Português: Análise do poema "Magro, de olhos azuis, carão moreno", de Bocage

sexta-feira, 16 de agosto de 2024

Análise do poema "Magro, de olhos azuis, carão moreno", de Bocage

Tema: autorretrato do sujeito poético.
 
 
Assunto: descrição física e psicológica que o sujeito lírico faz de si próprio.
 
 
Estrutura interna
 
1.ª parte (2 quadras + 1.º terceto) – Autorretrato 

NOTAS:
 
        1.ª) O autorretrato está construído da seguinte forma:
– 1.ª estrofe ® retrato físico: cara, corpo;
– 2.ª/3.ª estrofes ® retrato psicológico.
 
        2.ª) Nos primeiros quatro versos, deparamos com uma deformação caricatural dos traços característicos do sujeito poético, que confere ao texto um efeito humorístico dado também pelo recurso a vocabulário corrente. É como se Bocage se estivesse a ver ao espelho e se risse de si próprio, do seu aspecto, do seu modo de ser e até dos seus dotes poéticos. Bocage demonstra, assim, a sua predileção por uma estética da espontaneidade, do improviso, da autoconfissão natural. Ao inspirar-se em si próprio, o poeta introduz uma nova temática e torna mais leve e fluente a linguagem, agora mais próxima da oralidade.

        3.ª)Recursos estilísticos:
enumerações;
– lítote: “e não pequeno” (v. 4);
– adjectivação;
– comparação (v. 6);
– metonímia: “furor”, ”ternura” (v. 6);
– hipérbole: ”Mil deidades” (v. 9);
– metáfora e anteposição do adjectivo: ”Devoto incensador” (v. 9);
– reiteração (vv. 9-10).
 
 
 2.ª parte (2.º terceto) – Síntese e designação do retratado:
 
. Identificação do sujeito poético com o próprio poeta: “Eis Bocage...” (v. 12).
 
. Síntese da caracterização do sujeito:

NOTA: Este soneto permite descobrir algumas das razões da infelicidade do poeta:
                – o temperamento irascível;
                – a entrega desmedidade a paixões amorosas, a prazeres mundanos (vida de boémia).


Recursos poético estilísticos
 
            1. Nível fónico
 
            Estamos na presença de um soneto em versos decassílabos constituído por duas quadras e dois tercetos, num total de catorze versos. A rima é emparelhada e interpolada nas quadras (ABBA) e cruzada nos tercetos (CDC / DCD), consoante (“moreno“/“pequeno”), grave ou feminina (“moreno”/“pequeno”), pobre (“moreno”/“pequeno”) e rica (“ternura”/“escura”). O ritmo é predominantemente binário (v. 2), alternando com o ritmo ternário (v. 1). O transporte está exemplificado nos versos 9-10 e 13-14.
 
 
            2. Nível morfossintáctico
 
            Os adjectivos enunciam características físicas e psicológicas referenciadas sempre em substantivos que designam um órgão ou uma parte do corpo. Bocage utiliza um vocabulário corrente que confere um efeito prosaico e humorístico à linguagem e nos transmite a deformação caricatural dos traços físicos e morais.
            Os verbos são escassos, com predomínio do pretérito perfeito, do gerúndio e do presente.
            Destaque também para os advérbios, nomeadamente o advérbio de modo bem a expressar, conjuntamente com o adjectivo servido, a grandeza dos pés; de exclusão somente a denunciar o anticlericalismo de Bocage e de designação eis a anunciar o retratado de forma algo majestosa.

 
            3. Nível semântico
 
            Existem várias perífrases:
– “Bem servido de pés” a significar que tem os pés grandes;
– “Triste de facha”, a expressar a sua fealdade.
– “Incapaz de assistir num só terreno”, denunciadora da sua inconstância amorosa, tal como outra no verso 9:
– “Devoto incensador de mil deidades”.
            Ainda na 1.ª estrofe é de realçar a antítese e a lítote “Nariz alto no meio, e não pequeno”, sugerindo as dimensões caricaturais do nariz.
            A comparação do verso 6 – “Mais propenso ao furor do que à ternura” – aponta para o seu carácter violento, irascível, enquanto as metáforas dos versos 7, 8 e 9 denotam a associação entre o amor e o ciúme, a obsessão da morte (sugerida pelo adjectivo letal) e a inconstância amorosa (v. 9). Destaque ainda para a hipérbole “Devoto incensador de mil deidades”, e para a enumeração das características físicas na 1.ª quadra.

 
Características
 

Neoclássicas

 

Pré-Românticas

 
. Uso do soneto.
. Verso decassilábico.
. Vocabulário alatinado: níveas, letal, deidades.
. Hipérbatos.
 
. Retrato (do herói) romântico:
– aspecto físico estranho;
– inconstância amorosa;
– anticlericalismo;
– egotismo (culto do individualismo).
. Carácter autobiográfico do texto.

 

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