Português

quarta-feira, 2 de novembro de 2016

Modificador II (G38)

Recordando…

         O modificador:
. é uma função sintática que não é selecionada por nenhum outro constituinte, não sendo, por isso, um elemento obrigatório;
. pode, por isso, ser suprimido, sem afetar a gramaticalidade da frase;
. tem, quase sempre, mobilidade, podendo surgir em diferentes posições na frase;
. quando se relaciona com o grupo verbal, fornece informação adicional sobre a ação quanto a:
- tempo: Na terça-feira, o Benfica derrotou o Kiev com um golo de Salvio.
- lugar: Na sala de aula, não se pode comer nem beber.
- causa: Ele caiu porque estava bêbedo.
- modo: O carro anda depressa.
- finalidade: O professor abriu a janela para arejar a sala.
. quando se relaciona com a totalidade da frase, fornece informações sobre:
- a opinião ou o ponto de vista do interlocutor: Previsivelmente, o teste de Português não se irá realizar.
- áreas do saber: Cientificamente, essa solução não é possível.
. pode ter como núcleo um advérbio ou um nome e ser introduzido por uma preposição;
. pode ainda ser constituído por uma oração (temporal, causal, etc.).


Exercitando…

1. Reescreve as frases apresentadas, reduzindo-as aos seus constituintes essenciais.
a) Esteticamente, a jogada do golo foi bem desenhada.
_______________________________________________________________________
b) A professora Anabela recusou o suborno com firmeza.
_______________________________________________________________________
c) Nas aulas de Educação Física, os alunos realizam exercícios muito difíceis.
_______________________________________________________________________
d) Ontem, na aula de Português, o Rodolfo desmaiou de fome.
_______________________________________________________________________
e) Na realidade, os adeptos de futebol são maioritariamente acéfalos.


2. Nas frases dadas, sublinha os termos que desempenham a função sintática de modificador.
a) O Nelson sai sempre da sala de Português com muita pressa.
b) Aos sábados e domingos, a escola está fechada.
c) O meu vizinho bêbedo chegou a casa às cinco da manhã.
d) Infelizmente, o Sporting voltou a perder.
e) Com tanta gente a fazer barulho, a professora de Matemática não conseguiu lecionar adequadamente a matéria.
f) A professora de Anatomia fala demasiadamente alto; ninguém a suporta.
g) Apesar de mais uma derrota, os sportinguistas não ficaram tristes. Estão habituados…
h) No Natal, o velho de barbas faz-nos uma visita.
i) A Maria constipou-se ontem por causa do frio.
j) A meio da manhã, o meu filho bebe sempre um iogurte.
k) Durante a segunda parte, o Benfica jogou com afinco e determinação.
l) A Roberta faz tudo pelo namoradinho.
m) O Sporting já regressou de Dortmund com mais uma derrota.
n) No casamento da Rafaela, o Roberto cantou emocionadamente uma melodia amorosa.
o) Ontem, fomos ao teatro com o professor.

3. Completa o quadro apresentado, indicando o valor do modificador sublinhado em cada frase.

Frases
Valor
Tempo
Lugar
Causa
Modo
Finalidade
Ontem, fui ao teatro.





O jogo decorreu bem.





A Maria beijou o filho com emoção.





O Júlio chorou de dor.





A Luísa foi à estação para receber o filho.





Inteligentemente, Salvio enganou o guarda-redes.





A Filipa vomitou na sala.





Eça de Queirós escrevia bem.





Aqui na escola, não se pode fumar.





Vesti este casaco porque está muito frio.





Revi aquele filme com prazer.





Quando cheguei à sala, não se ouvia uma mosca.





Para que não restem dúvidas, repito que o Benfica é o maior.





Levei o carro à oficina para mo comporem.





As crianças brincam na rua.






