Português

sábado, 9 de novembro de 2019

A crítica social e a alegoria no Sermão de Santo António

            A crítica é conseguida de diversas formas, nomeadamente através da denúncia dos vícios dos homens, simbolizados nos peixes e nas suas características físicas, as famosas alegorias.
            Assim, quando tece os seus louvores, o padre António Vieira está, por contraste, a denunciar a ausência das virtudes equivalentes nos homens:


Virtudes dos peixes
Vícios dos homens
Em geral
. São bons ouvintes.
. Escutaram Santo António com obediência, ordem, tranquilidade e atenção.
. Falta de devoção relativamente à palavra de Deus.
Em
particular
Peixe de Tobias
. As suas entranhas curam a cegueira e o coração expulsa os demónios.
. Heresia / ausência de conversão.
Rémora
. É pequena no corpo, mas grande na força e no poder.
. Fraqueza humana.
. Apatia, ausência de força de vontade.
Torpedo
. Produz descargas elétricas, fazendo tremer o braço do pescador e evitando ser pescado.
. Exploração do próximo.
. Corrupção.
. Ambição desmedida.
Quatro-Olhos
. Tem quatro-olhos, dois que olham para cima e dois que olham para baixo.
. Vaidade.
. Incapacidade de discernimento.

            Por outro lado, quando, nos capítulos IV e V, expõe os vícios dos peixes, o pregador está, por analogia, a criticar os defeitos equivalentes dos homens:


Vícios dos peixes/homens
Excertos textuais
Em geral
. A corrupção e a irracionalidade (cap. I, II, III).
. A exploração do homem pelo homem e a exploração dos mais fracos, a antropofagia social (cap. IV).
. A ignorância, vaidade e cegueira (cap. IV).
. “a terra se vê tão corrupta”

. “vos comeis uns aos outros”

. “notável ignorância e cegueira”
Em
particular
Roncador
. A presunção, a gabarolice e a arrogância.
. “É possível que, sendo vós uns peixinhos tão pequenos, haveis de ser as roncas do mar?”
Pegador
. O parasitismo.
. “Não só se chegam a outros maiores, mas de tal sorte se lhes pegam aos costados que jamais os desferram”.
Torpedo
. A ambição e a vaidade.
. “Não contente com ser peixe, quiseste ser ave”
Polvo
. A falsidade e a traição.
. “um monstro tão dissimulado, tão fingido, tão astuto, tão enganoso e tão conhecidamente traidor”.


Bibliografia:
. Noémia Jorge et alii, Encontros 11;
. Auxília Ramos e Zaida Braga, Sermão de Santo António aos Peixes;
. Francisco Martins, Para Compreender Padre António Vieira;
. Hernâni Cidade, Padre António Vieira.



quinta-feira, 7 de novembro de 2019

O discurso político


1. Definição

            O vocábulo «político» provém do latim «politicus», que, por sua vez, teve origem no grego πολιτικóσ («politikós»), que significa «dos cidadãos» ou do «do Estado» (ou seja, cidadão, pertencente à cidade), traduzindo Πóλισ («pólis») conceito de «cidade», mas também de «Estado», visto que «cidade», na Grécia clássica, correspondia a uma unidade estatal.
            Em termos de definição, um discurso político é um texto que pertence ao género argumentativo em que se expõe uma tese (isto é, defendem ideias e propostas sobre o rumo de um país ou de uma comunidade e sobre as medidas que devem ser adotadas para que essas propostas tenham sucesso), que se pretende provar, através de argumentos e exemplos.
            A sua finalidade é convencer o interlocutor e aderir a esse ponto de vista.
            O discurso político contém uma dimensão ética e social, apela ao bem comum e veicula valores de vária ordem (social, económica, cultural, etc.), assumindo-se como uma voz coletiva.

2. Objetivo

            O objetivo de um discurso político é convencer o interlocutor a aderir a uma ideia ou a uma causa, apoiando-as, socorrendo-se da retórica, a arte de bem discursar, por escrito ou oralmente e desencadeando uma reação do público: votar, apoiar, intervir, mobilizar-se para uma iniciativa, etc.

3. Estrutura

Introdução:
Apresentação da tese que se vai defender, para a adesão do interlocutor.
Desenvolvimento:
Apresentação dos argumentos;
Refutação dos contra-argumentos;
Apresentação de provas – exemplos.
Organização em parágrafos, contendo cada um uma ideia principal.
Conclusão:
Confirmação da tese.

