sexta-feira, 1 de junho de 2012
quinta-feira, 31 de maio de 2012
Portangens nas ex-SCUT não beneficiam o Estado
Por outro lado, o TC salienta que a introdução dessas portagens não foi antecedida de uma avaliação e quantificação dos custos associados à renegociação dos contratos com as concessionárias e que «afetam diretamente os utentes», como os encargos relativos ao aumento da sinistralidade e aos impactos económicos e sociais nas regiões afetadas.
Assim, conclui que o Estado, mais uma vez, não salvaguardou os interesses dos contribuintes, dado que continuarão a ser estes a pagar a maior fatia dos encargos por duas vias: a contribuição do serviço rodoviário, paga quando se atesta o depósito, e através da dívida das Estradas de Portugal.Além disso, as receitas de tráfego que entram nos cofres das EP não são suficientes para os pagamentos de disponibilidade às concessionárias, as grandes beneficiárias de todo o processo, pois «reduziram o risco do negócio», já que recebem o mesmo, passem ou não veículos naquelas vias.
quarta-feira, 30 de maio de 2012
terça-feira, 29 de maio de 2012
domingo, 27 de maio de 2012
Amélia Pinto Pais
Faleceu ontem, 26 de maio, Amélia Pinto Pais, professora de Português já aposentada e escritora.
Natural de Fornos de Algodres, onde nasceu em 1943, licenciou-se em Filologia Românica, pela Universidade de Coimbra, e exerceu a sua atividade docente sobretudo na cidade de Leiria, onde vivia e faleceu.
Foi autora de diversos manuais e de um apreciável conjunto de obras de caráter ensaístico sobre Camões, que considerava o maior escritor português, Fernando Pessoa, Gil Vicente e Padre António Vieira. É, igualmente, de sua autoria uma História da Literatura em Portugal.
Requiescat in pace!
Requiescat in pace!
quarta-feira, 23 de maio de 2012
segunda-feira, 21 de maio de 2012
Morrer de fome
Na frase, O passarinho morreu de fome, qual é a função sintática desempenhada pela expressão «de fome»?
Numa primeira análise, a expressão destacada desempenharia a função sintática de modificador, dado que o verbo «morrer» é intransitivo.
No entanto, se lhe aplicarmos um dos testes para identificar o modificador - o teste pergunta / resposta -, verificaremos que tal identificação não é possível:
P . *O que aconteceu ao passarinho de fome?
R . Morreu.
Se alterarmos a pergunta, porém, o resultado será diferente:
P . O que aconteceu ao passarinho?
R . Morreu de fome.
Este (segundo) teste permite concluir que a expressão «morrer de fome» deve ser analisada como um todo (à semelhança do que sucede com a forma verbal inglesa to starve), logo «de fome», considerada isoladamente, não desempenha qualquer função sintática.
Numa primeira análise, a expressão destacada desempenharia a função sintática de modificador, dado que o verbo «morrer» é intransitivo.
No entanto, se lhe aplicarmos um dos testes para identificar o modificador - o teste pergunta / resposta -, verificaremos que tal identificação não é possível:
P . *O que aconteceu ao passarinho de fome?
R . Morreu.
Se alterarmos a pergunta, porém, o resultado será diferente:
P . O que aconteceu ao passarinho?
R . Morreu de fome.
Este (segundo) teste permite concluir que a expressão «morrer de fome» deve ser analisada como um todo (à semelhança do que sucede com a forma verbal inglesa to starve), logo «de fome», considerada isoladamente, não desempenha qualquer função sintática.
Fonte: Ciberdúvidas
domingo, 20 de maio de 2012
Barroco
O Barroco na Literatura
1.
Antecedentes
A
passagem do Renascimento para o Barroco fez-se através de um movimento designado
por Maneirismo, que é um estilo italiano
do século XVI caracterizado por um certo culto da forma, por conceitos subtis,
por um sentido negativo da vida, pelo desejo de obter efeitos emocionais,
recorrendo a movimentos e jogos de contrastes.
