Português

segunda-feira, 20 de fevereiro de 2012

Coesão lexical

· Reiteração lexical: repetição (ou reiteração) da mesma palavra ou expressão:

     Ex.: «Elas são quatro milhões, o dia nasce, elas acendem o lume. Elas cortam o pão
            e aquecem o café. Elas picam cebolas e descascam batatas. Elas migam sêmeas
            e restos de comida azeda.» (Maria Velho da Costa, Cravo, pág. 133)

· Substituição lexical: substituição de uma unidade lexical por outras que com ela mantêm
   relações de sentido:

     · por sinonímia: substituição de palavras ou expressões por sinónimos:

          Ex.: O teu gato é bonito. Onde arranjaste o felino?

     · por antonímia: substituição de palavras ou expressões por antónimos:

          Ex.: Carlos Cruz fala verdade? Ou terá optado pela mentira?

     · por hiperonímia / hiponímia:

          Exs.: Quero os teus brinquedos, sobretudo o palhaço e o comboio. (hiperónimo /
                  / hipónimo)
                  Eu adoro ovelhas e vacas. Estes herbívoros são simpáticos. (hipónimo /
                  / hiperónimo)

     · por holonímia / meronímia:

          Exs.: A minha casa é fria. Os quartos, a cozinha e a sala não têm isolamento.

domingo, 19 de fevereiro de 2012

Coesão estrutural

     Uma das formas de construir a coesão textual é o paralelismo estrutural - a repetição simétrica de construções - em frases, períodos ou parágrafos contíguos ou próximos.:

                    Eles não sabem que o sonho
                    é uma constante da vida
                    [...]
                    Eles não sabem que o sonho
                    é vinho, é espuma, é fermento,
                    [...]
                    Eles não sabem que o sonho
                    é tela, é cor, é pincel
                    [...]

     O paralelismo pode assumir diferentes categorias:

          · Paralelismo sintático: repetição do modelo de construção de uma frase em frases
             seguidas:

                    Ex.: «Ou é porque o sal não salga, ou porque a Terra se não deixa salgar.
                           Ou é porque o sal não salga, e os pregadores não pregam a
                           verdadeira doutrina (...). Ou é porque o sal não salga, e os 
                           pregadores dizem uma cousa (...).»

          · Paralelismo lexical: repetição da mesma palavra ou expressão em frases
             contíguas ou próximas:

                    Ex.: «Eu penso que a língua portuguesa em Timor-Leste é importante,
                           porque a língua portuguesa em Timor-Leste é uma língua oficial, e
                           e a língua portuguesa em Timor-leste não é nova mas é antiga
                           antiga quando os portugueseses descobriram Timor-Leste...».

          · Paralelismo fónico: repetição de sons com o objetivo de ecoar, ampliar ou
             repercutir o anteriormente dito:

                    Ex.: «Casei com o João por causa do pão. Comeram-me o pão, divorciei-
                           -me do João

          · Paralelismo semântico: repetição do mesmo conteúdo, ou semelhante, em duas
             ou mais frases:

                    Ex.: «Adoro fazer turismo: conhecer novos lugares e novas culturas, ouvir
                           línguas e sotaques diferentes, comer pratos típicos de diferentes
                           regiões...».

Coesão temporo-aspetual

     A coesão temporo-aspetual é conseguida através da compatibilização entre a sequencialização dos enunciados, de acordo com uma lógica temporal, e a informação aspetual, isto é, o ponto de vista do enunciador relativamente à situação expressa pelo verbo, apresentando o modo como decorre essa situação.

     Os mecanismos que asseguram este tipo de coesão são os seguintes:

           uso correlativo dos advérbios / expressões adverbiais de tempo e dos tempos
             verbais:

                    Ex.: Agora, vamos ler um extrato de Os Maias. Depois faremos um
                           exercício gramatical.
                           Amanhã é dia de folga. (* Amanhã foi dia de folga.)

          • utilização de grupos nominais e preposicionais com valor temporal:

                    Ex.: O bebé chorou toda a noite. Só adormecemos de madrugada.

           uso compatível dos valores aspetuais dos verbos  e do valor semântico dos
             conetores temporais utilizados:

                    Ex.: Enquanto jantou, a Lucília viu televisão.
                           * Enquanto saiu, a Lucília viu televisão.

           uso correlativo dos tempos verbais:

                    Ex.: Quando a Maria chegou, já a filha tinha saído.
                           * Quando a Maria chegou, já a filha sairá.
                           Assim que o Benfica marcou golo, brindámos com champanhe.
                           * Assim que o Benfica marcou golo, brindaremos com
                              champanhe. (esta frase é agramatical, visto que é impossível conciliar o futuro
                              com o ponto de partida - o pretérito perfeito.)

           ordenação sequencial dos eventos / das situações apresentados no texto:

                    Ex.: A Maria acabou o teste e entregou-o ao professor.
                           * A Maria entregou o teste ao professor e acabou-o.

