sexta-feira, 3 de dezembro de 2021
quinta-feira, 2 de dezembro de 2021
"Adoração dos Pastores", de Caravaggio
quarta-feira, 1 de dezembro de 2021
terça-feira, 30 de novembro de 2021
"A Natividade Mística", de Boticcelli
segunda-feira, 29 de novembro de 2021
domingo, 28 de novembro de 2021
sábado, 27 de novembro de 2021
sexta-feira, 26 de novembro de 2021
quinta-feira, 25 de novembro de 2021
quarta-feira, 24 de novembro de 2021
O sirventês provençal
Entre as produções satíricas da
Idade Média sobressai o chamado sirventês, que nasceu e floresceu na
Provença, sul de França, por volta do século XII, na «langue d’oc», sendo,
portanto, contemporâneo do lirismo que celebrava o amor cortês.
Desde o século XI, a região da
Provença constituía um importante centro de atividade literária, sobretudo
graças à prática do mecenato cultural por parte dos senhores feudais locais.
Não é, por isso, de estranhar que lá se tenha desenvolvido a primeira grande
escola de poesia romântica em «langue d’oc», assumida posteriormente pela
«langue d’oil», isto é, pelo francês falado no Norte.
O legado mais importante da escola
provençal foi a «cansó», uma composição que versava a temática amorosa
em 5 a 7 coblas. Inequivocamente, embora tenho sido a vertente lírica do
trovadorismo a que teve mais sucesso, a satírica possui também bastante
qualidade. Segundo Rodrigues Lapa (in Lições de Literatura Portuguesa –
Época Medieval), “A cantiga escarninha toma, na Provença, dum modo geral, o
nome de ‘sirventês’. […] em nada difere da canção, e até o nome parece indicar
que a sua estrutura seguiria ‘servilmente’ a melodia duma canção. O tema era,
todavia, diferente, tinha caráter mais objetivo, refletia as opiniões e os
sentimentos do trovador sobre os homens e a vida social. Daqui necessariamente
o seu caráter moral e satírico.”
Chegaram até nós cerca de duas
centenas de sirventeses provençais, poemas de circunstância que refletem a
realidade da sua época e deixam transparecer, em certa medida, a opinião
pública de então. Esses tempos eram constituídos por invetivas pessoais, críticas
às diferentes classes sociais, elogios, reflexões morais genéricas e até
lamentações fúnebres.
Tal como sucede com vários outros
vocábulos, a origem etimológica de «sirventês» não é muito clara. Assim, há
autores que afirmam que o termo não advém diretamente de «servir», mas de «sirven»,
acrescido do sufixo -isc.
Durante o século XIII, a forma
«serventois» era usada no Norte da França para designar textos semelhantes ao
sirventês meridional. Essa forma setentrional surgiu inicialmente na Normandia:
«serventeis», formada a partir de «servant» (do latim «servantem»), ou de «sergent»
(dolatim «servientem»), pelo que, em rigor, deveria ser «servanteis» ou
«sergenteis». Talvez «serventeis» tenha resultado da influência dos trovadores
sobre a poesia do Norte da França.
Para Martin de Riqueur, tanto no
Norte, como no Sul, «sirventês» designava a canção do «sirven», isto é, do
servidor de um senhor poderoso que compunha versos destinados a atacar os
inimigos do patrão ou a defendê-lo das críticas que lhe fossem dirigidas.
Sucede que foram muitos aqueles que serviram os seus senhores quer através das
armas quer através do canto, daí que seja de considerar a existência de
relações estreitas entre o «sirven» e o trovador. Desta relação deveriam estar
afastados os jograis, dado que eram apenas os intérpretes dos poemas e não os
compositores [função restrita aos trovadores]. Além disso, os jograis eram
plebeus, pelo que não podiam usar espada, ao contrário dos trovadores que,
enquanto nobres e cavaleiros, possuíam a faculdade de servir os seus senhores
com a espada e com os seus textos satíricos.
No que diz respeito à forma, o
sirventês, inicialmente, fez uso de elementos de métrica romana, mas acabou por
se tornar epígono da cantiga, quando esta se sobrepôs às demais modalidades
poéticas. Relativamente à temática, o sirventês distancia-se da cantiga; por
outro lado, permite classifica-la em três modalidades: sirventês pessoal, moral
e político.
O primeiro compreende composições poéticas
injuriosas, de linguagem solta, que se focam na crítica a certos aspetos da
vida íntima ou profissional das pessoas. Aquelas que visavam os jograis
designavam-se «sirventês joglaresc». Alguns dos cultores desta modalidade foram
nomes como Guillem de Berguedam, Bertran de Born, Manfredi Lancia e Peire
Cardenal, a que se odem acrescentar outros como Peire d’Alvergne e Le Moine
Montaudon, estes últimos representantes do sirventês pessoal literário,
dirigido a poetas.
