No
primeiro verso, o sujeito poético manifesta o seu desejo: “Assim eu quereria o
meu último poema”. De seguida, apresenta uma série de comparações que traduzem
esse seu desejo. Através da primeira, o «eu» afirma que deseja a simplicidade
que provém da espontaneidade, capaz de traduzir sem artifícios prévios o
carinho e o afeto: “Que fosse terno dizendo as coisas mais simples e menos
intencionais”. A segunda mostra que o «eu» deseja produzir um poema que parte
toda a intensidade característica da emoção sem, entretanto, resvalar para a
pieguice sentimental, sobretudo a dos românticos: “que fosse ardente como um
soluço sem lágrimas”. A terceira demonstra que o sujeito poético deseja
produzir um poema com uma beleza discreta, incapaz de alarde, comedida a ponto
de se revelar discretamente, impondo-se pela forma, sem necessidade de espraiar
as suas intenções: “que tivesse a beleza das flores quase sem perfume”. A
quarta indicia que o sujeito lírico almeja elaborar um poema que contenha toda
a beleza e preciosidade dos sentimentos e emoções raros, mas que toda a
preciosidade possa ser consumida, isto é, dissolvida por uma «chama», por um
estilo simples capaz de conter, na sua simplicidade e pureza, a nobreza dos
sentimentos: “A pureza da chama em que se consomem os diamantes mais límpidos”.
A última mostra que esse poema deveria ser capaz de conter os sentimentos mais
intensos, sem, no entanto, ser sentimental, sem anunciar de forma dramática a
intensidade das emoções, guardando em si o mistério que caracteriza a alma
humana.
terça-feira, 1 de agosto de 2023
Análise do poema "O último poema", de Manuel Bandeira
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