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sábado, 23 de abril de 2022

Análise de O Delfim

 I. Biografia de José Cardoso Pires


II. Bibliografia de José Cardoso Pires


III. Prémios e distinções de José Cardoso Pires


IV. Contexto de O Delfim


V. Título


VI. Ação e intriga


VII. O espaço


VIII. O tempo

            1. Tempo da história

            2. Tempo histórico

            3. Tempo psicológico

            4. Símbolos do tempo


IX. Personagens

            1. Conceção / Composição

            2. Caracterização / Retrato

                    2.1. Delfim

                    2.2. Maria das Mercês

                    2.3. Domingos

                    2.4. Triângulo amoroso

                    2.5. Narrador / Personagem / Escritor-furão

                    2.6. Hospedeira

                    2.7. Regedor

                    2.8. Cauteleiro e Batedor

                    2.9. Padre Novo


X. Simbolismo e metáfora

            1. O fumo

            2. O furão

            3. Os cães

            4. Os vaga-lumes

            5. O retrato de Manolete

            6. Edwin Aldrin


XI. Narrador

            1. Presença

            2. Ciência

            3. Autorreflexividade


XII. Narratário


XIII. Linguagem

        1. Registos de língua

        2. Léxico


XIV. A literatura oral

        1. A linguagem popular

        2. Provérbios e outras expressões populares


XV. A verosimilhança


XVI. A intertextualidade


Bibliografia

. CORDEIRO, Herlander, et al. O Delfim de José Cardoso Pires – Propostas para uma leitura orientada. Porto Editora, Porto, s/d.

. CRUZ, Liberto, José Cardoso Pires, Análise Crítica e Seleção de Textos. Editora Arcádia, Lisboa, 1972.

. LEPECKI, Maria Lúcia, José Cardoso Pires. 1.ª ed., Col. Margens do Texto. Moraes Editora, Lisboa, 1977.

. CERDEIRA, Teresa Cristina, José Cardoso Pires: uma vírgula na paisagem. Roma, Bulzoni Editora, 2003.

. SANTANA, Rafael, De fornicadores fornicados: uma leitura de O Delfim de José Cardoso Pires.

 

Análise da Ilíada



III. Contexto
     
     1. A guerra de Troia.






VI. Ação

     1. Resumo da Ilíada.

     2. Estrutura.

     3. Título.

     4. Livros / Cantos:
          . Canto I:
               . Resumo.
               . Análise.
          . Canto II:
               . Resumo.
               . Análise.
          . Canto III:
               . Resumo.
               . Análise.
          . Canto IV:
               . Resumo.
               . Análise.
          . Canto V:
               . Resumo.
               . Análise.
          . Canto VI:
               . Resumo.
               . Análise.
          . Canto VII:
               . Resumo.
               . Análise.
          . Canto VIII:
               . Resumo.
               . Análise.
          . Canto IX:
               . Resumo.
               . Análise.
          . Canto X:
               . Resumo.
               . Análise.
          . Canto XI:
               . Resumo.
               . Análise.
          . Canto XII:
               . Resumo.
               . Análise.
          . Canto XIII:
               . Resumo.
               . Análise.
          . Canto XIV:
               . Resumo.
               . Análise.
          . Canto XV:
               . Resumo.
               . Análise.
          . Canto XVI:
               . Resumo.
               . Análise.
          . Canto XVII:
               . Resumo.
               . Análise.
          . Canto XVIII:
               . Resumo.
               . Análise.
          . Canto XIX:
               . Resumo.
               . Análise.
          . Canto XX:
               . Resumo.
               . Análise.
          . Canto XXI:
               . Resumo.
               . Análise.
          . Canto XXII:
               . Resumo.
               . Análise.
          . Canto XXIII:
               . Resumo.
               . Análise.
          . Canto XXIV:
               . Resumo.
               . Análise.

VII. Personagens

     a) Aquiles

     b) Heitor

     c) Agamémnon

     d) Ulisses

Operação especial Páscoa


Kamensky

terça-feira, 19 de abril de 2022

Análise da cena 15 da Farsa de Inês Pereira - Monólogo de Inês

 
● Inês fica fechada em casa a lavrar e a cantar, lamentando a sua sorte. A cantiga que entoa (“Quem bem tem e mal escolhe / por mal que lhe venha nam s’anoje”) demonstra que a jovem que tem todas as condições para viver feliz e faz uma má escolha não pode queixar-se do mal que lhe acontece.
 
