A Ilha constitui o prémio (“O prémio lá no fim, bem merecido” – est. 88, v. 7) pelos “feitos grandes” e pela ousadia (“Porque dos feitos grandes, da ousadia” – est. 88, v. 5) da “forte e famosa” (est. 88, v. 6) gente portuguesa e o reconhecimento pelos “trabalhos tão longos” (“Os trabalhos tão longos compensando” – est. 88, v. 4), que garantirão aos heróis lusitanos “fama grande e nome alto e subido” (est. 88, v. 8), honra, fama e glória (“Aquelas preminencias gloriosas, / Os triunfos, a fronte coroada / De palma e louro, a glória e maravilha: / Estes são os deleites desta Ilha.”).
▪ A fama: “Com fama grande…” (est. 88,
v. 8).
▪ A mitificação: “nome alto e subido”
(est. 88, v. 8).
▪ A imortalidade: o contacto dos humanos com as ninfas
confere-lhes um estatuto divino.
▪ Os prazeres da Ilha são os sucessos, as vitórias alcançadas
por mérito próprio (estância 89).
Trata-se,
em suma, do reconhecimento pelos “feitos grandes”, pela “ousadia” e pelo
esforço. Esta simbologia significa que a fama e a glória estão ao alcance de
qualquer ser humano que se destaque pelos seus feitos e conduta virtuosa.
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• Que prémio era esse?
A
imortalidade: os homens subiam ao Olimpo, tornavam-se, assim, deuses,
imortais: “Que as imortalidades que fingia / A antiguidade, que os Ilustres
ama, / Lá no estelante Olimpo, aquém subia / Sobre as asas ínclitas da Fama”.
Os
dois versos iniciais da estância 90 são muito expressivos, pois significam que,
à semelhança do que sucede com a Ilha dos Amores, os deuses da Antiguidade eram
apenas representações simbólicas do prémio que é sempre atribuído àqueles que
norteiam a sua existência pela virtude – a possibilidade de serem imortalizados
pela fama.
Os homens que realizavam feitos ilustres, grandes ações;
aqueles que percorriam um caminho árduo, difícil, cheio de perigos: “Por obras
valerosas que fazia, / Pelo trabalho imenso que se chama / Caminho da virtude,
alto e fragoso…”. Assim, encontravam o prazer, o deleite, a satisfação: “Mas,
no fim, doce, alegre e deleitoso”.
Atribuir a imortalidade.
A estância 91 serve como confirmação desta ideia: a
imortalidade era um prémio dado aos homens, devido aos “feitos imortais e
soberanos” (“Não eram senão prémios que reparte, / Por feitos imortais e
soberanos, / O mundo cos varões que esforço e arte / Divinos os fizeram, sendo
humanos”). Por isso, obtiveram nomes divinos: “Que Júpiter, Mercúrio, Febo e
Marte, / Eneas e Quirino e os dous Tebanos, / Ceres, Palas e Juno com Diana, /
Todos foram de fraca carne humana.”.
É uma estratégia para convencer os homens do seu tempo a
seguirem o exemplo dos clássicos. De facto, as figuras da Antiguidade citadas
(Júpiter, Mercúrio, etc.) surgem como argumento do Poeta para convencer os
contemporâneos a alterar a sua atitude, combatendo os vícios, bem como para
conferir importância ao caminho a percorrer para atingir a imortalidade.
A enumeração de nomes próprios dos versos 5 a 8 da
estância 91 indica-nos que antes de serem deuses, logo imortais, todos foram
humanos e mortais. De facto, as divindades começaram por ser humanos, tendo
ascendido ao patamar divino por “esforço e arte” e “feitos imortais e
soberanos”, o que lhes valeu a imortalidade. Assim, o Poeta sugere que os Portugueses
podem e merecem passar pelo mesmo processo de mitificação.
▪ Combater a preguiça: “Despertai já do sono do ócio ignavo”
(est.92, v. 7).
▪ Evitar a cobiça e a ambição: “E ponde na cobiça um freio duro,
/ E na ambição também…”.
▪ Evitar a tirania: “… e no torpe e escuro / Vício da tirania
infame e urgente.”.
▪ Promover a igualdade perante a lei, garantindo a
imparcialidade e a justiça: “Ou dai na paz as leis iguais, constantes”.
▪ Impedir a exploração dos mais fracos: “Que aos grandes não
deem o dos pequenos” (antítese).
▪ Combater contra os muçulmanos: “Ou vos vesti nas armas
rutilantes, / Contra a lei dos imigos Sarracenos”.
i) As “honras vãs, esse ouro puro”, obtidas
sem espaço e sem mérito, não dão “Verdadeiro valor” às pessoas.
ii) É melhor merecer a honra e os bens
materiais sem os ter, do que tê-los e não os merecer.
- Justiça;
- Igualdade;
- Fraternidade;
- Lealdade;
- Vontade;
- Honestidade.
i) O reino será maior e poderoso: “Fareis
os Reinos grandes e possantes”;
ii) Haverá igualdade na distribuição
dos bens: “E todos tereis mais e nenhum menos”;
iii) Todos terão honra e fama: “Possuireis
riquezas merecidas, / Com as honras que ilustram tanto as vidas.”;
iv) O Rei será mais ilustre e
esclarecido, devido ao apoio, aos conselhos sensatos e à lealdade: “E fareis
claro o Rei que tanto amais, / Agora cos conselhos bem cuidados, / Agora co as
espadas, que imortais”;
v) Tornar-se-ão imortais como os seus
antepassados: “Vos farão, como os vossos já passados”;
vi) Serão eternamente reconhecidos
como heróis: “Sereis entre os Heróis esclarecidos / E nesta «Ilha de Vénus»
recebidos.”
▪ Através da submissão das Ninfas aos navegantes, juntamente
com o tratamento concedido a Vasco da Gama, incluindo as revelações que lhe são
feitas acerca das consequências da viagem (est. 10 e seguintes).
▪ Pela comparação dos «varões» (incluindo os nautas) com os
deuses (Júpiter, Mercúrio, etc.) que, antes de serem divindades, foram também
humanos. Isto significa que também os homens podem ascender ao estatuto de
deuses, desde que o mereçam.
▪ Assim, é legítimo aspirar à Fama, se ela for conseguida pelo
esforço e pela superação do «ócio ignavo» (est. 92, v. 7).
▪ A procura da Fama não se coaduna com determinados comportamentos,
nomeadamente a ambição desmedida, a tirania, o culto da injustiça, etc., e que
caracterizam os homens do tempo do Poeta.
▪ O serviço prestado ao Rei (“fareis claro o Rei que tanto
amais”, est. 95, v. 1) tem de ser, então, a preocupação daqueles que, na paz ou
na guerra santa contra os infiéis, merecem ser recebidos na Ilha dos Amores.
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