O
vocábulo maneirismo teve origem no vocábulo italiano maniera,
donde procede manierismo, que foi usado com frequência pelos
tratadistas e críticos de arte italianos da segunda metade do século XVI, com o
significado de estilo de um artista – a maniera de Rafael ou de Miguel
Ângelo – ou de estilo de uma época ou de uma nação (maniera greca, maniera
bizantina). Portanto, os artistas que se preocupavam acima de tudo com a
maneira ou que se esforçavam por imitar a maniera di Michelangelo foram
naturalmente chamados maneiristas.
Cronologicamente,
os maneiristas são a gente que nasceu entre 1525 e 1580 e que, por volta de
1620, já morreu toda. Os barroquizantes nasceram nos oitenta anos seguintes.
Este
estilo veio da transformação dos valores formais do Renascimento. Em pleno
século XVI, muitos escritores, saturados da imitação dos modelos clássicos, sem
romperem definitivamente com eles, enveredaram por um caminho mais individual, com
maior liberdade de imaginação. Foi, então, a este modo de escrever que se
chamou Maneirismo. Os escritores
maneiristas, segundo António José Barreiros (História da Literatura
Portuguesa, I) «mostram predilecção por temas que acentuam as naturais
limitações do homem na terra, a dor e o desengano da vida, a fugacidade do
tempo. E no seu estilo sobressai o gosto pelas metáforas ousadas, pelas
antíteses, pelas agudezas verbais».
A
evolução para o exagero avoluma-se no século XVII, dando origem a uma literatura
(e a uma arte) bem identificada e afastada do Classicismo primitivo. Para esta
situação contribuíram vários factores apontados pelo mesmo autor:
1. «A partir de Copérnico, o homem soube pela
astronomia como estava longe de ter abrangido o espaço geográfico do cosmos. O
tempo (milhões de anos-luz) surgiu-lhe concomitantemente com o infinito.
Sentiu-se então pequeno de mais para dominar a Natureza.
2. Depois da revolta de Lutero, as lutas religiosas e
políticas semearam por toda a parte os horrores da dor e da morte. Em terra,
anos consecutivos de crise económica trouxeram a fome e multiplicaram os
maltrapilhos. No mar, piratas cruéis assaltavam navios, roubavam fazendas e
vidas.
3. Morto Filipe II, a Espanha começou a mirrar até se
converter no esqueleto de um gigante,
numa sombra do que fora nos séculos XV e XVI. Portugal, unido a ela, não teve
melhor sorte. Uma onda de pessimismo apossou-se então de todos os ânimos,
aumentando a angústia provocada pelo desfazer de outros valores atrás mencionados.
4. Acresce ainda o papel repressor da Inquisição.
Sendo-lhes vedada a análise crítica da sociedade, os escritores refugiaram-se
nos malabarismos dos jogos verbais.
Neste
contexto, de crise de valores, nasceu uma literatura de evasão, tendencialmente
pessimista, exageradamente formalista ou conceptualista.
Um
dos autores influenciado pelo Maneirismo é Camões, quer pela subtileza conceitual
que patenteia no soneto “Amor é um fogo que arde sem se ver”, quer por
certo preciosismo da linguagem, quer, ainda, pelo conteúdo da sua mensagem
poética, nomeadamente os traços de desalento e desilusão. É o que se pode
observar no episódio do Adamastor e na elegia aos mortos pelo escorbuto. Como
aqueles, o poeta é um vencido face ao destino.
Neste
quadro, podemos confrontar Maneirismo e Barroco:
Maneirismo |
Barroco |
|
Semelhanças
|
. Adopção do petrarquismo.
. Gosto pela exuberância de recursos estilísticos.
. Desconcerto do mundo.
. Visão da vida como transitória ou efémera.
. Gosto pela agudeza de conceitos.
|
|
Diferenças
|
. Alheado da realidade física do mundo.
|
. Período sensível e natural.
|
. Refugia-se em
problemáticas filosófico-morais.
|
. Apela para as sensações
fluidas na variedade do mundo físico.
|
|
. Arte de elites,
anti-realista, impregnada de preciosismo cortês, baseada no petrarquismo.
|
. Arte acentuadamente
realista e popular, que altera a tradição poética petrarquista.
|
|
. Sóbrio, frio, introspectivo e cerebral.
|
. Ostentatório,
esplendoroso; preferência pela proliferação de elementos decorativos.
|
|
. Deixa-se perturbar por um
sofrimento e melancolia de raízes profundas.
|
. Tende para o lúdico e
para o divertimento.
|
2. Origem do termo Barroco
Muitos
autores tentaram explicar a origem etimológica da palavra barroco.
