É neste
capítulo, intitulado “O Mangaratiba”, que tem lugar a última peripécia da obra.
Numa aula, já perto do final do ano letivo, enquanto Zezé brilha no quadro e
encara, entusiasmado, a proximidade das férias, um colega, Jerónimo, entra
atrasado e explica que tal se deveu a um acidente entre o comboio Mangaratiba e
o automóvel de Manuel Valadares. O narrador fica perturbadíssimo e sai da sala
a correr, guiado pela urgência de confirmar com os próprios olhos o que
acontecera ao seu querido Portuga. Ao chegar à confeitaria, procura com o olhar
o automóvel, mas não o vê. Volta a correr, até ser intercetado por seu
Ladislau, que o impede de prosseguir. Convém recordar que a amizade entre Zezé
e Valadares era praticamente um segredo, por isso, com exceção de seu Ladislau
da confeitaria, todas as outras pessoas estranham a reação da criança,
nomeadamente quando entra de tal forma em choque que adoece gravemente.
Entretanto, o homem procura acalmá-lo, afirmando que o português está internado
no hospital e que o levará a vê-lo quando for possível. Desorientado e
arrasado, o menino recusa voltar para casa ou para a escola e vagueia sozinho
pela cidade, chorando, até que chega a um lugar simbólico – a estrada onde o
Portuga o deixara chamá-lo assim e o deixara «morcegar». Aí, dirige um lamento
profundo ao Menino Jesus, questionando por que razão está a ser castigado. De
facto, ele sente-se injustiçado, visto que tem tentado ser um bom menino, mudou
o comportamento, estudou, deixou de dizer palavrões e, ainda assim, continua a
sofrer. Recorda então outra perda que se avizinha: o corto do pé de laranja
lima. Imerso na sua dor, exige ao Menino Jesus que lhe devolva o Portuga. É nesse
momento que ouve uma voz doce e suave, talvez saída da própria árvore onde se
sentara, que lhe diz que o seu amigo foi para o céu.
É
encontrado por Totoca sentado nos degraus da casa de Dona Helena Villas-Boas,
completamente esgotado, febril, sem forças nem para chorar. Totoca tenta
confortá-lo e levá-lo para casa, mas Zezé recusa, afirmando que já não tem mais
nada em sua casa, pois tudo na sua existência perdeu sentido. O irmão,
preocupado, leva-o ao colo até casa e deita-o na cama, percebendo a gravidade
do seu estado. Inicialmente, Jandira desvaloriza a situação, pensando que o
menino está a fingir, porém, durante três dias e três noites, mergulha num
estado de febre alta. Glória, a irmã que mais o acarinha e o protege, muda-se
para o seu quarto, mantém a luz acesa e permanece sempre ao seu lado. Toda a
família, normalmente ríspida, passa a tratá-lo com doçura. O Dr. Faulhaber é
chamado e conclui que Zezé sofre de um choque traumático intenso. A família e
os vizinhos associam erradamente o estado de Zezé ao comentário feito por
Totoca sobre o eventual abate do pé de laranja lima. A própria vizinhança,
antes crítica, mobiliza-se para o apoiar: trazem-lhe doces, ovos, orações e palavras
de afeto. A criança sente-se tocada, mas continua entregue à dor, até que
recebe a visita de Ariovaldo, o vendedor de folhetos, que lhe implora que não
morra. Esta visita comove o menino e marca o início da sua lenta recuperação.
Zezé
começa a conseguir reter alimentos, mas continua a ser assolado por imagens do
Mangaratiba esmagando o Portuga, e pede a Deus que ele não tenha sofrido. Glória
continua a tratar dele com todo o carinho e chega a oferecer a sua mangueira do
quintal, mas o irmão responde que nem a planta dela nem o pé de laranja lima
serão mais importantes. Totoca sente-se culpado por ter contado a notícia que,
supostamente, desencadeou a crise e chega a emagrecer com o remorso. A vida da
família volta, gradualmente, à normalidade, mas Glória não abandona a cabeceira
da sua cama, pois o narrador continua a ostentar um estado de debilidade,
oscilando entre momentos de melhora e outros de recaída e sempre mergulhado
numa sonolência.
Num dos
momentos de febre alta, Zezé tem um sonho que marca o fim da doença. Nesse
sonho, o seu pé de laranja lima aparece pela última vez no texto, iluminado:
entra no quarto com um presente – Luciano, o pássaro, todo enfeitado com penas
prateadas – e leva-o a cavalo pelas ruas, até chegar aos locais que partilhara
com o Portuga e, em particular, até encarar o sinistro som do Mangaratiba e
enfrentar definitivamente a morte do seu
amigo. De facto, Minguinho transforma-se num cavalo voador e Luciano
acompanha-os alegremente ao ombro do narrador. O percurso traz uma breve
sensação de alegria e a tristeza afasta-se por instantes. No entanto, um som
familiar e assustador irrompe à distância: é o apito de um comboio. Zezé
reconhece imediatamente o ruído do Mangaratiba e o pânico apodera-se dele,
convencido de que o comboio quer agora matar o seu outro amigo, Minguinho.
Grita desesperadamente e tenta impedir que a árvore seja esmagada também. O
trem passa com um enorme barulho, fumo e violência e a criança grita várias
vezes «Assassino!», revivendo o trauma da morte do Portuga. A certa altura, o
próprio Mangaratiba parece falar, repetindo entre risos e gargalhadas o
seguinte: “Eu não sou culpado... Eu não fui culpado...”.É neste momento que
Zezé acorda, como se despertasse também para a realidade, em sobressalto,
gritando, a vomitar. A mãe abraça-o, tentando confortá-lo, dizendo que foi
apenas um pesadelo. Glória, em lágrimas e esgotada, relata que acordou com os
gritos do irmão a chamar «assassino» a alguém e a falar de morte e destruição.
Poucos
dias depois, a doença chega ao fim. Numa manhã, Glória entra no quarto com uma
flor na mão – é a primeira flor de Minguinho, símbolo de que a árvore está a
crescer, mas também marca o fim da inocência de Zezé, que compreende que a flor
representa uma despedida simbólica – o pé de laranja lima deixa de pertencer ao
mundo da imaginação e passa a fazer parte do mundo real e doloroso. Depois,
Glória propõe-lhe tomar um pequeno-almoço leve (um mingau) e dar uma volta pela
casa, o que simboliza o regresso à normalidade. Luís convida o narrador a
brincar: quer visitar o jardim zoológico, a Europa, a selva amazónica, e brincar
com Minguinho. Zezé não quer desiludir o irmão e aceita. Glória observa,
emocionada, a cena, aliviada por o ver regressar ao mundo da fantasia. Quando
Luís pergunta pela pantera negra, símbolo de uma das fantasias partilhadas
entre ambos, o narrador hesita, mas acaba por manter viva a ilusão do irmão e
responde que o animal foi passar férias na Amazónia. Por dentro, todavia, tem
consciência da realidade, isto é, que nunca houve pantera nenhuma, apenas uma
galinha velha que acabou num caldo. A selva do Amazonas, por outro lado, não
passava de algumas laranjeiras do quintal.
Por
fim, Zezé, cansado, decide terminar a brincadeira, prometendo retomá-la no dia
seguinte. Luís, por causa da sua tenra idade, não compreende que aquela flor
branca que Glória trouxe representa o adeus definitivo a Minguinho – e, com
ele, à infância, à fantasia e à inocência do narrador.