● Em que se baseia esta mágoa de Inês? Desiludida e desencantada, compreende que teve a oportunidade de casar com um homem de bem, Pero Marques, mas iludiu-se e rejeitou-o, não lhe restando outra alternativa que não resignar-se com a situação.
  De facto, ela acreditava que os fidalgos fossem homens gentis, simpáticos e cavalheiros com as suas mulheres, apesar de corajosos, audazes, destemidos e impiedosos na guerra, no entanto compreende que o facto de um homem ser nobre não significa que seja respeitador e educado, por isso renega o modelo de marido imaginado até então. Ela queria casar com um cavaleiro culto e de boas maneiras, mas Brás da Mata revela-se exatamente o oposto do que ela sonhara.
 
● Lembrando-se do seu marido, que a maltrata, Inês alude a um ditado popular que diz que quem procede como aquele procedeu é um homem covarde, o que reforça a sua convicção.
 
● Assim, Inês jura que, se ficar solteira de novo, como ela deseja, só se casará com um marido dócil, que lhe faça todas as vontades, que ela possa dominar e lhe permita fazer na vida o que bem entender. Deste modo, vingar-se-ia da situação que vive no presente (“Deste mal e deste dano”). Esta caracterização encaixa perfeitamente em Pero Marques, pois a sua simplicidade, a dedicação, a promessa de esperar pela decisão de Inês, apesar do desdém com que foi tratado, indiciam que ele será um marido humilde e submisso.
 
 
Estado de espírito de Inês
 
            Inês mostra-se desiludida e revoltada com a sua situação e constata que foi precipitada e imprudente aquando da escolha do marido. Além disso, arrepende-se de não ter optado por um pretendente mais dócil e promete vingar-se do seu destino.
 

 

Inês

Casamento com o Escudeiro

 

 

Antes

(Monólogo dos vv. 1-36)

Depois

(Monólogo dos vv. 834-862)

Estado de espírito e suas causas

aborrecida e irritada

dececionada e triste

Desejo manifestado

libertar-se da influência da Mãe através do casamento

ficar novamente solteira para poder escolher um marido diferente

Modelo de marido

um homem discreto, não necessariamente bonito ou rico e meigo

um homem honesto, pacífico, que a deixe fazer o que ela quiser

 
 
Paralelismo da situação atual com a do início da peça
 
            A situação que Inês vive atualmente é muito idêntica ao início da peça, com Inês enclausurada em casa, amargurada com a sua situação. A Mãe, tal como Brás da Mata, dá-lhe ordens e trata-a com descortesia (“Como queres tu casar / com fama de preguiçosa?”).
 

Inês solteira

=

Inês casada

Local onde está

Casa da Mãe, fechada

 

Local onde está

Sua casa (que lhe foi dada pela mãe, aquando do casamento), fechada.

Atividades a que se dedica

Bordado e canto

 

Atividades a que se dedica

Bordado e canto

Estado de espírito

Insatisfeita com a vida, lamentando a sua sorte

 

Estado de espírito

Insatisfeita com a vida, lamenta-se da sua sorte

Conteúdo do monólogo

Renega o que está a fazer, queixa-se de estar fechada e deseja sair do seu «cativeiro» casando

 

Conteúdo do monólogo

Renega o que está a fazer, queixa-se de estar fechada e espera sair do seu «cativeiro» depois da casada, arrependendo-se da decisão que tomou

 

Visão que tem do futuro marido

Homem “avisado”, de boas maneiras, tocador de viola e versejador, que lhe proporcione uma vida com diversão

 

Visão que tem do marido

Homem insensível e tirano, que quer mantê-la presa, não permitindo que saia de casa ou chegue à janela

 
 
Composição da personagem Inês Pereira
 
            Inês é uma personagem modelada, dado que evolui ao longo da peça. Assim, no início, mostra-se infeliz e aborrecida com a sua vida. Quando se casa, vive um momento fugaz de felicidade e alegria, retoma o estado de espírito do início do auto, lamentando a sua situação, reconhecendo que errou e arrependendo-se de ter casado com o Escudeiro.
 
 
● De notar, a nível estilístico, a anáfora dos versos 869 e 870 e a ironia na fala de Inês, fechada, tecendo considerandos sobre a sua situação e sobre o comportamento do marido. Por outro lado, está presente a metonímia: a referência a «cavalarias» e a «mouros» remete para os comportamentos e as virtudes que deveriam caracterizar um nobre – o ideal de cavalaria e a coragem na guerra contra os infiéis.