4. Características – Marcas de género

Caráter persuasivo
Interação com o interlocutor – o locutor questiona, repete, usa o imperativo e a segunda pessoa verbal (singular e plural), e emprega o vocativo em apóstrofes, com o propósito de defender uma causa política, um rumo de ação para um país, uma comunidade, etc.
Argumentação
Estratégia: convencer os ouvintes a aderir às propostas do enunciador, mobilizando argumentos válidos e coerentes e guiando-se por princípios honestos e justos, ou contra-argumentos, se for necessário.
Registo expositivo
Articulação entre os registos expositivo e argumentativo: o orador apresenta factos (exposição) que fundamentam a argumentação e atestam as afirmações proferidas através de provas.
Dinamismo discursivo – nomeadamente entoação, ritmo, tom, pausas oportunas, expressividade e gestos.
Coerência e coesão
Informação significativa, encadeamento lógico dos tópicos, coerência e validade dos argumentos, contra-argumentos e provas.
Eloquência
Exploração dos recursos expressivos e da plasticidade da língua – nomeadamente metáforas, comparações, estruturas sintáticas paralelas, construções de imagens e jogos semânticos.
Mobilização de recursos expressivos
Metáfora, comparação, interrogação retórica, apóstrofe, enumeração, reiteração, ironia, etc.
Exploração de outros recursos
Postura do corpo, expressão facial, tom e volume da voz, etc.


Chumbar um aluno "não serve para nada"

«É absolutamente intolerável que esta nova vida de certas cliques ideológicas do terceiro quartel do século XX se faça à custa de acusar os professores pelo mau desempenho dos seus alunos, dando um ar de legitimação às teses economicistas que são o aspecto nuclear das preocupações do governo nesta matéria.
Quem sabe um pouco de História Comparada da Educação sabe que, com algumas nuances, o No Child Left Behind (que é, curiosamente, a inspiração retórica mais próxima da actual investida entre nós, sendo uma iniciativa do Bush Jr.) terminou em fiasco e acabou com o desempenho dos alunos americanos pior do que antes. Por lá demorou uma dúzia de anos a reconhecer nisso. Por cá, basta ficarem sempre os mesmos – ou os seus herdeiros – a dominar o CNE ou o ME e será sempre um sucesso.
Os erros do NCLB foram reconhecidos em plena era Obama (para que não restem dúvidas sobre o facto de não ter sido a “direita” a acabar com a coisa) e seria bom que aprendêssemos com eles. Caso exista ainda quem tenha vontade de aprender, após décadas de enquistamento intelectual em teses ultrapassadas.
A minha opinião, em resumo de sete minutos, ficou hoje no fim (a partir dos 42′) do Antena Aberta da Antena Um
Paulo Guinote, O Meu Quintal

terça-feira, 5 de novembro de 2019

sábado, 2 de novembro de 2019

Concordância de "a gente"


            Qual é a frase correta?
. A gente vai ao cinema?
. A gente vamos ao cinema?
            A regra informa-nos que o predicado concorda em pessoa e número com o sujeito.
            «Gente» é um nome coletivo que designa um conjunto de pessoas. Como se encontra no singular, o verbo (núcleo do predicado) tem de estar também no singular, em concordância com a expressão.
            Assim sendo, a frase correta é a primeira: «A gente vai ao cinema?».
            A talhe de foice, esclareça-se também um erro cometido por muitos: a confusão entre a expressão «a gente» e o nome «agente», que designa uma pessoa que age:
. A gente vai ao cinema.
. O agente da polícia prendeu o ladrão.


Teste para distinguir complemento indireto de complemento oblíquo


1. O complemento indireto não pode ser realizado pela sequência a + pronome pessoal tónico:
▪ * Entregou o livro a ele. (frase agramatical)

2. O complemento oblíquo admite a substituição por a + pronome pessoal tónico:
O Ernesto recorreu aos amigos. → O Ernesto recorreu a eles.
O padre obrigou o João a uma confissão. → O padre obrigou o João a isso.
O Eusébio cedeu ao sentimento. → O Eusébio cedeu a ele / a isso.

"Abaixo" ou "a baixo"?


