A sua origem estará, muito possivelmente relacionada, com as fábulas em que o leão é a personagem que possui todo o poder.
segunda-feira, 15 de abril de 2019
Acordo leonino
A sua origem estará, muito possivelmente relacionada, com as fábulas em que o leão é a personagem que possui todo o poder.
quinta-feira, 11 de abril de 2019
quarta-feira, 10 de abril de 2019
Páscoa
A Páscoa designa, de acordo com o Dicionário Onomástico-Etimológico da Língua Portuguesa, da autoria de José Pedro Machado, a "Grande festa judaica e cristã" que comemora a Ressurreição de Jesus Cristo.
A sua origem etimológica encontra-se no latim vulgar «pascua», proveniente do latim eclesiástico «Pascha», cruzado com «pascua», que era o "alimento" (propriamente "pasto"), pois a Páscoa põe fim ao jejum da Quaresma.
Por sua vez, o termo «pascha» deriva do grego «páscha», que significa «a Páscoa, festa judaica e cristã; "em particular", a refeição da Páscoa; o anho pascal», proveniente do hebreu «pasach», que quer dizer "passagem" e designa a festa celebrada em recordação da saída do Egito. Posteriormente, passou a designar a festa cristã celebrada em honra da Ressurreição de Jesus Cristo, por motivo da coincidência das datas.
De acordo com a Enciclopédia Luso-Brasileira de Cultura, o significado etimológico de Páscoa é incerto. Alguns autores procuram-no em raiz egípcia e, nesse caso, significaria "golpe", "ferida"; outros ligam a palavra ao siríaco e então quereria dizer "ser feliz", "estar alegre". Deste modo, o termo referir-se-ia à festa de júbilo por excelência. O significado geralmente aceite é o que adquiriu no hebraico bíblico; "saltar", "passar adiante". Primeiramente, Páscoa designaria uma dança ritual, aplicando-se a palavra também à passagem do Sol pela constelação do Carneiro ou da Lua para o seu zénite. Por fim, impôs-se-lhe o significado de "passagem" de Javé ao dar a morte aos primogénitos do Egito, "saltando" por cima das casas dos hebreus a quem poupou. «Pesah», no TM, designa o rito sagrado (49 vezes) ou a própria "vítima" (31 vezes) ou refere-se simultaneamente ao rio e à vítima (2 vezes). Não se sabe com exatidão quando começou e em que consistia a sua origem, antes de estar associada à festa dos Ázimos, acreditando-se, contudo, que será anterior a Moisés. Seria a festa que os israelitas desejavam celebrar quando saíram do Egito com os seus rebanhos. Textos bíblicos sugerem mesmo que se julgavam obrigados a tal celebração (Ex. 8, 21-25). Admite-se geralmente que era comum às tribos semitas e estava ligada à vida nómada e pastoril. Era a festa das primícias dos pastores. Ofereciam à divindade os primogénitos do rebanho, talvez com um sentido propiciatório e para afastarem doenças ou malefícios sobre a família ou sobre os rebanhos.
FONTE: Ciberdúvidas
A sua origem etimológica encontra-se no latim vulgar «pascua», proveniente do latim eclesiástico «Pascha», cruzado com «pascua», que era o "alimento" (propriamente "pasto"), pois a Páscoa põe fim ao jejum da Quaresma.
Por sua vez, o termo «pascha» deriva do grego «páscha», que significa «a Páscoa, festa judaica e cristã; "em particular", a refeição da Páscoa; o anho pascal», proveniente do hebreu «pasach», que quer dizer "passagem" e designa a festa celebrada em recordação da saída do Egito. Posteriormente, passou a designar a festa cristã celebrada em honra da Ressurreição de Jesus Cristo, por motivo da coincidência das datas.
