Português

quarta-feira, 6 de março de 2019

Tapar o sol com uma peneira

                                
     Esta expressão remete para a tentativa de ocultar algo com medidas temporárias, parcialmente eficientes ou ineficientes.

     A peneira é um objeto circular de madeira com o fundo em rede de metal, seda ou crina, por onde passa a farinha ou outra substância moída. Ora, qualquer tentativa de tapar o sol com uma peneira é um ato vão, uma vez que o objeto deixa passar a luz solar.

     É possível que a expressão tenha nascido dessa constatação. Atualmente, significa um esforço inglório e inútil para ocultar uma asneira ou negar uma evidência, pois, regressando à expressão, não é possível impedir o sol de passar pelos orifícios da peneira.

Meter uma lança em África

     Esta expressão idiomática usa-se quando se pratica uma proeza, realiza algo que se afigurava difícil ou se leva a cabo uma empresa difícil.

     A origem da locução leva-nos até a uma das maiores figuras históricas portuguesas, concretamente Nuno Álvares Pereira. Numa ocasião em que estava recolhido no Convento das Carmelitas, já em idade avançada, após 1423, quando lhe chegou a notícia do rompimento da paz entre Portugal e Castela.
     Em resultado, alguém lhe terá lamentado a sua velhice e o facto de, por essa razão, não poder voltar a pegar em armas de novo. O Condestável terá, então, respondido que, se a pátria precisasse dele, ainda meteria a lança não só em Castela, mas também em África.
     A partir daí, a expressão terá sido vulgarizada pelos exploradores lusitanos por causa das extremas dificuldades que enfrentaram quando chegaram a África, nomeadamente a oposição feroz dos nativos locais, cuja resistência causou muitas vítimas entre os exploradores. Frequentemente, foram forçados a recuar face às dificuldades e à iminência de serem dizimados pelo inimigo que mal conheciam e, pior que tudo, pelo terreno que mal conheciam.

A denúncia de roubo mais original da Via Láctea


Calcanhar de Aquiles

     Esta expressão significa ponto fraco ou vulnerável, físico, moral ou intelectual, de alguém.
     A sua origem leva-nos até à mitologia grega e a um dos seus maiores heróis, Aquiles, um semideus (filho da ninfa Tétis e do mortal Peleu) que se destacou na Guerra de Troia e constitui a personagem principal da Ilíada, uma das epopeias atribuídas a Homero.
     Quando Aquiles nasceu, a sua mãe mergulhou o seu corpo no rio Estige para o tornar imortal, tendo-o segurado pelo calcanhar, que ficou fora de água e, assim, vulnerável.
     No final da guerra contra os troianos, Aquiles morreu ao ser atingido nesse calcanhar por uma seta envenenada disparada por Páris, irmão de Heitor e "raptor" da rainha grega Helena, ato que esteve na génese do confronto bélico entre os dois povos, e guiada por Apolo.

sábado, 2 de março de 2019

Qualquer peça, exceto algumas peças


"Soalheiro" e "solarengo"

     Quantas vezes já se ouviu alguém utilizar a expressão "dia solarengo" para se referir a um dia com muito sol?

     Na verdade, "solarengo" é um adjetivo derivado de "solar" (palavra derivada de «solo») + o sufixo -engo e significa "relativo ou pertencente a solar", a moradia de uma família nobre ou importante, de arquitetura requintada.
          . Esta casa solarenga data do século XVI.
     Um nobre que tinha uma casa de família com alguma imponência também possuía terras, solo: o solo pertencia à propriedade, ao solar.

     Por seu turno, o adjetivo "soalheiro" é também derivado por sufixação: «soalhar» + -eiro, e significa "quente", "exposto ao sol", "aquecido ou banhado pelo sol".
          . Que tarde soalheira!

Fonte:
     . Ciberdúvidas - Maria Regina Rocha;
     . Sandra D. Tavares, 500 erros mais comuns de língua portuguesa.

sábado, 23 de fevereiro de 2019

"All this time", Tiffany


(1988)

O problema é a linguíça

Regência do verbo "preferir"

     «O sujeito poético demonstra uma certa revolta. Diz preferir rosas do que a pátria...».

     O aluno que escreveu esta pérola desconhece em absoluto que o verbo preferir exige dois complementos, um sem preposição e outro com a preposição «a».

     Assim sendo, deveria ter escrito «O sujeito poético diz preferir rosas à pátria.».

     Para saber mais, consultar este «post» [regência do verbo «preferir»].

segunda-feira, 11 de fevereiro de 2019

Paulo Guinote e o regresso da censura?

