“Pensão
familiar” é um poema constituído por uma oitava e uma quintilha.
A
primeira estrofe começa por descrever a pensão. Ela, de caráter burguês, é
limitada / pequena (como se depreende pelo uso do diminutivo “pensãozinha”),
com um jardim, onde se destacam o gato ao sol, a tiririca, que é um tipo de
mato, as boninas (margaridas) murchas ao sol, a beleza dos girassóis e as
dálias, flores vistosas e sem perfume. Esta caracterização da pensão sugere que
se trata de um espaço descuidado e algo abandonado, pois a erva daninha domina
o canteiro, ofuscando assim a beleza dos girassóis e das dálias. A figura do
gato ao sol reforça a impressão de um lugar “parado”, tranquilo, sem agitação
alguma.
Na
época, as pensões eram moradias coletivas destinadas a pessoas de baixa renda
que procuravam manter alguma dignidade e conforto, condizentes com as suas
posses financeiras. O título revela que a pensão retratada no poema é “familiar”,
isto é, dá guarida a pessoas que ganham a vida honestamente, tendo em conta que
havia outras pensões que eram destinadas à prostituição. Por outro lado, de
acordo com o verso 1, é uma “pensãozinha burguesa”.
A
segunda estrofe centra-se no gato, quebrando a estagnação do ambiente da primeira,
dado que descreve a atividade do felino. O dinamismo da sua ação é dado pelo
uso das formas verbais “faz”, “encobre”, “sai” e “vibrando” (gerúndio). Por
outro lado, o comportamento do animal é natural, espontâneo e elegante aos
olhos do sujeito poético.
Além
disso, o último verso enfatiza a elegância do gato: “– É a única criatura fina
na pensãozinha burguesa”. Dado que a ação do felino se opõe ao descuido e à
estagnação do ambiente, pode deduzir-se que o comportamento das pessoas que
residem naquele espaço é artificial. Aliás, a caracterização da pensão como “familiar”
(título) e “burguesa” (verso 1) realça a passividade dos seus moradores e o
conformismo rotineiro que nega a beleza da vida. O comportamento do gato, de
início, não parece motivo poético, como o comprova o calão “mijadinha”, contudo
o contraste entre a sua ação e a neutralidade dos moradores (que nem sequer são
referidos diretamente) revela a negação de uma vida marcada por valores
mesquinhos que aviltam a existência e condicionam as pessoas a uma vida
medíocre e conformista.
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