Segundo uns, proviria do nome do pintor italiano Barocci; segundo outros,
proviria de barocco ou barocchio, duas palavras italianas que
designam fraude. Há outros que entendem que barrocoderiva da
palavra baroco, pertencente à terminologia da lógica escolástica, que
designava um tipo de silogismo, ganhando certa carga pejorativa. No entanto, a
explicação mais comummente aceite é aquela que diz que provém de barroco,
palavra portuguesa do século XVI que designava uma pérola de forma irregular.
Esta, por sua vez, provirá da palavra latina verruca, que significa uma
pequena elevação de terreno; ou do nome da cidade de Barokia, na Índia, onde
havia um florescente mercado de pérolas.
Em
suma, etimologicamente, a palavra «barroco» parece derivar do latim verruca, que significava, a princípio,
pequena elevação de terreno e até qualquer excrescência ou mancha numa
superfície lisa. Será, por isso, que nós temos com esse sentido, o vocábulo verruga. Do sentido lato, passou-se a um
sentido mais restrito: determinadas imperfeições das pedras preciosas. No
século XVI, chamavam-se barruecas, baroques ou barrocas as pérolas não
redondas ou manchadas. No século XVII começou a utilizar-se a palavra baroque para significar qualquer coisa
de forma irregular, desigual, bizarra; e, neste sentido, passou a qualificar
determinada música e determinadas artes plásticas.
Foi
Carducci quem, em 1860, empregou o adjectivo barroco para qualificar a literatura do século XVII. Desde então
barroco passou a designar o estilo dos artistas e escritores de Seiscentos.
3.
Cronologia do Barroco
O
fenómeno histórico do Barroco não atingiu, ao mesmo tempo, todos os países da
Europa. Assim:
– na Itália, desenvolveu-se
no século XVI;
– na Espanha, desenvolveu-se
a partir de 1570;
– em França, desenvolveu-se
na primeira metade do século XVII;
– em Portugal, situa-se
entre 1580 e 1756.
4. A génese do Barroco
Entende-se por
Barroco a "degenerescência" do Renascimento no sentido do
exagero da forma e do pensamento, a qual vai atingir, principalmente no século XVII,
as várias expressões artísticas, como a pintura, a arquitectura, a escultura, a
música e a literatura. Ou seja: o termo barroco designa, genericamente, todas
as manifestações artísticas que ocorreram entre o Classicismo do século XVI e o
Neoclassicismo do século XVIII. Inicia-se em 1580 com a unificação da Península
Ibérica e estender-se-á até 1756, data da fundação da Arcádia Lusitana. André
Soares, no século XVIII, por influência de Nicolau Nasoni, é ainda exemplo
desta degenerescência na arquitectura, como Nasoni o é na pintura, tendo em
vista a Sé Catedral de Lamego. Vários países aderiram ao movimento na
Europa. Referimos as
designações que o classificaram a partir de obras literárias: na Inglaterra foi designado eufuísmo
(da obra Euphues de John Lyly, incluindo-se Milton na literatura e
Haendel na música); na Itália surgiu a
designação de marinismo (de Giambattista Marino, a que se juntaram
Tassoni e Palavicini); Hoffmann e Lohenstein da segunda escola da Silésia e,
principalmente, Angelus Silesius divulgam o movimento da escola na Alemanha com
o nome de silesianismo; na França, Molière desvia-se dos grandes clássicos, como Corneille, Racine, Boileau,
Bossuet, e ridiculariza a vida de salão, as «preciosas ridículas», em Sabichonas,
e o movimento surge com o nome de preciosismo; na Espanha, apesar da
excelência dramática de Tirso de Molina, Lope de Vega e Calderón de
La Barca, o movimento desponta com Luís de Gôngora em Saudades,
a Fábula de Polifemo y Galateia, surgindo a designação de Gongorismo. Portugal adere, também,
como podemos ver em Lampadário de Cristal de Jerónimo Baía,
superlativando o real quotidiano, e aceita o nome que a Espanha dera ao movimento.
