domingo, 18 de julho de 2021
Roteiros “Escola + 21/23”
Novos documentos do Plano Escola + 21/23:
Análise de Mona Lisa
«Mona Lisa» é uma das pinturas mais célebres da história da humanidade, um óleo sobre madeira da autoria de Leonardo da Vinci, algures entre 1503 e 1506, de 77 por 53 cm. A obra compreende o retrato de uma mulher misteriosa e encontra-se exposta no Museu do Louvre, em Paris.
O título do quadro é “Mona Lisa”,
sendo que «Mona» é a contração do termo italiano «Madona», que
significa «Senhora» ou «Madame». Assim sendo, o título será «Senhora
/ Madame Lisa». A obra é também conhecida pela designação de «Gioconda»,
que pode significar «mulher alegre» ou «a esposa de Giocondo».
Relativamente às técnicas utilizadas
na imagem, destaca-se a do sfumato, a qual foi criada pelos primeiros
pintores flamengos, mas aperfeiçoada por Da Vinci. A técnica consiste na
criação de gradações de luz e sombra que diluem as linhas dos contornos do
horizonte. No caso concreto da «Mona Lisa», o recurso ao sfumato cria a
ilusão de que a paisagem se vai afastando do retrato feminino, pintado com nitidez,
por oposição à paisagem esfumada – sfumato –, conferindo profundidade à
obra.
A pintura apresenta uma mulher
sentada, revelando apenas a parte superior do seu corpo. Atrás dela, vemos uma
paisagem que mistura a natureza (as águas e as montanhas) e a ação humana (os
caminhos). Note-se que o corpo feminino é construído pelas mãos e o vértice
superior o seu rosto.
O aspeto que mais interesse desperta
no quadro é o sorriso da mulher, enigmático e ambíguo. Vários são os estudos e
as interpretações sobre e do sorriso; aparentemente, as rugas em torno dos
olhos e na curva dos lábios parecem indiciar felicidade.
Já o olhar apresenta uma expressão
carregada de intensidade; por outro lado, a pintura foi construída de forma a
sugerir que os olhos inquisitivos e penetrantes nos seguem de todos os ângulos.
No que diz respeito à postura, a
mulher está sentada, com o braço esquerdo apoiado na cadeira, enquanto a mão
direita se encontra poisada sobre a esquerda. A postura, em termos gerais,
sugere alguma formalidade e solenidade, tornando claro que está a posar para o
quadro.
Em fundo, encontra-se uma paisagem
imaginária, constituída por montanhas com gelo, águas e caminhos traçados pelo
ser humano. Essa paisagem é desigual, pois é mais baixa do lado esquerdo e mais
alta do direito.
No que concerne à identidade da
mulher retratada, ela continua a ser um mistério, destacando-se três dentre as
várias teorias que a procuram decifrar. A primeira hipótese defende que a
figura feminina é Lisa del Giocondo, esposa de Francesco del Giocondo, uma
figura proeminente da sociedade de Florença. De acordo com alguns estudos, há
documentos que atestam que Da Vinci estava a pintar um quadro dessa mulher. Por
outro lado, acredita-se que ela teria sido mãe pouco tempo antes e o quadro
seria uma encomenda do marido para comemorar o acontecimento. De acordo com
outras investigações, as várias camadas de tinta parecem sugerir que, nas primeiras
versões da obra, a mulher teria um véu no cabelo que era usado tradicionalmente
pelas mulheres grávidas ou que tinham dado à luz recentemente.
A segunda hipótese aponta para
Isabel de Aragão, a duquesa de Milão, para quem Leonardo trabalhou. Segundo
alguns estudos, o tom verde escuro e o padrão das vestes da figura feminina
indiciam que pertence à casa de Visconti-Sforza. Por outro lado, uma comparação
da Mona Lisa com retratos de Isabel de Aragão evidencia algumas semelhanças
entre ambas.
A terceira hipótese sugere que a
figura retratada é a do próprio Leonardo Da Vinci, envergando roupas femininas.