De acordo com a Enciclopédia Luso-Brasileira de Cultura, o significado etimológico de Páscoa é incerto. Alguns autores procuram-no em raiz egípcia e, nesse caso, significaria "golpe", "ferida"; outros ligam a palavra ao siríaco e então quereria dizer "ser feliz", "estar alegre". Deste modo, o termo referir-se-ia à festa de júbilo por excelência. O significado geralmente aceite é o que adquiriu no hebraico bíblico; "saltar", "passar adiante". Primeiramente, Páscoa designaria uma dança ritual, aplicando-se a palavra também à passagem do Sol pela constelação do Carneiro ou da Lua para o seu zénite. Por fim, impôs-se-lhe o significado de "passagem" de Javé ao dar a morte aos primogénitos do Egito, "saltando" por cima das casas dos hebreus a quem poupou. «Pesah», no TM, designa o rito sagrado (49 vezes) ou a própria "vítima" (31 vezes) ou refere-se simultaneamente ao rio e à vítima (2 vezes). Não se sabe com exatidão quando começou e em que consistia a sua origem, antes de estar associada à festa dos Ázimos, acreditando-se, contudo, que será anterior a Moisés. Seria a festa que os israelitas desejavam celebrar quando saíram do Egito com os seus rebanhos. Textos bíblicos sugerem mesmo que se julgavam obrigados a tal celebração (Ex. 8, 21-25). Admite-se geralmente que era comum às tribos semitas e estava ligada à vida nómada e pastoril. Era a festa das primícias dos pastores. Ofereciam à divindade os primogénitos do rebanho, talvez com um sentido propiciatório e para afastarem doenças ou malefícios sobre a família ou sobre os rebanhos.
FONTE: Ciberdúvidas
Quaresma
O vocábulo «Quaresma» refere-se ao período do ano litúrgico católico que medeia entre Quarta Feira de Cinzas e a Páscoa e deriva do latim «quadragesimam» («partem», «diem»), ou seja, "quadragésima parte" e "quadragésimo dia".
Ao longo do tempo, a palavra evoluiu no que diz respeito à sua fonologia, tendo ocorrido diversas síncopes: quadragesima(m) > quaragesima > quaraesima ou quaresima > quaresma.
Segundo Edwin Williams, este termo terá surgido primeiro em castelhano, língua da qual passou para o português.
Note-se que do latim «quadragesimam» deriva o nome comum «quaresma», que designa uma "planta herbácea, glanduloso-viscosa, de flores brancas, pertencente à família das Saxifragáceas, espontânea em Portugal", bem como a flor desta planta.
Segundo Edwin Williams, este termo terá surgido primeiro em castelhano, língua da qual passou para o português.
Note-se que do latim «quadragesimam» deriva o nome comum «quaresma», que designa uma "planta herbácea, glanduloso-viscosa, de flores brancas, pertencente à família das Saxifragáceas, espontânea em Portugal", bem como a flor desta planta.
Comer muito queijo
Quando dizemos a alguém que come muito queijo, estamos a «acusá-lo» de ser esquecido, de ter má memória.
A origem da expressão faz-nos recuar no tempo. De facto, há alguns séculos, enraizou-se a crença segundo a qual a ingestão de laticínios diminuía certas faculdades intelectuais, especificamente a memória.
A obra Nova Floresta, da autoria do padre Manuel Bernardes (1644-1710), contém um passo, relativo aos procedimentos a observar para manter e exercitar a memória, que comprova a existência desta crença: "Há também memória artificial da qual uma parte consiste na abstinência de comeres nocivos a esta faculdade, como são lacticínios, carnes salgadas, frutas verdes, e vinho sem muita moderação: e também o demasiado uso do tabaco." (Manuel Bernardes, C. O., Nova Floresta, tomo 2, título V - Beneficência, Benignidade, páginas 206 e 207).
Curiosamente, estudos científicos contemporâneos sobre a memória e a nutrição concluíram que o leite e o queijo contêm cálcio e fósforo, elementos importantes para o trabalho cerebral. Contudo, a expressão "comer muito queijo" com o significado de «ser esquecido» ou «ter má memória» ficou.
Curiosamente, estudos científicos contemporâneos sobre a memória e a nutrição concluíram que o leite e o queijo contêm cálcio e fósforo, elementos importantes para o trabalho cerebral. Contudo, a expressão "comer muito queijo" com o significado de «ser esquecido» ou «ter má memória» ficou.
Obra de Sá de Miranda
Formas
|
Temática
|
Poesia do Cancioneiro Geral
(vilancetes, cantigas, trovas,
esparsas)
|
. O amor e
as suas mágoas: o sofrimento do coração enamorado que o leva a fugir das
pessoas e de si próprio.
. A saudade que o amor deixa no
coração.
. A divisão do «eu».
|
Sonetos
|
. O desejo da perfeição formal.
. A
mudança: a mudança reversível e cíclica da natureza versus a mudança irreversível do homem (sempre para pior).
. O
conflito entre o amor e a razão.