Segundo Paulo
Durão, à pureza de linhas do Classicismo, à sua
sobriedade, fizeram corresponder os renascentistas no Barroco a visão
esplendorosa, ornamental, que a sua prodigiosa imaginação criadora lhes
permitia. Por isso, foi fácil cair em breve no exagero desse culto ainda no
século XVI. A poética, principalmente, torna-se um produto do engenho destinado
a recrear, não passando de um exercício de retórica transmitido em verso.
Acentua-se o emprego dos recursos estilísticos, nomeadamente metáforas,
paronímias, hipérbatos, comparações, anáforas, hipérboles, antíteses,
assíndetos, catacreses, pleonasmos, perífrases, trocadilhos, a assimetria, o
geometrismo, o predomínio da ordem imaginativa sobre a lógica, os conceitos com
o seu engenho e agudeza com vista à novidade e ao inusitado. Entre outros,
refira-se o soneto de Jerónimo Baía, no qual cada verso é composto de duas
metades que formam um todo, afirmando o geometrismo formal.
Este movimento
que, no século XVII, entre nós, floresceu em pleno nas várias artes, na poesia
em vários poetas, com especial relevo em Rodrigues Lobo e D. Francisco Manuel
de Melo, entra em declínio no século XVIII, dando origem ao estilo
rococó, o mesmo acontecendo na literatura brasileira, que desperta no século
XVII com marcas do Barroco de escritores portugueses e espanhóis. Entre nós, A
Arte Poética de José Freire, em 1739, é o primeiro grande golpe dado no
seiscentismo; depois, é a publicação do Verdadeiro Método de Estudar de Verney em 1746 e, por
último, a fundação da Arcádia Ulissiponense em 1756.
O Barroco não é,
assim, um século de inovação, pois mantém as características do Classicismo, sem a
parcimónia deste, antes levadas ao exagero. A nível de conteúdo é notória a
insistência na caducidade que leva à frustração, ao desequilíbrio, ao
desengano, mas, por outro lado, desenvolve-se, por vezes, um desabrochar de coragem,
de estoicismo. Barroca, também, a forma como é transmitida a doutrina
espiritual, cultivando o medo do inferno, como se pode ver na prosa de Manuel Bernardes e Frei António
das Chagas. De cariz barroco é a obra moralista como a vemos representada por D. Francisco
Manuel de Melo (Feira de Anexins, Apólogos Dialogais, Carta de
Guia de Casados), em Diogo Bernardes na Nova Floresta, nos Sermões
de António Vieira, na Corte na Aldeia de Rodrigues Lobo.
5. Conceito de Barroco
O
Barroco é o fruto de uma atitude espiritual complexa, carregada de elementos renascentistas,
evoluídos ou alterados, atitude que leva o Homem a exprimir-se na pintura, na
arquitectura, na poesia, na oratória e na vida segundo um modo sui generis. Este concretiza-se na
literatura por uma rebusca da perfeição formal, uma aventura da arte pela arte.
Na prosa de Seiscentos, os períodos articulam-se em paralelismos e simetrias,
em fracções sabiamente bimembres ou trimembres, em antíteses e, requintadamente,
em disposições segundo os chamados processos disseminativos e recolectivos, tão
típicos da prosa dita barroca. É o que acontece com Vieira, com Bernardes, com
Frei António das Chagas, etc.
Os limites do Barroco português
podem fixar-se, sem rigidez, entre os anos 1580 e 1756. Não deve isolar-se o
caso português do caso peninsular; é numa perspectiva ibérica que deve
situar-se e avaliar-se a literatura de Seiscentos, que é nessa altura, mais do
que nunca, bilingue. A prosa atinge nesta época a sua maturidade. De facto, a
prosa barroca é uma prosa artística que possui a maturidade que não alcançara
ainda a prosa de Quinhentos.