Esta teoria explicaria o facto de a paisagem ser mais elevada do lado direito
(associado ao género feminino) do que o esquerdo (associado ao género
masculino). Esta possibilidade radica nas semelhanças existentes entre a figura
feminina retratada e os autorretratos do pintor.
Ainda relativamente à figura da
mulher, é de salientar também o facto de ela não possuir sobrancelhas, visto
que, na época, era comum as mulheres rasparem as sobrancelhas, dado que os
pelos das mulheres eram sinónimo de luxúria. Este traço é visível noutros
quadros de Da Vinci, como “Retrato de Ginevra de Benci”.
sábado, 17 de julho de 2021
Calendário - Exames nacionais do 9.º ano 2021/2022
Férias / Interrupções letivas 2021/2022
Exames que não servem para nada
«Fazer corresponder classificações iguais a desempenhos diferentes viola o mais elementar princípio que deve estar na base de uma avaliação justa...»
sexta-feira, 16 de julho de 2021
Análise do filme "Parasita"
▪ Ano de
produção: 2019.
▪ Data de
lançamento: maio de 2019.
▪ País de
origem: Coreia do Sul.
▪ Realizador:
Bom Joon-ho.
▪ Género:
thriller, drama e comédia.
▪ Duração:
132 minutos.
▪ Classificação:
maiores de 16 anos.
O filme
retrata a vida da família Kim, pobre, que manipula os Park, ricos, na tentativa
de encontrar um trabalho e uma remuneração. Graças a um conjunto de mentiras e
planos mirabolantes, os Kim infiltram-se na mansão da família abastada, de
forma semelhante à adotada pelos parasitas, que vivem num corpo sem que o
hospedeiro se aperceba.
De
facto, a película centra-se na família Kim, que leva uma vida abaixo do nível
de pobreza. Ela é constituída pelos progenitores – Ki-taek e Chung-sook – e pelos
seus dois filhos – Ki-woo, o filho, e Ki-jeong, a filha –, os quais vivem num
pequeno apartamento subterrâneo, localizado numa zona perigosa da cidade. Os
quatro membros sobrevivem dobrando caixotes que vendem para uma pizaria local.
Min-hyuk
é um universitário que se prepara para ir estudar no estrangeiro e sugere a
Ki-woo, seu amigo, fique com o seu trabalho como tutor de uma adolescente rica.
O jobem forja um diploma e candidata-se ao emprego, que acaba por obter, graças
ao interesse que a rapariga – Da-hye – demonstra por ele.
Do
outro lado da barricada temos a família Park, que vive numa mansão rica,
rodeada de luxo e conforto. Dong-ik é o CEO de uma empresa informática e a sua
esposa, Yeon-gyo, divide a vida entre os filhos, Da-hye e Da-song. A Sr.ª Park
refere casualmente ao novo tutor da filha, que está à procura de uma professora
de arte para o filho. O tutor diz-lhe que conhece uma rapariga que acabou de
regressar dos Estados Unidos, onde estudou Belas Artes, que podem desempenhar a
função. Deste modo, Ki-jeong passa a trabalhar para os Park.
Posteriormente,
os dois jovens desenvolvem um plano tendente ao despedimento do motorista e da
criada da família Park, permitindo que os seus pais sejam contratados para os seus
lugares, passando todos a conviver sob o mesmo teto, fingindo que não se
conhecem.
Certa
noite, quando os donos da casa se encontram fora, a antiga empregada, Gook
Moon-gwang, surge de surpresa e insiste em ir buscar algo à cave. É deste modo
que os Kim descobrem que a mansão possui um bunker onde está escondido o
marido da ex-criada há cerca de quatro anos, porque está cheio de dívidas e
receia ser morto por causa disso.
O casal
e a família acabam por se envolver numa luta em que disputam um lugar na mansão.
Entrementes, os Park regressam, o que obriga os Kim a amarrar Gook Moon-gwang e
Geun-sae na cave. A antiga criada, durante o processo, sofre uma pancada na
cabeça e morre.
Por
outro lado, nessa mesma noite desaba uma tempestade enorme e, quando os Kim
regressam a sua casa, encontram-no inundado até ao teto, completamente
destruído, o que os obriga a pernoitar num local público, com os demais
desalojados.