. A poesia
tem uma função pedagógica.
. A poesia
como mensagem e não apenas como entretenimento (no Cancioneiro Geral a poesia era considerada como um mero entretenimento
do espírito).
. A
dignidade das Letras (tema muito grato aos humanistas).
. O amor
petrarquista(1): a mulher idealizada
e as contradições que o amor provoca na alma.
|
Cartas
|
. Crítica à
sociedade (a cobiça, a hipocrisia, a injustiça, a ambição, etc.).
. Crítica à
corrupção da corte.
. A
apologia do ideal de Horácio da “áurea mediania”/”aurea mediocritas”.
. O elogio
do campo/aldeia.
. A crítica
ao abandono do campo.
|
Éclogas
|
. Crítica
às injustiças (desconcerto do mundo).
. Apologia
da “aurea mediocritas”.
. Desprezo
pelas glórias e bens do mundo.
.
Condenação da tirania despótica dos que vivem à custa dos “pequenos”.
. O recurso
ao bom senso e ao saber dos antigos.
|
(1) Facetas do Petrarquismo:
- o elogio hiperbólico da
mulher amada no aspecto físico, psicológico, moral e social - ideal, perfeita, inigualável, divinizada;
- as contradições íntimas do
sujeito poético feliz-infeliz;
- os efeitos contraditórios
do amor;
- o lamento e a saudade na
ausência da mulher;
- a inexistência de palavras
que a possam retratar;
- a apresentação de uma
natureza sombria ou amena/alegre segundo o estado de espírito do “amador”;
- a luta entre o amor e a razão.
terça-feira, 9 de abril de 2019
Sá de Miranda e a nova medida
Em Portugal, a consagração do novo
estilo deveu-se em grande parte a Francisco de Sá de Miranda, secundado por uma
plêiade de discípulos.
De facto, em 1521,
iniciou uma viagem a Itália, onde se
demorou até 1526, que lhe permitiu conhecer mais de perto alguns dos grandes
escritores italianos vivos (Bembo, Sannazzaro, Sadoletto, Ariosto) e outras
personalidades marcantes, como Vitória Colonna, a amiga de Miguel Ângelo, sua
suposta parenta. No regresso, de passagem por Espanha, em 1526, terá conhecido
Boscán e Garcilaso, dois dos maiores nomes da literatura espanhola de então.
Colaborador do Cancioneiro Geral, cultivou em língua portuguesa e castelhana as
formas consagradas nessa coletânea, antes e depois da sua conversão ao novo estilo.
Nunca, aliás, repudiou a «medida velha». Por exemplo, na écloga Alexo, que é uma das primeiras expressões
da nova escola em Portugal, aceita a coexistência dos dois estilos; numa elegia
dedicada a António Ferreira, muito mais tarde, reconhece o interesse das
antigas formas de trovar (vilancetes, glosas esparsas, poesia obrigada a mote);
e numa carta a António de Meneses, manifesta-se preso ainda ao ambiente dos
extintos momos e serões de Portugal, onde se fizera poeta.
Na primeira fase da sua carreira, anteriormente à sua campanha pelo
novo estilo, Sá de Miranda cultiva exclusivamente a poesia amorosa dentro dos temas
petrarquianos então em voga. A nota que mais frequentemente fere é a da
contradição entre a razão e a «vontade», isto é, a inclinação amorosa. Os seus
versos testemunham um espírito torturado e tenso; já então os repassa uma
melancolia inconfundível, que se acentuará posteriormente; e já por vezes se
nota a expressão condensada, elíptica, que é uma das grandes dificuldades, mas
também um dos interesses do seu estilo conciso, em que as palavras parecem
faltar para cingir a intensidade ou a largueza do pensamento.
Em fase ulterior, nos poemas que marcam a sua campanha pela introdução
em Portugal das formas italianas, enriquece e varia consideravelmente o seu
material literário. Nas éclogas, em que segue o modelo de Garcilaso, exibe um
estendal de erudição histórica e mitológica, reconta histórias célebres da
Antiguidade e alude constantemente a lugares-comuns clássicos. Mas os melhores
valores da cultura greco-romana, mesmo os de expressão mítica, pareciam-lhe
provir dos «Livros Divinos». Tanto nas éclogas como noutras obras de inspiração
clássica – elegias, sonetos, canções – toca certos tópicos característicos da
literatura renascentista: o desdém pela vulgaridade, a superioridade do culto
das letras sobre o das armas, a necessidade de renovação pelo estudo dos
modelos estrangeiros, e exorta à composição de poemas heróicos de assunto
português.
