Homero viveu numa época de profundas transformações na história da Grécia, tendo em conta que o poeta terá vivido algures entre 725 e 625 a.C., o que significa que coincidiu com o início do chamado período arcaico, o período da Antiguidade Clássica, cujo princípio foi associado ao séc. XIII a.C., em paralelo com o desenvolvimento das cidades-estado gregas, com a expansão das rotas comerciais gregas e com o surgimento do alfabeto grego simplificado. Isto significa que o bardo grego viveu e compôs as suas obras numa época em que a civilização grega antiga estava a começar.
Os historiadores dividem a história
da Grécia pré-clássica em dois períodos: a Idade do Bronze e a Idade do Ferro,
marcando as principais transformações culturais e tecnológicas, relacionadas
com as mudanças ocorridas em decorrência dos metais usados pelas sociedades.
Deste modo, a expressão «Idade do Bronze» designa uma época em que o bronze era
o principal metal a ser usado, e os povos que povoaram a Grécia nesses tempos
eram conhecidas como micénicos. A civilização micénica entrou em decadência por
alturas do ano 1200 a.C., deixando para a eternidade os primeiros escritos
gregos, que foram compostos num script conhecido como Linear B, que nos
permite concluir que já no século XV a.C. os Micénicos se serviam de um
silabário para fazer os seus registos, silabário esse que deriva do Linear A,
ainda não decifrado, que usavam os Minoicos. Precisamente porque a língua
empregada no Linear B era já grego, foi possível concluir que os Micénicos eram
gregos. No entanto, este complicado processo de escrita (do Linear B já se
encontraram mais de 1000 tabuinhas), que usa um sinal diferente para cada
sílaba (e não de um para cada som, como o alfabeto) desapareceu por completo
(como única reminiscência, embora duvidosa, poderá apontar-se um passo do Canto
VI da Ilíada, na história de Belerofonte, quando o rei Proitos, para se
vingar daquele jovem, injustamente caluniado, o manda a seu sogro, rei da
Lícia, com umas tabuinhas em que estavam traçados sinais ominosos, que deviam
provocar a sua morte – se esses sinais eram convencionais ou constituíam já um
processo de escrita, não se consegue determinar pelo contexto. O verso 163 do
referido canto refere que o capitão de um navio usada no comércio marítimo
«lembra a carga», expressão que pode significar que fixa a sua importância ou
que a anota por escrito. Este último costume era uma prática corrente entre os
Micénicos.) da memória dos homens com a invasão dórica, em 1100 a.C., sendo
resgatado, milhares de anos depois, pelos arqueólogos.
A recuperação do colapso da
civilização micénica e a sua reorganização conduziram os Gregos à Idade do
Ferro, quando este metal substitutivo do bronze como principal material
industrial. Apesar dos avanços metalúrgicos, este novo período constituiu um
obscurecimento. Por exemplo, enquanto na Idade do Bronze floresceram dois
sistemas de escrita distintos, a do Ferro foi predominantemente analfabeta. Por
outro lado, a arte da representação, que se tinha desenvolvido na era anterior,
cessou. Por último, se os acontecimentos retratados nos Poemas Homéricos
tiveram lugar na Idade do Bronze, a do Ferro foi caracterizada relativamente
por poucos eventos de importância histórica.
Por seu turno, a Antiguidade
Clássica (isto é, o período Arcaico) que se seguiu representou uma fase de
renovação e florescimento cultural, constituindo as obras atribuídas a Homero
parte importante do início desse período. De facto, os Poemas Homéricos iniciam
a Antiguidade Clássica ao olharem para a Idade de Bronze em busca de
inspiração. O poeta, à semelhança de outros seus contemporâneos, obteve
material para os seus textos na Idade do Bronze, um período em que se imaginava
que os heróis eram maiores, mais fortes e mais «divinos» do que qualquer outro
indivíduo na época. Porém, ao socorrer-se desses eventos históricos, Homero não
se limitou a narrar históricas fantásticas de deuses e guerreiros semelhantes a
divindades, antes ajudou a moldar o universo moral da cultura grega presente e
futura. Dito de outra forma, o uso da história por Homero, embora ficcional,
ajudou a criar a civilização e a cultura gregas que moldaram a Antiguidade
Clássica.
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