No dia
seguinte, no intuito de proteger a família, Ki-woo desloca-se ao bunker
para se livrar dos reféns, mas é atacada por Geun-sae. Depois de cerca de
quatro anos preso, o homem pega numa faca e irrompe na festa de aniversário de
Da-song, o filho de Park. Começa por esfaquear Ki-jeong e, depois, ataca Dong-ik,
que reage com nojo ao seu cheiro. Depois de ver a filha morrer, Ki-taek pega na
faca, mas, em vez de atacar o assassino, mata o patrão.
De seguida,
foge e esconde-se no bunker. Posteriormente, a família Kim é julgada e
condenada, os Park vendem a mansão e o patriarca dos Kim permanece escondido na
cave. Para combater a solidão, tenta comunicar em código morse com o seu filho,
piscando as luzes todas as noites.
Parasita
constitui um retrato bastante crítico da sociedade sul-coreana contemporânea,
focado nas diferenças sociais e nas desigualdades económicas entre as diversas
classes.
Assim,
as famílias Park e Kim simbolizam os dois extremos: aquela é milionária e esta
vive abaixo do limiar de pobreza. Para sobreviver, os segundos trabalham em
conjunto, engendrando diferentes esquemas. De facto, todos contribuem para o
sustento da família, seja de que forma for.
Em
contrapartida, os Park parecem não comungar da união dos Kim: opai passa imenso
tempo longe de casa e a mãe preocupa-se com tudo, enquanto os filhos são
super-protegidos e se preocupam apenas com os seus estudos. Se pensarmos noutras
obras, de outros géneros, percebemos como a superproteção não traz bons
resultados futuros. É o caso das personagens Pedro da Maia e Eusebiozinho
Silveira, de Os Maias. O primeiro é um fraco e suicida-se, incapaz de
suportar a traição e fuga da esposa, e o segundo vive num permanente estado de
inferioridade física e psicológica.
Quando
a personagem Ki-woo começa a trabalhar para os Park, os Kim descobrem o caminho
para um espaço luxuoso, requintado e confortável, exatamente o oposto da sua
realidade. No momento em que os patrões abandonam a mansão para acampar,
subitamente os desvalidos veem-se sozinhos, rodeados de tudo aquilo que nunca
possuíram nem sonharam obter.
Os “novos
senhores” descobrem que existe um bunker onde se encontra, trancado, o
marido da antiga empregada dos Park, Geun-sae, há vários anos, porque estava
cheio de dívidas que colocavam em risco a sua vida. Assim sendo, é fácil
concluir que este casal compartilhava do desespero dos Kim, embora por motivos
diferentes. Por outro lado, também para ele a habitação constituía um refúgio.
Quando o par descobre a tramoia dos Kim, envolve-se numa luta com estes, luta
essa que perdem, acabando por ficar presos no bunker. No fundo, esta
luta simboliza uma disputa pelo lugar de parasita da mansão e da família.
Neste
contexto, a família Kim parece configurar a vilã da história, por causa dos esquemas
e atos criminosos que praticam, manipulando, mentindo, invadindo a habitação e
a vida de outra família e ameaçando a sua existência. Deste modo, quando, no
final, são castigados, o espectador pode ser levado a concluir que se fez justiça.
No entanto,
por outro lado, se considerarmos que os parasitas – quer os Kim quer o casal do
bunker – apenas agem da forma como agem por necessidade extrema, pelo
instinto de sobrevivência, o olhar do espectador pode ser caracterizado por
alguma empatia por estas personagens. Confrontados com a miséria extrema e o
desespero que esta acarreta, sem saídas, elas agarram-se ao que podem,
independentemente do que seja – lícito ou criminoso. A única coisa que
interessa é sobreviver, seja de que forma for. É isso que demonstra a atitude
do marido da antiga empregada que, ao ser descoberto pelos Kim, implora que o
deixem continuar lá, onde se sente seguro e confortável, ao contrário da vida
no exterior.