Análise da cena 14 da Farsa de Inês Pereira


● O Moço fecha Inês em casa, argumentando que não pode desobedecer às ordens do seu amo. Assim, deixa-a a lavrar, enquanto ele sai para se divertir com as moças.
 
● Inês responde-lhe de forma irónica, criticando a lealdade do Moço ao Escudeiro, lembrando-lhe (através da afirmação do inverso: “Pois que te dá de comer, / faze o que t’encomendou”) que Brás da Mata não lhe pagou e não lhe deixou comida, o que deveria fazer com que ele se insurgisse ou não cumprisse as suas ordens.
 
● Esta ironia de Inês torna-se mais relevante, dado que, nas cenas anteriores, o Moço tinha acusado o Escudeiro de não lhe dar de comer.

Análise da cena 13 de Farsa de Inês Pereira: Inês e o Escudeiro casados



● Após a boda, plena de cantorias e alegria, os recém-casados ficam sozinhos e Inês começa a lavrar e a cantar de felicidade. Ela, que agora se julga livre, está tão feliz que retoma espontaneamente os bordados que antes lhe causavam tanto enfado.
 
● A cantiga (“Si no os hubiera mirado / no penara / pero tan pouco os mirara.”) prenuncia o seu casamento: o «eu» manifesta a dor provocada pela relação com o ser amado (“penara”), o que sugere que o casamento de Inês será infeliz.
 
● Brás da Mata, que até então se apresentara como um homem galante e respeitador, revela-se um tirano autoritário, impondo à esposa um conjunto de interdições:

proíbe Inês de cantar (“Vós cantais Inês Pereira / […] que esta seja a derradeira”);

ordena-lhe que se cale (“Será bem que vos caleis”);

proíbe-a de lhe responder, devendo acatar tudo quanto ele disser sem retorquir (“E mais sereis avisada / que não me respondais nada”);

proíbe-a de conversar com quem quer que seja (“Vós não haveis de falar / com homem nem molher que seja”);

proíbe-a de sair de casa, incluindo ir à igreja (“nem somente ir à igreja”);

impede-a de estar à janela (“Já vos preguei as janelas, / por que vos não ponhais nelas”).

Em suma, Inês ficará fechada em casa, «como freira d’Odivelas». Esta comparação mostra como o Escudeiro é um tirano que manterá Inês presa na sua residência.

 
● Comparando este passo da peça com a vida da jovem enquanto solteira, poderemos concluir que a sua vida de casa é pior do que nessa altura, visto que o marido se revela mais autoritário e repressivo do que a Mãe, trancando Inês e não lhe dando hipótese sequer de dizer o que pensa.
 
● Como se pode justificar esta mudança de atitude do Escudeiro? Se recuarmos até ao momento em que Brás da Mata surge em cena pela primeira vez, recordaremos que ele desconfiava da seriedade de Inês, por isso é «natural» que, agora, a prenda em casa e a vigie, após o casamento. Por outro lado, como sabemos, o Escudeiro apenas escondeu, momentaneamente, o seu verdadeiro caráter, que nós já conhecíamos a partir dos diálogos com o Moço, para conquistar Inês. Nessas conversas, Brás da Mata mostrara um comportamento violento e agressivo (“Faria bem de ta quebrar / na cabeça, bem migada”) e um caráter autoritário que agora de manifesta (“homem sesudo / traz a mulher sopeada”).
 
● Qual é a reação de Inês à postura do Escudeiro? A jovem mostra-se surpreendida, não compreendendo a razão das interdições a que é sujeita (“Que pecado foi o meu? / Porque me dais tal prisão?”). Inês começa a perceber que se iludiu e cometeu um erro ao casar com Brás da Mata, no entanto manifesta-se submissa: “Bofé, senhor meu marido, / se vós disso sois servido, / bem o posso eu escusar”. Ela é repreendida pro fazer aquilo que em casa da mãe faria sem restrições: cantar.
 
● Como justifica à esposa o Escudeiro o seu comportamento? A ironia dos versos “Vós buscastes discrição, / que culpa vos tenho eu?” mostra a Inês que foi ela quem quis um homem como ele, o que significa que a jovem é a única responsável pelas consequências da sua escolha. Ironicamente, acrescenta que está preocupado com Inês e que apenas a quer proteger: “Pode ser maior aviso, / maior discrição e siso / que guardar eu meu tesouro?”.
 