Coesão interfrásica

     A coesão interfrásica designa os mecanismos de sequencialização que permitem a ligação / articulação das frases ou dos parágrafos entre si.

     Esses mecanismos são, genericamente, os marcadores discursivos, em que se incluem os conetores / articuladores do dircurso, com destaque para a coordenação e a subordinação:
  • Ex.: Queria ir-se embora, mas o polícia não lho permitia, por isso resolveu carregar no botão de emergência. De imediato, os travões fizeram-se ouvir.

     Por vezes, a ligação entre as frases faz-se sem a presença de marcadores discursivos, configurando uma elipse:
  • Ex.: Vítor Pereira tinha preparado a equipa para aquele jogo. Tudo se gorou. O árbitro fez vista grossa à grande penalidade e ao golo irregular do adversário. («Tudo se gorou.» = «Porém, tudo se gorou.»)

Coesão frásica

     O texto é uma unidade de comunicação / uma sequência de enunciados (oral ou escrita), de extensão variável - um texto pode ser constituído por um curto enunciado ou por uma variedade de enunciados -, com um princípio e um fim bem delimitados, produzida por um ou por vários autores, que deve obedecer, na sua construção, a um conjunto de regras que, articulando-se entre si, dão sentido ao discurso.

     A palavra texto deriva do latim textum (com origem no verbo texto - "entrelaçar", "construir", "compor"), que significa «tecido, entrelaçamento». Tendo presente esta origem etimológica, o texto resulta da ação de tecer, de entrelaçar unidades que formam um todo interrelacionado, com determinadas propriedades que lhe conferem um sentido, sendo o seu objetivo comunicar algo.

     A coesão frásica designa os mecanismos linguísticos que conferem unidade aos vários elementos que constituem a frase.
     Esses mecanismos são os seguintes:
  • ordem das palavras na frase (ordem direta: SUJEITO + VERBO + COMPLEMENTOS / MODIFICADORES):
  • Ex.: A Ana aborrece as pessoas.
  • concordância em género e número (entre o núcleo nominal e adjetivos, determinantes, quantificadores, modificadores):
  • Ex.: O João é um bom menino.
  • Ex.: A Joana e a Sofia são boas meninas. 
  • interligação entre o predicado verbal e o sujeito e seus complementos;
  • princípio da regência verbal:
  • Ex.: A mulher de quem eu gosto chama-se Maria. (o verbo «gostar» rege a preposição «de»).

H. II. 2. Coesão e coerência textuais

1. Coesão textual:
2. Coerência:
  • Coerência lógico-concetual;
  • Coerência pragmático-funcional;
  • Isotopia;
  • Configuração do texto.

sábado, 18 de fevereiro de 2012

Vida de Eça de Queirós

Obras

  • O Mistério da Estrada de Sintra (1870) - em colaboração com Ramalho Ortigão.
  • As Farpas (1871).
  • Singularidades de uma Rapariga Loira - conto (1874).
  • O Crime do Padre Amaro (1876) - 2.ª versão.
  • O Primo Basílio (1878).
  • O Crime do Padre Amaro (1880) - 3.ª versão.
  • O Mandarim (1880).
  • A Relíquia (1887).
  • Os Maias (1888) - 2 volumes.
  • Uma Campanha Alegre - de As Farpas (1890-1891) - 2 volumes.
  • As Minas de Salomão (tradução), de Rider Haggard (1891).

Obras póstumas:
  • A Correspondência de Fradique Mendes (1900).
  • A Ilustre Casa de Ramires (1900).
  • A Cidade e as Serras (1901).
  • Contos (1902).
  • Prosas Bárbaras (1903).
  • A Capital (1926).
  • Cartas de Eça de Queirós (1949).
  • A Tragédia da Rua das Flores (1983).


Bibliografia:

domingo, 12 de fevereiro de 2012

Whitney Houston: "One Moment in Time"


1963 - 2012

Mais uma que a morte reclamou ao mundo da droga. Teve tudo, menos o essencial: cabeça.

sábado, 11 de fevereiro de 2012

As figuras da Geração de 70

Antero de Quental
(1842 - 1890)
     É considerado o líder da Geração de 70 e protagonista central da Questão Coimbrã. Foi também o responsável por ter conferido ao grupo a dimensão interventiva e reformista que culminou nas Conferências Democráticas do Casino. É um dos maiores portugueses do século XIX.