4. Expande as frases, acrescentando um modificador, de acordo com as indicações dadas.
a) Ele leu o texto. [valor de modo]
_______________________________________________________________________

b) Os alunos quiseram ir ao centro comercial. [valor de tempo]
_______________________________________________________________________

c) Mário Coluna faleceu. [valor de modo]
_______________________________________________________________________

d) A mãe partiu o prato. [valor de tempo + valor de causa]
_______________________________________________________________________

e) Chove. [valor de modo]
_______________________________________________________________________

5. Em cada alínea, seleciona a opção correta.

5.1. Assinala a frase em que a expressão sublinhada é um modificador.
a) O teu pai vive na Escócia.
b) O teu pai é o assassino procurado pela polícia.
c) O teu pai desmaiou no hospital.
d) O teu pai ofereceu-me um par de lambadas.

5.2. Assinala a frase em que a expressão sublinhada não é um modificador.
a) Fechei o contentor do lixo para não cheirar mal.
b) Não comi a sopa porque continha uma mosca.
c) O cão ficou na sua casota.
d) Dentro do estojo tenho um lápis amarelo.

5.3. Assinala a frase que não contém dois modificadores.
a) Ontem, na aula de Português, a Érica cortou o cabelo à Alice.
b) No sábado, o Ernesto chegou da Suíça.
c) Por tua causa, a Sofia chorou desalmadamente.
d) Assim que o avião aterrou, o pai abraçou o filho com ternura.

6. Preenche o quadro, identificando a função sintática desempenhada pelos elementos sublinhados.

Frase
Complemento oblíquo
Modificador
1. Finalmente, o Sporting obteve uma vitória.


2. O Roberto acredita em tudo.


3. A Lúcia habita em Marte.


4. O Anacleto vomitou ali.


5. A Anacleta vive ali.


6. Vi o meu pai no cemitério.


7. José Saramago regressou da morte.


8. A Fonseca ganhou uma viagem ao Pingo Doce.


9. Os alunos falam do teste.


10. No verão, gosto de apanhar um escaldão.


11. Durante a gravidez, a professora de Matemática baldou-se às aulas.


12. Desde ontem, estou de greve às aulas.




Correção da ficha aqui.

segunda-feira, 24 de outubro de 2016

Recensão crítica

. Definição

                Uma recensão é uma breve apreciação / apresentação (recensear) crítica (avaliar) de uma obra literária, publicada em revistas ou jornais, podendo referir-se à obra integral ou apenas a partes da mesma e concentrando-se no seu conteúdo e no contexto em que a obra surge a público.


. Etimologia

                A palavra recensão provém do termo latino recensionem (que significa “enumeração”), que, por sua vez, tem origem em censionem, derivado do verbo censeo (que significa “avaliação”).
                A recensão constitui, portanto, um percorrer (uam enumeração) o texto com o fim de o avaliar.
                Deste modo, a recensão implica uma análise e uma avaliação crítica de um trabalho, geralmente, escrito, ou seja, trata-se de uma apreciação e juízo crítico sobre o valor interno e interesse de uma obra. Assim, regra geral enumeram-se e descrevem-se os aspetos julgados importantes e exprimem-se comentários pessoais sobre a obra, em termos apreciativos ou depreciativos.
                Por sua vez, a palavra crítica vem do grego krínein, que significa “isolar”, “separar”, “destacar o particular”.
                Tal significa que a recensão cruza uma dimensão expositiva e uma dimensão crítica.


. Estrutura

. Título.
. Introdução:
. Ficha técnica do livro:
- título
- autor
- editora
- cidade e ano de edição
. Dados biográficos relevantes do autor.
. Desenvolvimento: avaliação global do livro – síntese das principais qualidades e defeitos.
O autor do texto realça os aspetos positivos, avalia o conteúdo global da obra, a articulação das ideias, a estruturação, a originalidade e refere as falhas.
. Conclusão: reafirmação do resultado global da apreciação crítica da obra.


