segunda-feira, 16 de janeiro de 2023
sábado, 14 de janeiro de 2023
Polícia pára autocarros de professores
quinta-feira, 12 de janeiro de 2023
Oração subordinada substantiva completiva
Origem da palavra «golo»
Ora, o mesmo aconteceu com
«golo»: vem de «goal», a palavra inglesa que significa «objectivo». É,
literalmente, o objectivo do jogo. A origem um pouco mais remota de «goal» era
uma antiga palavra do inglês médio que significava «limite». Se continuarmos a
escavar, acabaremos numa palavra ainda mais antiga que significava algo como
«brecha». No entanto, pouco é certo nestas viagens tão profundas. A etimologia
é tão interessante quanto perigosa.
Na nossa língua, e tal como
«futebol», a palavra começou por ser adaptada foneticamente e, depois, com o
tempo, também ortograficamente. Acabámos com o «golo» em Portugal e com o «gol»
no Brasil. As diferenças entre as duas normas do português são especialmente
marcadas na área do futebol; afinal, esta foi uma área que se desenvolveu já
depois da separação política entre os dois países — as importações e adaptações
fonéticas e ortográficas foram feitas em separado.
Como em tantas coisas na língua,
a transformação de «football» em «futebol» e «goal» em «golo» foi um processo
gradual. Cada vez mais se escreveu a forma adaptada até chegar ao dia em que já
ninguém escrevia a forma original.
Por outro lado, o futebol mostra
que um estrangeirismo não é inevitável. Durante muito tempo, usámos — só como
exemplo — a palavra inglesa «corner» nos relatos de futebol. Ora, o «corner» à
portuguesa, em vez de se transformar em «córner» — morreu. Alguém se lembrou de
«pontapé de canto» e os falantes, pelo menos desta vez, aceitaram bem a
expressão portuguesa.
Outras tentativas de criação de
expressões com materiais portugueses falharam. Havia uma proposta antiga, ainda
do século XIX, para substituir «football» por «ludopédio». Não pegou. Só por
isso não ouvimos hoje relatos do Campeonato Português de Ludopédio.
Por que razão o «pontapé de
canto» caiu no goto dos falantes e «ludopédio» nem por isso? Não sei. A nós,
habitantes do século XXI, parece óbvio: mas só é óbvio porque temos décadas e
décadas de hábito a dizer «pontapé de canto» e a ignorar «ludopédio».
A língua é assim: os falantes às
vezes hesitam, baralham-se, voltam atrás, mas há momentos em que se decidem,
mesmo sem ninguém perceber bem porquê. «Ludopédio» morreu. O «corner» também.
Mas «futebol» e «golo» estão vivos e recomendam-se. Quando os falantes, no seu
conjunto, se decidem, as palavras passam a fazer parte da língua e nada há a
fazer se não aprendê-las.
E o outro golo?
Como disse no início, para
falarmos da origem de «golo» temos de pensar nas duas palavras que partilham a
forma. «Golo» é o que um jogador de futebol quer marcar, mas também é aquele
momento em que engolimos algo.
Neste segundo sentido, a origem
é também interessante, embora muito diferente: os falantes pegaram num verbo
antigo, de origem latina — «engolir» — e retiraram-lhe partes. Deixaram o
«gol-», com um «o» final a compor o nome. Chama-se a isto derivação regressiva
— ou seja, os falantes criam uma palavra nova desmontando uma outra palavra
maior. Há muitos, muitos exemplos em português. É uma das maneiras que os
falantes de português têm para criar palavras novas.
As dimensões política, nacionalista e trágica em Frei Luís de Sousa
quarta-feira, 11 de janeiro de 2023
Morreu Jeff Beck
terça-feira, 10 de janeiro de 2023
domingo, 8 de janeiro de 2023
O milagre sueco do combate à COVID-19
- As autoridades, intencionalmente, não informaram a população acerca das condições de transmissão do vírus ou da proteção conferida pelo uso de máscara.
