1. Lê o seguinte excerto.
Deambulações e pensamentos ...
– Amo,
pelas tardes demoradas de
verão, o sossego da cidade baixa,
e sobretudo aquele sossego que o contraste acentua na parte que o dia mergulha
em mais bulício. A Rua
do Arsenal, a Rua da Alfândega, o prolongamento das ruas tristes
que se alastram para leste desde que a da Alfândega cessa, toda a linha
separada dos cais
quedos
– tudo isso me conforta de tristeza, se me insiro, por essas tardes, na solidão do seu conjunto. Vivo uma
era anterior àquela em que vivo; gozo de sentir-me coevo de
Cesário Verde, e tenho em mim, não
outros
versos como os dele, mas a substância igual à dos versos que foram dele. Por ali arrasto, até haver noite, uma sensação de vida parecida
com a dessas ruas. De dia elas são
cheias de um bulício que não quer dizer nada; de noite são cheias
de uma falta de bulício
que não quer dizer nada. Eu de dia sou nulo, e
de noite sou eu. Não há diferença entre
mim e as ruas para o lado da Alfândega, salvo elas
serem ruas e eu ser alma, o que pode ser que nada valha, ante
o que é a essência
das coisas. Há um destino igual, porque é abstrato,
para os homens e para as coisas – designação igualmente indiferente na álgebra do mistério.
Mas há
mais alguma coisa... Nessas
horas lentas e vazias, sobe-me da
alma à mente uma tristeza de todo o ser, a amargura de tudo ser ao mesmo tempo uma sensação minha e uma coisa
externa, que não está em meu poder alterar.
Ah, quantas vezes os meus
próprios sonhos se me erguem em
coisas, não para me substituírem
a realidade, mas para me confessarem seus pares em eu os não
querer, em me surgirem de fora, como o elétrico
que dá a volta na curva extrema da rua, ou
a voz do apregoador noturno, de não sei que coisa, que se
destaca, toada árabe, como um repuxo súbito, da monotonia do entardecer!
Bernardo Soares, Livro do Desassossego: composto por Bernardo
Soares, ajudante de guarda-livros na cidade de Lisboa
(ed. Richard Zenith), 7. ª ed., Lisboa,
Assírio & Alvim, 2014, pp. 41-42
1.1. Identifica as classes e as
subclasses das palavras presentes nas seguintes tabelas.
Palavras
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Classe
|
Subclasse
|
|
Palavras
|
Classe
|
Subclasse
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«tardes» (l. 1)
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«De dia» (ll. 7-8)
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«sobretudo» (l. 1)
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«um» (l. 8)
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«aquele» (l. 1)
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«que» (l. 8)
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«mais» (l. 2)
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«Eu» (l. 9)
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«se» (l. 3)
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«nulo» (l. 9)
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«desde» (1l. 3)
|
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«Não» (l. 9)
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«a» (l. 3)
|
|
|
|
«entre» (l. 9)
|
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«Alfândega» (l. 3)
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«o» (l. 10)
|
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«quedos» (l. 4)
|
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«salvo» (l. 10)
|
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|
«me»(l.4)
|
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|
|
«ante» (l.
10)
|
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|
«se» (l. 4)
|
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|
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«porque» (l. 11)
|
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|
«essas» (l. 4)
|
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|
|
«abstrato» (l. 11)
|
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«seu» (l. 5)
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|
«tudo» (l.
14)
|
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|
«àquela» (l. 5)
|
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|
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«e» (l. 14)
|
|
|
«coevo» (l. 5)
|
|
|
|
«Ah» (l. 15)
|
|
|
«mim»(l.6)
|
|
|
|
«os» (l. 16)
|
|
|
«outros» (l. 6)
|
|
|
|
«de fora»
(l. 17)
|
|
|
«como» (l. 6)
|
|
|
|
«ou» (l. 17)
|
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|
«ali» (l 7)
|
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|
«entardecer» (l. 18)
|
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|
2. Associa as formas verbais
da coluna A à respetiva subclasse da coluna B.