            Ambas as formas estão corretas, pois existem na língua portuguesa. O que varia é o seu significado e uso.
            A expressão "a baixo" é uma locução adverbial que designa um ponto de chegada inferior, significando «para baixo» (nessa direção) e opondo-se a «do alto» ou «de cima».:
. O homem olhou a atriz de cima a baixo.
. Vamos alterar este projeto de cima a baixo.

 Por sua vez, a expressão "abaixo" pode enquadrar-se em duas classes de palavras:
1.º) Enquanto advérbio de lugar significa «em sentido descendente»:
. A minha tia caiu pelas escadas abaixo. (sentido descendente)
. As vendas da nova camisola do Sporting estão abaixo do que Varandas deseja. (nível inferior ao desejado)
. O meu cão dorme no andar abaixo do meu. (em baixo)
. O teu encarregado de educação tem de assinar a autorização abaixo. (na parte inferior da folha)
. O peso da Miquelina situa-se abaixo da média. (nível inferior)
2.º) Enquanto interjeição, significa «reprovação», «protesto», «contestação»:
. Abaixo este governo de primos e primas!

Coisas do arco da velha

     Coisas do arco da velha são coisas inacreditáveis, absurdas, espantosas ou inverosímeis.
     A expressão teve origem no Antigo Testamento: arco da velha é o arco-íris, ou arco-celeste, e foi o sinal do tacto que Deus fez com Noé: "Estando arco nas nuvens, Eu ao vê-lo recordar-ME-ei da aliança eterna concluída entre Deus e todos os seres vivos de toda a espécie que há na terra." (Génesis, ):16).
     Arco da velha é uma simplificação de Arco da Lei Velha, uma referência à Lei Divina.
     Há também várias histórias populares que defendem outra origem da expressão, como a da existência de uma velha no arco-íris, sendo a curvatura do arco a curvatura das costas provocada pela velhice, ou devido a uma das propriedades mágicas do arco-íris: beber a água num lugar e enviá-la para outro, pelo que a velha poderá ter vindo do italiano "bere"( (= beber).

Atentados e absurdos no ensino do Português: tudo em família

As sucessivas e absurdas alterações no ensino do Português, todas elas marcadas pelo oportunismo, pela ausência de debate, pela ignorância e pela arrogância intelectual, têm-no lesado profundamente.

     A ler com muita atenção este texto de Maria do Carmo Vieira, o qual exemplifica com grande clareza muitas das opções que têm sido tomadas ao longo das últimas décadas no que toca a programas e curricula.

As Misteriosas Cidades de Ouro - Episódio 12: "O Segredo dos Medalhões"

quarta-feira, 30 de outubro de 2019

Informação-prova do exame de Português - 12.º ano - 2020




     Podes encontrar todas as informações/matrizes das restantes provas nos links abaixo:
          . exames do 9.º ano;
          . exames do ensino secundário.

Informação-prova do exame de Português - 9.º ano - 2020



     Podes encontrar todas as informações/matrizes das restantes provas nos links abaixo:
          . exames do 9.º ano;
          . exames do ensino secundário.

"Sedia-m'eu na ermida de San Simion"


· Assunto: uma donzela formosa espera, na ermida de San Simion, o regresso do seu amigo embarcado. Obcecada pela ideia desse regresso, aliena-se da realidade circundante e só se apercebe de que nem o amigo virá nem poderá fugir dali quando se vê cercada pelas águas do mar (após a maré encher). Só lhe resta então esperar pela morte, crescendo a sua angústia ao pensar que vai morrer sem reencontrar o amigo.


· Tema: a saudade e o desespero, em virtude da demora do amigo.


· Estrutura interna

         O tema desenvolve-se através de um monólogo da donzela, que constitui uma micro-narrativa dos vários acontecimentos que a donzela vive na ermida.




OUTRA DIVISÃO

u 1.ª parte (estr. 1 a 4) - A donzela descreve, num monólogo, a sua situação: obcecada pelo regresso do amigo, a jovem, desesperada, apercebe-se tardiamente da subida da maré, sem ter barca nem marinheiro para fugir às águas do mar.

u 2.ª parte (estr. 5 e 6) - A donzela toma consciência da certeza da chegada da morte.

u Refrão: A angústia e a saudade obsessiva na espera do amigo, pois conclui que vai morrer sem o voltar a ver.