Fazendo
parte de uma sociedade capitalista que se caracteriza (também) pelos extremos
sociais – muito ricos versus muito pobres –, os empregados observam o
dia a dia dos Park, o seu conforto e luxo, e constatam como as suas vidas são
muito mais difíceis e infelizes. É isso que os Kim constatam ao observar a
forma despreocupada e feliz como os Park vivem, pois não têm preocupações e a
sua existência é extremamente facilitada pela riqueza. É com base nisto que a
família procura justificar os seus atos criminosos: estão a tentar viver mais um
dia.
Quando
os Park regressam a casa, o motorista e os filhos dos Kim têm de se esconder
debaixo da mesa e é a partir daí que escutam a conversa entre Dong-ik e
Yeon-gyo sobre os empregados, marcada por um tom de superioridade e desprezo,
até nojo. Exemplo disto é o modo como o marido se refere ao seu motorista e à
sua roupa, que cheira mal. Isto provoca a fúria e a revolta de Ki-taek, que
aumenta quando, no dia seguinte, ao transportar o patrão, observa o gesto
deste, que tapa o nariz com a mão por causa do cheiro do motorista.
Durante
a festa de aniversário do filho mais novo dos Park, Ki-woo liberta
inadvertidamente o prisioneiro do bunker. Durante os anos que passou
preso naquele espaço, Geun-sae idolatrava o pai Park, chegando a orar para uma
foto sua todas as noites; contudo, ao ver-se livre, esfaqueia Ki-jeong, que
segurava o bolo de aniversário, e, de seguida, ataca o patriarca. O motorista,
que parece anestesiado perante a cena, ouve as ordens que o patrão lhe grita,
e, ao observar a sua expressão de nojo perante o cheiro e a imagem de Geun-sae,
agarra na faca e, em vez de atacar o assassino da filha, mata o patrão, foge e
esconde-se na casa.
Deste
modo, Dong-ik deixa de ser um simples homem e representa o privilégio de classe
e a injustiça, de uma organização social prenhe de contrastes profundos.
O facto
de ser militar faz com que o jovem saiba falar inglês, o que facilita o plano.
A sua irmã falsifica, então, um diploma de uma universidade conceituada. Deste
modo, ele é contratado, descobre que existe uma vaga para uma professora de
arte e fornece os dados à irmã, que finge também ser outra pessoa, de nome
Jennifer.
Ki-jeong
é uma jovem muito inteligente, habituada a trabalhar como atriz em velórios e a
enganar os outros. Após uma rápida pesquisa no Google, ela descobre vários
argumentos para convencer a mãe Park de que o filho necessita de fazer sessões
de arteterapia.
É assim
que os Kim se introduzem na mansão e na vida dos Park. Ki-woo aproveita o
trabalho como tutor e inicia uma relação secreta com a filha adolescente,
enquanto Ki-jeong engendra um plano para que os Park despeçam o seu motorista:
durante uma boleia, ela deixa a sua «lingerie» no banco traseiro do automóvel
para o patrão encontrar e deduzir que o motorista mantém relações sexuais no
veículo. De facto, Dong-ik encontra a peça de vestuário, conta à esposa e ambos
despedem o funcionário. Para o seu posto, contratam Ki-taek, que usa para o
efeito o nome Mr. Kevin.
Falta,
então, encontrar emprego para a mãe, o que implica livrarem-se da empregada dos
Park. Sabendo que a mulher é alérgica a pêssegos, eles vão colocando a penugem
da fruta nos seus pertences, o que faz com que aquela tenha várias crises
alérgicas, cada vez mais graves. Ao mesmo tempo, os Kim convencem a patroa de que
Goak Moon-gwang sofre de tuberculose. Deste modo, a mulher é despedida. O
patrão comenta depois com o novo motorista que precisa de contratar uma nova
empregada, pois a anterior «comia por duas».
É assim
que Chung-sook entra na mansão dos Park. Deste modo, os quatro membros da
família Kim passam a trabalhar para os mesmos patrões e a conviver na mesma
casa, agindo como desconhecidos.
Entre
os vários momentos cómicos, merecem destaque as «alfinetadas» à vizinha Coreia
do Norte e ao seu regime, nomeadamente à questão nuclear, sendo de destacar uma
cena em que Gook Moon-gwang imita o seu líder, Kim Jong-un, ridicularizando-o.