. Características
- Linguagem subjetiva (valorativa ou depreciativa), mas sempre fiel ao assunto.
- Marcas de 1.ª pessoa.
- Imparcialidade.
- Não deve conter notas de rodapé.
- Integra-se na tipologia argumentativa.

* - *

     Para aprofundamento desta tipologia textual:
          - Recensão crítica;
          - Recensão crítica.

domingo, 16 de outubro de 2016

Atos de fala - Correção

   1.1.
a) Argumentar.
b) Ordenar.
c) Instruir.
d) Aconselhar.
e) Comprometer-se.
f) Descrever.
g) Informar.
h) Opinar.
i) Despertar a curiosidade.
j) Exprimir sentimentos.
   1.2.
b) Ato ilocutório diretivo.
d) Ato ilocutório diretivo.
e) Ato ilocutório compromissivo.
f) Ato ilocutório assertivo.
j) Ato ilocutório expressivo.

   2.1.
a) O locutor pretende que lhe deem um triciclo.
b) O locutor pretende que a Inês limpe o nariz a D. Pedro.

   2.2. As alíneas são a a e a b.

   2.3.
  a) Daniela, passa-me o triciclo.
  b) Inês, limpas i nariz do teu D. Pedro? / Inês, limpa o nariz do teu D. Pedro.

   3.1. A frase constitui um ato de fala direto (neste caso, um ato ilocutório assertivo) se a entendermos como um esclarecimento do locutor acerca da sua identidade.
            Por seu turno, pode ser considerada um ato de fala indireto (neste caso, um ato ilocutório expressivo) se for considerada uma crítica do locutor ao modo de ser do Joaquim, isto é, se considerarmos que ele está a afirmar que «não é (como) o Joaquim», inferindo-se que este não seja uma pessoa com um caráter / modo de ser «agradável.



Consultar ficha aqui.

Relações entre palavras II - Correção (GC 37)



Consultar ficha aqui.

Relações entre palavras II (G37)

1. Indique quatro hipónimos possíveis para cada hiperónimo:
a) astros: ____________________________________________________
b) artes: _____________________________________________________
c) ilhas: ______________________________________________________
d) mass media: ________________________________________________
e) insetos: ____________________________________________________
f) cores: _____________________________________________________
g) sensações: __________________________________________________
h) habitações: __________________________________________________
i) cristais: _____________________________________________________
j) vegetais: ____________________________________________________


2. Indique quatro merónimos possíveis para cada holónimo apresentado.
a) computador: _________________________________________________
b) barco: ______________________________________________________
c) família: _____________________________________________________
d) livro: _______________________________________________________
e) boca: _______________________________________________________
f) flor: _______________________________________________________
g) teatro: _____________________________________________________
h) telemóvel: __________________________________________________
i) óculos: ______________________________________________________
j) satélite:_____________________________________________________________

3. Há palavras que permitem que, a partir delas, se estabeleçam simultaneamente relações de hierarquia e de parte-todo.

3.1. Complete os esquemas seguintes que demonstram o afirmado em 3.





4. Leia as frases com atenção e complete-as com o hiperónimo mais adequado.

1. A Rita vai fazer uma sopa de ___________ com batatas, cenouras e nabos.
2. Os _______________ preferidos das Anas são Eça de Queirós, Bocage e Cesário.
3. Lúcia, deves evitar o tabaco e o álcool, pois são ____________ muito prejudiciais.
4. João, não te esqueças de rever os seguintes _________________________ para o teste: metáfora, sinestesia, hipálage, sinédoque e hipérbole.
5. Margarida, conheces Alberto Caeiro, Ricardo Reis e Álvaro de Campos, os _________ de Pessoa que vamos estudar?
6. Nas férias, o Pacheco e o seu amigo Vlad visitaram _____________ como Mafra e Sintra.

