Português: A origem da pontuação

sábado, 19 de julho de 2025

A origem da pontuação

1.            Os povos mais próximos de quem herdamos muito do que é o nosso modo de vida, a cultura, a língua, etc., escreviam de forma bem diferente da que hoje usamos.

                De facto, os Gregos escreviam sem espaços entre as palavras, sem pontuação, sem qualquer diferente entre minúsculas e maiúsculas, ou seja, dispunham as letras ininterruptamente, umas atrás das outras:

HOJEÉSÁBADOEESTÁMUITOVENTOOCALORABRANDOUPORALGUNSDIASMASDEVEVOLTAREMFORÇANOSPRÓXIMOSDIAS

                No entanto, foi na Grécia Antiga que surgiram os primeiros sinais de pontuação que conhecemos, porém não passaram de experiências pessoais, provavelmente para facilitar o processo de leitura, que não vingaram na época e, portanto, não se tornaram norma. Tanto quanto se sabe, o sistema mais importante e conhecido foi o criado por Aristófanes de Bizâncio, um gramático, filólogo e bibliotecário grego, nascido por volta de 257 a.C. e falecido por volta de 180 a.C., conhecido pelo seu trabalho na Biblioteca de Alexandria. Aristófanes foi um dos primeiros estudiosos a realizar edições críticas de obras literárias, especialmente de poetas como Homero, Hesíodo e os trágicos gregos. Além disso, desenvolveu um sistema de acentuação e sinais diacríticos (como os acentos agudo, grave e circunflexo) para o grego, ajudando os leitores a pronunciar corretamente as palavras. Também introduziu sinais de pontuação primitivos a apontar diferentes pausas nos textos para facilitar a leitura em voz alta. Além disso, ajudou a organizar e categorizar obras literárias na Biblioteca de Alexandria, separando-as por gêneros e autores. Esse trabalho foi fundamental para preservar muitos textos antigos.

 

2.            Os Romanos atuaram de forma muito semelhante aos Gregos. Por exemplo, um dos maiores escritores latinos – Cícero (106 – 43 a.C.) – considerava que a pontuação era uma cedência indesculpável ao facilitismo. Não obstante, num ou noutro texto, encontramos um ponto a meio da linha a dividir as palavras. Seja como for, que Gregos quer Romanos utilizaram a chamada escrita contínua.

 

3.            Na Idade Média, os monges das ilhas britânicas começaram a pontuar os textos latinos que liam, visto que o inglês antigo que falavam então era muito diferente do latim  e nem todos possuíam conhecimentos suficientes da língua romana para os ler sem estarem pontuados. Note-se que, na época, os monges comiam enquanto ouviam leituras da Bíblia, que deveriam ser expressivas e sem falhas. Se quem lia cometesse algum erro ou alguma falha durante a leitura, seria castigado.

                Convém ter presente que a conexão entre a leitura, a pontuação e o domínio do sagrado eram anterior àquele tempo. De facto, Santo Agostinho (teólogo e filósofo, nascido em 354 d.C. e falecido em 430) defendera já nos séculos IV e V a necessidade de pontuar os textos sagrados, de modo a conservar o sentido da Bíblia.

 

4.            O facto referido no ponto 3 mostra que a pontuação estava ligada à leitura em voz alta, todavia, com a passagem do tempo, a leitura silenciosa foi ganhando espaço, pelo que a pontuação permitiu que essa as frases se tornassem mais claras e mais fáceis de ler em silêncio.

 

5.            Quem sabia ler e quem possuía hábitos de leitura ganhou consciência da importância e utilidade da pontuação, pelo que esta se foi espalhando pelo continente europeu. Assim, quando surgiu a imprensa na Europa, cerca de 1439, graças a Gutenberg (o seu inventor terá sido um chinês chamado Bi Sheng no ano de 1040), a pontuação começou lentamente a generalizar-se.

                Este processo enfrentava, porém, um constrangimento. Com efeito, não havia regras mais ou menos definidas para pontuar um texto, como sucede hoje em dia. Cada autor, cada revisor, cada editor ou ada tipografia pontuava os textos ao seu «gosto», o que naturalmente gerava uma grande confusão e incoerência.

                Com o avançar do tempo, o hábito de pontuar os textos foi-se enraizando e a pontuação, embora continuasse a ser bastante flexível, foi ganhando alguma ordem e coerência.

 

6.            Cada sinal de pontuação tem uma origem e história definidas. O sistema criado pelo já citado Aristófanes de Bizâncio usava um ponto superior para marcar uma pausa significativa, um ponto a meio da linha para marcar uma pausa menos prolongada e um ponto na parte inferior da linha para marcar uma pausa breve. Este último ponto constituía, portanto, uma espécie de vírgula, embora se situasse no local da fase e da linha onde atualmente usamos o ponto final. Com o tempo, este ponto situado na parte inferior da linha foi o único que sobreviveu dos três referidos.

 

7.            Por sua vez, a vírgula teve a sua origem no uso de barras oblíquas a meio de uma frase para marcar uma pausa: O meu tio faleceu / mas deixou muitas saudades. Aldo Manúcio (um impressor e humanista italiano, fundador da Aldine Press, nascido em Itália, em 1149, e falecido em Veneza, em 1515) diminuiu o tamanho dessa barra e deu-lhe uma forma curvada, pendurando-a na linha.

 

8.            Com a passagem do tempo, outros sinais foram sendo adotados na escrita de textos, enquanto, em simultâneo, outros foram esquecidos. É o caso deste símbolo F, isto é, uma pequena mão (do latim manícula, isto é, pequena mão), que serviu, durante muitos séculos, para apontar partes do texto que interessavam ao leitor. Com o tempo, foi perdendo esse seu valor e, atualmente, é usada como sinal decorativo.

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