O
sentimento de arte que se aviva no Renascimento é tanto estímulo ao progresso,
como ao gradual encaminhamento para o gosto do artificioso, de que se resvala
no capricho delirante. Os brincos retóricos que uma ou outra vez topamos em
Camões, crescem em número e requinte em Rodrigues Lobo ou D. Francisco Manuel
de Melo e multiplicam-se em Fr. Jerónimo Baía, na busca ansiosa de lumes e
formosuras, que fazem do seu Lampadário de Cristal a mais vistosa
girândola nessa competição pirotécnica que é a Fénix Renascida. Assim,
ao lado de uma evolução no sentido de apreender a vida mais profunda, há outra
na rebusca das formas que mais dela distraiam. Parece, pois, evidente que o
rebuscado da forma, concebido como a expressão adequada às dramáticas vivências
e complexidade do homem barroco, está antes na razão inversa do interesse pela
realidade física ou moral, e anseio de a comunicar.
O
Barroco, na literatura, caracteriza-se por tentar mostrar a plena inspiração
dos autores, quer nas formas, quer nos conteúdos engenhosos de pensamento. O
napolitano Giambattista Marini (1568-1625), em Itália, considera que a poesia
possui o «desiderio di stupire», ou
seja, o «desejo de produzir o espanto»,
pelo achado da maraviglia.
Por
um lado, o pensamento peninsular foi subordinado a directrizes que o acautelavam
contra todas as curiosidades e todos os problemas que pudessem obstar à
unanimidade da ortodoxia com dura intransigência e aterradores processos
defendidos pela Inquisição. Por outro lado, no ambiente espiritual de tal modo
fechado a infiltrações estrangeiras, compreende-se não devesse tal situação
constituir grande estímulo para a vida intelectual da Pátria e da Corte, sobretudo
preocupada com os problemas militares e económicos, tanto mais urgentes quanto
era a própria existência delas que os impunha. Estes problemas não podiam
ultrapassar a literatura política, não penetraram na zona mais profunda da
consciência. Daí resultou que a literatura de ficção, e sobretudo a poesia, se
mantiveram distantes e alheias. Pode dizer-se que regressou à sua categoria de
actividade lúdica, de mero entretenimento, como o fora para os poetas dos
Cancioneiros medievais e a maior parte dos do Cancioneiro Geral de
Garcia de Resende. A poesia é um jogo, um entretenimento, um prazer da imaginação
sensual ou da inteligência engenhosa. Exclui-se dela não só a gravidade da preocupação
social, da comoção religiosa, mas até as efusões da emoção pessoal. Ela deve
ser dirigida à inteligência como objecto de subtil exercício, e à memória, para
fidalgo ornamento dos mais desocupados. Quase nada tem a ver com o coração, de
cujas dores mais profundas faz encantadoras charadas, artificiosas filigranas
verbais. Em tudo existe a preocupação do arranjo, do enfeite, do jogo, do
artifício.
O
Barroco é o contrapolo da maneira clássica. O simples e claro dos processos clássicos
insinua-se discreta e lentamente, encantando a inteligência e a alma inteira
pela graça inabalável de uma beleza nua: o que o Barroco visa, pelo contrário,
é a explosão do espanto; é o dom de surpreender e de aturdir o espírito à força
de ornamentar e de rebuscar.
6. Características formais do estilo
barroco
O Cultismo
O Cultismo é um artifício de forma.
Consiste no burilado excessivo da forma; sob roupagens exageradas, esconde-se
uma temática estéril e banal. Valoriza o “como dizer”.
O
Cultismo serve-se de três artifícios:
– jogo de palavras: paronímia, sinonímia, antonímia,
trocadilhos e equívocos; acumulação de epítetos, verbalismo rebuscado;
– jogo de
imagens: metáforas, imagens, hipérboles, contrastes, adjectivação;
– jogo de construções: alternâncias, construção
frásica, simetrias, paralelismos, cruzamentos, antíteses, enumerações e
repetições.
Também
se denomina este estilo de Gongorismo, designação proveniente do escritor
espanhol Luís de Gôngora.
O Conceptismo
O Conceptismo é um artifício de
conteúdo; é uma atitude intelectual, pois o poeta faz um trabalho rebuscado dirigido
à inteligência e não aos sentidos. Servindo-se do desdobramento de um conceito,
até se chegar, através de raciocínios engenhosos, a imprevistos paradoxos, o
Conceptismo consiste no jogo de ideias ou conceitos sob a forma de comparações
ousadas, metáforas, imagens, sinédoques, hipérboles, etc., conducentes a uma
densidade conceptual que obscurece o conteúdo. Valoriza “o que dizer”.
