Português: Homero e os primórdios da Antiguidade Clássica

terça-feira, 28 de setembro de 2021

Homero e os primórdios da Antiguidade Clássica

             Homero viveu numa época de profundas transformações na história da Grécia, tendo em conta que o poeta terá vivido algures entre 725 e 625 a.C., o que significa que coincidiu com o início do chamado período arcaico, o período da Antiguidade Clássica, cujo princípio foi associado ao séc. XIII a.C., em paralelo com o desenvolvimento das cidades-estado gregas, com a expansão das rotas comerciais gregas e com o surgimento do alfabeto grego simplificado. Isto significa que o bardo grego viveu e compôs as suas obras numa época em que a civilização grega antiga estava a começar.

            Os historiadores dividem a história da Grécia pré-clássica em dois períodos: a Idade do Bronze e a Idade do Ferro, marcando as principais transformações culturais e tecnológicas, relacionadas com as mudanças ocorridas em decorrência dos metais usados pelas sociedades. Deste modo, a expressão «Idade do Bronze» designa uma época em que o bronze era o principal metal a ser usado, e os povos que povoaram a Grécia nesses tempos eram conhecidas como micénicos. A civilização micénica entrou em decadência por alturas do ano 1200 a.C., deixando para a eternidade os primeiros escritos gregos, que foram compostos num script conhecido como Linear B, que nos permite concluir que já no século XV a.C. os Micénicos se serviam de um silabário para fazer os seus registos, silabário esse que deriva do Linear A, ainda não decifrado, que usavam os Minoicos. Precisamente porque a língua empregada no Linear B era já grego, foi possível concluir que os Micénicos eram gregos. No entanto, este complicado processo de escrita (do Linear B já se encontraram mais de 1000 tabuinhas), que usa um sinal diferente para cada sílaba (e não de um para cada som, como o alfabeto) desapareceu por completo (como única reminiscência, embora duvidosa, poderá apontar-se um passo do Canto VI da Ilíada, na história de Belerofonte, quando o rei Proitos, para se vingar daquele jovem, injustamente caluniado, o manda a seu sogro, rei da Lícia, com umas tabuinhas em que estavam traçados sinais ominosos, que deviam provocar a sua morte – se esses sinais eram convencionais ou constituíam já um processo de escrita, não se consegue determinar pelo contexto. O verso 163 do referido canto refere que o capitão de um navio usada no comércio marítimo «lembra a carga», expressão que pode significar que fixa a sua importância ou que a anota por escrito. Este último costume era uma prática corrente entre os Micénicos.) da memória dos homens com a invasão dórica, em 1100 a.C., sendo resgatado, milhares de anos depois, pelos arqueólogos.

            A recuperação do colapso da civilização micénica e a sua reorganização conduziram os Gregos à Idade do Ferro, quando este metal substitutivo do bronze como principal material industrial. Apesar dos avanços metalúrgicos, este novo período constituiu um obscurecimento. Por exemplo, enquanto na Idade do Bronze floresceram dois sistemas de escrita distintos, a do Ferro foi predominantemente analfabeta. Por outro lado, a arte da representação, que se tinha desenvolvido na era anterior, cessou. Por último, se os acontecimentos retratados nos Poemas Homéricos tiveram lugar na Idade do Bronze, a do Ferro foi caracterizada relativamente por poucos eventos de importância histórica.

            Por seu turno, a Antiguidade Clássica (isto é, o período Arcaico) que se seguiu representou uma fase de renovação e florescimento cultural, constituindo as obras atribuídas a Homero parte importante do início desse período. De facto, os Poemas Homéricos iniciam a Antiguidade Clássica ao olharem para a Idade de Bronze em busca de inspiração. O poeta, à semelhança de outros seus contemporâneos, obteve material para os seus textos na Idade do Bronze, um período em que se imaginava que os heróis eram maiores, mais fortes e mais «divinos» do que qualquer outro indivíduo na época. Porém, ao socorrer-se desses eventos históricos, Homero não se limitou a narrar históricas fantásticas de deuses e guerreiros semelhantes a divindades, antes ajudou a moldar o universo moral da cultura grega presente e futura. Dito de outra forma, o uso da história por Homero, embora ficcional, ajudou a criar a civilização e a cultura gregas que moldaram a Antiguidade Clássica.

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