Trata-se, muito provavelmente, de um
bardo grego que viveu cerca do final do século VIII e início do VII a.C. Há
outros autores que apontam para os princípios do século IX ou finais do VIII,
na Jónia, uma região da atual Turquia. A partir da descrição de um poeta/canto
da Odisseia, que muitos estudiosos consideram um autorretrato, Homero é
frequentemente descrito como cego. Note-se, porém, que os gregos dos séculos
III e II a.C. começaram a questionar se o poeta teria mesmo existido e se as
duas epopeias teriam sido escritas por uma só pessoa.
Os dois poemas pertencem a uma
antiquíssima tradição oral. Histórias sobre uma expedição grega ao Oriente e
sobre viagens dos seus líderes de regresso a casa circulavam na Grécia há
centenas de anos, antes da Ilíada e da Odisseia terem sido
compostas. Contadores de histórias ocasionais e menestréis semiprofissionais
foram os responsáveis pela transmissão desses relatos de geração em geração por
via oral, através da memorização, sendo que cada «contador» os desenvolvia e
afirmava à medida que os contava, normalmente para uma audiência. Assim sendo,
é possível um só poeta ou vários poetas trabalhando de forma cooperativa terão
finalmente passado essas narrativas à escrita, com cada um fazendo os seus
próprios acrescentos e expandindo ou contraindo certos episódios para se
adequar ao seu gosto. A inovação de Homero, caso tenha sido mesmo ele a compor
as obras, parece ter sido costurar essas histórias, transformando-as num todo
complexo e coeso.
Embora as evidências históricas, arqueológicas
e linguísticas sugiram que os dois poemas épicos foram compostos por volta do
século VIII a.C., algures entre 750 e 650, a sua ação localiza-se na Grécia
micénica do século XII a.C., em plena Idade do Bronze. Segundo as crenças dos
gregos, esta era antiga foi uma época de grande glória, quando os deuses ainda
pisavam a Terra e os seres humanos com atributos sobre-humanos povoavam a
Grécia. As duas obras evocam esse período, num estilo elevado, retratando a
vida característica dos grandes reinos da Idade do Bronze. Nesse tempo, os
gregos eram chamados de «aqueus», palavra que designava uma grande tribo que
viveu na Grécia durante o período do Bronze.
Por outro lado, na época em que os
dois poemas épicos foram redigidos, o alfabeto grego estava em expansão em
termos de uso. A versão escrita mais antiga da Ilíada socorre-se
precisamente desse alfabeto e contém traços característicos da forma mais
antiga de escrita helénica. Continua em aberto a discussão em torno da dúvida
se Homero foi somente um poeta oral que ditou a Ilíada a um assistente
literário (convém relembrar a possibilidade de o autor ser cego ou ter cegado em
determinada fase da sua vida) ou alguém com experiência na tradição oral, mas
passado a escrito. Seja como for, os dois poemas foram compostos no dialeto
jónico do grego antigo, que era falado nas ilhas do mar Egeu e nas zonas
costeiras da Ásia Menor, a atual Turquia. Assim sendo, é possível concluir que
Homero será natural de algum lugar da Jónia, mas também existe a hipótese de tenha
escolhido o dialeto jónico porque o considerou mais apropriado ao estilo
elevado que caracterizava uma epopeia. A análise da literatura grega posterior
sugere que os poetas faziam uso de diferentes dialetos nos seus textos, de
acordo com os temas abordados, e que podiam escrever até em dialetos que não
falavam. Além disso, os textos de Homero são pan-helénicos, isto é, abrangem
toda a Grécia, em espírito, e, de facto, usam formas de vários dialetos.
Por outro lado, apesar de a ação se
desenrolar na Idade do Bronze, as duas obras fazem referência a realidades
gregas dos séculos VIII e VII a.C., portanto contemporâneas da sua redação. A
estrutura social feudal presente na Odisseia assemelha-se mais à da
Grécia de Homero do que à de Ulisses. Além disso, o poeta substitui o panteão
de divindades da sua própria época por deuses adorados pelos gregos micénicos.
Outros anacronismos, como, por exemplo, certas referências a ferramentas de
ferro e a tribos que ainda não haviam migrado para a Grécia na Idade do Bronze,
sugerem as origens posteriores a essa era do poema.
Deste modo, pode concluir-se que
Homero viveu, provavelmente, no século IX a.C., pelo que não foi testemunha dos
factos ocorridos na guerra de Troia, que terá tido lugar entre os séculos XIII
e XII a.C. Aproveitando a tradição oral, que nunca esqueceu essa guerra, sem se
preocupar com a verdade histórica, Homero transformou a história em poemas
épicos. Por outro lado, grande parte dos estudiosos concorda que a Ilíada
foi uma obra de juventude do poeta e precedeu a Odisseia, que terá sido
redigida na velhice, como complemento da primeira e ampliação da sua
perspetiva.
De acordo com a tradição, Homero, já
cego, teria vivido os últimos anos da sua vida errando e cantando os seus
versos pelas ruas de Ios, onde faleceu.
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