O sirventês moral aborda temas como
o desconcerto do mundo e a iniquidade da época, a denúncia dos vícios, a
decadência de certos valores e o enaltecimento das virtudes, a falta de
respeito e a avareza dos nobres, em comparação com tempos anteriores (mais
idealizados do que corresponde à realidade da época), em que eram valorizados –
os trovadores – e bem remunerados com roupa, alimento e dinheiro. Se,
inicialmente, o sirventês moral atacava somente a nobreza, a partir do início
do século XIII, a crítica estende-se a outras classes, o que incluía
comerciantes, clérigos, homens da lei, agricultores, estalajadeiros, médicos,
boticários, advogados, estudantes, mendigos e até os próprios reis, pelos mais
diversos vícios (conflitos, exploração, injustiças, etc.). O trovador mais
célebre a cultivar esta modalidade foi Peire Cardenal, que denuncia nos seus
textos a hipocrisia, a mentira, a fraude, a violência ou a corrupção.
Desiludido com o mundo, escreve uma parábola demolidora: certo dia, caiu sobre
uma cidade uma chuva que fazia enlouquecer todos os que molhava. A totalidade
dos habitantes, à exceção de um, foi atingida, e começaram a praticar as
maiores loucuras, sem que ninguém estranhasse tal. Assim sendo, a única pessoa
que se mantivera lúcida acabou por ser considerada louca, sendo maltratada
pelos demais e forçada, em consequência, a fugir da cidade. É evidente que a
localidade simboliza o mundo: a verdadeira sabedoria que nele se pode praticar
resume-se ao amor e ao temor a Deus, de acordo com os mandamentos. Com a queda
da chuva de orgulho e cobiça que todos corrompeu, perdeu-se a sabedoria. Deste modo,
quando surge alguém que honra Deus, é considerado louco e escorraçado. O
sirventês moral focado nos temas da mulher e do amor foi escasso, tendo
sobressaído, neste caso, nomes como Marcabru ou Peire Cardenal.
Por seu turno, o tema central do
sirventês político são os grandes acontecimentos da época, como as cruzadas do
Oriente, a Reconquista Espanhola, a luta dos reis ingleses com os senhores
feudais franceses, as lutas internas italianas ou a guerra dos albigenses. A
principal figura a cultivar esta modalidade foi Bertran de Born, figura que
amava a guerra por si mesma e semeava a discórdia, nomeadamente entre suseranos
e vassalos, irmãos contra irmãos, filhos contra pais, etc. Um dos temas
centrais – as guerras santas – era cultivado sob a forma de propaganda. No
fundo, o sirventês político constituiu um excelente veículo de propaganda de
ideais políticos, sem deixar de ser, em simultâneo, o testemunho da paixão e da
reação que determinados acontecimentos provocaram, bem como a conduta de certas
figuras.
Além destas, existem outras espécies
menores de sirventês provençal, como as chamadas «caps», que relatam ações
heroicas, mesmo algumas de realização impossível, ou os «planhs», lamentos fúnebres.
Em suma, o sirventês provençal está
na génese da sátira medieval galego-portuguesa.
domingo, 21 de novembro de 2021
Conceito de sátira
Não há certezas sobre a origem do
termo sátira, no entanto
grande parte dos estudiosos liga-a ao nome dos sátiros, divindades gregas
secundárias associadas a zombarias e farsas. Outros consideram que deriva do vocábulo
«satur», um adjetivo que era aplicado a pessoas embriagadas.
Para Jules Humbert e Henri Berguin,
a etimologia de sátira radica no latim «satura», cujo primeiro
significado, presente na expressão «satura lanx», é “prato de oferendas
diversas, oferecidas aos deuses nas celebrações que envolviam sacrifícios. Além
disso, «satura» designa uma pasta feita de diferentes carnes. Por outro lado,
a linguagem parlamentar usava a expressão «per saturam» na aceção de “em bloco”,
aludindo ao processo rápido pelo qual se regulamentavam vários negócios de uma
só vez.
O gramático latino Diomedes (século
IV d.C.) apresenta quatro hipóteses relativamente à etimologia do termo,
entendido pelos romanos como composição em versos pertencente a uma miscelânea
de poesias. Deste modo, a primeira hipótese relacioná-la-ia com os sátiros, que,
tal como sucede na sátira, dizem e fazem coisas ridículas e vergonhosas. A
segunda leva-nos até «satura», um prato cheio de muitas e variadas
primícias, que os antigos camponeses ofereciam aos deuses em festividades
religiosas. Esse prato era assim chamado por causa da abundância e fartura de
componentes. A terceira associa-o a «satura», um determinado tipo de
recheio com muitos ingredientes. Por último, a quarta remete para uma lei
chamada «satura», em que, numa única petição, se incluíam,
simultaneamente, muitas coisas, “como acontece na composição versificada do
mesmo nome, que reúne diferentes poemas.”
