Português: Análise da cena 12 da Farsa de Inês Pereira: festejo do casamento

terça-feira, 19 de abril de 2022

Análise da cena 12 da Farsa de Inês Pereira: festejo do casamento


● Os noivos trocam as palavras do ritual de casamento e, de imediato, os Judeus procuram cobrar o seu pagamento pelo êxito dos seus serviços: “Dai-nos cá senhos ducados.”. A Mãe promete efetuar o pagamento no dia seguinte.
 
● O Escudeiro mostra-se arrependido por ter casado (“Oh! Quem me fora solteiro!”) e confessa que “casar é cativeiro”, isto é, o matrimónio é sinónimo de prisão, indiciando o futuro de Inês. Casar significam, por um lado, perder a liberdade que possuía enquanto solteiro e, por outro, indicia o papel submisso da mulher no enlace. Deste modo, Brás da Mata retira a máscara com que seduziu Inês, revelando, por fim, a sua personalidade.
 
● Inês, ao ouvir o seu já marido, mostra-se surpreendida/admirada (“Já vós vos arrependeis?”), no entanto, diverte-se na boda, cantando e dançando.
 
● Face ao exposto, podemos concluir que o Escudeiro perspetiva o casamento como Inês concebia a vida de solteira: uma prisão. Porém, a relação deste passo da farsa não se esgota aqui. De facto, no monólogo inicial, a jovem sentia-se presa em casa da Mãe e aborrecida com as tarefas domésticas, por isso se casou com Brás da Mata, na esperança de se libertar e se emancipar da ascendência materna. Contudo, como se pode constatar, o Escudeiro encara o casamento como ela perspetiva a vida de solteira: um cativeiro.
 
● A Mãe organiza uma festa para celebrar o casamento da filha, convidando para a mesma algumas moças e mancebos vizinhos, entre eles Luzia e Fernando, que cantam uma cantiga. Embora a festa tenha sido organizada à pressa, nela não faltam a alegria, o baile ao ar livre, as cantigas e os votos de felicidades dos convidados aos noivos.
 
● Uma das cantigas é bastante significativa, dado que sugere a situação futura de Inês. Recordemos a letra: “Uma garça enamorada ia ferida e soltava gritos de dor. Nas margens de um tio tinha o ninho, mas um caçador feriu-a na alma. Por isso, soltava gritos de dor.” A garça (Inês) está apaixonada, mas vai triste, só e chorosa (o marido já não a ama ou maltrata-a). Tinha um ninho (o novo lar), mas um caçador (o Escudeiro) feriu-a de amor, daí os seus gritos de dor e sofrimento.
 
● A Mãe presenteia os noivos com a sua casa, dá a sua bênção ao casamento e incentiva Brás da Mata a amar e respeitar Inês para ser amado e respeitado: “que lhe tenhais muito amor, / que amado sejais no céu.”. A figura materna está, em suma, a cumprir o seu papel de mãe preocupada e protetora. Após a bênção, despede-se e não volta a aparecer. Porquê? Inês tomou uma decisão (a de casar com Brás da Mata) e agora terá de assumir todas as consequências daí decorrentes.
 
● Fernando e Luzia, dois moços alegres e amigos de Inês, são o símbolo da ingenuidade e da simplicidade.

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