Cultismo
e Conceptismo são duas expressões de um conceito de poesia que reduz o texto a
uma actividade puramente lúdica, própria, como afirmou D. Francisco Manuel de
Melo, para mancebos, damas e ociosos.
7. Colectâneas da poesia barroca
Quase
todos os poetas barrocos deixaram dispersa a sua poesia, não a tendo publicado
em edição própria por diversas razões, algumas das quais estarão ligadas às
difíceis condições em que a imprensa vivia.
Todavia,
as suas poesias foram reunidas em duas grandes colectâneas: Fénix Renascida
e Postilhão de Apolo.
O
compilador da primeira foi Matias Pereira da Silva, que lhe deu o seguinte
título: A Fénix Renascida ou Obras
Poéticas dos Melhores Engenhos Portugueses. Dela saíram cinco volumes,
entre 1716 e 1728. A segunda impressão ocorreu em 1746.
O
compilador da segunda foi José Meregelo de Osan, criptónimo de D. José Ângelo
de Morais, sendo publicada com o título pomposo de Ecos que o Clarim da Fama dá: Postilhão de Apolo montado no Pégaso,
girando no Universo para divulgar ao Orbe Literário as Peregrinas Flores da
Poesia Portuguesa com que vistosamente se esmaltam os Jardins das Musas do
Parnaso. Dela saíram dois volumes; o 1.º Eco em 1716 e o 2.º Eco em 1762.
Ambas
as antologias contêm misturadamente poesias líricas, heróicas, satíricas, burlescas,
religiosas (textos sobre a Virgem e o Menino Jesus, misericórdia de Deus,
abismo da maldade humana, caducidade das coisas do mundo) e ainda outras
puramente narrativas.
Características do Barroco
1. O Barroco é uma época de ostentação e riqueza
A exuberância decorativa nas artes
plásticas, o excesso de artifício na literatura é um dado claro. Todavia, a
temática do excesso mascara uma profunda inquietação e uma angustiante
insatisfação interiores. É necessário encontrar o que está por detrás da
máscara.
2. O Barroco é uma estética do deleite
A
fórmula de Horácio “ensinar é deleitar”
perdurou e ainda perdura como finalidade da obra de arte. Mas, nesta época, o
deleite, o lúdico, destaca-se em relação à catarse (purificação) defendida por
Aristóteles como prioritária.
A
actividade puramente lúdica «não exprime
a vida; distrai da vida. (...) É um jogo que tem no gozo estético toda a sua
finalidade» (Hernâni Cidade, A Poesia Cultista e Conceptista).
Esta
poesia é uma actividade lúdica, de mero entretenimento, à semelhança do que
sucede com a maior parte dos poetas do Cancioneiro Geral, de Garcia de
Resende. De facto, na poesia barroca portuguesa há um contraste entre a sua
ênfase de estilo e as ninharias que servem de pretexto à maior parte dela.
Muitas dessas composições tiveram origem em concursos e outros passatempos das
academias, em outeiros ou torneios poéticos realizados junto de conventos
femininos, e consequentes amores freiráticos, que, aliás, constituem um dos
predilectos objectos de sátira desbocada. Há numerosa versejação em torno de
simples incidentes, como o desmaio de uma senhora provocado por uma sangria, o
caso de um pintassilgo comido por um gato, e a desinteria originada por um bolo
podre.
3. O Barroco é o predomínio da arte sobre o
talento
Na
época clássica, repetiu-se sem cessar ser necessário o equilíbrio entre o talento
do poeta e o seu trabalho, a sua técnica. Recordemos o que escreveu Camões na Proposição
de Os Lusíadas:
“Cantando espalharei por toda a parte
Se a tanto me ajudar o engenho e a arte.”
Agora,
dá-se uma ruptura no equilíbrio clássico, destaca-se o predomínio da arte na
produção literária. Assiste-se a discursos engenhosos, a jogos com as palavras,
a processos artificiosos, a puzzles
construídos com paciente labor.
