o relato de uma caminhada de Zezé e Totoca, seu irmão, que lhe dá
instruções práticas para a vida e o afasta da imaginação e das ilusões que
poderão colocar o protagonista em perigo ou fazê-lo sofrer. Por meio de
comentários, breves memórias e curtas analepses, o leitor começa a conhecer as
personagens e o contexto da ação.
Os dois
irmãos caminham de mãos dadas e Totoca ensina a Zezé coisas do mundo, como, por
exemplo, o caminho para a escola ou como atravessar a rua em segurança, nomeadamente
a movimentada Rio – São Paulo, explicando que, antes de o fazer, é necessário
olhar para os dois lados. O protagonista sente medo, mas esforça-se para não o
demonstrar, enquanto o irmão o incentiva a fazer o trajeto sozinho, afirmando
que está a crescer e necessita de aprender.
Enquanto
caminham, conversam sobre diversos temas. Zezé evidencia uma grande curiosidade
filosófica e poética sobre a vida. Por exemplo, questiona se a “idade da razão
pesa” e mostra admiração por Tio Edmundo, um senhor aposentado que ele
considera «sábio» e que gostaria de imitar quando crescesse, incluindo uma
gravata de laço, porque todos os poetas que vê nas revistas usam esse acessório.
Entretanto,
chegam à nova casa para onde a família se vai mudar. Zezé gosta da habitação,
mas não compreende o motivo da mudança. A conversa revela, então, um contexto
familiar difícil: o pai está desempregado, a família enfrenta problemas
financeiros, por isso terão que se mudar para a outra casa. Além disso, a mãe começará a trabalhar fora, e até a irmã
Lalá já está empregada. O próprio Totoca, apesar de ainda ser jovem, terá que
ajudar na missa para contribuir financeiramente para o núcleo familiar.
Mesmo
sendo criança, Zezé percebe a dureza da vida e tenta lidar com as
circunstâncias com criatividade e fantasia. Assim, pergunta sobre o seu
«zoológico», uma brincadeira infantil que envolve a presença imaginária de
animais como panteras e leoas. Totoca brinca de forma afetuosa, dizendo que
será ele quem desmontará o zoológico da casa antiga para o remontar na nova.
Totoca,
de seguida, tenta descobrir como o irmão mais novo conseguiu aprender a ler
sozinho, mesmo antes de completar seis anos, um acontecimento que causara o
espanto de toda a família. Zezé insiste que não sabe como aprendeu e ninguém o
ensinou. Recorda-se apenas de uma ocasião em que perguntou a Tio Edmundo se era
possível alguém aprender a ler com cinco anos, ao que aquele respondeu
afirmativamente, acrescentando que era, no entanto, incomum. Zezé recorda
também um episódio em que surpreendeu Jandira, a irmã, ao ler uma oração
afixada atrás da porta. Ninguém acreditava que ele realmente soubesse ler, por
isso Jandira deu-lhe um jornal e a criança leu-o. Em poucos minutos, os
vizinhos e os familiares estavam reunidos para assistir ao «fenómeno»,
concluindo que tinha aprendido a ler sem ajuda direta de ninguém, o que causou
um misto de espanto, orgulho e desconfiança.
Posteriormente,
Zezé relembra uma conversa com Tio Edmundo, durante a qual lhe pediu um
presente: um cavalinho de pau chamado “Raio de Luar”, como o do cinema. O homem
aceita o pedido, mas em troca quer um abraço, um gesto a que a criança acede
sinceramente, ao perceber que o Tio se sente só e falta dos filhos. Logo a
seguir, promete-lhe que vai ler para ele, provando a sua habilidade
recém-descoberta.
No
final do capítulo, Tio Edmundo cumpre a promessa e oferece-lhe o cavalinho. Ele
testa Zezé com um jornal, e a criança lê corretamente até palavras difíceis
como «farmácia». Em suma, ninguém entende como o pequeno aprendeu a ler, e nem
este mesmo sabe explicar – é tratado quase como um «milagre». Emocionado, Tio
Edmundo compara o seu nome ao de José do Egito, que também foi um menino especial,
e prognostica que a criança será alguém especial. Zezé não entende as palavras
do homem, mas afirma que quer ouvir essa história quando “crescer mais”, pois
adora histórias difíceis.
Neste
contexto, Totoca fica impressionado, mas, em simultâneo, aborrecido por o irmão
ter aprendido a ler tão cedo, acrescentando que agora ele terá que ir à escola,
pois a irmã Jandira considerou que seria uma forma de manter a casa mais tranquila
pela manhã. Além disso, avisa que não voltará a atravessar a rua com Zezé, que
terá de aprender a fazê-lo sozinho.
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