● Por outro lado, as interrogações retóricas e as metáforas (“meu tesouro” e “meu ouro”) permitem ao Escudeiro mostrar o quão preciosa a esposa é para ele e como a quer proteger (o seu bem maior) da cobiça alheia.
 
● Em suma, a vida de casada de Inês caracteriza-se pela reclusão em casa, pela ausência de contacto com o exterior e com outras pessoas, pela absoluta submissão aos ditames do marido (“Vós não haveis de mandar / em casa somente um pelo. / Se eu disser isto é novelo / havei-lo de confirmar.”), pelo medo dele (“E mais quando eu vier / de fora haveis de tremer”) e, como se verá alguns versos adiante, pela entrega ao trabalho.
 
● De seguida, o Escudeiro comunica ao Moço a sua decisão de partir para as “Partes d’Além”, isto é, para o Norte de África (Marrocos), para guerrear e fazer-se cavaleiro.
 
● Antes de partir, incumbe o Moço de uma missão: na sua ausência, vigiará Inês e o seu comportamento, mantê-la-á fechada em casa e assegurar-se-á de que as suas ordens serão cumpridas: “olha por amor de mi / o que faz tua senhora / fechá-la-ás sempre de fora.”. Relativamente a Inês, permanecerá encerrada em casa a lavrar.
 
● No diálogo que se segue, o Moço queixa-se que não tem recursos para se sustentar, porque Brás da Mata continua pobre.
 
● O Escudeiro incentiva, por isso, o Moço a roubar, indo “por essas vinhas”, a matar a fome com “rabisco”, nas “figueiras”, comendo favas e “túbaras da terra”. Estes conselhos comprovam, novamente, a falta de valores e de princípios do Escudeiro, que são ridicularizados, através da ironia, pelo seu criado.
 
 
Retrato de Brás da Mata
 
            Após o casamento com Inês, o Escudeiro mostra o seu verdadeiro caráter:

▪ cruel

▪ autoritário

▪ agressivo

▪ opressivo e tirânico, pois não permite que Inês

cante

lhe responda

fale com alguém

saia de casa em qualquer circunstância

mande em casa “somente um pelo”

o contrarie, tendo de concordar sempre com o que ele disser

ordena ao Moço que vigie constantemente Inês e a mantenha sempre fechada em casa

▪ ambicioso: parte para Marrocos para se fazer cavaleiro na guerra;

▪ pobre:

não deixa dinheiro ao Moço para se governar;

aconselha-o a alimentar-se percorrendo as vinhas, comendo figos, favas e cogumelos.

            É de realçar o contraste entre o amavio das palavras do Escudeiro enquanto pretendente e o seu comportamento agressivamente machista de casado. O fingimento e as mentiras acabaram e veio à tona o verdadeiro caráter de Brás da Mata.
            Por outro lado, a decisão que o Escudeiro toma de ir para o Norte de África parece resultar de um duplo equívoco:
Inês esperava do casamento uma intensa vida social e vê-se sujeita à situação inicial de clausura, dedicada às tarefas caseiras (“vós lavrai e ficar per i”);
o Escudeiro, defraudado na expectativa de colmatar pelo casamento a sua crónica penúria, vê-se obrigado a procurar na guerra um meio de subsistência ou, quiçá, de promoção social.
 
 
Cómico de situação
 
            A situação que se desenrola neste passo da farsa propicia o cómico em torna da figura de Inês, que vê o seu sonho de vida desfazer-se. De facto, tudo lhe sai ao contrário e ela apenas se iludiu: a jovem que quis ascender socialmente, desafiando as convenções da época, foi castigada, pois não soube contentar-se com o seu estado.
 
 
Dimensão satírica do diálogo
 
            O diálogo entre Brás da Mata e o Moço revela, novamente, a pobreza e a miséria da baixa nobreza decadente (representada pelo Escudeiro), que vive de aparências, e a exploração dos serviçais (Moço), que são enganados e explorados e passam fome por não receberem a remuneração devida. As soluções sucessivas que Brás da Mata apresenta para acudir à fome do seu serviçal acentuam a sátira e a comicidade, pela referência a alimentos ridículos e, por vezes, roubados. Por outro lado, esta cena revela ainda a insensibilidade do Escudeiro face a quem o serviu sempre, apesar das condições degradantes que lhe proporcionou.
 
 
A condição da mulher medieval
 
            A partida de Brás da Mata para o Norte de África, deixando o Moço a vigiar Inês, mostra como, na época de Gil Vicente, a mulher era totalmente submissa ao marido, e, na sua ausência, ela estava privada de ter vida própria. O seu estatuto social é tão baixo que até o criado tem poder sobre ela.
 