Salvatore D’Onofrio opta pela derivação
de «satura lanx», que significava “prato cheio” de oferendas aos deuses,
em ação de graças, um ritual que se incluía num ambiente de festa, a que
estavam associados a música, ao canto, à dança e a troca de desafios onde se misturavam
o sagrado e o profano, atingindo por vezes o obscuro.
Outros autores associam o termo a
diferentes significados. Assim, Énio remete para a ideia de mistura, tendo em
conta os diversos sentidos que «satura» adquire no título Saturae,
que deu a alguns dos seus poemas de metros heterogéneos. Em Lucílio, «satura»
traduz a variedade de tom e assunto e designa um género original.
Aparentemente, o género satírico
parece ser de origem romana e surge associado a dois traços distintivos: o
gosto pela troça e o da observação moral. O já citado Lucílio parece ter
definido o domínio característico da sátira – a crítica à sociedade – e a sua
forma poética – o hexâmetro –, pelo que é considerado por muitos o verdadeiro
criador da sátira como género literário.
Na Idade Média, a produção satírica
foi abundante, sobretudo no século XII, em França. Os principais temas eram os
abusos da Igreja, as inovações educativas, o governo secular, a moral e os
costumes dos cortesãos. A inspiração desses autores medievais centrava-se em
autores latinos, como Horácio e Juvenal, bem como noutros que não eram
inteiramente satíricos, como Ovídeo (Ars amatória), Marcial (Epigramas),
Séneca (Apocolocyntosis) e Petrónio (Cena Trimalchionis).
Recorriam também às Sagradas Escrituras e à liturgia cristã, visando a sátira
dos clérigos e das ordens religiosas. São exemplo deste tipo de literatura os Carmina
Burana, uma coletânea de poemas e textos dramáticos manuscritos do século
XIII, maioritariamente picantes, irreverentes e satíricos, escritos em latim
medieval e línguas vernáculas. Além dos já mencionados, são ainda tratados
temas como os vícios da corte, misoginia e misogamia. Existia ainda a chamada «satira
communis», que focava as diversas classes sociais: o rei, o Papa, os nobres
e todas as profissões e ofícios da época, exemplificada por obras como o De contempto
mundi, de Bernardo Morval, e o Speculum Stultorum, de Nigel de
Canterbury.
A partir dos múltiplos estudos sobre
a sátira, é possível identificar duas categorias: a formal (ou direta) e a
indireta. Aquela surge na primeira pessoa e compreende duas formas: a primeira
evoca ironicamente as loucuras e os absurdos dos seres humanos, enquanto a segunda
possui um caráter moralista, sério, visando a repreensão forte dos vícios
humanos. Já a sátira indireta é redigida na terceira pessoa e surge sob a forma
de uma narrativa, cujos protagonistas se revelam ridículos através das suas
opiniões, das suas ações, das suas falas ou pensamentos.
Outro tipo de sátira é a chamada menipeia,
que deve a designação ao seu criador, o filósofo grego Menipo. Esta forma
satírica é igualmente conhecida por varrónica, dado que foi cultivada também
por Varrão, discípulo de Menipo, e intercala momentos em prosa com outros em
verso. A sátira menipeia é originária da Grécia.
quinta-feira, 18 de novembro de 2021
O sirventês galego-português
A vertente satírica da literatura galego-portuguesa medieval
é representada pelas cantigas de escárnio e maldizer. A designação de
«cantigas» justifica-se pelo facto de, à semelhança das cantigas de amigo e de
amor, associarem a poesia, a música, o canto e a dança e se destinarem a terem
acompanhamento musical: flauta, guitarra, harpa, arrabil, alaúde, giga,
pandeiro, adufe, bandurra, saltério, doçaina, trompa, exabeba, gaita, tambor,
viola e anafil. Como se sabe, o compositor era, fundamentalmente, o trovador,
enquanto o jogral cantava e tocava instrumentos.
Para compreender estas composições,
assumem grande importância dois textos medievais: a célebre Arte de Trovar e a
Lei XXX, do Título IX, da Segunda das Sete Partidas de Afonso X. A Arte de
Trovar é um pequeno tratado em prosa sobre a poesia galego-portuguesa, de autor
desconhecido, que define regras e géneros a que trovadores e jograis deveriam
obedecer. A peça não chegou inteira até nós, apenas fragmentos, e foi
transcrita por Angelo Colocci, um humanista italiano que mandou copiar o
Cancioneiro da Biblioteca Nacional.
Sobre a cantiga de escárnio, reza o
seguinte a Arte de Trovar, mais concretamente o capítulo V: “Cantigas d’escarneo
som aquelas que os trobadores fazem querendo dizer mal d’algue[n] em elas, e
dizem-lho per palavras cubertas que ajan dous entendymentos, pera lhe-lo non
entenderem… ligeyramente; e estas palavras chamam os clerigus hequivocatio. E
estas cantigas se podem fazer outros de mestria ou de rrefran.”
