①
Síntese dos acontecimentos que medeiam o episódio de Inês de Castro e o da
Praia das Lágrimas
Vasco
da Gama continua a relatar ao rei de Melinde episódios da História de Portugal.
Assim, na sequência da narração da Crise de 1383-1385, que levou D. João I ao
trono de Portugal, Gama narra a batalha de Aljubarrota, que contou com muitos
portugueses do lado castelhano. De seguida, relata acontecimentos do reinado do
Mestre de Avis, nomeadamente a conquista de Ceuta, seguindo-se os reinados de
D. Duarte, D. Afonso V e D. João II. Chegado ao reinado de D. Manuel III, narra
o sonho profético do rei, no qual dois rios (o Indo e o Ganges) lhe anunciam o
nascimento de um novo império.
② Contextualização
A
pedido do rei de Melinde, Vasco da Gama narra-lhe a História de Portugal. Neste
passo da obra, vai contar a partida da armada de Lisboa em direção à Índia, por
meio de uma analepse. Convém relembrar que, de acordo com as regras da epopeia
clássica, a narração inicia-se «in media res», isto é, quando a viagem
já vai a meio, ou seja, ao largo de Moçambique. Os acontecimentos que medeiam
entre a partida de Lisboa e o ponto em que se encontram serão narrados
posteriormente através de uma analepse, que se estende do Canto III ao V
e que constitui a resposta ao pedido do monarca. Esta analepse O episódio só
surge neste momento, dado que está inserido na sequência cronológica da
História de Portugal que Vasco da Gama está a narrar ao rei de Melinde.
Neste
episódio, Camões destaca a dor, o sofrimento e o sacrifício das pessoas
envolvidas direta (os marinheiros) ou indiretamente (familiares e amigos) na
empresa dos Descobrimentos. O Poeta exprime esses sentimentos através da
narração que Vasco da Gama faz ao rei de Melinde, narrando, como atrás
referido, a partida para a viagem inaugural à Índia.
Vasco
da Gama relata o dia em que o povo da cidade de Lisboa se juntou na praia de
Belém para assistir à partida das naus e para se despedir dos amigos e parentes
que iam embarcar. Ele e os seus companheiros de viagem saíram em procissão da
ermida, passando entre a “gente da cidade” – homens e mulheres, velhos e
crianças, mães e esposas. Para diminuir o sofrimento dos que ficavam e dos que
partiam, Vasco da Gama determinou que o embarque se fizesse sem as habituais
despedidas.
O tema deste episódio é, portanto, a partida dos
marinheiros da praia do Restelo e a despedida dos seus familiares e amigos.
③ Estrutura
externa: Canto IV, estâncias 84 a 93.
④ Estrutura interna
- Narração: plano da Viagem.
- Narrador:
Vasco da Gama, um narrador na primeira pessoa, autodiegético, pois é em
simultâneo personagem interveniente na ação.
- Narratário:
Rei de Melinde (a quem, a seu pedido, Vasco da Gama conta a História de
Portugal).
⑤ Estrutura do
episódio
▪ 1.ª parte – Os preparativos
da viagem (est. 84 a 87)
1. Localização da ação:
. no espaço:
→ “ínclita Ulisseia”
(perífrase e metonímia), isto é, Lisboa (v. 1) – a “ínclita Ulisseia” é uma
alusão a Ulisses, o célebre criador do cavalo de Troia que, durante a viagem de
regresso a sua casa, em Ítaca, teria aportado em Portugal e fundado a cidade de
Lisboa, à qual deu o seu nome;
→ junto ao estuário do
Tejo, porto de Lisboa, em Belém, praia do Restelo: os parênteses dos versos 3 e
4, onde estão presentes o hipérbato, a perífrase e a antítese entre «salgado» e
«doce» e a metonímia (Neptuno = mar), precisam o local onde decorre a ação –
junto ao estuário do Tejo (o estuário é uma zona de transição entre o rio e o
mar, ou seja, onde existe uma mistura de água doce do Tejo com a água salgada
do mar;
. no tempo:
- reinado de
D. Manuel I;
- presente, 8
de julho de 1497, dia da partida da armada de Vasco da Gama rumo à Índia.
2.
Ambiente de alvoroço: trata-se do alvoroço geral dos últimos preparativos
para o embarque.
3.
Estado de espírito / Caracterização dos marinheiros (“gente marítima” –
perífrase) e dos soldados (“a de Marte” – perífrase):
Continuação da análise aqui: despedidas-em-belem.
Sem comentários :
Enviar um comentário