     Paulo Guinote, bem conhecido professor e bloguer, viu a sua página de Facebook denunciada e, por isso, está impedido de a usar e nela publicar.
     As causas para as denúncias parece ser um conjunto de «posts» que põem a nu a miséria nacional nos mais diversos setores:
     Isto não é novidade. Por exemplo, nas últimas eleições autárquicas algumas páginas satíricas da ação política de candidatos às eleições foram denunciadas e, consequentemente, «eliminadas». Alguns iluminadas do Parlamento Europeu têm tentado limitar fortemente o que se pode publicar nas mais diversas plataformas «on-line». 
     São novas formas de censura e de limitação da expressão do pensamento livre e da opinião. Quando não se concorda, combate-se com argumentação sólida e factual. Quando se passa das marcas da legalidade, convoca-se a lei e o tribunal, se necessário. Regressar a tempos bafientos não é, claramente, solução, porém a tentação é grande.
     Há mais de uma dúzia de anos que o Paulo Guinote incomoda muita gente de todas as áreas, assumindo sempre em seu nome os textos que publica, com custos pessoais elevados que só ele poderá quantificar/qualificar. A sua voz calou-se durante algum tempo quando decidiu encerrar o «Umbigo». Regressou pouco depois num registo diferente e de maior abrangência, mas a acutilância regressou em força nos últimos tempos perante a sujeita que é a vida política portuguesa.
     A nós resta-nos apenas prestar-lhe o reconhecimento pela sua coragem e frontalidade e a solidariedade distante e fria de um teclado. 
     Um abraço, colega Paulo Guinote!

Origem e significado do nome Frederico

     Frederico provém do nome francês "Frédéric", que, por sua vez, deriva do nome latino "Fredericus".

     Este nome formou-se a partir dos elementos de origem germânica "fried", que significa "paz", e "rik", que quer dizer "senhor poderoso".

     Diversos santos e bispos tiveram este nome, facto que confirma o significado de "senhor da paz". Também em Portugal foi bastante usado, por influência dos reis prussianos que o usaram.

sexta-feira, 8 de fevereiro de 2019

Construção de uma identidade nacional


. A difusão geral da identidade nacional pela totalidade da população portuguesa dependeu da difusão da escrita e da imprensa, da implantação de um sistema eleitoral, da generalização de práticas administrativas uniformes e da participação ativa da população na vida pública. Note-se, contudo, que a noção de povo soberano, na realidade, se refere ao conjunto dos que se apresentavam como seus representantes.

. A noção de espírito do povo (Volksgeist) implica coerência interna, através de comportamentos comuns a todos os membros de uma comunidade.

. A noção de identidade nacional abarca as noções de «reino», «fronteiras», «naturalidade» e «território». Inicialmente, para as classes populares, porém, o reino implicava apenas uma noção territorial, sem trazer consigo a ideia de uma comunidade constituída por todos os seus habitantes. Quando adquiriu um sentido territorial, a noção de reino passou a implicar também a de «fronteiras». De facto, enquanto significou o poder sobre os vassalos, mais do que o poder sobre o espaço que eles habitavam, a noção de fronteira era uma realidade humana, mutável, imprecisa; normalmente uma zona de combate ou uma área deserta. Afetada pela noção de «naturalidade», passou a considerar-se antes a linha que separava os vassalos de um rei dos do rei vizinho. Tornou-se então complementar na noção de território, e este, por sua vez, interpretou-se como suporte físico da diferença para com aqueles que habitavam para além das respetivas fronteiras. A fronteira sempre separou os «nossos» dos «outros», ou seja, os nacionais dos estrangeiros.

. O processo de consciencialização da identidade nacional foi gradual, pois influenciou primeiro os representantes régios, depois o clero e, em seguida, as restantes classes, influenciadas nesse processo de consciencialização nacional pelos símbolos nacionais: o escudo de armas do rei, a bandeira nacional e a moeda.

O óbvio


Grafia de "obsessão", "obsessivo" e "obcecado"

     Obsessão provém do latim «obsessione-», palavra que significava "ato de cercar", "assédio", "cerco", "bloqueio", "ocupação de uma estrada". O significado da palavra evolui e ela adquiriu outros sentidos: "impertinência excessiva", "ação ou efeito de importunar, de vexar alguém com persistência e assiduidade", ou, ainda, "estado de pessoa que se crê atormentada, perseguida pelo espírito maligno, pelo diabo" e, em sentido figurado, "ideia fixa", "preocupação constante", "mania".

     Obsessivo é um adjetivo da família de "obsessão", formado por derivação do adjetivo "obsesso", proveniente do latim «obsessu-» (particípio passado de «obsideo», com os significados de "cercado", "sitiado", "bloqueado", "assaltado", "acometido", "atacado", "ocupado", "invadido" - sentido próprio e figurado). Obsessivo significava, pois, "em que há obsessão", "que cerca", "que ocupa a mente de modo persistente".

     Obcecado é um adjetivo derivado do particípio passado do verbo "obcecar", proveniente do latim «obcaecare» («obcaecatus»), que significava "cegar", "não deixar ver", "cobrir com terra", "paralisar", e, ainda, em sentido figurado, "tornar obscuro", "ininteligível". Deste modo, obcecado significa, rigorosamente, "que está cego", "paralisado", "que não vê claramente o que se passa", "que tem o espírito ou o entendimento obscurecido", "ofuscado".

     Assim, os termos obcecado e obsessivo, provenientes de étimos diferentes, são sentidos atualmente como semanticamente próximos.
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