Já as Sete Partidas são sete
livros compostos por D. Afonso X, os quais “fundaram o sistema jurídico de Leão
e Castela e, mais tarde, da Espanha moderna e dos países sob sua colonização”
(SODRÉ, Paulo Roberto. A Arte de Trovar e “jugar de palavras”…). A
primeira parte da obra aborda a Igreja medieval e regula a vida de clérigos e
leigos, enquanto a segunda trata da vida dos reis e seus oficiais; a terceira, dos
advogados e do seu ofício; a quarta, das relações domésticas e dos casamentos;
a quinta regula o mundo do comércio, do mar e dos contratos; a sexta ocupa-se
dos testamentos; e a sétima, dos marginais, crimes e penas. Além disso, o texto
contém a Lei XXX, do Título IX, da Segunda Partida, que consiste num pequeno
tratado poético destinado a orientar os trovadores no uso de determinados
recursos poéticos, com o objetivo de produzir cantigas bem construídas e numa
linguagem adequada ao ambiente da corte. Quando se refere ao cantar de
escárnio, aponta o «jugar de palavras» como o recurso mais importante.
Assim sendo, os trovadores deveriam usá-lo ou «escarnecer», isto é, não
deveriam abordar de forma direta o aspeto risível de um cortesão benquisto pelo
rei, antes fazer uso do chamado «equívoco», ou «equivocatio», ou seja, o
poeta deveria socorrer-se daquilo que poderemos designar por «jogo de avessos».
Por exemplo, se o nobre visado numa cantiga fosse um cobarde, no poema deveria
aparecer retratado como corajoso, o que significava que o poeta estaria a “jogar”,
ou a brincar, com a sua cobardia. Há autores, porém, que o «juglar de
palavras» se associa à literatura oral.
No capítulo VI, a Arte de Trovar
aborda as cantigas de maldizer, definindo-as da seguinte forma: “Cantigas de
maldizer som aquela[s] que fazem os trobadores […] descobertamente. E[n] elas
entran palavras que queren dizer mal e non aver outro entendimento se non aquel
que queren dizer chãamente.” Quer isto dizer que os trovadores ridicularizam os
vícios ou as ações de certo indivíduo de forma direta e achincalhante. Estatisticamente,
dentro do contexto da sátira, é a cantiga de maldizer que predomina nos
cancioneiros, o que significa que os trovadores peninsulares preferiam a invetiva
individual e particularista, pessoal e insultuosa. De facto, os poetas parecem
ter optado por este caminho em detrimento da abordagem de assuntos de interesse
geral.
Há autores, porém, que contestam
esta distinção entre a cantiga de escárnio e a de maldizer. É o caso de G.
Tavani, que considera que a distinção entre palavras «encobertas» e «descobertas»
é ambígua e de “difícil aplicação na prática”. Para este autor, a diferença
entre as duas categorias reside no uso ou não d termos obscenos. Assim sendo,
se estivessem presentes obscenidades, a cantiga seria de maldizer; caso não
houvesse, seria de escárnio. Por seu turno, Elsa Gonçalves julga que a marca
distintiva radica na «equivocatio». E dá como exemplo a cantiga de Pero
da Ponte contra Maria Peres, a Balteira, que, não obstante identificar o algo
da sátira pelo nome próprio e conter linguagem obscena, classifica como de
escárnio, “cujo sentido decorre do equívoco construído pelo trovador sobre o duplo
sentido da palavra «maeta» (GONÇALVES, Elsa e RAMOS, Maria Ana. A lírica
galego-portuguesa).
Para Graça Videira Lopes, a
distinção entre escárnio e maldizer reside no nível da complexidade da leitura
(ou do «entendimento») exigida pela leitura: “Assim, enquanto nas
cantigas de maldizer o seu entendimento, como sátira, seria imediato e irrecusável”
(«e nom aver entendimento senom aquel que querem dizer chaamen[te]» – Arte de
Trovar), o entendimento das cantigas de escárnio implicaria um trabalho de descodificação,
já que todas elas se construiriam a partir de um jogo com duplos sentido (os ‘dous
entendimentos’ de que fala o texto). As ‘palavras cubertas’ não se refeririam,
pois, ao nome dos visados, mas simplesmente ao processo retórico de ataque que,
como diz o texto, ‘chamam os clérigos hequivocatio.”
