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Camos (Nigrán): neste lugar, existia, há cerca de oito séculos (séc. XIII), o
solar dos Camões, residência da família ancestral de Luís de Camões.
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Esse topónimo, por sua vez, teve origem no nome de uma ave chamada camão
(ou caimão), uma ave aquática de plumagem azul e bico vermelho, que
ainda existe no estuário do rio Miñor.
▪ Um nobre galego era dono
de um pássaro camão que morreria se a sua esposa cometesse adultério.
▪ Um pretendente dessa
dama, tendo sido rejeitado por ela e cheio de despeito, resolveu caluniá-la,
insinuando que teria cometido adultério, por isso o marido quis matá-la.
▪ A esposa pediu ao
cônjuge que consultasse a ave. Ao verificar que esta continuava viva, ele
compreendeu que estava enganado, reconheceu o seu erro e uniu o seu nome de
família ao da ave.
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Luís de Camões mencionou esta lenda numa carta em verso que escreveu a uma
dama, mostrando, assim, que conhecia as suas origens galegas.
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Camões cresceu com a ideia de pertencer à nobreza, mesmo que empobrecida, ideia
essa consubstanciada no seguinte:
▪ O solar dos Camões, uma
casa senhorial ou castelo feudal, que, por alturas dos séculos XII ou XIII,
existia em Camos (Nigrán, Galiza), o local onde nasceu o trisavô do poeta (ter
esse passado associado a um castelo fortalecia de linhagem aristocrática).
▪ A lenda do camão, a qual
dava prestígio simbólico à família, visto que a associava à virtude e à honra.
▪ Antepassados ligados à
guerra e à navegação, atividades valorizadas pela nobreza medieval, já que os
feitos de armas e a expansão ultramarina eram sinal de honra.
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D. Fernando, o monarca português, reivindica a coroa de Castela por direito
dinástico, invade a Galiza, mas recua.
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Muitos nobres portugueses partidários de Pedro I refugiam-se em Portugal,
nomeadamente o Conde Andeiro, Aires Pires de Camões (capitão de galés) e o seu
primo Vasco Pires de Camões, provável fundador do ramo português da família.
• Os
motivos da vinda de Vasco Pires de Camões para Portugal são os seguintes: apoio
político a Pedro I, como já foi referido, e desavença pessoal (teria
assassinado um fidalgo).
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D. Fernando recompensa-o com várias propriedades: Gestaçõ, Montemor-o-Novo,
Sardoal, Constância, Marvão, Vila Nova de Anços, Estremoz, Avis, Évora e
Santarém.
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Após a morte de D. Fernando, em 22 de outubro de 1383, D. Leonor Teles, a
regente do reino, mantém Vasco Pires de Camões próximo de si, conde-lhe funções
e um casamento vantajoso com Maria Tenreiro.
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Na batalha de Aljubarrota (1385), Vasco Pires de Camões luta ao lado das forças
de Castela, é feito prisioneiro e posteriormente libertado, mas a sua atitude
fá-lo perder prestígio.
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Em 1391, ainda morava em Portugal, mas após esse ano desaparece dos registos
das cortes.
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Antes de se mudar para Portugal, era um trovador galego, tendo participado, por
exemplo, em contendas poéticas no Cancioneiro de Baena. Este dado liga o
talento literário de Camões a uma possível herança familiar.
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Lei do Morgadio: o filho mais velho herdava os bens e títulos, garantindo a
continuidade da linhagem; os filhos segundos entregavam-se à vida eclesiástica
ou à carreira militar.
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Gonçalo Vaz de Camões:
▪ enquanto primogénito e
de acordo com a Lei do Morgadio, herdou os bens da família;
▪ através de alianças
vantajosas e do casamento com Constança da Fonseca, ligada a uma família
importante, a dos Coutinho, prosperou;
▪ no século XVI, António
Vaz de Camões, um seu descendente, era morgado de Camoeira, rico e influente.
