A arte
varia de época para época, de acordo com as circunstâncias e as transformações
histórico-sociais que vão ocorrendo, daí que possamos considerar que ela
constitua a expressão da sensibilidade dos indivíduos perante a realidade com
que se confrontam.
A vida
e a produção artística de Oscar Wilde coincidem com o final da Era
Vitoriana, uma designação que se refere ao período do reinado da rainha
Vitória, que reinou, no Reino Unido, entre 1837 e 190.
Apesar
de a Era Vitoriana coincidir com o Esteticismo e o Decadentismo
pós-românticos, movimentos característicos do final do século XIX, na verdade,
a obra de Wilde contém ainda traços temáticos e estilísticos típicos do
Romantismo, como, por exemplo, a exaltação do indivíduo e da liberdade
individual, o culto da beleza como ideal superior e a visão trágica do artista
incompreendido.
No
entanto, outros traços distanciam-na dessa corrente literária. Com efeito,
substitui a emoção e a sensibilidade românticas (no caso da literatura
portuguesa, basta pensar na figura de D. Madalena de Vilhena, personagem de Frei
Luís de Sousa, de Almeida Garrett) pela ironia, bem como o idealismo
romântico pela experiência estética. Por outro lado, o seu texto é marcado pela
atmosfera cosmopolita moderna e pela crítica à sociedade vitoriana. Quer isto
dizer que a obra de Oscar Wilde se situa numa fase de transição entre a
fase final do Romantismo e as vanguardas modernas.
Convém
ter presente também que o reinado da rainha Vitória foi marcado por um assinalável
progresso económico, social e tecnológico, essencialmente impulsionado pela
Revolução Industrial e pela expansão imperial britânica. Deste modo, Londres, a
capital, tornou-se o centro de um império mundial e o símbolo de poder e
supremacia. Em simultâneo, a sociedade britânica era caracterizada por um
grande conservadorismo a todos os níveis (social, moral e religioso) que
assentava numa rígida e hierarquizada estrutura de classes e num código de
conduta baseado em valores como o decoro e a disciplina.
Socialmente,
a classe dominante era a burguesia, que impôs os seus ideais de respeitabilidade
como a moral vitoriana que regulava a vida. Significa isto que as pessoas –
nomeadamente as das classes altas – tinham de reprimir os seus impulsos e
conservassem uma aparência de virtude. No fundo, vivia-se uma época de fachada,
na qual predominava a hipocrisia e a repressão do que não fosse convencional.
Em simultâneo, os problemas sociais emergiram, alimentados por uma pobreza
extrema que impulsionava as desigualdades socioeconómicas, sobretudo nas
maiores cidades. Ora, estas circunstâncias não passam despercebidas a Oscar
Wilde, que as expôs nas suas obras com apreciável ironia e perspicácia.
A época
vitoriana é uma época de crescimento, industrialização e progresso, mas também
caracterizada pela desvalorização da arte, da cultura e de determinadas
tradições familiares, que tinham constituído um importante universo de
referência durante vários séculos que, pouco a pouco, foram senso substituídas
por uma visão utilitária e mercantilista da vida que enfatiza a obsessão pela
novidade e pela produção de bens em massa.
Concretamente,
O Fantasma de Canterville põe em cena a oposição, de forma deliberada e
ostensiva, entre as mundividências norte-americana e britânica. Assim, a obra
evidencia a tendência norte-americana de generalizar a Era Vitoriana a praticamente
todo o período compreendido entre 1700 e 1900 que se refere à tradição
aristocrática tipicamente britânica, ultrapassada, entretanto, pela modernidade
e pelo progresso, aos olhos dos americanos e respetivo modo de vida. Além
disso, é visível a cada vez maior distinção entre o inglês usado na
Grã-Bretanha e o inglês norte-americano, no vocabulário, no tom e na pronúncia.
Deste modo, assiste-se a um registo “mais liberal” e à introdução de novas
palavras, que reforçam as mudanças entre a velha sociedade e o “Novo Mundo”.
