Em O Delfim, o Tempo
transmite a ideia de mudança, operada nas estruturas e revolução
económico-social. Deste modo, temos o retrato fiel de uma época e da sua
atmosfera conturbada.
As personagens da obra refletem
estas posições: de um lado estão o Engenheiro e Maria das Mercês, que fazem
parte da elite que dominara até então e cuja história se perdera no tempo e
cujos antepassados, todos de nome Tomás Manuel (este facto atesta a
circularidade do tempo, isto é, a história que se repete de geração em
geração), tinham um denominador comum: o poder. Do outro lado encontram-se os
camponeses-operários que vão passar a usufruir das riquezas da lagoa, algo que
já faziam, embora de forma clandestina, o que é exemplificado pelo festim das
enguias. Note-se ainda que quanto mais ganham consciência da mudança mais se
embrenham na clandestinidade, uma característica da década de 60 do século XX,
e mais anseiam pela sua chegada, o que se reflete numa grande
consciencialização, a qual se transmite por saberem que, juntos, conseguirão
manter a posse da lagoa, dominando os seus destinos.
Deste modo, poderemos concluir que O
Delfim constitui a metáfora da situação que se vivia em Portugal na época
(anos 50 e 60), visto que a Gafeira se multiplica pelo país fora, e o desejo premente
de mudança. Esta noção só está, porém, ao alcance dos “bons portugueses”, dos
que sabem jogar constantemente ao “olho vivo”, com a vida e com o Sr. Escritor
(o tratamento de “senhor” é uma autoironia a propósito da condição de um
indivíduo que é menosprezado por uma sociedade anticultural), dos que sabem ler
nas entrelinhas o texto e a História. Por outro lado, não é uma casualidade a
narrativa situar-se numa zona rural e que o camponês é associado ao operariado.
De facto, é esta associação que vai fazer do camponês-operário alguém com
consciência e vontade próprias em termos políticos, que se espera que alastre
por toda a Gafeira.
Sem comentários :
Enviar um comentário