A
|
B
|
a) «Amo»(l. 1)
|
1. 1ntransitivo
|
b) «cessa» (l. 3)
|
2. Transitivo direto.
|
c) «insiro» (l. 4)
|
3. Transitivo indireto.
|
d) «sentir»
(l. 5)
|
4. Transitivo direto e indireto.
|
e) «serem» (l.10)
|
5. Transitivo predicativo.
|
f) «substituírem»(1. 16)
|
6. Copulativo
|
2.1. Classifica os verbos
auxiliares dos complexos verbais presentes nas seguintes frases:
a)
Bernardo Soares tinha deambulado pela cidade baixa. ................................................
b) Continuou a percorrer as ruas tristes.
......................................................................
c) A realidade nunca será substituída pelos sonhos. ............................................................
d) Soares não pode alterar a tristeza que o invade. ..........................................................
e) A
realidade circundante há de fasciná-lo eternamente. ................................................
2.2. Indica o tempo e o modo dos complexos verbais.
.............................................................................
3. Indica a classe e a subclasse dos vocábulos relativos presentes nas seguintes
frases:
a) O excerto pertence ao Livro do Desassossego, cujo autor é Bernardo Soares.
...........................................................................................................................................................
b) O enunciador, que percorre a cidade de Lisboa, tece várias considerações.
.............................................................................................................................................................
e) As reflexões surgem a
partir de locais
da cidade de Lisboa por onde
deambula.
............................................................................................................................................................
d) Há quem pense que Bernardo
Soares é uma figura real.
............................................................................................................................................................
e) O Livro do Desassossego, do qual há muito me falaram, é realmente composto
por fragmentos.
............................................................................................................................................................
3.1. Indica os antecedentes dos relativos presentes
nas alíneas a),
b), e) e e).
..............................................................................................................................................................
4.
Reescreve as seguintes frases, substituindo a expressão destacada por um pronome.
a) Os sonhos surgem de fora a Bernardo Soares.
...............................................................................................................................................
b) Podemos dispor livremente os fragmentos do Livro do Desassossego.
...............................................................................................................................................
e) Quando puder, lerei este excerto do livro à minha mãe.
................................................................................................................................................
d) Temos lido vários fragmentos da obra.
................................................................................................................................................
e) Na próxima aula, leremos um novo fragmento.
................................................................................................................................................
f) Relatar-vos-ei a deambulação de Bernardo Soares.
................................................................................................................................................
5.
Indica se o valor do pronome pessoal «se»,
presente nas seguintes frases, é reflexo, recíproco, inerente, impessoal ou passivo.
a) Atualmente, lê-se muito pouco. ...............................................................................................
b) Bernardo Soares goza de sentir-se coevo de Cesário Verde. ...................................................
e) Salientam-se os heterónimos pessoanos e não o semi-heterónimo. ......................................
d) Se Pessoa e Soares se encontrassem, decerto que se cumprimentariam. ................................
e) Viu-se absorto e perdido nos seus próprios pensamentos.
.........................................................
5.1. Completa as afirmações que se seguem
com os valores utilizados anteriormente:
a) o pronome pessoal surge sem pessoa gramatical, quando apresenta os valores
..................................................................................................................................................
b) o pronome pessoal
surge com as várias pessoas
gramaticais, quando ocorre
com os valores
..................................................................................................................................................
e) o pronome pessoal
surge somente com sujeitos plurais ou
com sujeitos constituídos por grupos
nominais coordenados, quando apresenta o valor
..................................................................................................................................................
5.2.
Comprova o valor passivo do pronome pessoal
«se», colocando a(s) respetiva(s) frase(s)
na voz passiva.
..........................................................................................................................................................
5.2
Indica as alíneas que apresentam frases em que:
a) o «se» exprime um sujeito
indeterminado, parafraseável por «há pessoas que»; «há quem» ou «alguém».