Além das cantigas de escárnio e
maldizer, a Arte de Trovar refere também o «joguete de arteiro» e a
«cantiga de risadilha» ou «risabelha», no Capítulo V, as «tenções», as
«cantigas de vilão» e as «cantigas se seguir». De acordo com o referido tratado
poético apenso ao Cancioneiro da Biblioteca Nacional, os «joguetes de arteiro» são
cantigas que “non son mais ca d’escarnho, nem ham outro entendimento; enquanto
as «cantigas de risadilha» ou serám d’escarnho ou de maldizer; e chamam-lhes
assi porque riim ende a vezes os homens, mais nom som cousas em que sabedoria
nem outro bem haja.” Por seu turno, as tenções são cantigas dialogadas entre
dois interlocutores, podendo ser líricas ou satíricas (“Estas se podem fazer
d’amor ou d’amigo ou d’escarnho ou de maldizer, pero que devem de ser de
mestria”). Quanto às «cantigas de vilão», só se podem fazer suposições, visto
que o capítulo da Arte de Trovar que aborda este assunto é o mais
estropiado que chegou até nós, contendo uma definição curta e amputada:
“Outrossi outras cantigas fazem os trobadores a que chamam de vilaã[os]. Estas
cantigas […] sem mao leng[uagem] nom som per al err[a]das por que as nom
escarniom no […]. Como outras cantigas podem as fazer de quantos tal[h]os […].”
A cantiga de seguir constitui uma imitação jocosa ou uma paródia de uma
cantiga, da qual adotava a melodia e, por vezes, até o metro e a rima: “Outra
maneira há hi em que trobam dois homens e que chamam seguir, e chamam-lhe assi
por que convem de seguir cada um outra cantiga a som ou em p[alav]ras ou em
todo.”
Além de todas as categorias
enunciadas, existem outras espécies não conceituadas ou referidas na Arte de
Trovar. É o caso do sirventês; do «descordo»; de «variações na invetiva»,
como o «maldizer aposto», a «despersonalização», a «’defesa’ do visado»; além
dos «ciclos narrativos»; da «paródia»; de «outros recursos», como «o jogo com
os limites de géneros»; e das «questões de linguagem».
De acordo com Rodrigues Lapa, as
composições satíricas da poesia galego-portuguesa distribuem-se por seis grupos
temáticos:
• Entrega dos castelos ao Conde de Bolonha;
• Cruzada da Balteira;
• Escândalo das amas e tecedeiras;
• Impertinência do jogral Lourenço;
• Traição dos cavaleiros na Guerra de Granada;
• Decadência dos infanções.
Estes grupos não esgotam,
obviamente, as visões sobre a sátira trovadoresca. Assim sendo, segundo Scholberg,
é possível apontar outras temáticas: cantigas dirigidas a outros trovadores,
jograis ou segréis [a hierarquia dos intérpretes da poesia trovadoresca, embora
não muito rígida, era a seguinte: trovador, jogral, segrel, menestrel. O trovador
era o artista completo: tratava-se, regra geral, de um fidalgo decaído, que
compunha, cantava e chegava até a instrumentar as cantigas. O jogral
pertencia a uma classe social inferior, porém, se tivesse mérito, poderia ascender
a trovador; era o ator mímico ou o músico. O segrel era um artista
profissional e ganhava dinheiro apresentando composições próprias ou alheias,
de corte em corte. Por fim, o menestrel era o músico da corte.], cujo
assunto é formado pelo aspeto físico, pelos defeitos de caráter, a vida
desairada, a infelicidade no amor, a velhice, a falta de talento literário.
Depois, havia sátiros que visavam as soldadeiras, mulheres assim
chamadas porque recebiam um soldo e estavam sujeitas à corte. A sua função era
cantar e dançar e vendiam não só o canto e a dança, como também o próprio
corpo. Foram várias a protagonizar poemas, como Domingas Eanes, Elvira Lopes,
Luzia Sanches, Maria do Grave, Maria Garcia, Maria Leve, Maria Negra, Maria
Mateu, Marinha Crespa, Marinha Lopes Ourana e Urraca Lopes, mas a mais famosa
foi Maria Peres, a Balteira. Um terceiro núcleo temático centra-se em
determinadas classes sociais e profissionais, como a dos infanções,
ricos-homens avaros ou decaídos, fidalgos pretensiosos, religiosos impudicos;
médicos, advogados, juízes, negociantes; mouros e judeus. Os membros das
classes nobres eram satirizados por não disporem de boa comida ou não a
oferecerem aos artistas que frequentavam a sua casa, pela sua decadência, pela
forma de vestir e pela decrepitude dos cavalos. Os pequenos fidalgos eram
visados pela sua glutoneria e embriaguez, enquanto alguns escudeiros e
cavaleiros, por almejarem uma ascensão social rápida e fácil, sem a merecerem.
A quarta categoria dirige-se aos vícios e costumes. Neste capítulo, um dos
assuntos mais focados era o da avareza, de que é exemplo uma cantiga, da
autoria de D. Dinis, que satiriza um funcionário por ter acumulado uma avultada
soma de dinheiro, apenas para os seus herdeiros dissiparem à vontade após a sua
morte, enquanto ele “vivia” atormentado no Inferno. Outro conjunto de
composições vituperava os costumes matrimoniais, nomeadamente os enlaces entre
pessoas pertencentes a classes sociais diferentes. Um poema de Martim Soares
retrata o rapto de Dona Elvira Eanes da Maia por um infanção, Rui Gomes de
Briteiros. Na época (século XIII), o rapto, embora fosse crime e o infrator
fortemente penalizado, constituía uma forma habitual de obter a mulher amada.
