sábado, 10 de agosto de 2019
sexta-feira, 9 de agosto de 2019
Na aula (XXXVI): Vasxinou
O que significa a 'palavra' vasxinou?
Resposta: fascinou.
Almeida Garrett foi o introdutor do incesto na literatura portuguesa
"Maria afasta-se do que a familia espera dela no momento em que, mesmo na incerteza da sobrevivência de D. João, esta se junta com Manuel de Sousa Coutinho...".Maria casou com D. João (um clássico entre os alunos mais desatentos) e «juntou-se» a Manuel de Sousa, seu pai. Note-se para a modernidade da temática do incesto introduzida em pleno Romantismo, bem como da antecipação das relações amorosas não formalizadas: «juntar».
O aprofundamento da análise psicológica
A psicologia de
William James, difundindo o conceito de corrente da consciência, revelando a
existência de recordações, pensamentos e sentimentos fora da «consciência
primária», e a psicanálise de Freud, fazendo emergir da sombra as estruturas
ocultas do psiquismo humano, impulsionaram poderosamente essa nova espécie de
romance - o romance das profundidades do eu.
A
desvalorização da diegese, acompanhada de um singular aprofundamento da análise
psicológica da personagem, caracteriza particularmente o chamado romance
impressionista de James Joyce e de Virgínia Woolf. É muito possível que, no
romance impressionista, tenha atuado como poderoso estímulo o desejo de reagir
contra o cinema mudo, semelhantemente ao que sucedera na pintura, onde o
impressionismo representara uma reação contra a fotografia. O cinema, na
verdade, podia traduzir um enredo movimentado e rico de peripécias, mas não
conseguia apreender a vida secreta e profunda das consciências. É esta vida
recôndita que o romance impressionista procura devassar, através do ritmo
narrativo extremamente lento, tão peculiar de Virgínia Woolf, e através da
técnica do monólogo interior, tão cultivada por James Joyce. Virgínia Woolf
esforça-se cuidadosamente por exprimir, de modo subtil, minudente e não
deformador, os estados e as reações da consciência, embora tais conteúdos subjetivos,
muitas vezes, pareçam e sejam absurdamente fragmentários e incoerentes. O homem
não se preocupa apenas com as suas relações pessoais, com a maneira de ganhar
dinheiro ou de adquirir um lugar na sociedade: «uma larga e importante parte da
vida consiste nas nossas emoções perante as rosas e os rouxinóis, as árvores, o
pôr do sol, a vida, a morte, e o destino». O romancista tem de se ocupar destes
estados fluidos, nostálgicos e iridescentes, razão por que, segundo Virgínia
Woolf, os romances «que se escreverem no futuro, hão de assumir algumas das
funções da poesia. Dar-nos-ão as relações do homem com a natureza, com o
destino, as suas imagens, os seus sonhos. Mas o romance dar-nos-á também o riso
escarninho, o contraste, a dúvida, a intimidade e a complexidade da vida».
O Ulisses de James Joyce
constitui uma das tentativas mais audaciosas até hoje realizadas no domínio
romanesco para apreender a «intimidade e a complexidade da vida» de que fala
Woolf. O seu enredo, no sentido tradicional do vocábulo, é mínimo: limita-se a
ser a história de tudo o que acontece, no dia 16 de junho de 1904, a Leopold
Bloom, um judeu de Dublin. E tudo o que acontece a Bloom não sai fora dos
limites habituais da vida estereotipada de um burguês daquela época -
acompanhar um enterro, passar pela redação de um jornal, entrar numa taberna,
frequentar um prostíbulo... O Ulisses é o romance destes acontecimentos
anódinos e de todas as reminiscências caóticas, das reflexões, das frustrações
e das raivas de Leopold Bloom, mas faz ascender este trivial acervo de matéria
romanesca a um plano de significações simbólicas e esotéricas, pois o romance
está modelado segundo a Odisseia, existindo um paralelismo estrito entre
as figuras e os acontecimentos do Ulisses e daquele poema homérico.O romance contemporâneo e a desvalorização da diegese
Com o
Simbolismo, o romance aproximou-se dos domínios da poesia e esta aproximação
implicou não só a fuga da realidade quotidiana, física ou social, mas também
uma nítida desvalorização da diegese. As descrições da realidade trivial, o
estudo minucioso e atento dos meios, a representação dos pequenos atos da vida
humana, etc., constituíam para os simbolistas uma tarefa tediosa e desprovida
de interesse artístico. Os aspetos evanescentes, subtilmente imprecisos e
incoercíveis da realidade, idealmente traduzíveis através da poesia ou da
música, não podem ser expressos, segundo a estética simbolista, mediante a estrutura
narrativa e discursiva do romance.