..........................................................................................................................................................
b) o
«se» indica que
uma única entidade
é simultaneamente agente
e paciente da ação expressa
pelo verbo, ao qual se pode juntar as expressões
«a si» e «a si próprio/mesmo».
........................................................................................................................................................
6. Refere a classe
e a subclasse dos constituintes destacados.
a) Soares subiu por ali, pois algo o impeliu. .............................................................................................
b) Deambulava vagarosamente para apreciar o que via. ...............................................................................
e) O seu escritório ficava perto daquele lugar.
.......................................................................................
d) Os sonhos surgiam-lhe de dia, insistentemente. .................................................................................
* * * * *
Correção
1.
«tardes»: nome/ comum;
«sobretudo»: advérbio/ modo;
«aquele»: determinante
/ demonstrativo;
«mais»:
advérbio / quantidade e grau;
«se»: pronome / pessoal (inerente);
«desde»: preposição;
«a»:
pronome/ pessoal;
«Alfândega»: nome/
próprio;
«quedas»:
adjetivo/qualificativo;
«me»: pronome/
pessoal;
«se»: conjunção/ subordinativa condicional;
«essas»: determinante/ demonstrativo;
«seu»:
determinante/ possessivo;
«àquela»: pronome/
demonstrativo (forma contraída);
«coevo»: adjetivo/ qualificativo;
«mim»: pronome/
pessoal;
«outros»:
determinante/ indefinido;
«como»: conjunção / subordinativa comparativa;
«ali»: advérbio
/ lugar;
«De
dia»: locução adverbial/ tempo;
«um»:
determinante/ artigo indefinido;
«que»: pronome/ relativo;
«Eu»:
pronome/ pessoal;
«nulo»: adjetivo/ qualificativo;
«Não»: advérbio/ negação;
«entre»: preposição;
«o»: determinante/ artigo definido;
«salvo»: advérbio/
exclusão;
«ante»: preposição;
«porque»: conjunção/subordinativa causal;
«abstrato»: adjetivo/ qualificativo;
«tudo»: pronome/ indefinido;
«e»: conjunção/ coordenativa copulativa;
«Ah»: interjeição;
«os»: pronome/ pessoal;
«de fora»: locução adverbial/ lugar;
«ou»: conjunção/ coordenativa disjuntiva;
«entardecer»:
nome/ comum.
2.
a) 2
b) 1
c) 3
d) 5
e) 6
f) 4
2.1.
a) «tinha»: auxiliar do tempo composto;
b)
«Continuou»: auxiliar aspetual;
c) «será»: auxiliar
da passiva;
d)
«pode»: auxiliar modal;
e) «há (de)»: auxiliar temporal.
2.2.
a) Pretérito mais-que-perfeito composto do indicativo;
b) Pretérito perfeito do indicativo;
c) Futuro do indicativo;
d) Presente do indicativo;
e) Presente do indicativo.
3.
a) «cujo»:
determinante relativo;
b) «que»: pronome relativo;
c) «onde»: advérbio relativo;
d) «quem»: pronome relativo;
e) «(d)o qual»: pronome relativo.
3.1.
a) «(o) Livro do Desassossego»;
b)
«O enunciador»;
c) «(d) – a
cidade de Lisboa»;
d) sem antecedente;
e) «O Livro
do Desassossego».
4.
a) Os
sonhos
surgem-lhe de fora;
b) Podemos dispô-los livremente;
c)
Quando puder, ler-lho-ei;
d) Temo-los lido;
e) Na próxima aula, lê-lo-emos;
f) Relatar-vo-la-ei.
5.
a) Valor impessoal;
b) Valor inerente;
c) Valor passivo;
d) Valor recíproco;
e) Valor reflexo.
5.1.
a) impessoal e passivo;
b) inerente e reflexo;
c) recíproco.
5.2.
Os heterónimos pessoanos são salientados e não o semi-heterónimo.
5.3.
a) alínea a);
b) alínea e).
6.
a) Locução adverbial de lugar;
b) Advérbio de modo;
c) Advérbio de lugar;
d) Locução adverbial de tempo.