- O responsável pela gestão da situação decidiu sozinho e à margem da comunidade científica.
- Foi negado oxigénio aos doentes idosos, que, deste modo, morreram mais depressa.
Origem da palavra «carro»
Para percebermos a origem da confusão do pobre turista, e antes de olharmos para a nossa palavra «carro», tentemos descortinar a origem de «coche» — as voltas que deu têm o seu quê de inesperado.
Tudo começou na localidade húngara de Kocs (lê-se algo como «cotche»), onde no século XV se começou a fabricar uma carruagem com uma suspensão mais agradável às costas dos passageiros. Este tipo de veículo foi chamado de «kocsi» (húngaro para «de Kocs») e o nome, com as habituais amolgadelas sempre que as palavras viajam, foi aproveitado por outras línguas, desde o italiano «cocchio» ao alemão «Kutsche», passando pelo inglês «coach».
A palavra inglesa acabou por ganhar também o sentido de treinador por um caminho arrevesado: «coach» era um termo usado entre estudantes ingleses de meados do século XIX para denominarem um professor que ajudava alguém, individualmente, a treinar para um exame. O professor era o veículo — «coach» — que levava o aluno até à meta. Esta metáfora acabou por ser usada em particular no desporto, onde a meta era a vitória, e deixou de ser vista como uma figura de estilo. Há muitas destas metáforas mortas nas nossas línguas e é também por isso que o mesmo vocábulo pode ganhar significados tão diferentes em diferentes lugares. As palavras andam a entornar-se pelos idiomas, mas vão sendo absorvidas à maneira de cada língua, como tinta que ganha novos tons conforme o tecido por onde alastra.
Antes das transformações desportivas, os ingleses tinham recebido a palavra do francês — que, como era costume, também a oferecera aos primos ibéricos, com a forma «coche». Assim ficámos todos com uma nova palavra para designar aquele tipo de carruagem, numa viagem que tinha começado na Hungria.
Quando, no século XIX, surgiram os automóveis, os nossos vizinhos aproveitaram o nome dos coches para designar esta novíssima carruagem que não sujava tanto as ruas das cidades (mal sabíamos nós…).
Já os falantes de português, perante um automóvel, não pensaram no coche engalanado. Virámo-nos para a velha palavra «carro», que remetia para um veículo puxado por animais num ambiente bem mais rural que o dos coches. Este sentido de «carro» ainda não se perdeu, mesmo entre quem vive na cidade: todos sabemos o que é pôr o carro à frente dos bois.
A palavra «carro» tinha vindo do latim que, por sua vez, a tinha ido buscar à velha língua celta dos gauleses — e estes tinham-na herdado do «*kers-» do proto-indo-europeu, que significava «correr». A mesmíssima palavra latina também foi exportada pelos franceses para o inglês e acabou por ser aproveitada da mesma maneira: o «car» inglês e o «carro» português têm a mesma origem. As histórias de palavras fazem-se de alguma lógica e muito acaso.
Portanto, ali por fins do século XIX, tanto portugueses como espanhóis tinham o mesmo problema: o que chamar ao novo veículo sem animais (tirando os que lá forem dentro)? Encontrámos soluções parecidas: pegámos numa palavra que já existia e reutilizámo-la com um novo sentido. A única diferença foi a palavra escolhida — e assim se explica que um espanhol amante de motores e afins se veja de repente num mundo de reis e cinderelas.
Qual é o palavrão mais usado em Portugal?
Fiquei a pensar um pouco. Não me parecia haver um palavrão que
fosse mais usado que todos os outros… Dei a minha resposta, com muitas dúvidas.
Decidi perguntar a mais pessoas. Fiz um pequeno inquérito, que
espalhei pelas famosas redes sociais.