Voltando à cantiga, o que mais escandalizou não foi propriamente o rapto, mas o
facto de a raptada ter sido conivente e a família dos Sousas não ter procurado
lavar a sua honra e dignidade. A homossexualidade também não passou
despercebida aos poetas galego-portugueses, daí não ser de estranhar que tenha
sido abordada em várias cantigas de escárnio com “palavras cubertas”, isto é,
de duplo sentido, que podiam interpretar-se de forma inocente ou obscena. Um
quinto conjunto de poemas abordava questões político-militares, que focavam,
essencialmente, dois factos que marcaram o século XIII: a deposição de D.
Sancho II e a covardia dos vassalos de D. Afonso X, o Sábio, na guerra contra
os mouros. O sexto conjunto diz respeito a sátiras de cariz moral que denunciam
a subversão de valores, a falta de verdade, a lealdade, o amor ou a amizade,
recordando um passado (idealizado e distante da realidade de então) em que
predominavam as virtudes. Um sétimo núcleo compreende a paródia ao amor cortês
e ao idealismo heroico, nomeadamente a gratuidade do serviço amoroso, os dotes
físicos da mulher amada, a morte por amor, etc. Uma outra modalidade satírica
apontava para a géstica, sendo denunciados aspetos como os guerreiros feitos à
pressa, ser armas adequadas, nem espírito combativos.
Por seu turno, para Giuseppe Tavani
e Giulia Lanciani, as mais de 400 cantigas satíricas que enformam a poesia
galego-portuguesa agrupam-se em quatro áreas: a sátira política, a sátira
social (pessoal e de costumes), a sátira literária e a sátira moral.
quarta-feira, 17 de novembro de 2021
Análise de "Meu senhor arcebispo, and'eu escomungado"
● Assunto
Esta é uma das três cantigas de que
temos conhecimento que se focam na posição adotada pelos alcaides na célebre
crise de 1245-1247 que levou à deposição de D. Sancho II.
No caso vertente, o trovador associa-se
àqueles que atribuíam à Igreja um papel determinante no que consideravam ser
uma traição coletiva, a saber, a entrega dos castelos ao futuro D. Afonso III,
colocando na boca do leal alcaide de Sousa a referência à excomunhão com que
este teria sido brindado pelo arcebispo de Braga.
● Tema: a sátira do arrependimento fingido de um ato de lealdade – a entrega do
castelo sob ameaça de excomunhão.
● Estrutura interna
• 1.ª parte (1.ª e 2.ª coblas)
– Exposição do facto: a excomunhão do alcaide de Sousa.
• 2.ª parte (3.ª e 4.ª coblas)
– Causa da excomunhão: a lealdade do alcaide, que entregou o seu castelo ao
verdadeiro dono, D. Sancho II, e então finge-se arrependido do seu ato de
lealdade e finge temer vir a morrer excomungado, procurando assim que lhe seja
levantada a excomunhão.
● Análise da cantiga
O autor constrói o poema desenhando
um caso hipotético em torno do alcaide de Sousa e do seu ato de contrição, onde
manifesta o seu suposto arrependimento por se ter mantido leal aio seu
soberano. Deste modo, o poeta critica, de forma mordaz, os que quebraram os
laços de fidelidade vassálica, apontando o dedo ao clero por ter fomentado e
protegido esse ato de traição para com o rei.
A ironia percorre toda a composição,
presente desde logo na súplica contrita e no arrependimento pelo ato de
lealdade. É óbvio que só por ironia se pode suplicar absolvição por se ter sido
leal. A lealdade constitui um ato de fidelidade aos compromissos assumidos e evidencia
o sentido de retidão e de probidade do indivíduo que é leal, configurando um
valor ético e um código em trono do qual se unem os elementos dos grupos
feudais.
Ao colocar a sua própria voz na voz
do alcaide de Sousa, Diego Pezelho encena um discurso marcadamente sarcástico e
impiedoso para todos os que traíram D. Sancho II e cederam às pretensões do
Conde de Bolonha, coagidos pela ameaça da excomunhão por parte dos bispos.