4. O Barroco é uma estética da ilusão
Não
importa reproduzir ou imitar a realidade, mas fingir essa mesma realidade, enganar o observador, produzir ilusão, até porque tudo é ilusão. O
recurso de estilo mais adequado a esta finalidade é a metáfora, meio por excelência da transfiguração. Por isso, a metáfora
é preferida nas obras teóricas e na prática do discurso. A metáfora impõe-se
como “principal forma de expressão de um ideal poético de metamorfose das
coisas, de visão transfigurada do mundo; e de deslumbramento do leitor, do
convite ao exercício do entendimento para, mergulhado na ilusão, a entreter
como tal e se deleitar com os seus jogos” (Maria Lucília Gonçalves Pires, Xadrez
de Palavras).
5. O Barroco é uma arte profundamente sensorial
O
Barroco apela às sensações fruídas na variedade admirável do mundo físico. A intenção
é provocar a captura do destinatário, aberto ao deslumbramento, à ostentação e
ao deleite. Neste sentido, é uma arte pragmática,
pois centra-se na relação entre a obra e o leitor. Este não pode ficar
indiferente à maravilha do discurso engenhoso
ou à profusão dos elementos decorativos.
Por
outro lado, o Barroco realiza-se sobretudo como a arte da Contra-Reforma. Sendo a arte da persuasão, pôde ser eficaz para a
conversão das almas, enlevadas na exaltação da sensibilidade. Em sentido
oposto, o Protestantismo, avesso à convivência da fé com o luxo, é hostil e vê
no barroco um desvio da Igreja de Deus. É por isso que, sobretudo na arquitectura,
se tornou para o catolicismo a principal forma de arte religiosa, pois atrairá
mais facilmente os fiéis. Para isso, o luxo revela-se mais eficaz do que a
austeridade. As matérias mais preciosas ou mais deslumbrantes, a generosidade
com que são distribuídas, vão impressionar o povo; ele terá também os seus
palácios; as igrejas. A fachada voltada para a rua, onde a multidão passa,
torna-se tão importante como o interior. Pouco importa que a distribuição
sumptuosa dos seus elementos não corresponda à estrutura do edifício, a arte
visa menos a verdade do que a eficácia.
6. O Barroco é a expressão de profunda crise
O
Barroco é a expressão da angústia do fugaz e a tentativa para fixar a realidade
em permanente fluir.
7. A
sátira barroca
A
sátira barroca retrata os vícios da sociedade da época de forma muito
pormenorizada. Os alvos são o baixo comportamento de alguns membros do clero
regular, já retratados por Gil Vicente, a mania do francesismo, os amores
freiráticos, a vaidade, a dissolução dos costumes, a deslealdade da Corte, as
narrações mitológicas e mesmo o próprio estilo cultista.
8. O Barroco ri de tudo
«O poeta barroco ri de tudo: de si próprio e
dos outros, de defeitos físicos e morais, de costumes da sociedade, de
carências materiais; ri de poetas e da própria poesia, de tópicos e textos
literários.» O discurso recalcitrante encontra-se com a paródia, a ironia
aguda ou até com a sátira, ora violenta, ora grosseira. (Maria Leonor C.
Buescu, Literatura Portuguesa Clássica).
9. O Barroco é uma poética de contraste:
– choque de cores;
– amor – dor;
– vida – morte;
– juventude – velhice;
– claro – escuro.
10. O Barroco é uma arte feita de ornamentos
estilísticos
Do vasto arsenal de recursos estilísticos de que o
Barroco se socorre, destacam-se aqueles que melhor servem os seus ideais
estéticos.
A metáfora é
a figura dominante, porque é o instrumento privilegiado de expressão do ideal
barroco de metamorfose, de transfiguração, de criação de um mundo
transfigurado, idealizado, diferente do da realidade quotidiana.
As metáforas ora aparecem em série, numa festa de
imagens, ora em técnica de metáfora continuada: uma série de metáforas
pertencentes ao mesmo campo semântico, introduzida por uma metáfora-síntese que
se vai particularizando ao longo do texto.
Com a metáfora articula-se a hipérbole,
pois o gosto do excessivo, do exagero, é das linhas fundamentais barrocas.
A terceira figura é a antítese,
traduzindo os contrastes e os conflitos que marcam o poeta barroco.