(...) São
numerosos, com efeito, os indícios de que germinava já na penúltima década do
século XIX uma nova conceção do romance - um romance fundamentalmente
preocupado com o desvelamento da subtil complexidade do eu, intentando criar
uma nova linguagem capaz de traduzir as contradições e o ilogismo do mundo
interior do homem. Parece-nos que, numa história do romance moderno, merece
muita atenção o convite que Bergson, no seu Essai sur les données immédiates
de la conscience (1889), dirigiu aos romancistas para que estes criassem um
romance de análise dos conteúdos ondeantes, evanescentes e absurdos da
consciência: «Se agora algum romancista ousado, despedaçando a teia habilmente
tecida do nosso eu convencional, nos mostra sob esta lógica aparente um absurdo fundamental, sob esta
justaposição de estados simples uma penetração infinita de mil impressões
diversas que já deixaram de existir no momento em que as designamos, louvamo-lo
por nos ter conhecido melhor do que nós nos conhecemos a nós próprios. [...]
ele [o romancista] convidou-nos à reflexão, pondo na expressão exterior alguma
coisa dessa contradição, dessa penetração mútua, que constitui a própria
essência dos elementos expressos. Encorajados por ele, afastámos por um
instante o véu que tínhamos interposto entre a nossa consciência e nós. Voltou
a pôr-nos em presença de nós próprios». A voz do mais representativo pensador
europeu do final do século XIX proclamava assim a necessidade de o romancista
romper com a herança naturalística e realista, ao mesmo tempo que apontava um
novo caminho a seguir: a exploração do labiríntico espaço interior da alma
humana.
quinta-feira, 8 de agosto de 2019
Conjugação do verbo "abster"
"Abster" é um verbo composto pelo prefixo "abs-" e pelo verbo "ter".
Os verbos compostos conjugam-se de acordo com o paradigma de flexão do verbo que está na sua base (neste caso, ter), mantendo-se o resto da forma inalterado.
Assim:
. eu abstenho (presente do indicativo)
. eu abstive (pretérito perfeito do indicativo)
. eu abstinha (pretérito mais-que-perfeito do indicativo)
. vós abstereis (futuro do indicativo)
. tu absterias (condicional)
. etc.
Agradar a gregos e a troianos
A expressão agradar a gregos e a troianos quer dizer agradar a todos, incluindo pessoas com características distintas; agradar a dois partidos opostos.
Páris, príncipe troiano, raptou Helena, rainha grega, esposa de Menelau, o que deu origem à famosa Guerra de Troia entre gregos e troianos, conflito que teve a duração de 10 anos e terminou com a destruição da cidade de Príamo. O facto decisivo que esteve na base da vitória grega foi a construção do célebre cavalo de Troia, uma ideia de Ulisses (Odisseu).
quarta-feira, 7 de agosto de 2019
O casamento de Maria de Noronha e D. João de Portugal
"Maria afasta-se completamente do que a família quer para si porque ela acha que cometeu um pecado a gostar doutro homem enquanto ainda era casada com D. João. E por isso vai para um convento o que a leva a afastar-se mais ainda da opinião da sua família."Estas versões alternativas das obras literárias são sempre um poço de criatividade.
terça-feira, 6 de agosto de 2019
Análise de "No meio do caminho", de Carlos Drummond de Andrade
O poema “No
meio do caminho”, composto por uma quadra e uma sextilha, num total de 10
versos, alternando versos rimados (ABAA) com brancos (o sexto, por exemplo),
foi publicado pela primeira vez no número 3 da “Revista de Antropofagia”, em
julho de 1928. Posteriormente, integrou o livro Alguma Poesia, datado de
1930.
Começando
pelo título, este remete para um espaço (“No meio do caminho”), antecipando o
imprevisto: a pedra.
O texto é
caracterizado pela redundância e pela repetição. De facto, se as eliminássemos,
a composição seria a seguinte: “No meio do caminho tinha uma pedra. Nunca me
esquecerei desse acontecimento na vida de minhas retinas tão fatigadas”. As
pedras simbolizam os obstáculos ou problemas com que as pessoas se confrontam
durante a sua vida, descrita, metaforicamente, como um “caminho”. Por outro
lado, as pedras, enquanto obstáculos, podem impedir o indivíduo de prosseguir o
seu percurso, isto é, os problemas podem impedi-lo de avançar na vida.
Os versos 5
e 6 transmitem uma sensação de cansaço por parte do sujeito poético e do
acontecimento que ficará sempre na sua memória. Assim, as pedras também podem
indicar um acontecimento relevante e marcante para a vida de uma pessoa.
Há autores
que fazem uma interpretação biográfica do poema, associando-a a um drama
familiar do poeta. De facto, em 1927, Drummond de Andrade foi pai de um menino
que sobreviveu apenas meia hora. Entre janeiro e fevereiro desse ano, foi-lhe
encomendada a escrita de um poema para o número 1 da “Revista de Antropofagia”.
Imerso na sua tragédia pessoal, o escritor enviou este poema.
O crítico
Gilberto Mendonça Teles sublinha o facto de a palavra “pedra” conter as mesmas
letras do vocábulo “perda”, um fenómeno de hipértese. Mera coincidência ou
recurso intencional?
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segunda-feira, 5 de agosto de 2019
Ser ou não ser
«Maria [de Noronha] não sabe o que quer, ela acha que só é o que a família quer que ela não seja.»
Brilhante!
sábado, 3 de agosto de 2019
quinta-feira, 1 de agosto de 2019
Descoberta nova característica de D. Madalena de Vilhena
«Madalena é substiciosa»
Não há AO que resista perante tamanha capacidade criativa dos nossos alunos.
Não há AO que resista perante tamanha capacidade criativa dos nossos alunos.
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