Assim, o sujeito poético da cantiga
(o alcaide) dirige-se a um arcebispo (provavelmente o de Braga, D. João Viegas
de Portocarreiro, um dos principais responsáveis pela deposição de D. Sancho
II, integrando, por exemplo, a comitiva portuguesa que fora enviada a Lyon),
pedindo-lhe absolvição, isto é, que lhe retire a excomunhão, por ter sido
enganado pelo diabo a praticar um ato de lealdade. Ele tivera um castelo em
Sousa, julgara agir corretamente, mantendo a fidelidade ao monarca, mas compreende
agora que foi um pecado. No refrão, repetido quatro vezes, o alcaide roga ao
bispo que suspenda a excomunhão. Para tal – socorrendo-se, neste ponto, do equivocatio
– jurará que foi um traidor: “Soltade-m’, ai, senhor, / e jurarei, mandado, que
seja traedor”. Porém, o facto de afirmar que jurará “mandado”, isto é, sob
ameaça, livra-o da possível acusação de subserviência e deslealdade. Foi, por
isso, que o trovador usou o conjuntivo «seja», em vez do indicativo «sou»: está
implícita aí a ideia de subordinação e coação. Em contrapartida, pela expiação
do pecado de lealdade e remissão da excomunhão, propõe-se jurar, «mandado», que
é um traidor.
A ironia é evidente: o que é afirmado
no primeiro verso (“Meu senhor arcebispo, and’ eu excomungado”) é incongruente
com o que surge nos seguintes: ninguém está à espera que alguém seja
excomungado por ter sido leal nem que isso fosse um ato diabólico. Além disso,
de acordo com o refrão, a absolvição derivaria de um ato de felonia que o
alcaide encena ironicamente querer assumir.
Por outro lado, é clara a intenção
de criticar o ato de traição de quem alinhou com o clero e com as pretensões de
D. Afonso, porque, ao fazê-lo, estaria a salvo da excomunhão. Neste contexto,
assume grande relevância o primeiro verso da segunda estrofe (“Se traiçon
fizesse”), que mostra como seria censurável a traição e como o poema se
desenvolve em torno do arrependimento fingido do alcaide. Além disso, infere-se
que a traição é um ato que se concretiza debaixo de um silêncio indigno e que,
por ser tão censurável para quem o pratica, se procura emudecer: “nunca vo-la
diria”.
Nas restantes estrofes, o «eu»
continua, irónica e dissimuladamente, a lamentar-se por ter sido excomungado,
afirmando que defendeu e entregou o castelo ao seu legítimo «dono», convicto de
que estava a fazer o que era correto (“gran cousa”), mas que, afinal, se
arrependeu por não ter sido traidor.
De acordo com Herlânder Gonçalves
dos Santos (in D. Sancho II – Da deposição à composição das fontes literárias
dos séculos XIII e XIV), «O escárnio explora a ambivalência irónica entre o
fazer e o dizer, entre a conduta de um alcaide leal ao seu senhor, que se manteve
fiel aos votos de vassalagem, que ignorou as resoluções eclesiásticas que
incriminavam pela excomunhão essa fidelidade contrária aos interesses e
deliberações da Igreja, e o dizer tão lamentoso quão desdenhoso da sua contrição:
“Per meus negros pecados, tive um castelo forte / e dei-o a seu don(o), e ei
medo da morte. / Soltade-m’, ai, senhor, / e jurarei, mandado, que seja
traedor.” (vv. 13-16).
Assim sendo, não custa concluir que
um dos alvos da cantiga, se não o principal, é o poder eclesiástico, por forçar
as consciências, neste caso dos alcaides, a aceitar as pretensões do futuro
Afonso III. Note-se, todavia, que na composição não há qualquer referência
explícita ao Conde de Bolonha, no entanto o tema e o assunto desenvolvidos
focam, inequivocamente, o conflito de 1245 e a entrega dos castelos a D.
Afonso, a coberto das deliberações do Concílio de Lyon.
O outro alvo do poeta é a fidalguia
militar que governava os castelos. Mais uma vez, as referências textuais a ela
não são explícitas, contudo a referência ao alcaide de Sousa e à sua promessa
(fingida e irónica) de traição para se libertar da pena de excomunhão não deixa
dúvidas sobre quem está a ser visado: os nobres que se aliaram a D. Afonso e o
clero que legitimou a traição a D. Sancho II.
● Caracterização do
alcaide
O alcaide de Sousa apresenta-se como
uma figura leal a D. Sancho II, recusando traí-lo e entregar o seu
castelo a D. Afonso III. Astuto e irónico, finge-se arrependido
da sua lealdade, procurando, deste modo, que lhe seja retirada a excomunhão.
Ele coloca-se, pois, no papel de vítima, fazendo um discurso de aparente
humildade e medo. Este mesmo discurso permite vislumbrar o do
arcebispo, certamente autoritário.
Assim, na sua figura confrontam-se
duas situações: uma, de ordem religiosa: o alcaide não quer ser excomungado; outra,
de cariz político: permanecer fiel e leal a D. Sancho II.
● Classificação
A composição poética é uma cantiga
de escárnio, dado tratar-se de uma sátira direta (o alvo está identificado: o
alcaide de Sousa), numa linguagem irónica e humorística, com uma finalidade
moralizadora.
● Forma
▪ Estrofes: quatro quintilhas.