· Esquema-síntese

. ausência do amigo          ü                                        ì. exclamações
          (refrão)                  ï                                        ï. relação morte/juventude
              +                        ý  desespero da donzela      í. jogo dos tempos verbais
. hostilidade do ambiente  ï                                        ï. referência ao impasse
        (caract. do mar)        þ                                        î



· Elementos narrativos do poema

n Acção: a amiga espera o amigo que não chega.

n Espaço: ermida de San Simion, em Val de Prados.

n Tempo: tempo da espera do amigo, coincidente com a subida da maré.

Personagens:   - donzela;
                       - amigo (ausente, mas sempre presente).


· Relação Natureza                       /                     Donzela (estado psíquico)

. ondas que crescem
. maré que sobe
. mar alteroso
. possível afogamento



=
sentimento amoroso
. emoção crescente
. "a maré alta da paixão"
. obsessão amorosa
. angústia de que o amigo não venha / de que não consiga fugir ao arrebatamento amoroso quando ele chegar



· Caracterização da donzela:
- bela
- jovem

NOTAS

         1. Os dois sentimentos que dominam o espírito da amiga são:
                   à o receio de que o amigo não regresse;
                   à o receio de perecer afogada.

         2. Todavia, verdadeiramente o grande desespero da jovem reside na ausência do amigo; ou seja, a possível perda do seu amor é que é realmente a sua perdição, o seu naufrágio na vida. A donzela, nesta cantiga, afinal pressente o seu naufrágio, a saber: o fim da sua relação amorosa. O segundo receio é, pois, metáfora do primeiro.

         3. Os sentimentos da amiga assentam num crescendo de intensidade dramática. De facto, nas duas primeiras coplas, a donzela exprime apenas um receio longínquo, como se tivesse já passado (notar o emprego do passado: sedia-me e cercaron-mi). Na terceira e na quarta copla, a jovem constata que "Non hei barqueiro, nem ar son remador" (notar o uso do presente verbal e do ponto de exclamação, quando, nos versos equivalentes das duas estrofes iniciais, não tinha sido usado, o que revela já a emoção dela perante o perigo), isto é, que o perigo é iminente. Este avolumar da emoção da donzela culmina nas duas últimas coplas, com o uso do futuro a traduzir a certeza da morte: "E morrerei, fremosa, no alto mar".



· Papel da Natureza
. cenário: enquadraria um hipotético encontro amoroso;
¯
. oponente ® realmente: separa a donzela do seu amor e impede o relacionamento amoroso, sendo, portanto, culpada da "morte" da amiga;
 ® metaforicamente: ameaça engolir a jovem.



· Recursos poético-estilísticos

         1. Nível fónico

         A composição é constituída por 6 coplas heterométricas formadas por dois versos (dístico monórrimo) hendecassílabos agudos e dois versos octossílabos graves, obedecendo a rima ao esquema AABB / CCBB / AABB / CCBB / AABB / CCBB, isto é, a rima é toda emparelhada. Temos também rima consoante ("Simion" / "son") e toante ("son" / "remador"), aguda e grave (no refrão), rica ("Simion" / "son") e pobre ("altar" / "mar"). O ritmo é acentuadamente binário, contribuindo para exprimir a cadência das ondas, até porque há uma natural entoação ascendente até ao meio do verso e descendente na segunda metade. Este ritmo, enriquecido pelo paralelismo e que pode traduzir também toda a rápida escalada emocional vivida pela donzela, contrasta com o ritmo do refrão, lento (uso do gerúndio), sugerindo a espera, numa atitude continuada, obsessiva, absorta; por outro lado, pode ainda significar a inutilidade da sua espera ansiosa. Além disso, o refrão repete-se, é iterativo, ao longo do poema e em si mesmo, em cada estrofe, repetição que acentua a ideia de que a grande causa da angústia da donzela é a ausência do amigo. Na última estrofe, o refrão, após o verso "e morrerei, fremosa, no alto mar", sugere que a donzela morria à espera do seu amigo e sem esperanças de o recuperar. A composição é uma cantiga paralelística perfeita, com leixa-prem. De notar que a presença do refrão e do paralelismo aponta claramente para a origem popular das cantigas de amigo, feitas para serem cantadas, algumas delas por dois cantores (repetições paralelísticas, como nas cantigas à desgarrada) e por um coro (refrão). Existem também aliterações, por exemplo em s ("Sedia-m' eu na ermida de San Simion") e de sons fechados e nasais, sugerindo tristeza, e também assonâncias em ô / á.