Mas a parte mais original da obra
poética de Sá de Miranda é em redondilha menor: a écloga Basto e as Cartas,
editadas em 1626 como sátiras de tipo
horaciano. O autor expõe aí o que pensa do mundo que o rodeia. Falando do seu
retiro rústico, com uma rudeza ostensiva de «guarda-cabras», a sua atenção
privilegia o contraste entre a vida rural e a vida urbana e palaciana. O elogio
da simplicidade rústica, como estado mais seguro e mais repousado que a vida
artificial na cidade ou na corte, é um tema característico da Antiguidade
clássica e particularmente de Horácio. Mas Sá de Miranda dá-lhe novos traços
datados e combina-o com uma crítica social que lembra alguns dos utopistas do
século XVI, num fundo de austeridade estóica ou senequista
Está talvez na origem desta crítica
um certo sentimento cioso da liberdade pessoal. O homem da corte, e de modo
geral todo o que vive no seio da civilização urbana, teria alienado a liberdade.
Sá de Miranda parece considerar essa alienação, por um lado, sob a forma da
pressão social que se manifesta nas convenções e intrigas da vida da corte; por
outro lado, sob a forma de sujeições resultantes da estrutura produtiva. O
homem apenas seria livre conformando-se com a «boa razão» e a «mãe natureza»,
«madre antiga», que bastaria à satisfação das nossas necessidades; segundo o
dito evangélico, as aves do céu não fiam nem tecem e andam, todavia, mais ricamente
vestidas que Salomão. Sá de Miranda desdenha doutra actividade além da lavoura,
que lhe parece a própria dos homens; condena o tráfego marítimo, a busca de
ouro debaixo do solo, que os obriga, de costas para o dia, a entrar pela noite
dentro. A ambição do ouro origina, segundo ele, as guerras, que desviam para a
destruição o fogo, antes dado para proveito dos homens, e formas reais ou
metafóricas de escravatura, que levam a pôr aos lanços na praça «espíritos
vindos do céu». A invenção, então recente, da artilharia é para Sá de Miranda
mais um exemplo dos malefícios resultantes do afastamento da natureza.
Dentro desta lógica, até mesmo a
propriedade individual da terra aparece ao mesmo tempo como efeito e causa da
violência: a sangue e fogo foi a terra desigualmente repartida; o meu e teu está na origem das guerras.
Estes tópicos são frequentes na
poesia clássica, em que a Idade de Ouro, tida como anterior à propriedade
agrária individual, à moeda, ao Estado, à guerra, constituía a idealização
poética do comunitarismo primitivo ou do clã patriarcal. É bem possível,
todavia, que Sá de Miranda tenha em vista qualquer fenómeno social que então se
processasse entre nós, do género das vedações («cercas») e apropriações, pela
aristocracia inglesa, de terrenos comunais dos aldeãos. A sua indignação pelo
que então se passa neste sentido e que ele testemunha como fidalgo à antiga,
patriarcalmente próximo do trabalhador rural, atinge uma vibração ainda hoje
bem comunicativa, ao afirmar, por exemplo, que certos «salteadores com nome e
rosto de honrados» andam quentes, «forrados de peles de lavradores». A
idealização clássica do comunitarismo primitivo pelo mito da Idade de Ouro, no
qual a própria agricultura e a pastorícia eram ainda sentidas como sacrílegas e
antinaturais, transfere-se assim para as relações agrárias então existentes,
pintadas com as cores idílicas da «áurea
mediania» rural de Horácio.
Por outro lado, Sá de Miranda
percebe claramente a ligação existente entre este exacerbamento e crise da
exploração feudal, o absentismo da nova nobreza cortesão e a expansão
ultramarina, que despovoa o Reino «ao cheiro desta canela». Não esconde a sua
antipatia pelo modo de vida que então contribuía para a alteração da estrutura
medieva do País:
Os
marinheiros vadios
que
vilmente a vida apreçam
pelas
cordas dos navios
volteiam
como bugios,
inda
que vos al pareçam.