 
Recursos estilísticos:

. Comparação: “Estareis aqui encerrada / Nesta casa tão fechada, / Como freira d’Odivelas.” (vv. 801-803) ® tirânico, o Escudeiro manterá Inês encerrada em casa, como numa prisão.

. Metáforas:
‑ “Que guardar o meu tesouro?
Não sois vós, mulher, meu ouro...” (vv. 810-811) ® Inês queria um marido discreto, com siso. Ora, haverá homem mais “avisado” do que aquele que procura guardar a sua mulher, o bem mais precioso, da cobiça alheia?

. Ironia do Moço:

‑ “Se vós tivésseis dinheiro,                                              ü
    Não seria senão bem.” (vv. 824-825)                         ï
‑ “Co dinheiro que leixais                                                 ï
  Não comerei eu galinhas...” (vv. 831-832)                  ý denuncia  a  penúria do  Escu-
‑ “E convidarei minha prima.” (v. 839)                           ï deiro
‑ “I-vos vós, embora, à guerra,                                        ï
   Qu’eu vos guardarei oitavas.” (vv. 847-848)              þ
 

Autárquicas 2021: um trio cheio de CIU


 

Análise da cena 12 da Farsa de Inês Pereira: festejo do casamento


● Os noivos trocam as palavras do ritual de casamento e, de imediato, os Judeus procuram cobrar o seu pagamento pelo êxito dos seus serviços: “Dai-nos cá senhos ducados.”. A Mãe promete efetuar o pagamento no dia seguinte.
 
● O Escudeiro mostra-se arrependido por ter casado (“Oh! Quem me fora solteiro!”) e confessa que “casar é cativeiro”, isto é, o matrimónio é sinónimo de prisão, indiciando o futuro de Inês. Casar significam, por um lado, perder a liberdade que possuía enquanto solteiro e, por outro, indicia o papel submisso da mulher no enlace. Deste modo, Brás da Mata retira a máscara com que seduziu Inês, revelando, por fim, a sua personalidade.
 
● Inês, ao ouvir o seu já marido, mostra-se surpreendida/admirada (“Já vós vos arrependeis?”), no entanto, diverte-se na boda, cantando e dançando.
 
● Face ao exposto, podemos concluir que o Escudeiro perspetiva o casamento como Inês concebia a vida de solteira: uma prisão. Porém, a relação deste passo da farsa não se esgota aqui. De facto, no monólogo inicial, a jovem sentia-se presa em casa da Mãe e aborrecida com as tarefas domésticas, por isso se casou com Brás da Mata, na esperança de se libertar e se emancipar da ascendência materna. Contudo, como se pode constatar, o Escudeiro encara o casamento como ela perspetiva a vida de solteira: um cativeiro.
 
● A Mãe organiza uma festa para celebrar o casamento da filha, convidando para a mesma algumas moças e mancebos vizinhos, entre eles Luzia e Fernando, que cantam uma cantiga. Embora a festa tenha sido organizada à pressa, nela não faltam a alegria, o baile ao ar livre, as cantigas e os votos de felicidades dos convidados aos noivos.
 
● Uma das cantigas é bastante significativa, dado que sugere a situação futura de Inês. Recordemos a letra: “Uma garça enamorada ia ferida e soltava gritos de dor. Nas margens de um tio tinha o ninho, mas um caçador feriu-a na alma. Por isso, soltava gritos de dor.” A garça (Inês) está apaixonada, mas vai triste, só e chorosa (o marido já não a ama ou maltrata-a). Tinha um ninho (o novo lar), mas um caçador (o Escudeiro) feriu-a de amor, daí os seus gritos de dor e sofrimento.
 
● A Mãe presenteia os noivos com a sua casa, dá a sua bênção ao casamento e incentiva Brás da Mata a amar e respeitar Inês para ser amado e respeitado: “que lhe tenhais muito amor, / que amado sejais no céu.”. A figura materna está, em suma, a cumprir o seu papel de mãe preocupada e protetora. Após a bênção, despede-se e não volta a aparecer. Porquê? Inês tomou uma decisão (a de casar com Brás da Mata) e agora terá de assumir todas as consequências daí decorrentes.
 
● Fernando e Luzia, dois moços alegres e amigos de Inês, são o símbolo da ingenuidade e da simplicidade.
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