         2. Nível morfossintáctico

         O uso do ponto de exclamação (frases exclamativas/função expressiva) aponta para a emoção que se começa a apoderar da donzela perante o perigo.
         Há um predomínio de substantivos e verbos que traduzem objectividade e acção. A nível dos tempos verbais, devemos destacar os seguintes:
. o pretérito imperfeito remete para a atitude estática da rapariga na sua longa espera;
. o gerúndio do refrão reforça a ideia traduzida pelo imperfeito e também a obsessão, a ânsia e a angústia da jovem;
. o pretérito perfeito apresenta o facto consumado: "cercaron-mi as ondas";
. o presente revela-nos a constatação, por parte da donzela, da trágica situação em que se encontra e da impossibilidade de salvação no momento presente: "non ei i barqueiro, nem remador!";
. o futuro exprime a antevisão da morte sem encontrar o amigo: morrerei...".
Ou seja, a donzela posiciona-se no presente, refere, através do passado e do gerúndio, a longa espera do amigo e a angústia a ela associada, e prevê o desenlace da situação em que se encontra.
         A nível da adjectivação, é de destacar a expressividade do adjectivo "fremosa", pois permite-nos concluir que o que afinal a donzela receava não eram propriamente as ondas do mar, mas o não regresso do amigo. E ela ali permanecia, frente ao mar por onde ele tinha partido, mas ainda "fremosa", como quando o seduzira. Ou seja, a sua formosura era, afinal, a causa do grande amor e, agora, do grande desespero. O comparativo da penúltima estrofe informa-nos da subida das águas com uma imagem de sentido hiperbólico.
         Além do paralelismo perfeito, encontramos outras formas de paralelismo:
- semântico: "grandes son" / "ondas grandes", ... ;
- anafórico;
- estrutural.
         A função da linguagem predominante é a expressiva:
- os pontos de exclamação / frases exclamativas;
- a adjectivação;
- o refrão;
- a reiteração.
         A ausência de conjunções a estabelecer a relação das orações confere às frases um carácter emocional, adquirido já no facto de serem do tipo exclamativo. As próprias orações subordinadas relativas explicativas, em "que grandes son", pela sua função aproximada de aposto, prolongam o sentido emotivo daquele momento.
         A anáfora, o hipérbato e a reiteração (por exemplo, no refrão) são outros recursos presentes.


         3. Nível semântico

         A gradação é o recurso estilístico mais importante do poema (vide nota 3).
         As ondas do mar funcionam como metáfora. De facto, elas são a causa do seu pânico crescente; mas também significam a paixão amorosa que a levou à ilha e cujas consequências podem ser a morte, mesmo estando "ant' o altar", sob a protecção do santo e do santuário. O medo que as ondas suscitam na donzela é complexo:
® medo de morrer afogada nas ondas ou na própria emoção (ondas da emoção);
® medo de não conseguir escapar ao ímpeto amoroso do amigo se ele chegar, de não resistir à força do amor;
® medo da "maré alta" da paixão que essa chegada representará;
® medo da espera indefinida do amigo, de não chegar e ela morrer sem o ver.
         Por último, destaquemos a hipérbole, quer no que diz respeito à grandeza das ondas, quer á subida da maré e ao perigo iminente que rodeia a amiga.

         O poema pertence, logicamente, ao género lírico, mas está contaminado pelo género dramático (além do narrativo, como já vimos); as acções avançam cronológica e progressivamente, intensificando o dramatismo que envolve a situação da donzela: "sedia-m' eu na ermida" ® "cercaron-mi as ondas" ® "non ei barqueiro, nem sei remar" ® "morrerei fremosa".


· Classificação

1. Cantiga de amigo.

1.1. Temática:
. barcarola / marinha: cantiga que contém referências ao mar (1);
. de romaria.
         (1) Os temas das barcarolas são geralmente de grande singeleza. Afora um certo número em que a donzela vai apenas banhar-se ao rio, ou da margem vê o barco deslizar pelas águas, nas barcarolas ela geralmente lamenta-se do amigo, ou, durante a sua ausência, pede às ondas notícias dele, ou ainda, ansiosa, vai esperar os navios que chegam, para voltar a vê-lo.

1.2. Formal:
. paralelística perfeita;
. de refrão.






Análise da cantiga "Ai flores, ai flores do verde pino"

    Análise da cantiga: Ai flores, ai flores do verde pino.
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