Outro tema grato a Sá de Miranda é a
crítica da corte como centro do governo: a astúcia dos privados, o seu
engrandecimento à custa dos pequenos; a corrupção da justiça, o exibicionismo
devoto; todo um sistema de exploração em proveito de um grupo dirigente, que
consegue perverter as boas leis tornando-as «fracas teias de aranha», de que
são vítimas as mulheres, os órfãos, a «pobreza dos mesteres». Eles não se
atrevem sequer a falar diante dos poderes, esses poderes que deviam ser «nossos»
mas que os envolvedores «buscaram para si». Contra estes males, Sá de Miranda
vê o remédio num poder régio justamente exercido, ao serviço do Povo,
idealização típica do Renascimento.
Tais ideais exprimem-se num tom
nostálgico. Sá de Miranda volve os olhos para os costumes dos antigos
portugueses, para a «casa antiga e a torre», símbolo de um mundo em
desaparecimento: evoca os reis antigos, que se prezavam do nome de «lavradores»,
e também D. João II com a sua divisa «Pela lei e pela grei». Para ele o mundo
está em decadência. A utopia de uma vida natural no seio da «madre antiga», em
que não existia o teu e o meu, nem a guerra, casa-se com aquela melancolia que
ensombra os seus versos. Não é por acaso que nestas cartas (em que predominam
as quintilhas de redondilhas com dois esquemas alternativos de rima) Sá de
Miranda conservou construções e vocábulos arcaicos, como que acentuando o
carácter arcaizante do seu pensamento.
Tal arcaísmo ostensivo – próprio
sobretudo das composições na medida velha – combina-se, todavia, com uma
acentuada originalidade, e até com um pessoalismo muito acusado. Sá de Miranda
foge à expressão discursiva então letrada, quase não estabelecendo transição
sintáctica entre o texto básico e os comentários incisos, ou os exemplos, com lição moral. Com vista a
este efeito, a sua expressão é fortemente condensada e muitas vezes elíptica. O
seu léxico prefere os temas concretos às generalidades e aos eufemismos,
sacrificando para isso a dignidade classicizante tão grata a João de Barros ou
a António Ferreira. As imagens, por vezes muito evocativas, provêm do mundo
familiar, e não apenas do arsenal da tradição literária erudita; e mesmo quando
a este recorre, Sá de Miranda veste-o de uma aparência vernácula e até quase
rústica. Esta tendência foge às convenções do estilo novo, e sobretudo ao carácter
discursivo, expositivo e oratório que está na essência do classicismo. Pelo
contrário, orienta-se para uma expressão engenhosa, feita de agudeza conceptual,
combinando um artífice extremo com um certo folclorismo apaixonado por
apólogos, provérbios e efeitos de oralidade. Ora a importância da elipse
avultará no estilo de Góngora, que é directamente avesso à expressão
discursiva. Desta forma Sá de Miranda está na corrente que conduz ao Barroco
peninsular, e torna-se um dos precursores do conceptismo seiscentista.
Além dos primeiros versos na medida
nova, deve-se a Sá de Miranda a primeira comédia em estilo clássico. Sabe-se
também que escreveu uma tragédia com o título Cleópatra, de que nos restam poucos versos, em redondilha maior.
Os Estrangeiros, sua primeira comédia em
prosa, localiza-se na Itália. Os tipos e situações evidenciam a imitação de
Plauto e Terêncio e da comédia renascentista italiana em fala vulgar
portuguesa. Há a competição de um jovem, um fanfarrão e um doutor à volta de
uma rapariga posta a preço. As regras do classicismo renascentista são
acatadas: acção concentrada num troço de rua, onde se atam e desatam os nós dos
interesses em conflito.
Posterior a esta, e com
características muito semelhantes, a comédia Vilhalpandos, que tem por personagens uma cortesã, a mãe proxeneta,
dois fanfarrões e um escrivão hipócrita, está animada de um anticlericalismo
intenso, que tira partido da localização do enredo em Roma. Ambas as comédias
dão expressão a um ideário humanista renascentista: ridicularização das
bravatas militares, crítica da Escolástica, do monaquismo e da mendicância
beata, da remissão pecuniária dos pecados, exaltação das Letras humanas
clássicas e da paz.
Embora com êxito contestável, Sá de
Miranda luta no teatro contra o gosto então dominante dos autos: o prólogo da sua primeira comédia supõe o público surpreendido
por não estar a assistir a um auto em verso e rima.
A.