Durante
a noite, ele vai ver a mansão e nota que as luzes estão a piscar, acabando por
perceber que é o seu pai a tentar comunicar consigo através de código morse. As
últimas cenas da película mostram-nos o seu monólogo, no qual promete que irá
estudar, enriquecer e comprar uma casa. Contudo, o final do filme apresenta-nos
o jejum no pequeno apartamento da família, o que significa que os seus sonhos
jamais se concretizarão e nunca sairá daquela existência precária. Não obstante
todos os esquemas maquinados e os crimes cometidos, a família Kim volta ao
ponto de partida, com a particularidade de ter perdido dois dos seus membros.
domingo, 11 de julho de 2021
Análise do filme «O Rei Leão»
I. Introdução
A educação do jovem príncipe
baseia-se em valores que o preparam para um dia vir a ser rei, sucedendo no
trono ao seu pai. Porém, o leãozinho, como criança que é, só pensa em se
divertir e procurar aventuras.
Sabendo que um grupo de hienas
acabou de chegar à região, Scar vai em busca do sobrinho e aconselha-o a
visitar um lugar proibido, para provar a sua coragem. Inocentemente, Simba
segue o desafio do tio e, na companhia de nala, sua amiga, dirige-se para o
local. Aí, ambos são atacados pelas hienas e só não são mortos porque no Mufasa
surge em cena e os salva.
Gorada esta armadilha, Scar não
desiste e prepara uma nova cilada: deixa o leãozinho num caminho por onde passa
uma manada de búfalos e faz com que o irmão saiba do perigo que Simba corre e o
vá salvar de novo. Quando Mufasa fica suspenso numa ribanceira, pede ajuda a
Scar, mas este limita-se a empurrá-lo. Simba assiste a cena e depara com um pai
morto.
Seguidamente, Scar convence o
sobrinho de que a culpa foi sua, por isso deve abandonar o reino para sempre.
Simba parte e é encontrado por Timon e Pumba no deserto, desmaiado. O suricate
e o javali decidem adotá-lo e ajudá-lo a sobreviver. Assim, o leão cresce com
os dois novos amigos, sem preocupações, até que um dia reencontra Nala e fica a
saber por ela que o reino está em perigo por causa do tio Scar. Inspirado pelas
palavras do pai, que lhe aparece nas estrelas, resolve regressar.
Regressado ao Reino, Simba
reencontra a mãe, que estava convencida de que o filho tinha morrido. O jovem
leão luta com o tio, que confessa a morte de Mufasa e acaba por ser morto pelas
hienas, quando as tenta culpabilizar pelo passamento do irmão.
Simba e nala casam e, no final do
filme, regressamos a uma cena análoga da primeira: os dois apresentam a sua
filha ao povo. Este celebra, novamente unido, em paz e em harmonia.
3.1. Mufasa
Trata-se de uma personagem traidora,
cruel, ardilosa e maléfica, que não hesita em assassinar o irmão. Além disso,
revela se um péssimo rei que conduz o povo à miséria e o reino ao caos.
Timon é um nome grego histórico que
significa “aquele que respeita”. Podemos também encontrá-lo numa peça de
Shakespeare (Timão de Atenas). Uma outra explicação possível para a sua
atribuição à personagem de “O Rei Leão” terá a ver com o filósofo grego Tímon,
um discípulo de Pirro, o fundador da escola cética.
Timon é um suricate perspicaz e
egocêntrico que reivindica as ideias de Pumba como suas. Ao contrário do animal
real, Timon anda sobre as patas traseiras, enquanto que o verdadeiro se desloca
sobre as quatro patas e apenas consegue ficar de pé nas traseiras.
Timon
Sofre de flatulência; é um guerreiro feroz e destemido que avança para a
batalha de peito aberto. Quando o chamam “porco”, sente-se ofendido. O seu nome
deriva do idioma suaíli da África Oriental e significa “tolo, fraco,
descuidado, negligente”.