▪ Métrica: versos de 12 e 6
(no refrão) sílabas métricas.
▪ Rima:
- esquema rimático: aabb
- emparelhada
- consoante (excomungado”/”pecado”)
- rica (“excomungado”/”pecado”) e
pobre (“Sousa”/”cousa”)
- grave (“excomungado”/”pecado”) e
aguda (“senhor”/”traedor”)
▪ Refrão: profundamente
irónico, é através dele que o alcaide pede que o libertem da excomunhão, em
troca de um arrependimento e juramento forçado e fingidos.
● Recurso expressivos
▪ Aliteração em s.
▪ Pronomes e determinantes:
sugerem uma reverência profundamente irónica pela autoridade eclesiástica (“Meu
senhor arcebispo”).
▪ Interjeição “Ai”:
exprime um estado emotivo também ele fingido.
▪ Vírgulas: permitem a
bipartição do verso.
▪ Paralelismo semântico e estrutural.
▪ Verbos:
- tempos:
. presente: reflete a excomunhão e o pedido de
libertação dela;
. pretérito: apresenta o ato que levou à excomunhão;
- modo: imperativo – traduz o pedido
do alcaide no sentido de ser perdoado e libertado da excomunhão.
▪ Ironia: figura predominante
na cantiga, traduz o arrependimento fingido do alcaide pelo seu ato de
lealdade. A ironia reside, pois, na interpretação às avessas das noções de
fidelidade e traição.
▪ Antítese entre lealdade e
traição.
▪ Apóstrofe: “Meu senhor
arcebispo”.
● Valor documental
Esta cantiga assume grande
importância, por causa das referências que contém a aspetos histórico-sociais
do século XIII:
a) o ciclo dos castelos: conjunto de
sátiras sobre a traição dos alcaides, durante o conflito que opôs D. Sancho a
seu irmão, D. Afonso III, sátiras essas que defendem a fidelidade ao monarca
deposto;
b) a deposição de D. Sancho II;
c) o poder da Igreja.
A composição poética baseia-se em
acontecimentos político-sociais contemporâneos: as lutas entre D. Sancho II e
D. Afonso III. Embora se enchesse de prestígio na luta contra os mouros, D.
Sancho II desgostou profundamente os membros do clero e alguns nobres. Em 24 de
julho de 1245, o papa Inocêncio IV expendiu uma bula, pela qual o depunha do
trono português e o atribuía a seu irmão, D. Afonso III, Conde de Bolonha.
D. Sancho II lutou ainda durante
algum tempo, ajudado por servidores leais, não obstante as excomunhões que contra
eles lançaram o Arcebispo de Braga e os bispos de Coimbra e do Porto. No entanto,
a maioria dos alcaides entregou-se a D. Afonso III, ato que, junto da opinião
pública, foi considerado traição, sobretudo porque tal entrega andou de braço
dado com avultadas somas de dinheiro, promessas aliciantes, medo e outros
motivos menos dignos.
A pena e a ironia dos trovadores da
época não pouparam a suposta venalidade e cobardia dos alcaides que se
entregaram a D. Afonso III. De facto, o trovadorismo nunca se ergueu contra a
causa de D. Sancho e a favor do seu irmão. Pelo contrário, todos vituperaram a
infame traição dos alcaides que entregaram os castelos do Bolonhês.
Além disso, os trovadores
denunciaram a corrupção do poder eclesiástico e da fidalguia militar, bem como
o modo como a poderosa Igreja forçou as consciências esse serviu do seu poder
para excomungar todos aqueles que se mantiveram leais ao seu monarca, D. Sancho
II.
Historicamente, a realidade diz-nos
que boa parte do clero português, apoiado por nobres e pelo próprio papa, tomou
parte na campanha cujo objetivo era a deposição de D. Sancho II. Afonso era,
nessa altura, conde de Bolonha (daí o epíteto de o Bolonhês) e juntou-se às
fileiras que hostilizaram o legítimo monarca. A 24 de julho de 1245, a bula Grandi
non immerito depôs D. Sancho II e estabeleceu o seu irmão como regente do
reino. A bula procurou justificar a deposição do monarca pelo caos generalizado
em que o reino tinha caído, circunstanciando-se agravos a igrejas, mosteiros e
clérigos, denunciando-se desleixo governativo e enfatizando-se resistências de
D. Sancho II no que diz respeito a acolher as recomendações que a Cúria Romana
lhe tinha feito até então. Assim, perante as infrutíferas tentativas de chamar
o monarca à razão no sentido de manter a ordem e a justiça, e perante a sua
reiterada negligência, o papa ordenou que o Bolonhês fosse o governador e
curador que organizasse o reino.
Neste contexto, Diego Pezelho
coloca-se no lugar de um alcaide que entregou o castelo ao «verdadeiro dono» e,
por isso, foi punido com a excomunhão.
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