Outro aspecto importante da retórica barroca é o deslumbramento do olhar, que se traduz na criação de um mundo de
luminosidade, de brilho, de cor, de imagens que se multiplicam como reflectidos
em espelhos paralelos.sábado, 19 de maio de 2012
As maravilhas dos novos centros escolares
Os novos centros escolares de Santarém foram apresentados como paradigma da construção sustentável. O que justificou custarem o dobro das escolas normais. O problema é que a “construção sustentável” está-se a tornar insustentável para as crianças.
A Associação de Pais dos Alunos do Centro Escolar Salgueiro Maia já pediu a intervenção da autoridade de saúde pública. “É de facto uma questão de saúde pública”, afirmou a O Ribatejo Vítor Bezerra, pai de uma das crianças e médico de Santarém.
“Além do calor insuportável nas salas de aula, existem ainda vários erros na conceção do centro escolar, como os urinóis terem sido colocados a uma altura em que só podem ser usados por adultos, ou existência de esquinas com arestas aguçadas. É preciso que a Câmara atue imediatamente na solução destes problemas antes que aconteça algum problema”, disse Vítor Bezerra.
(...)
Para resolver de imediato o problema, o diretor do Agrupamento D. João II, António Pina Braz, decidiu comprar cortinas e solicitou à Câmara a sua colocação. “Já pedimos aos operacionais para procederem à colocação imediata das cortinas”, confirma Luísa Féria.A construção deste Centro Escolar custou 2,6 milhões de euros, com comparticipação comunitária do Fundo Europeu de Desenvolvimento Regional de 1,7 milhões de euros.
(c) O Ribatejo
sexta-feira, 18 de maio de 2012
Episódio do Sarau da Trindade
1. Objetivos
- Ajudar as vítimas das inundações do Ribatejo;
- Apresentar um tema querido da sociedade lisboeta: a oratória;
- Criticar o Ultrarromantismo que encharcava o público;
- Reunir novamente as várias camadas das classes mais destacadas, incluindo a família real;
- Proporcionar um contraste entre um clima de festa e um clima de tragédia.
2. Ambiente
- Espaço físico: Teatro da Trindade.
- Espaço social: alta sociedade lisboeta analisada através de tipos sociais.
- Caracterização da sociedade: inculta, estática e superficial, deformada pelos excessos e lugares comuns do Ultrarromantismo.
3. Temas tratados
a) Oratória
1. Oradores
1.1. Rufino:
- "vozeirão túmido, garganteado, provinciano, de vogais arrastadas em canto" - tom altissonante;
- temas da sua alocução: a caridade, o progresso, a fé, Deus, a sua aldeia, a imagem do "Anjo da Esmola";
- revela falta de originalidade:
- recorre a lugares comuns e a imagens de origem duvidosa (a imagem do «Anjo da Esmola», que estendera as suas asas benfazejas sibre os deserdados das inundações destruidoras das belas aldeias onde antes o rouxinol trinava);
- faz uso de chavões retóricos e lirismos banais em torno da caridade e da fé;
- a sua retórica é oca e balofa;
- é adulador (volta-se constantemente para a zona das cadeiras reais, considera que a salvação reside no trono de Portugal: "... vir aquele pulha pôr-se ali a lamber os pés à família real...");
1.2. Alencar - poeta ultrarromântico
- esguio, sombrio e pensativo;
- olhar encovado e lento;
- melancólico, solene e pomposo;
- tema proposto: a democracia (romântica);
- utiliza os habituais bordões / chavões líricos ultrarromânticos: o luar, os vastos arvoredos, o amor, os segredos;
- sustenta um excessivo lirismo carregado de conotações sociais:
- "... a severa ideia social da Poesia...";
- "... uma mulher macilentae, farrapos, chora, aconchegando ao seio magro o filho que pede pão...";
- "... estes humanitarismos poéticos.";
- "... daquele lirismo humanitário e sonoro.";
- o seu discurso está desfasado da realidade: "A sala permanecia muda e desconfiada.";
- ataca frontalmente
quinta-feira, 17 de maio de 2012
"Last Dance", Donna Summer
Donna Summer (1948 - 17/05/2012)
Pelo Brasil
Subscrever:
Mensagens
(
Atom
)