Quando os dois amigos encontram o
jovem Simba quase morto no deserto, resolvem adotá-lo e cuidar dele. O leão
cresce feliz com ambos, sendo influenciado pela forma otimista como encaram a
vida. Quando Simba regressa ao reino, os dois animais acompanham-no.
Ambos voltam a reencontrar-se, já
adultos, quando Nala tenta caçar Pumba e Simba surge em defesa dele. Os dois
reconhecem-se e é a leoa que chama o protagonista à razão, convencendo-o a
regressar, pois o reino necessita dele. Após o regresso, Nala acompanha-o e
luta ao seu lado. Derrotado o tio e recuperado o reino, Nala passa a ser sua
esposa e mãe da sua filha.
As cenas iniciais da película
descrevem-nos a infância e a educação de Simba, a cargo do seu pai, que o
procura preparar para um dia ser rei. Numa das várias cenas monumentais do
filme, do alto do topo de uma colina, Mufasa mostra ao filho a extensão do
reino (“tudo o que o Sol toca”), mas alerta-o para o facto de existir um lugar
perigoso onde ele jamais deverá ir. Porém, o leãozinho é curioso e destemido,
por isso, quando o tio o desafia a visitar o cemitério dos elefantes,
dizendo-lhe que só os leões mais corajosos aí vão, Simba desobedece ao pai e
dirige-se para lá, desconhecendo que se tratava de uma armadilha preparada por
Scar para que seja morto pelas hienas. Acompanhado pela amiga Nala e por Zazu,
a ave que é mordomo de Mufasa, que o avisa de que estão a arriscar a vida, mas
é ignorado: «Perigo? Eu rio na cara do perigo.» (responde Simba). A aventura
termina de forma positiva, quando o rei surge e os salva das hienas,
aproveitando para dar uma lição ao filho, explicando-lhe que ser valente não é
sinónimo de procurar problemas. Para o convencer, afirma mesmo que até os reis
têm medo. Antecipando uma cena posterior, Mufasa diz-lhe que os reis que morrem
ficam nas estrelas e que um dia também ele estará no céu.
São estes valores que o pai lhe
transmite que nortearão a vida de Simba, apesar de o ter perdido muito cedo.
A obra do dramaturgo inglês retrata
o percurso de um príncipe, Hamlet, que se tenta vingar do tio, Cláudio, visto
que este envenenou o rei para ocupar o trono. Após a sua morte, este surge ao
filho como fantasma para o guiar, tal como Mufasa faz com Simba, surgindo nas
estrelas e dirigindo-lhe a palavra.
Na peça, o protagonista é dado como
louco e é exilado, mas no final não vence a contenda, ao contrário do que
sucede com Simba, que triunfa sobre o tio e ocupa o trono. A cena mais célebre
da peça consiste no monólogo de Hamlet, durante o qual este segura um crânio e
profere a famosa frase: «Ser ou não ser, eis a questão». No filme da Disney,
encontramos uma cena na qual Scar fala, sozinho, segurando um crânio de um
animal na pata.
Scar, cicatriz em português, é um
leão que inveja o poder do irmão e o deseja substituir no trono, por isso
odeia-o e a Simba e decide ataca-los com armadilhas preparadas com a ajuda das
hienas. O seu caráter negro fica bem evidenciado quando avisa os outros de que
é melhor não lhe voltarem as costas. O auge da sua crueldade é, provavelmente,
atingido na cena em que Mufasa está pendurado de um penhasco e estende a pata,
pedindo ajuda ao irmão. Scar não hesita e empurra-o para a morte. De seguida,
convence Simba de que este é o culpado da morte do pai, forçando-o a abandonar
o reino.
Timon e Pumba andam sozinhos,
guiados pela sorte, vivendo a forma de forma descontraída, como uma grande
aventura. Quando se apercebem de que Simba foi abandonado, tornam-se seus
amigos, criam-no e transmitem-lhe a sua filosofia de vida: «Hakuna
Matata». E acrescentam que, quando o mundo nos vira as costas, nós
devemos virar as costas ao mundo. É uma forma descontraída e sem regras de
viver, tendente a esquecer o passado e deixar de sofrer, que, no entanto, pode
ser encarada como um meio de fugir aos problemas, em vez de os enfrentar.