5. Indica o sinónimo de cada uma das palavras dadas.
a) heroísmo: ____________________
b) abstrato: ____________________
c) deceção: _____________________
d) compatriotas: ____________________
e) retratar: ____________________
f) cobiça: ______________________
g) censura: _____________________

6. Assinale as alíneas corretas, de modo a identificar os antónimos das palavras indicadas.

6.1. A palavra “intransigente” mantém uma relação de antonímia com
(A) incompetente.
(B) flexível.
(C) inflexível.
(D) austero.

6.2. A palavra “leviandade” mantém uma relação de antonímia com
(A) imprudência.
(B) inconstância.
(C) prudência.
(D) inexperiência.

6.3. A palavra “belicoso” mantém uma relação de antonímia com
(A) guerreiro.
(B) pacífico.
(C) lutador.
(D) amargo.

6.4. A palavra “altruísta” mantém uma relação de antonímia com
(A) abnegado.
(B) filantropo.
(C) altivo.
(D) egocêntrico.

7. Complete os espaços em branco com as palavras do quadro.

acento/assento       era/hera      ruço/russo    roído/ruído

a) Pacheco, a palavra «cágado» leva _______________.
Será possível que a Lara não saiba ainda qual é o seu ____________?
b) Jorge Jesus tem o cabelo ____________, mas não é ___________.
c) O livro da Marisa foi ____________ pelos ratos.
O presidente do Sporting faz ___________ diariamente.

7.1. Em cada conjunto de frases, utilizámos palavras com som ______________, grafia _______________ e significado _______________. Estas palavras designam-se homófonas.

8. Observe as frases.
a) A pata do meu vizinho casou com o Pato Donald.
Rapazinho, tira a pata do meu gelado.
b) A exibição do Benfica deu-me .
A primeira nota musical é o .
c) Todos aqueles que falecerem até o mês de junho não verão o próximo verão.

8.1. Em cada uma das alíneas, as palavras destacadas têm som _______________, grafia _______________ e significado _______________. São palavras homónimas.

9. Leia as frases.
a) A Carolina era sábia, por isso sabia que ser adepta do Sporting é uma anedota.
b) Tenho o hábito de inventar frases parvas.
Como é possível que o Presidente da República não saiba onde habito?
c) A ingratidão das pessoas magoa.
A minha mágoa é não poder correr tudo a negativa.

9.1. Em cada par de frases, as palavras a negrito têm som _______________, grafia _______________ e significado ______________. Chamam-se homógrafas.

10. Leia as frases.
a) A despensa do Pacheco está cheia de melancias.
A Cláudia pediu dispensa das aulas de Ed. Física. Sua preguiçosa!
b) Quem será o aluno que estava a espiar as colegas nos balneários?
Quem fizer copianço, terá de expiar esse pecado perante o diretor da escola.
c) Hoje, o tráfego estava infernal na Av. 25 de Abril.
O tráfico de drogas e armas é um flagelo para a humanidade.

10.1. Em cada conjunto de frases, as palavras destacadas a negrito têm som ________, grafia _______________ e significado _______________.

Correção: aqui.

sábado, 15 de outubro de 2016

Análise do poema "Quando as crianças brincam"

          Este tema do poema é, como em tantos outros, a infância, mais concretamente a saudade de uma infância feliz que, na realidade, nunca existiu. Esse tema é suscitado por um facto da realidade que despertou as reflexões do sujeito poético: a observação / audição das brincadeiras das crianças.

