Português: 09/07/25

quarta-feira, 9 de julho de 2025

Análise de O Meu Pé de Laranja Lima, de José Mauro de Vasconcelos

 I. Vida de José Mauro de Vasconcelos


II. Obras


III. Obra


IV. Época


V. Ação

        1. Resumo

        2. Estrutura

        3. Resumo dos capítulos

                3.1. Primeira parte

                        3.1.1. Primeiro capítulo

                        3.1.2. Segundo capítulo

                        3.1.3. Terceiro capítulo

                        3.1.4. Quarto capítulo

                        3.1.5. Quinto capítulo

                3.2. Segunda parte

                        3.2.1. Primeiro capítulo

                        3.2.2. Segundo capítulo

                        3.2.3. Terceiro capítulo

                        3.2.4. Quarto capítulo

                        3.2.5. Quinto capítulo

                        3.2.6. Sexto capítulo

                        3.2.7. Sétimo capítulo

                        3.2.8. Oitavo capítulo

                        3.2.9. Último capítulo


VI. Análise dos capítulos

        1. Título da 1.ª parte

        2. Capítulo I

                2.1. Título

                2.2. Ação

                2.3. Caracterização das personagens

                        a) Zezé


Ação do capítulo I da 1.ª parte de O Meu Pé de Laranja Lima

    A ação da obra abre com o recurso a uma analepse, cuja função reside em introduzir na narrativa a primeira grande descoberta do narrador: ele revela à família que já sabe ler e que aprendeu a fazê-lo sozinho.

    De facto, o capítulo inicial começa com Totoca a acompanhar Zezé e a ensinar-lhe o caminho até à escola. Nesse momento, a narração recua alguns dias, concretamente até ao momento em que a criança dera a entender que já sabia ler, primeiro ao tio Edmundo e, de seguida, a toda a família. Todos ficam incrédulos e testam-no. Confirmada a situação, decidem que, como sabe eu, Zezé deverá entrar na escola rapidamente, mesmo sendo necessário mentir quanto à sua idade (dado que tinha apenas cinco anos) até porque, assim, daria menos trabalho em casa.

Análise do título do capítulo I da 1.ª parte de O Meu Pé de Laranja Lima

    O título do primeiro capítulo é “O Descobridor das Coisas” e remete pra um dos traços do protagonista: a sua curiosidade, a vontade de compreender tudo o que o rodeia, desde como atravessar a rua até conceitos tão profundos como “idade da razão” ou questões do quotidiano como “aposentadoria”. Neste contexto, o nome «coisas» é propositadamente vago, pois designa tanto um qualquer objeto (uma rua, um comboio, etc.) quanto o invisível (os sentimentos e as emoções suscitados pela música, a dor da violência física, o mistério de aprender a ler sozinho, etc.). Zezé enfrenta uma realidade dura: a violência doméstica, a pobreza, a falta de afeto e amor, por isso uma forma de sobreviver e enfrentar essa realidade consiste em transformar tudo em descoberta. Porém, reside aqui um paradoxo: ele é uma criança que descobre algumas coisas cedo demais, como confessa nas linhas finais: “A verdade, meu querido Portuga, é que a mim contaram as coisas muito cedo.”

Título da 1.ª parte de O Meu Pé de Laranja Lima

    O Meu Pé de Laranja Lima está dividido em duas partes, dois momentos que caracterizam o crescimento do protagonista, Zezé.

    A primeira parte tem o subtítulo “No Natal, às vezes nasce o Menino Diabo”, o qual configura “uma desconstrução satírica da imagem de esperança e redenção que se atribui emocionalmente ao «Menino Jesus»” (Miguel Neves Santos, op. cit., pág. 8). Por outro lado, remete para a imagem de “Menino Diabo» que Zezé vai, ao longo da narrativa, criando de si próprio a partir do modo como os outros se lhe referem, o caracterizam e reagem às suas partidas e travessuras.

Resumo do último capítulo - 2.ª parte - de O Meu Pé de Laranja Lima

    No capítulo final, muito breve, uma espécie de confissão, é já o narrador Zezé-adulto que se dirige a Manuel Valadares, mais de quarente anos depois dos acontecimentos, e lhe confessa o impacto que ele teve na sua vida.

    De facto, Zezé relembra, com ternura e saudade, o vínculo afetivo que manteve com o Portuga durante aquele breve período da infância. Em simultâneo, confessa que, apesar de tantos anos volvidos, por vezes ainda parece sentir-se criança e espera que ele reapareça com presentes simples, como figurinhas ou bolas de gude, os quais simbolizavam o afeto, o cuidado e a atenção que recebia de Valadares. Além disso, reconhece que foi o português quem lhe ensinou a ternura da vida, um sentimento que tenta manter vivo até ao presente, compartilhando afeto com os outros, mesmo quando erra ou se engana, porque, afinal, “a vida sem ternura não é lá grande coisa”.

    Por outro lado, num tom melancólico, admite que foi precocemente atingido por detalhes da realidade dura e cruel que chocam com a inocência e a esperança que devem ser preservadas no decurso da infância. É com essa reflexão sobre a dureza de ter conhecido as dores da vida demasiado cedo, relembrando uma frase de Dostoiévsky para expressar a tragédia de uma infância interrompida pela dor e pela perda.

    A obra termina, pois, de forma poética e dolorosa, mostrando que as marcas da infância permanecem vivas na memória e no coração de Zezé. É um adeus simbólico ao Portuga e à criança que um dia foi, uma criança que conheceu o peso da vida antes do tempo, mas que também conheceu o valor do amor verdadeiro.

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