● Estrutura interna
▪ 1.ª parte (vv. 1-4): Retrato
físico do sujeito poético.
• Características físicas:
» moreno;
» cabelo negro (“cabelo asa
de corvo”: metáfora);
» nariz mal feito (“nariguete”)
acima de uma ferida;
» olhar triste;
» testa “iluminada”.
• A descrição física do
sujeito poético insinua, desde logo, diversas características psicológicas:
» a cara revela angústia;
» a ferida denota desdém –
é uma atitude de superioridade e desdém – pelos outros ou pelo país – que não
cessa;
» o olhar mostra tristeza.
• A ferida na cara,
referida no verso 4, sugere uma atitude de superioridade e desdém – pelos outros
ou pelo país –, por parte do sujeito poético, que não cura. De facto, o facto
de não estar cicatrizada pode querer dizer que essa atitude desdenhosa não
cessa.
▪ 2.ª parte (vv. 5-8): Retrato
psicológico-moral.
• Neste momento do poema,
há uma tentativa de esboço de um retrato «moral»: “o retrato moral também tem
os seus quês” (v. 7).
• O verso 7 insinua que a
sua vida não é exemplar, mas não chega a concretizar a que se refere e nada
revela sobre si.
• O verso 8 pode ter um
duplo entendimento [“(aqui, uma pequena frase censurada…)”]:
» autocensura por parte do poeta ou
» antecipação da censura
por parte de outros (não podemos esquecer que o poema foi publicado em 1962, em
plena vigência do Estado Novo): insinua que o que ia ser dito seria cortado
pela censura salazarista.
• O retrato moral é
breve, enigmático e pouco revelador sobre o “eu” poético, pois este apenas
insinua que a sua vida não é exemplar: “o retrato moral também tem os seus quês”
(v. 7). E, quando se preparava para revelar algo sobre si, autocensura-se ou
antecipa a censura dos outros.
▪ 3.ª parte (vv. 9-4): Retrato
ideológico-afetivo.
• O sujeito poético acredita
no amor e envolve-se empenhadamente nele.
• A «ternura» que sente
fá-lo sofrer (“Mas sofre de ternura” – antítese), ou seja, ele mostra ter uma
grande sensibilidade e ser afetuoso com os outros, no entanto essa «ternura» e
esse afeto trazem-lhe sofrimento.
• O sujeito poético bebe
em demasia.
• Ri-se do autorretrato,
riso esse que pode ter duas justificações:
» o autorretrato não
corresponde totalmente à verdade e sugere, assim, ao leitor que não deve
confiar completamente no que diz sobre si mesmo;
ou
» o autorretrato leva-o a
rir-se de si próprio, o que configuraria uma autocrítica.
● Tom caricatural do poema
Alexandre O’Neill ter-se-á “inspirado”
num poema de Bocage (“Magro, de olhos azuis, carão moreno”) para a composição
do seu autorretrato.
Por outro lado, diversas expressões
da composição aproximam-ma da caricatura, dado o seu caráter humorístico e
jocoso: “nariguete que sobrepuja de través / a ferida desdenhosa e não
cicatrizada” (vv. 3-4); “o retrato moral também tem os seus quês” (v. 7).
● Relação do poema com o soneto “Magro, de olhos azuis,
carão moreno”
▪ Os dois poemas
constituem um autorretrato dos respetivos autores.
▪ Os autorretratos
apresentam três dimensões: a física, a psicológico-moral e a amorosa.
▪ Ambos os textos se referem
aos mesmos órgãos do corpo: a cara, o nariz, a tez.
▪ Ambos afirmam que valorizam
o amor e que se entregam a ele.
▪ Ambos os textos adotam
uma atitude de crítica benevolente e autoirónica, não receando rir-se de si
próprios.
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