          No que diz respeito à estrutura interna, o poema pode ser dividido em duas partes: a primeira, constituída pelas duas primeiras estrofes e a segunda, pela última.
          Na primeira parte, o sujeito poético exprime a alegria que lhe despertam as crianças (“Qualquer coisa em minha alma / Começa a se alegrar” e “Numa onda de alegria” – vv. 3-4 e 7) e a saudade (sentimento) de uma infância de brincadeiras (“E toda aquela infância / […] me vem” – vv. 5 e 6), apesar de nunca ter, de facto, vivido essa alegria quando era criança (“E toda aquela infância / Que não tive me vem, / […] / Que não foi de ninguém.” – vv. 5-6 e 8).
               Na segunda, o «eu» lírico começa por considerar o seu passado um enigma (“Se quem fui é enigma” – v. 9), sugerindo, de seguida, que o futuro é imprevisível (“E quem serei visão” – v. 10), reclamando de si mesmo o dever de se alegrar com a evocação de um tempo feliz, sempre associado à ideia de infância (“Quem sou ao menos sinta /: Isto no meu coração.” – vv. 11-12).
         Esta segunda parte é introduzida pelo marcador discursivo Se, que possui um valor condicional, sugerindo as condições necessárias (a consciência de um passado que o sujeito poético não entende e a incapacidade de prever o futuro) para existir um estado de espírito marcado pela alegria. Porém, o valor semântico desse marcador aproxima-se mais da ideia de causalidade (Já que quem fui é enigma, / E quem serei visão.”).
          Estas circunstâncias levam a que o «eu» se sinta perdido, algo de que ele tem plena consciência, como se pode verificar pelo verso 9: "Se quem fui é enigma".

          Ao longo do texto, predominam três tempos verbais: o presente, o pretérito perfeito e o futuro, todos do indicativo.
          Na primeira estrofe e no verso 11, o sujeito poético refere-se ao presente e, por isso, utiliza as formas verbais no presente (“brincam”, “oiço”, “começa”, “sou”). Já na segunda e terceira estrofes, quando recorda o passado, utiliza o pretérito perfeito (“tive”, “foi”, “fui”) e, por fim, no verso 10, recorre ao futuro para se referir ao porvir (“serei”).

          A forma como o sujeito poético encara o futuro é aparentemente contraditória, já que ele o olha com ceticismo e, simultaneamente, esperança, ideia visível pelo recurso à expressão “ao menos” (verso 11), a qual implica a consciência da necessidade de fazer um esforço (esperança), embora assuma simultaneamente um tom de falta de convicção (ceticismo).

quarta-feira, 12 de outubro de 2016

sábado, 24 de setembro de 2016

"Autumn of my life", Bobby Goldsboro


     Para celebrar (tardiamente) a chegada de mais um outono, este tema de 1968, que nada tem a ver com estações do ano.

quarta-feira, 21 de setembro de 2016

"O português como língua de Camões é um mito"