Antes de revelar os resultados, gostaria que olhar para «palavrão»
(a palavra). Parece ser um aumentativo, mas raramente é usada para designar uma
palavra muito grande (embora também o possa ser —«otorrinolaringologista» é
mesmo um palavrão) — designa, a maior parte das vezes, as palavras que estão
sujeitas a um qualquer tabu (também chamadas «asneiras») ou, então, uma palavra
tão rara que mal se percebe.
Também temos aquilo a que podemos chamar «palavrõezinhos», fazendo
o diminutivo do aumentativo (a língua permite-nos fazer estas malandrices). Os
palavrõezinhos são aquelas palavras que aparecem em substituição dos palavrões.
Quando damos um pontapé na mesa, a nossa boca descai-se logo para o palavrão,
para aliviar a dor (e alivia mesmo!). Quando chegamos à segunda sílaba, lá
conseguimos tomar as rédeas à palavra e sai-nos algo como «fogo», «fosga-se»,
«caraças» ou «poças»… Estes palavrõezinhos são interessantes só por si, mas
hoje não é dia de falar deles.
Qual será então o palavrão mais usado, pelo menos por quem se deu
ao trabalho de responder ao meu inquérito?
Em terceiro lugar do pódio ficou «porra», com 12% das respostas. Se
virmos bem, esta palavra já não é bem um palavrão (nem me atrevo a disfarçá-la
com asterisco). A divisão entre palavras feias e palavrões é muito subjectiva,
diga-se a bem da verdade.
Atrás de «porra», ficou «c*r*lh*», com 8%, que tem a
particularidade de se dar muito melhor com os ares do Norte que do Sul. Então
se passarmos a fronteira e entrarmos pela Galiza adentro, encontramos a palavra
com uma frequência que assusta qualquer português meridional. Certamente, na
Galiza, o «c*r*lh*» não ficaria em quarto lugar…
O segundo lugar, com 31%, foi para a palavra em que votei (se
fossem eleições, o meu partido teria perdido): «m*rd*». É um palavrão a caminho
de se tornar um palavrãozinho, mas ainda tem a sua força. Como esta é uma
página familiar, até a m*rd* fica com asteriscos — o que também serve para
mostrar como podíamos usar um sistema de escrita sem vogais. Aliás, se ainda usássemos
a escrita fenícia, de onde surgiu o nosso alfabeto, escreveríamos algo como
«mrd» em lugar do palavrão…
Por fim, o vencedor, com 43% das respostas, foi a expressão
«f*d*-s*», que, mesmo assim, teria de negociar uma coligação para atingir a
maioria absoluta.
(Houve ainda 7% de respostas variadas.)
Quando dei a Gaston Dorren os resultados, ele disse-me que nós
andamos a navegar entre o palavrão mais comum do alemão, «Scheiße», e o mais
comum do inglês, «fuck» (como são palavrões estrangeiros, não têm direito a
asterisco). Talvez sejamos um país indeciso nos palavrões; ou talvez um
inquérito que explicitasse a região do falante permitisse encontrar uma
fronteira entre a zona do «f*d*-s*» e a zona da «m*rd*».
A verdade é que os dois palavrões mais usados têm resultados muito próximos. As respostas válidas que recebi foram apenas 127 — um inquérito com uma amostra maior talvez desse a vitória nacional à «m*rd*»…
Fonte: Certas Palavras, de Marco Neves.
sexta-feira, 6 de janeiro de 2023
Caracterização da hospedeira
Narrador / Personagem / Escritor-Furão em O Delfim
Este início da obra
remete para a dupla função de narrador e personagem, porém a sua presença não
se limita a isso, visto que revela constantemente a sua consciência do fenómeno
da criação literária, introduzindo mesmo a figura de autor. Ele próprio se
intitula «escritor furão», visto que se reconhece como um pesquisador da
verdade oculta, numa constante dupla caçada.
A narrativa é
construída a partir das recordações de diálogos que manteve com os donos da
Casa da Lagoa, de situações que presenciou ou não, mas que considera
plausíveis, de atitudes que observou, de tensões que pressentiu ou julgou
pressentir, e de versões várias sobre um incidente.