Trata-se de uma questão abordada noutras obras, como, por exemplo, n’Os
Maias, com a personagem de Pedro da Maia, com as consequências trágicas que
se conhecem.
Seja como for, a verdade é que um
Simba traumatizado e sentindo-se responsável pela morte do pai acaba por
recuperar a alegria de viver e acaba por ter uma infância feliz.
Esse passado acaba mesmo por o
apanhar quando reencontra Nala, a amiga de infância, que tenta caçar Pumba. O
reencontro proporciona o surgimento do amor entre os dois leões: «Domado está o
leão».
Na qualidade de leoa, Nala é uma das
felinas que caça para o grupo, tendo de dividir a comida com Scar e as hienas.
Ela explica, então, a Simba que o seu povo vive miseravelmente por causa da má
gestão do tio.
Por outro lado, o reencontro
desperta nele o sentido do dever, do qual está afastado há muito tempo. Quando
era criança, o que mais desejava era ser rei, porém, no presente, não se sente
preparado para assumir o trono. Recorda, então, as lições do pai, segundo as
quais um rei deve ir além da sua vontade. Mufasa era um bom monarca e
respeitado, pois respeitava todos os animais do reino, que viviam num
equilíbrio delicado.
Scar é o oposto do irmão: preguiçoso,
mau, cruel e autoritário. Para alcançar e, posteriormente, manter o poder,
associa-se às hienas, um grupo oportunista e extremamente perigoso.
O xamã mostra-lhe o seu próprio
reflexo num lago e afirma: «Ele vive em ti». Isto significa que o que Simba
aprendeu com o pai e essa aprendizagem servir-lhe-á de bússola na sua ação. Por
outro lado, a mensagem é clara: os ensinamentos e a memória dos que amamos
acompanha-nos ao longo da vida, serve-nos de guia, de orientação.
Quando Mufasa aparece ao filho no
céu, entre as estrelas, diz-lhe que Simba se esqueceu do pai e de quem é,
querendo dizer, no fundo, que deve seguir as lições do passado, em vez de
continuar a fugir. Após essas aparições, o jovem leão enche-se de coragem e
determinação e regressa ao reino, motivado pelo exemplo do pai.
Outra relaciona-se com a aprendizagem
e o crescimento interior. Ao longo da película, assistimos à evolução de Simba,
desde o momento em que surge nos braços de Rafiki até ao triunfo sobre Scar.
Durante o tempo que medeia entre os dois marcos, o leão enfrenta vários
obstáculos, sofre revezes, perdas e é assaltado por dúvidas existenciais. Mas é
tudo isso que o faz crescer e tornar-se adulto. Neste sentido, podemos ver aqui
os dilemas e as dificuldades da juventude.
Tal como Mufasa diz ao filho, todos
temos de ocupar o nosso lugar no ciclo da vida. Além disso, temos de ter
orgulho de quem somos e não podemos fugir de nós mesmos. Mesmo assaltados pelo
medo e por dúvidas, receando fracassos ou refeições, temos de lutar e encontrar
o nosso lugar no mundo.
Biografia de Homero
Trata-se, muito provavelmente, de um
bardo grego que viveu cerca do final do século VIII e início do VII a.C. Há
outros autores que apontam para os princípios do século IX ou finais do VIII,
na Jónia, uma região da atual Turquia. A partir da descrição de um poeta/canto
da Odisseia, que muitos estudiosos consideram um autorretrato, Homero é
frequentemente descrito como cego. Note-se, porém, que os gregos dos séculos
III e II a.C. começaram a questionar se o poeta teria mesmo existido e se as
duas epopeias teriam sido escritas por uma só pessoa.