J. Saraiva & Óscar Lopes, História da
Literatura Portuguesa
Sá de Miranda: entre as tradições medievais e as inovações italianas
A grande maioria das composições do Cancioneiro Geral está versificada em
redondilhas e dentro de certos moldes peninsulares quatrocentistas (vilancete,
cantiga, etc.), cuja característica dominante é a de serem constituídos por um
mote e respectiva glosa. Esta é a chamada medida velha.
Entretanto, já no século XIII se
consagrara na Itália um novo tipo de verso e de composição poética, o chamado «dolce stil nuovo». A partir de então impôs-se o verso
de dez sílabas, o decassílabo, acentuado
obrigatoriamente ou na 4.ª e 8.ª sílabas (verso sáfico) ou na 4.ª, 6.ª e 10.ª sílabas (verso heroico) – então denominado «hendecassílabo» (isto é, verso de onze
sílabas), visto que, segundo o sistema italiano, se contava a sílaba postónica
quando a última palavra era grave. Sendo mais longo, admitindo maior variedade
de acentos facultativos e de pausas, o decassílabo é mais flexível, presta-se a
maior número de combinações que a redondilha, e consente, portanto, maior
liberdade ao poeta. Adapta-se a uma poesia mais individualizada, a uma maior
variedade de tom e de temas.
Quanto às combinações de versos, às
construções estróficas, Petrarca seleccionou algumas já cultivadas pelos
Provençais:
* o soneto, com dois quartetos de rima geralmente abba e dois tercetos sujeitos a
combinações regulares de duas ou três rimas;
* a canção, com número variável de estrofes iguais e um remate, mas
sendo o tipo de estrofe (que é um agrupamento de decassílabos e quebrados) da
escolha do poeta;
* a sextina (seis sextilhas e um terceto final, com as mesmas seis
palavras em diferentes finais de verso para cada estrofe);
* as composições em tercetos (de rima aba, bab, cdc, etc., e rematando por um quarteto em xyxy), e em oitavas (abababcc), composições que se podem prolongar indefinidamente;
» outras.
O soneto e a sextina, ao contrário
das restantes composições, um pelo esquema estrófico e ambos por um sistema
obrigatório de rimas ou remates dos versos, mantêm-se mais próximos do
formalismo da poesia medieval, e obrigam a uma condensação conceituosa do
pensamento ainda comparável àquela que era imposta pelas composições com mote e
glosa.
Além destas formas e géneros, os
Italianos assimilaram géneros líricos característicos das literaturas grega e
latina, como:
* a écloga, quadro, geralmente dialogado, de tipos populares,
sobretudo pastoris (tendo por moldes Teócrito e sobretudo Virgílio);
* a elegia, poema de tonalidade melancólica (à imitação de Tibulo e
Propércio) ou sentenciosa (conforme os modelos helénicos), a que os poetas
renascentistas adaptaram a composição em tercetos;
* a ode, quer laudatória (modelo: Píndaro), quer lírica, mais
heterogénea (modelos: Safo, Alceu, Anacreonte, Catulo e principalmente Horácio);
* a epístola, ou carta em verso (que tem igualmente o modelo em
Horácio);
* o epigrama, composição curta e conceituosa, de conteúdo
geralmente satírico (modelos: Juvenal, Marcial);
* o epitalâmio, composição congratulatória dirigida a nubentes.
O estilo novo correspondia a um novo
conceito de poesia. O «poeta» quer distinguir-se do «trovador», pretende ser
mais que um simples artífice do verso.
Arroga-se a vocação e o destino de revelar o mundo íntimo do amor e de
apontar o caminho glorioso por onde devem seguir, não os homens vulgares, mas
os grandes do mundo. A poesia tem para os poetas humanistas uma função
doutrinária e edificante. Não falando na poesia heroica, nem no teatro, a
poesia lírica só por si comporta os assuntos mais diversos além do amor:
elogios de heróis, conselhos epistolares sobre o bem público, ensinamentos
morais, políticos, religiosos e filosóficos.
A influência italiana na lírica
peninsular manifesta-se já na primeira
metade do século XV: o petrarquismo,
como nova expressão do amor, é corrente nos cancioneiros castelhanos do século
XV e nos poetas quatrocentistas do Cancioneiro
Geral. Mas, embora já muito antes o marquês de Santillana tivesse escrito
sonetos «al itálico modo», e o italiano castelhanizado Francisco Imperial
praticasse os metros do novo estilo, só no séc. XVI, com Juan Boscán e
Garcilaso de la Vega, enraizou ele definitivamente na Península.
