Ele é o herdeiro das tradições
machistas, não só da família, mas também do homem português, característico da
burguesia salazarista. De acordo com as normas da época, Tomás Palma Bravo
deveria ser superior a tudo e a todos, deveria ser o protetor, o primeiro em
qualquer ocasião, o chefe, o sábio, o forte, superior aos trabalhadores, fossem
eles camponeses-operários, criados, criadas, mas sobretudo em relação às
mulheres, incluindo a própria esposa, dado que era inaceitável que qualquer
mulher fosse considerada igual ao homem. De facto, na época o género feminino
era encarado como um português de segunda, cuja existência se deveria resumir a
atender aos desejos e necessidades do homem. Assim, este jamais se poderia
mostrar fraco. Mesmo que o fosse, teria de encobrir a sua fraqueza, mesmo que
através dos seus mastins, como é exemplificado pelo excerto seguinte: “o
engenheiro anunciado por dois cães…”.
Ao longo da obra, tomamos
conhecimento dos vários epítetos com que é tratado: o nome próprio completo, o
Engenheiro, o Amo, o Infante, Tomás Manuel (como todos os seus antepassados),
membro do casal Palma Bravo, Tomás Manuel Undécimo. Seja qual for a
denominação, ele é o Delfim, o centro das atenções da Gafeira e de todos os
seus habitantes.
Tomás Manuel é o chefe incontestado
cujos suportes são a mulher e o criado. De facto, Maria das Mercês deveria
acompanhá-lo perante o povo da Gafeira, enquanto Domingos o deveria fazer
durante as suas visitas a bares e prostíbulos, tudo de acordo com a sua vontade
e sem terem o direito de exigir ou sugerir o que quer que fosse, desde logo
porque não eram considerados seus iguais. Só ele sabia tudo, ele era o senhor
de ambos. Nada deveria ser discutido e nunca seria contestado. Só ele detinha o
poder.
Na realidade, nem sequer tem a
coragem de se submeter aos exames necessários para esclarecer a origem da
infertilidade do casal, isto é, determinar quem era estéril: ele ou a esposa,
questão que ficará por esclarecer: “… não o vejo a ir à porta do médico e
sujeitar-se a um atestado de esterilidade.” Tomás Manuel esconde o problema
através das suas deambulações noturnas e do desprezo pela ciência e pelos seus
avanços: “Esperma em ampolas, ao que a malta chegou. Mandarem-nos pares de
cornos devidamente esterilizados e ainda por cima ficarmos muito agradecidos à
Ciência.” Tudo isto demonstra uma grande falta de segurança e de confiança em
si próprio. Tal como sucede, por exemplo, em Os Maias, no célebre
episódio das Corridas de Cavalos no Hipódromo, vemos aqui o contraste entre o
ser e o parecer em torno desta personagem, que insiste no culto das aparências.
No final, tudo se desmorona em seu redor, desde logo porque nada nem ninguém
pode parar a evolução do tempo e das mentalidades.
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