Os dois poemas pertencem a uma
antiquíssima tradição oral. Histórias sobre uma expedição grega ao Oriente e
sobre viagens dos seus líderes de regresso a casa circulavam na Grécia há
centenas de anos, antes da Ilíada e da Odisseia terem sido
compostas. Contadores de histórias ocasionais e menestréis semiprofissionais
foram os responsáveis pela transmissão desses relatos de geração em geração por
via oral, através da memorização, sendo que cada «contador» os desenvolvia e
afirmava à medida que os contava, normalmente para uma audiência. Assim sendo,
é possível um só poeta ou vários poetas trabalhando de forma cooperativa terão
finalmente passado essas narrativas à escrita, com cada um fazendo os seus
próprios acrescentos e expandindo ou contraindo certos episódios para se
adequar ao seu gosto. A inovação de Homero, caso tenha sido mesmo ele a compor
as obras, parece ter sido costurar essas histórias, transformando-as num todo
complexo e coeso.
Embora as evidências históricas, arqueológicas
e linguísticas sugiram que os dois poemas épicos foram compostos por volta do
século VIII a.C., algures entre 750 e 650, a sua ação localiza-se na Grécia
micénica do século XII a.C., em plena Idade do Bronze. Segundo as crenças dos
gregos, esta era antiga foi uma época de grande glória, quando os deuses ainda
pisavam a Terra e os seres humanos com atributos sobre-humanos povoavam a
Grécia. As duas obras evocam esse período, num estilo elevado, retratando a
vida característica dos grandes reinos da Idade do Bronze. Nesse tempo, os
gregos eram chamados de «aqueus», palavra que designava uma grande tribo que
viveu na Grécia durante o período do Bronze.
Por outro lado, na época em que os
dois poemas épicos foram redigidos, o alfabeto grego estava em expansão em
termos de uso. A versão escrita mais antiga da Ilíada socorre-se
precisamente desse alfabeto e contém traços característicos da forma mais
antiga de escrita helénica. Continua em aberto a discussão em torno da dúvida
se Homero foi somente um poeta oral que ditou a Ilíada a um assistente
literário (convém relembrar a possibilidade de o autor ser cego ou ter cegado em
determinada fase da sua vida) ou alguém com experiência na tradição oral, mas
passado a escrito. Seja como for, os dois poemas foram compostos no dialeto
jónico do grego antigo, que era falado nas ilhas do mar Egeu e nas zonas
costeiras da Ásia Menor, a atual Turquia. Assim sendo, é possível concluir que
Homero será natural de algum lugar da Jónia, mas também existe a hipótese de tenha
escolhido o dialeto jónico porque o considerou mais apropriado ao estilo
elevado que caracterizava uma epopeia. A análise da literatura grega posterior
sugere que os poetas faziam uso de diferentes dialetos nos seus textos, de
acordo com os temas abordados, e que podiam escrever até em dialetos que não
falavam. Além disso, os textos de Homero são pan-helénicos, isto é, abrangem
toda a Grécia, em espírito, e, de facto, usam formas de vários dialetos.
Por outro lado, apesar de a ação se
desenrolar na Idade do Bronze, as duas obras fazem referência a realidades
gregas dos séculos VIII e VII a.C., portanto contemporâneas da sua redação. A
estrutura social feudal presente na Odisseia assemelha-se mais à da
Grécia de Homero do que à de Ulisses. Além disso, o poeta substitui o panteão
de divindades da sua própria época por deuses adorados pelos gregos micénicos.
Outros anacronismos, como, por exemplo, certas referências a ferramentas de
ferro e a tribos que ainda não haviam migrado para a Grécia na Idade do Bronze,
sugerem as origens posteriores a essa era do poema.
Deste modo, pode concluir-se que
Homero viveu, provavelmente, no século IX a.C., pelo que não foi testemunha dos
factos ocorridos na guerra de Troia, que terá tido lugar entre os séculos XIII
e XII a.C. Aproveitando a tradição oral, que nunca esqueceu essa guerra, sem se
preocupar com a verdade histórica, Homero transformou a história em poemas
épicos. Por outro lado, grande parte dos estudiosos concorda que a Ilíada
foi uma obra de juventude do poeta e precedeu a Odisseia, que terá sido
redigida na velhice, como complemento da primeira e ampliação da sua
perspetiva.
De acordo com a tradição, Homero, já
cego, teria vivido os últimos anos da sua vida errando e cantando os seus
versos pelas ruas de Ios, onde faleceu.