A. J. Saraiva & Óscar Lopes, História da Literatura Portuguesa
Vida de Sá de Miranda
Filho de um cónego de Coimbra de
cepa fidalga, Francisco de Sá de Miranda nasceu nesta cidade, em 1481(?).
Estudou Gramática, Retórica e Humanidades na Escola de Santa Cruz e frequentou
depois a Universidade, ao tempo estabelecida em Lisboa, onde fez o curso de
Leis, passando de aluno aplicado a professor considerado.
Frequentou nessa altura a Corte,
datando-se de então a sua amizade com Bernardim Ribeiro. Para o Paço, compôs
cantigas, vilancetes e esparsas, ao gosto dos poetas do século XV.
Tendo-lhe falecido o pai,
empreendeu, em 1521, uma viagem a Itália. Graças a uma suposta parente
abastada, Vitória Colona, marquesa de Pescara e amiga de Miguel Ângelo, teve o
ensejo de conhecer e conviver com algumas personalidades do Renascimento
italiano – Bembo, Sannazzaro, Sadoletto, Ariosto –, apreciando muito a estética
literária que todos os humanistas cultivavam com entusiasmo.
No regresso a Portugal, em 1526, de
passagem por Espanha, terá conhecido os poetas em voga, Boscán e Garcilaso,
afadigados em introduzir a estética clássica no seu país.
Em 1627, lançou-se na composição de
uma comédia em prosa, à imitação de Plauto, Os
Estrangeiros, numa época em que Gil Vicente estava no auge da sua actividade
e prestígio. A Fábula do Mondego, a
écloga Alexo e alguns sonetos são
talvez as primeiras expressões portuguesas conhecidas do novo estilo.
Casado antes de maio de 1530 com D.
Briolanja de Azevedo, da melhor fidalguia minhota, beneficiou da Comenda das
Duas Igrejas, que o rei lhe concedeu. É na Quinta das Duas Igrejas, junto ao
rio Neiva, que compõe quase toda a sua obra, em novos moldes, por influência da
estética italiana.
O
resto da sua vida passou-a na Quinta da Tapada, entregue ao amanho da terra e
ao cultivo das letras, alheado da corte, mas mantendo convivência epistolar com
uma roda de admiradores, entre eles Pêro de Andrade Caminha, D. Francisco de Sá
de Meneses, D. Manuel de Portugal e mais tarde Diogo Bernardes, Jorge de Montemor
e António Ferreira. Aí lhe chegaram os pedidos insistentes da Corte, sobretudo
do príncipe D. João, pai de D. Sebastião, para que lhe enviasse as suas
composições, o que o levou a refundi-las.
Os últimos anos foram amargurados
por vários lutos: primeiro, a morte do filho em 1553; depois, a do príncipe D.
João, a da sua mulher e a de D. João III.
Muito atento ao que se passava no
seu país, as últimas composições estão repletas de comentários sociais e
moralistas, bem amargos e pessimistas.
Sabe-se que em maio de 1558 ainda
era vivo, mas já então bastante enfermo, e deve ter falecido pouco depois.
Nos séculos XVI e XVII foi o poeta
mais admirado depois de Luís de Camões. A consagração do novo estilo em
Portugal ficou a dever-se em grande parte a Sá de Miranda, secundado por uma plêiade
de discípulos.
Todavia, a consagração das suas
inovações teve de vencer grandes resistências, de que se queixou, mas foi
animado nessa campanha pelos jovens admiradores e pelo conhecimento da obra de
Garcilaso.
A. J. Saraiva & Óscar Lopes, História da Literatura Portuguesa
quarta-feira, 3 de abril de 2019
Coerência textual (G 58)
2. Circunde, nos pares de palavras fornecidos, as formas verbais que
permitem manter a coerência das frases seguintes.
a. Durante a
assembleia-geral, o presidente da mesa interveio
/ interviu para reafirmar que nunca teve / esteve de acordo com a anterior direção.
b. Os bancos que emitem / imitem moeda têm maior margem de manobra na definição da política
financeira dos seus países.
c. Os pais pedem sempre aos
filhos que não emitem / imitem os maus exemplos.
3. Lê o texto seguinte, o qual apresenta palavras / expressões que o
tornam incoerente.
De minha casa ao trabalho é um instante. Entro na avenida principal,
viro à esquerda, depois é só controlar a rotunda, e sair na 3.ª rua.