     Em 735 adjetivos usados por Luís de Camões n'Os Lusíadas, apenas um é uma criação nova do poeta, uma estreia na história da língua portuguesa. É a palavra "insofrido", que significa "impaciente".
     Esta contabilidade foi feita pelo linguísta Fernando Venâncio, que hoje apresenta alguns resultados da sua investigação dedicada àquela que será a primeira história do léxico português numa aula do curso de Estudos Camonianos da Universidade Nova de Lisboa, às 18h. "A primeira descoberta é que Camões inovou muito pouco", explica numa entrevista feita por telefone e email a partir de Amesterdão, onde é investigador na universidade.
     "O uso que Camões faz do léxico exclusivo português já conhecido é extremamente moderado e, mais do que tudo, as exclusividades portuguesas introduzidas pela sua obra foram residuais. Dir-se-ia que Camões não acreditou numa língua portuguesa de perfil autónomo."
     Sem ser n'Os Lusíadas, Fernando Venâncio encontrou apenas outro adjetivo novo de origem autóctone na lírica camoniana, desta vez "famulento", que significa "faminto".
     Já as criações castelhanas estreadas naquele poema épico, publicado em 1572, são cinco (e estamos a contar sempre só adjetivos, palavras normalmente utilizadas para testar a inovação numa língua): "alvoroçado", "disfarçado", "enamorado", "rebelde" e "sotoposto".
     Depois foram ainda enumerados os adjetivos latinos exclusivos do português, que atingem o número de treze ("abominoso", "cintilante", "celso", "fulvo", "humílimo", "longínquo", "piscoso", "crástino", "equório", "estelante", "frondente", "inconcesso", "prisco"). Entre estes, só dois - "longínquo" e "cintilante" - são realmente importantes, "o resto é extravagante e os adjetivos não voltam praticamente a ser usados".
     Mas os adjetivos latinos já correntes em castelhano estreados por esta obra-prima da literatura renascentista europeia, que conta em verso a descoberta do caminho marítimo para a Índia por Vasco da Gama, sobem até aos 54: "aéreo", "aquoso", "árido", "aspérrimo", "áureo", "belígero", "canino", "canoro", "cerúleo", "ciente", "cônsono", "diáfano", "dissonante", "espumante", "estipulante", "estupendo", "famélico", "ferino", "fétido", "fradulento", "fugaz", "fulgente", "fulminante", "furibundo", "hispano", "impudico", "inerme", "inerte", "infido", "inúmero", "inusitado", "lácteo", "malévolo", "náutico", "pirático", "plácido", "plúmbeo", "preeminente", "prestante", "proceloso", "pudibundo", "radiante", "rapace", "régio", "rotundo", "rutilante", "salso", "sanguinoso", "sitibundo", "sonoroso", "truculento", "vasto", "vendível", "virgíneo". Uma lista "extensa" que mostra que Camões transportou para a escrita portuguesa "o que de melhor, mais sólido e mais expressivo já circulava em castelhano em matéria de latinismos". Metade destes adjetivos "revelaram-se aquisições felizes e definitivas", tão duradouros como os outros que o poeta utiliza e que já vêm da Idade Média.
     Até aqui o que faltou numa língua que tem sido intensamente escrutinada foi estudá-la numa perspetiva histórica, "comparando-a com a dos contemporâneos e de épocas anteriores". O professor da Universidade de Amesterdão diz que é assim que se consegue perceber que a inovação está lá, "mas não é portuguesa".
     "Os cultismos que Camões utiliza são já correntes em castelhano", conhecidos na época por qualquer português instruído. "Camões não parece acreditar num português castiço, autónomo, irredutível". Empenha-se "numa modernização do português culto", mas "com recurso a criações castelhanas e ao latim do castelhano". E isso é "uma absoluta novidade, que desautoriza os nossos mitos criados à volta de uma 'língua de Camões', um mantra sem base material".
     Se o português era a língua dos marinheiros e dos comerciantes, o castelhano era a grande língua internacional da classe culta portuguesa e europeia. "Os portugueses estavam muito familiarizados com o castelhano. Isso vale para todo o português com contactos na corte, nas universidades. A língua culta, aquela em que as classes instruídas se exprimem é muito devedora do castelhano".
     Fernando Venâncio dá o exemplo de Catarina de Áustria, que foi rainha de Portugal durante 53 anos e que nunca escreveu uma linha de português. "A verdade é que a língua da corte era o castelhano. Depois havia muitos professores, pregadores, confessores que vinham de Castela e isso obrigava muita gente, ativa ou passivamente, a exprimir-se ou a dominar o castelhano. Portanto, a presença do castelhano é imensa. Vemos isso naquilo que ficou, nos livros de piedade, nos dicionários. Tudo isso é castelhano ou traduzido do castelhano com muitos castelhanismos." O primeiro dicionário de português é de 1562, quando Camões já teria quase 40 anos.
     Assim, era normal que quem quisesse ser erudito e moderno o fizesse sob uma influência castelhana. A preocupação de Camões foi, então, tudo o parece indicar, "iberizar o português", de modo a que a língua funcionasse internacionalmente. "Modernizou o português e fê-lo, inteligentemente, segundo o modelo castelhano, para poder ser lido por espanhóis e pela Europa culta da época."


