Distinguir uma oração coordenada explicativa de uma subordinada adverbial causal não é fácil em muitas circunstâncias, o que dá origem a muitas apreciações erradas.
Com a devida vénia, transcrevemos a explicação da professora Maria Regina Rocha, retirada do Ciberdúvidas:
'Para tentar que fique
esclarecida e percecione o melhor critério de distinção entre os dois tipos de
orações, vou começar por lhe apresentar exemplos, passando, depois, à
explicação.
1. Exemplos de orações subordinadas causais:
a) Não
almoço, porque não tenho fome. = Como não tenho fome, não almoço.
b) O Vítor
domina o vocabulário, porque lê muito. = Como o Vítor lê muito, domina o
vocabulário.
c) A Marta
não comprou o vestido, porque era muito caro. = Como o vestido era muito caro,
a Marta não o comprou.
d) O menino
caiu, porque ia distraído. = Como ia distraído, o menino caiu.
e)
Aplaudiram o orador, porque o discurso foi brilhante. = Como o discurso foi
brilhantes, aplaudiram o orador.
2. Exemplos de orações coordenadas explicativas:
a) Sobe, que
te quero mostrar uns livros. = Sobe, pois quero mostrar-te uns livros.
b) Come a
sopa toda, que está muito boa. = Come a sopa toda, pois está muito boa.
c) Não
tenhais medo, que o mundo não acaba agora. = Não tenhais medo, pois o mundo não
acaba agora.
d) O Manuel
tem dinheiro, pois comprou um carro novo.
e) O pai já
está deitado, pois as luzes estão apagadas.
1. A
oração subordinada causal tem uma relação de dependência em relação à principal,
apresenta um motivo, uma causa da ação, do acontecimento, da ocorrência
referida nessa oração principal. Nos exemplos que dei com orações subordinadas
causais, é visível essa dependência entre a causal e a principal:
a) O facto de não ter fome é a causa,
o motivo que leva a pessoa a não almoçar.
b) O facto de o Vítor ler muito é
a causa, o motivo, que o leva a dominar o vocabulário.
c) O facto de o vestido ser caro
foi o motivo, a causa, que levou a Marta a não o comprar.
d) O facto de o menino ir distraído
foi a causa da sua queda.
e) O facto de o discurso ser
brilhante foi a causa dos aplausos.
2.
Para se compreender bem a situação das orações coordenadas explicativas, penso
que será útil referir cinco dos estratos gramaticais possíveis na análise de
uma língua, por ordem ascendente: o monema, a palavra, os grupos de palavras, a
oração e o texto.
No que
diz respeito às orações coordenadas explicativas, que em algumas
gramáticas são sintomaticamente chamadas de coordenadas «causais-explicativas»,
elas exprimem dois tipos de relação (a coordenação e a subordinação), mas não
ao mesmo nível de estruturação gramatical. Entre si (no estrato oracional),
elas são coordenadas, mas existe uma relação de dependência no que diz respeito
ao sentido do discurso, ao nível, pois do texto.
A
oração coordenada explicativa também apresenta, pois, um motivo ou uma causa,
mas não da ocorrência referida na oração anterior, e, sim, do motivo que leva o
emissor a referir aquela ação, a fazer aquele pedido, a dar aquele conselho,
etc. Vou considerar, então, cada uma das orações coordenadas explicativas que
apresentei acima:
a) A
ação de querer mostrar os livros não é a causa da ação de subir; é a causa do
pedido de que suba. Quem fala quer mostrar os livros, quer o outro suba, quer
não. A oração «que te quero mostrar os livros» justifica o facto de o emissor
ter feito o pedido, justifica algo que não está sintaticamente expresso. Assim,
estas duas orações são independentes entre si e poderiam formar dois períodos:
«Sobe. Quero mostrar-te uns livros.» Se quiséssemos explicitar a dependência da
explicativa em relação ao discurso, poderíamos construir um período complexo,
aí, sim, pondo no mesmo nível todos os elementos em relação e subordinando-os
uns aos outros: «Peço-te que subas, porque te quero mostrar uns livros.» Neste
período, a oração «porque te quero mostrar uns livros» é subordinada à oração
«peço-te», exprimindo a causa desse pedido.
b) O
facto de a sopa estar muito boa não é a causa de a pessoa a comer; é o motivo
que leva o emissor a aconselhar o recetor a comer a sopa. Como independentes
entre si, estas orações poderiam constituir dois períodos: “Come a sopa toda.
Ela está muito boa.” Para ver a relação entre o que está explícito e o que não
está, poderíamos também construir um período complexo, com orações
subordinadas: “Aconselho-te a que comas a sopa toda, porque ela está muito
boa.”
c) O
facto de o mundo não acabar agora não é a causa de as pessoas não terem medo; é
o motivo que leva o emissor a tranquilizar as pessoas. Como independentes,
estas orações poderiam formar dois períodos, sem prejuízo do sentido: “Não
tenhais medo. O mundo não acaba agora.” Poderíamos também pôr os valores
semânticos todos no mesmo plano, o das orações, e interligar essas orações por
subordinação: “Como o mundo não acaba agora, acho que não deveis ter medo.”
d) O
facto de o Manuel ter comprado um carro novo não é a causa de ele ter dinheiro;
é a causa da dedução que o emissor faz a respeito daquela ocorrência da compra
do carro. Se construir um período complexo em que esteja claro o que ficou
subentendido com a utilização da explicativa, poder-se-ia, então, explicitar
essa subordinação: «Como o Manuel comprou um carro novo, eu penso (eu deduzo)
que ele tem dinheiro.» E a oração subordinada causal (o Manuel ter comprado um
carro novo) apresenta o motivo, a causa que me leva a pensar que... («eu penso,
eu deduzo»).
e) O
facto de as luzes estarem apagadas não é a causa de o pai estar deitado; é o
motivo que o leva a pensar, a deduzir, a supor que o pai já esteja deitado. Se
construir um período complexo em que esteja claro o que ficou subentendido com
a utilização da explicativa, poder-se-ia, então, explicitar essa subordinação:
«Como as luzes estão apagadas, penso que o pai já está deitado.»'
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