À semelhança do que
sucede com o Delfim, Domingos surge rodeado de vários epítetos: Domingos,
criado, ironicamente escudeiro, mestiço, etc., sempre em função das
características profissionais ou físicas.
Esta personagem surge
muito próxima do patrão, no entanto consuma o adultério com a esposa daquele,
de quem também parece estar dependente. É verdade que procurou o Padre Novo
dois dias antes da consumação do ato para fugir dali. Tratar-se-ia de uma
tentativa desesperada para evitar qualquer desgraça?
Domingos tem várias
razões para odiar o patrão: tem de tratar dos cães, por quem não parece ter
grande afeto; por outro lado, a sua própria deformação física constitui razão
suficiente para tornar amargo um homem «mestiço», que não se pode identificar
por completo quer com a etnia branca quer com a negra. Apesar de tudo isso, não
detesta Tomás Manuel, antes mantém com ele uma relação quase filial e de fidelidade,
baseada no medo, demonstrando, assim, não possuir qualquer consciência de
classe.
Domingos é “maneta e
mestiço… a assopear palavrões, cortado pelo sol e a balançar o braço decepado (…)
diante das feras (…) tornou-se frio (…) falou-lhes em tom comedido (…) com
força e tão curto (…) movimentos precisos e eficazes da mão. Mão arguta (…) mão
controlada.”, é uma figura que domina as situações, ou pelo menos há frieza,
domínio, argúcia e controlo que chegam para dominar completamente as feras. É
possível que Domingos tenha atingido o seu limite e não esteja mais disposto a
ser humilhado. Também se poderá levantar a hipótese de a personagem ter sido
usada como um objeto por ambos os membros do casal.
Por último, tendo em
conta a época em que a obra foi escrita – ditadura salazarista e período
colonial –, Domingos representa o africano que foi escravizado e usado durante
séculos, até ao dia em que ganhou consciência da sua condição e do seu direito
à autonomia.
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