Movida em Goa

     Esta influência linguística do castelhano em Camões já foi anteriormente estudada, mas de uma forma limitada, tendo sido identificado na lírica de Camões algum aproveitamento lexical de célebres poetas castelhanos, como Juan de Mena e Garcilaso de la Vega, ou ainda de Juán Boscán, n'Os Lusíadas. Venâncio cita o trabalho dos anos 40 de Vieira de Lemos e Martínez Almoyna e, mais recentemente, o de Nicolás Extremera Tapiá. "Mas essa é uma parte ínfima do aproveitamento lexical que Camões fez do que já estava disponível em castelhano. Esta minha investigação é realmente o Camões todo. A novidade é a espetacular extensão do fenómeno."
     Camões não está sozinho neste projeto linguístico, como lhe chama o investigador. Fernando Venâncio encontrou no jesuíta Luís Fróis "um duplo linguístico de Camões", porque o missionário também transpôs para português toda a riqueza latina que os castelhanos já usavam. Este homem, que sai de Lisboa aos 16 anos para nunca mais regressar, depois de chegar à Ásia em 1548, é "o mais dotado 'jornalista' português no Oriente" e as suas cartas sobre a Índia e sobre o Japão foram durante décadas "lidas, relidas e disputadas logo que chegavam a Portugal". Também ele, nitidamente, "investia numa 'iberização' da língua".
     Estão os dois a fazer o mesmo em simultâneo. Apesar de terem percursos muito diferentes, ambos passam por Goa, que era por volta de meados do século XVI "um centro cultural fortíssimo". "De certeza que absorvem um clima cultural, a que eu chamei 'movida', que já não havia em Portugal. Uma imensa liberdade criativa e mundana que contrasta com o controlo social da época de D. João III e que durou  até à chegada da Inquisição." O investigador diz que é "impensável" que Camões e Fróis, que conviveram oito anos em Goa, entre 1554 e 1562, "não se tenham conhecido, e até culturalmente estimulado". Todo este projeto linguístico de Camões e de Fróis, Fernando Venâncio tinha-o mostrado a Vasco Graça Moura, antes da morte do poeta e camonista, que ficou, descreve o professor universitário, "assombrado".
     A partir de hoje o investigador vai com certeza testar a tese com outros camonistas. A história do léxico português, diz, é provável que seja publicada já para o ano no Brasil. Se não há quase nenhuma inovação lexical em Camões no português autóctone, isso não diminui a grandeza da sua criação literária. "E Camões é, sem a menor dúvida, um grande artista."

          Isabel Salema, in Público (20 de abril de 2016)

A ilegalidade das aulas de apoio

     O SPN (Sindicato dos Professores do Norte) produziu um esclarecimento sobre reuniões e apoios educativos.
     O que se pode concluir desse esclarecimento é que muitas escolas / muitos agrupamentos constroem o horário dos seus docentes em nítida irregularidade. É o caso do agrupamento em que trabalhamos. De facto, maioritariamente, os apoios educativos prestados a grupos de alunos foram colocados como componente não letiva, quando, de acordo com o ponto 3 do artigo 82.º, alínea m), do ECD, os mesmos deveriam ser inscritos na componente letiva.

     O esclarecimento  encontra.-se devidamente escalpelizado no ComRegras, mais concretamente aqui: »»».

segunda-feira, 19 de setembro de 2016

A expressão "calendas gregas"

     A expressão "para as calendas gregas" (ex.: "Fulano adiou a decisão para as calendas gregas.") significa «nunca», «em tempo algum».

     A sua origem está relacionada com um dito espirituoso do imperador romano Augusto, no qual terá feito uso da expressão latina "ad calendas graecas".
     Com efeito, os Romanos dividiam os meses do ano em calendas, nonas e idos. Estes últimos correspondiam ao dia 1 dos meses de março, maio, julho e outubro e ao dia 13 nos outros meses. Por seu turno, as nonas eram o sétimo dia dos meses de março, maio, julho e outubro e o quinto dia nos restantes meses. Quanto às calendas, eram o primeiro dia de cada mês. Sucede que os Gregos não possuíam, no seu calendário, as calendas. Daí que Augusto quisesse significar, com a sua frase, «Nunca».

Fonte:
          Orlando Neves, Dicionário de Expressões Correntes
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