● Tema: autorretrato do sujeito poético.
● Assunto: descrição física e psicológica que o sujeito lírico faz de
si próprio.
● Estrutura interna
• 1.ª
parte (2 quadras + 1.º terceto) – Autorretrato
NOTAS:
1.ª) O autorretrato está construído da
seguinte forma:
– 1.ª estrofe ®
retrato físico: cara, corpo;
– 2.ª/3.ª
estrofes ®
retrato psicológico.
2.ª) Nos primeiros quatro versos,
deparamos com uma deformação caricatural dos traços característicos do sujeito
poético, que confere ao texto um efeito humorístico dado também pelo recurso a
vocabulário corrente. É como se Bocage se estivesse a ver ao espelho e se risse
de si próprio, do seu aspecto, do seu modo de ser e até dos seus dotes
poéticos. Bocage demonstra, assim, a sua predileção por uma estética da
espontaneidade, do improviso, da autoconfissão natural. Ao inspirar-se em si
próprio, o poeta introduz uma nova temática e torna mais leve e fluente a
linguagem, agora mais próxima da oralidade.
3.ª)Recursos
estilísticos:
– enumerações;
– lítote: “e não pequeno” (v. 4);
– adjectivação;
– comparação (v. 6);
– metonímia: “furor”, ”ternura” (v. 6);
– hipérbole: ”Mil deidades” (v. 9);
– metáfora e anteposição do adjectivo: ”Devoto
incensador” (v. 9);
– reiteração (vv. 9-10).
• 2.ª parte (2.º terceto) – Síntese e designação do retratado:
. Identificação do sujeito poético com
o próprio poeta: “Eis Bocage...”
(v. 12).
. Síntese
da caracterização do sujeito:
– o temperamento irascível;
– a entrega desmedidade a paixões amorosas, a prazeres mundanos (vida de boémia).
● Recursos poético estilísticos
1. Nível fónico
Estamos na presença de
um soneto em versos decassílabos
constituído por duas quadras e dois tercetos, num total de catorze versos. A rima é emparelhada e interpolada nas quadras (ABBA) e
cruzada nos tercetos (CDC / DCD), consoante (“moreno“/“pequeno”), grave ou
feminina (“moreno”/“pequeno”), pobre (“moreno”/“pequeno”) e rica (“ternura”/“escura”).
O ritmo é predominantemente binário (v. 2),
alternando com o ritmo ternário (v. 1). O transporte
está exemplificado nos versos 9-10 e 13-14.
2. Nível morfossintáctico
Os adjectivos enunciam características físicas e
psicológicas referenciadas sempre em substantivos
que designam um órgão ou uma parte do corpo. Bocage utiliza um vocabulário
corrente que confere um efeito prosaico e humorístico à linguagem e nos
transmite a deformação caricatural dos traços físicos e morais.
Os verbos são escassos, com predomínio do pretérito
perfeito, do gerúndio e do presente.
Destaque também para
os advérbios, nomeadamente o advérbio de modo bem
a expressar, conjuntamente com o adjectivo servido, a grandeza dos pés; de
exclusão somente a denunciar o anticlericalismo de Bocage e de
designação eis a anunciar o retratado de forma algo majestosa.
3. Nível semântico
Existem várias perífrases:
– “Bem servido de pés” a significar que tem
os pés grandes;
– “Triste de facha”, a expressar a sua
fealdade.
– “Incapaz de assistir num só
terreno”, denunciadora da sua inconstância amorosa, tal como outra no verso 9:
– “Devoto incensador de mil
deidades”.
Ainda na 1.ª estrofe é
de realçar a antítese e a lítote “Nariz alto no meio, e não pequeno”, sugerindo
as dimensões caricaturais do nariz.
A comparação do verso 6 – “Mais propenso ao furor do que
à ternura” – aponta para o seu carácter violento, irascível, enquanto as metáforas dos versos 7, 8 e 9 denotam a associação
entre o amor e o ciúme, a obsessão da morte (sugerida pelo adjectivo letal) e a inconstância amorosa (v.
9). Destaque ainda para a hipérbole “Devoto
incensador de mil deidades”, e para a enumeração
das características físicas na 1.ª quadra.
● Características
Neoclássicas |
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Pré-Românticas |
. Uso do soneto.
. Verso decassilábico.
. Vocabulário alatinado: níveas, letal, deidades.
. Hipérbatos.
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. Retrato (do herói)
romântico:
– aspecto
físico estranho;
–
inconstância amorosa;
–
anticlericalismo;
– egotismo (culto do individualismo).
. Carácter autobiográfico
do texto.
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