É uma rua cumprida com várias casas germinadas, um sossego. Talvez
seja por isso que o meu clube lançou uma campanha de angariação de fundos
para lá construir a sua sede. Felizmente, teve muita aderência – o que a
juntar às cotas dos associados nos permitirá construir um ginásio, uma sala
de conferências e outras facilidades próprias de um clube moderno.
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3.1. Detete-as e corrija-as.
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4. Os segmentos textuais são coesos, mas não são coerentes.
4.1. Reescreva-os de modo a conferir-lhes coerência.
a. Estava doente, por isso foi para a
escola.
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b. Se estiver mau tempo, irei passar a
tarde na praia.
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c. Tirou o livro da estante, fechou-o,
finalmente, e começou a lê-lo.
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d. O Francisco já conhece
toda a Europa. Este ano vai à Finlândia pela primeira vez.
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e. Viajo com muita frequência para a
Ásia, por isso, detesto andar de avião.
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5. Os segmentos textuais seguintes são incoerentes, apesar de, por
vezes, serem usados na comunicação corrente.
5.1. Reescreva-os de modo a torna-los coerentes.
a. Amanhã, a gente vamos ao
cinema, se conseguirmos bilhete.
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b. A turma assistiu ao
filme e, de seguida, visitaram a casa-museu de Eça de Queirós.
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c. Eles procuraram pelo
João em todo o lado, mas não o encontraram.
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d. Pensamos o mesmo sobre
este assunto; por isso, as suas ideias vão de encontro às minhas.
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e. O jogador foi
diagnosticado com uma tendinite.
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. Correção
terça-feira, 2 de abril de 2019
A representação do quotidiano na 'Farsa de Inês Pereira'
Na Farsa de Inês Pereira, encontramos
diversos aspectos que espelham o modo de vida quotidiano da sociedade da época
(final da Idade Média, na transição para o Renascimento).
Dentre eles,
destacam-se os seguintes:
• a
prática religiosa (ida à missa – a peça inicia-se com o regresso da missa por
parte da Mãe);
•
o hábito de recorrer a casamenteiros (Lianor Vaz
e os Judeus);
• a
falta de liberdade da rapariga solteira, confinada à casa da mãe e a viver sob
o jugo desta (é o caso de Inês, que, no início da farsa, demonstra toda a sua
revolta por estar confinada à casa materna, subjugada à autoridade da mãe e às
tarefas domésticas que lhe são atribuídas – bordar, por exemplo);
• a
ocupação da mulher solteira em tarefas domésticas (bordar, coser);
• o
conflito de gerações (Inês e a Mãe), de interesses e conceções de vida (Inês versus
a Mãe e Lianor Vaz);
• o
casamento como meio de sobrevivência e de fuga à submissão da mãe;
• a
tradição da cerimónia do casamento, seguida de banquete;
• a
submissão ao marido da mulher casada e o seu «aprisionamento» em casa (o
primeiro casamento de Inês, com o Escudeiro);
• a
inércia da nova burguesia que nada fazia para adquirir mais cultura (o Escudeiro);
• a
decadência da nobreza que procurava enriquecer através do casamento e buscava o
prestígio perdido na luta contra os mouros (o Escudeiro);
• a
devassidão do clero (o ataque de que a Mãe e Lianor Vaz foram vítimas por parte
de clérigos; o Ermitão apaixonado e que seduz Inês); a corrupção moral de mulheres
que se deixavam seduzir por elementos do clero (as cenas finais entre Inês e o
Ermitão);
• o
adultério (a traição de Inês com o Ermitão).
sexta-feira, 29 de março de 2019
segunda-feira, 25 de março de 2019
Origem de «desejo»
A origem da palavra «desejo» é incerta, no entanto supõe-se que derive do latim «desidero», constituída por «side, que se relacionará provavelmente com «sidus» (que significava "constalação" ou "estrela"), termo que nos deu, por exemplo, o adjetivo "sideral".
Uma outra possível explicação relaciona «desejo» com «desidia-», que queria dizer "preguiça" ou "indolência".
Origem de amor
A palavra «amor» deriva do latim amor, que, por sua vez, parece derivar do proto-indo-europeu *amma, termo que significava mãe (ou tia) em linguagem infantil.
Trata-se apenas de uma teoria, mas, a ser verdade, significa que a palavra «amor» terá tido origem na relação entre mãe e filho.
E esta, hein?
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