A palavra «fumo» e as suas variantes
(névoa, neblina ou nevoeiro, bruma, vapor, fumaceira, fumarada) remetem para
opacidade, dificuldade de visão. No entanto, se for perspetivado do ponto de
vista simbólico, o fumo lembra-nos atmosferas tétricas de filmes de terror do género
Drácula e de outros demónios, ideia que acaba por ser corroborada pela série de
defuntos, almas penadas e cães-fantasmas que são vistos de noite.
De igual modo, são recordados os
fumos da Índia, ou seja, a empresa dos Descobrimentos. De facto, o nevoeiro
está muito associado à figura de D. Sebastião e ao mito que se criou em seu
redor – o Sebastianismo –, morto na batalha de Alcácer Quibir, episódio que
levou à perda da independência nacional e ao domínio filipino. De acordo com a
lenda, D. Sebastião, à semelhança do rei Artur, voltaria numa manhã de nevoeiro
para resgatar a glória da pátria.
Por último, a palavra «fumo», além
de contribuir para a caracterização da Gafeira, metonimicamente do Portugal de
então, acompanha e mimetiza o desgaste físico e psíquico da
personagem-narrador, que fuma continuamente e vai fazendo baixar o nível do seu
cantil carregado com a excelente aguardente de peras.
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