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Constança Pires de Camões:
▪ casou com Pierre
Séverin, um fidalgo francês que participou na conquista de Ceuta, em 1415;
▪ deu origem à família
Severim de Faria, da qual brotou Manuel Severim de Faria, biógrafo de Camões.
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João Vaz de Camões:
▪ segundo filho de Simão,
foi o bisavô do poeta;
▪ entregou-se à carreira
militar e judicial: serviu D. Afonso V em expedições contra Castela e no Norte
de África e mais tarde tornou-se corregedor da comarca da Beira (cargo
judicial);
▪ casou com Inês Gomes da
Silva, filha bastarda da família Silva;
▪ desse casamento nasceram
três filhos: João Vaz, Antão Vaz e Pero Vaz;
▪ construiu um túmulo
sumptuoso na Sé Velha de Coimbra.
▪ Antão Vaz de Camões:
→ é o avô do poeta;
→ casou com D. Guiomar da
Gama, que tinha ascendentes comuns a Vasco da Gama;
→ terá servido na Índia
com Afonso de Albuquerque, em 1507, fazendo parte da esquadra do Mar Vermelho;
→ levou uma vida
atribulada:
.
fugiu para Vilar de Nantes, em Chaves, em 1504, por ter cometido um homicídio;
.
viveu das rendas da abadia local;
.
morreu cerca de 1528;
.
filhos prováveis:
- Isidro Vaz (capelão do rei);
- Simão Vaz de Camões (pai
do poeta);
- Bento de Camões (tio do poeta);
- outros, incluindo
um Luís, possível inspiração para o nome do poeta).
▪ Bento de Camões:
. tio
do poeta;
. teve
uma carreira eclesiástica brilhante:
-foi cônego
regrante de Santo Agostinho no Mosteiro de Santa Cruz, em Coimbra;
- em 1539,
foi eleito prior do Mosteiro de Santa Cruz e prior geral da congregação;
- em 1540,
foi nomeado chanceler da Universidade de Coimbra, um cargo semelhante a reitor;
.
manteve alguns conflitos com D. João III.
▪ Simão Vaz de Camões:
. pai
de Camões;
. nascimento:
provavelmente em Coimbra ou Vilar de Nantes, em data incerta;
.
estudou em Braga;
.
trabalhou como tesoureiro na Casa da Índia e na Casa dos reis D. Manuel I e D.
João III;
. foi
agraciado com o título de cavaleiro (não hereditário) em 21 de junho de 1538,
por D. João III, devido à participação numa perseguição em Safim (Marrocos) aos
mouros;
. foi
para a Índia como capitão de uma nau; segundo Pedro de Mariz, naufragou à vista
de Goa e morreu no Oriente, em data incerta;
.
casou, antes de 1524, com Ana de Sá:
- os
primeiros biógrafos falam numa Ana Macedo, uma mulher nobre de Santarém,
enquanto outros genealogistas confirmam essa ligação aos Macedo, uma linhagem
nobre portuguesa com ramificações na cidade referida e possíveis ligações a
figuras notáveis como a família de Damião de Góis (note-se que, na época, os
apelidos variavam muito, daí a oscilação ente «de Sá» e «de Macedo»);
- alguns
autores pensaram que havia duas mulheres (uma mãe, que teria morrido cedo, e
outra madrasta), por causa da Canção X, mas trata-se de uma interpretação
errada;
- nalguns
documentos, Camões chegou a assinar Luís Sá de Camões, mostrando a ligação aos
dois apelidos;
- a
oscilação de apelidos era normal da época, não sendo fixos nem oficiais:
. não
havia um nome de família obrigatório e as pessoas não tinham um apelido legal e
permanente;
. os
apelidos podiam vir do pai ou da mãe (por exemplo, uma filha podia usar o
apelido da mãe ou de uma avó, e os irmãos nem sempre partilhavam o mesmo
apelido);
. os
apelidos mudavam ao longo da vida (com o casamento, serviço militar ou cargos,
a pessoa podia adotar outro apelido, para reforçar status).
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