O Canto V constitui, essencialmente, a aresteia de Diomedes, a mais longa e sangrenta (à exceção da de Aquiles, nos Cantos XX a XXII), que, no fundo, procura compensar a ausência de Aquiles, não obstante não conseguir, em última análise, fornecer a força que o líder dos Mirmidões costumava proporcionar ao exército aqueu e ao combate, como o demonstra a observação de Hera, segundo a qual, enquanto o filho de Tétis combateu, nenhum cavalo de Troia se aventurou para além dos portões da cidade.
Tal como sucede na aristeia,
Diomedes é inspirado e auxiliado por uma divindade (neste caso, Atenas), as
suas armas salientadas e a sua vitória certa, apesar de se encontrar ferido.
Estilisticamente, o poeta recorre a determinados símiles para descrever as
cenas da batalha; por exemplo, compara a ação de Diomedes a água furiosa e os
seus ataques a um leão «louco por garras».
No que diz respeito aos deuses, mais
uma vez parecem dar pouca ou nenhuma importância às consequências das suas
ações para os humanos, exceto se se tratar de um seu protegido naquela ocasião.
O que lhes interessa essencialmente, de forma mesquinha, são os conflitos entre
si. Por outro lado, quando comparados com os homens, os deuses parecem mais
frágeis no que toca a lidar com a dor e o sofrimento. A título exemplificativo,
citem-se os casos de Afrodite e Ares, que, quando são feridos, recolhem logo ao
Olimpo e se queixam, quais crianças, ao «pai» Zeus, enquanto Diomedes continua
a combater depois de ser ferido.
As descrições das batalhas são
longas e frequentemente centram-se nos massacres em massa que as caracterizam,
mas alternam com apontamentos individuais. O poeta, em diversos momentos,
apresenta-nos a personagem que acabou de morrer ou está em vias disso,
dando-nos a conhecer os seus antecedentes, as suas origens e educação,
enfatizando frequentemente a perda que o seu passamento constitui para o seu
exército e a sua pátria. Além disso, Homero alterna descrições de mortes de
combatentes troianos e aqueus, estratégia que impede que a narração se torne
monótona e dê conta do fluxo e refluxo da batalha.
Por outro lado, as provocações são
um elemento bastante importantes no contexto das batalhas. Os soldados desafiam
a coragem e a honra dos seus companheiros para se incentivarem e motivarem para
o combate. Por exemplo, Sarpédon diz a Heitor que os seus comandados estão a
lutar bem melhor para defender Troia do que os troianos do filho de Príamo.
Durante os combates, os homens provocam também os seus inimigos com o intuito
de os desanimar, e até os próprios deuses usam esse estratagema, como, por
exemplo, quando Hera humilha os Aqueus, dizendo-lhes que Aquiles nunca permitiu
que os Troianos passassem além dos portões da cidade.
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