Eça de Queirós
(1845 - 1900)
     É o maior escritor da Geração de 70. Conheceu Antero de Quental quando ambos estudavam na Universidade de Coimbra e com ele fez parte do grupo do Cenáculo. A sua ação em defesa do Realismo (é de sua autoria a 4.ª Conferência do Casino, uma espécie de teorização do movimento realista) foi um dos traços marcantes da Geração.

Teófilo Braga
(1843 - 1924)
     Além da sua atividade enquanto escritor (publicou Contos Tradicionais do Povo Português, História da Poesia Popular Portuguesa e O Povo Português nos seus Costumes, Crenças e Tradições), desenvolveu uma ação social e política que culminou com o exercício da função de Presidente da república nos anos de 1910 e 1915.

Ramalho Ortigão
(1836 - 1915)
     Inicialmente, no conflito que opôs Antero, enquanto líder da Geração de 70, a António Feliciano de Castilho, figura central do grupo ultrarromântico - conflito conhecido por Questão Coimbrã -, posicionou-se contra o poeta açoriano. No entanto, acabou por se tornar um dos mais activos membros da Geração de 70. Crítico sarcástico, publicou a obra As Farpas, inicialmente em conjunto com Eça de Queirós, e interessou-se pela defesa do património.

Guerra Junqueiro
(1850 - 1923)
     Poeta e deputado progressista, relacionou-se com o grupo do Cenáculo e, mais tarde, fez parte dos Vencidos da Vida. Defensor intransigente da causa republicana, foi ministro após o derrube da Monarquia e a implantação da República.

Oliveira Martins
1845 - 1894)
     Foi deputado, ministro, economista, jornalista e historiador. Escreveu a História de Portugal, Portugal Contemporâneo e Portugal nos Mares.

quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012

Realismo e Naturalismo (1865-1890)

11. Origem do vocábulo Realismo

• O vocábulo realismo é constituído pelos vocábulos real (do latim “res”, que significava «facto», «coisa») e ismo, que significava «partido», «escola», «doutrina».


2. Definição de Realismo

O Realismo é um movimento artístico que surge, em Portugal, em meados do século XIX, contestando o idealismo romântico.


3. Origem do movimento realista

França: o termo realismo (de origem francesa) foi usado pela primeira vez pelo pintor Gustave Coubert, em 1855, ao intitular a sua exposição de arte, realizada em Paris, como Le Réalisme. Por outro lado, a primeira obra realista foi Madame Bovary, publicada em 1857, da autoria de Gustave Flaubert.
• Em Portugal, é comum considerar que o Realismo nasceu com a Questão Coimbrã, em 1865.


4. Definição de Naturalismo

• O Naturalismo é um movimento estético-literário com origem na doutrina positivista, estreitamento ligado ao Realismo e às transformações sociais, científicas, filosóficas e éticas, ocorridas no século XIX, tendo-se manifestado nas artes e na literatura.


5. Origem do Naturalismo

• Dentro do Realismo surgiu uma corrente literária motivada pela intensificação das suas características: o Naturalismo.
• A primeira obra naturalista é Thérèse Raquin, datada de 1867 e da autoria de Émile Zola.


6. O Realismo na Europa

O Realismo é um movimento literário que surgiu na Europa, na segunda metade do século XIX, influenciado pelas transformações que ali se operavam no âmbito económico, político, social e científico, em oposição ao Romantismo e aos excessos de lirismo e de imaginação.
As duas causas determinantes para a transição do Romantismo para o Realismo foram o desgaste de temas e de formas românticas e o desenvolvimento de novas correntes científicas e filosóficas na Europa.
Economicamente, vivia-se a segunda fase da Revolução Industrial, período marcado pelo clima de euforia e progresso material que a burguesia industrial experimentava em virtude das inúmeras invenções possibilitadas pelas descobertas científicas e tecnológicas. No entanto, apesar dos benefícios trazidos à burguesia, a condição social do proletariado era cada vez pior. Motivados tanto pelas ideias do socialismo utópico, principalmente as de Proudhon e Robert Owen, quanto pelas ideias do socialismo científico, defendidas por Karl Marx e Friedrich Engels, os operários procuram organizar-se politicamente. Fundam então associações trabalhistas e passam a exigir melhores condições de trabalho e de vida.
No âmbito científico e cultural, ocorre uma verdadeira efervescência de ideias, dentre as quais, surgidas como consequência do aparecimento de várias correntes científicas e filosóficas, têm destaque:
▪ o Positivismo, de Augusto Comte, para o qual o único conhecimento válido é o conhecimento positivo, ou seja, provindo das ciências;
▪ o Determinismo, de Taine, que defende que o comportamento humano é determinado por três fatores: o meio, a raça e o momento histórico;
▪ a lei da seleção natural, de Charles Darwin, segundo a qual a natureza ou o meio selecionam, entre os seres vivos, as variações que estão destinadas a sobreviver e a perpetuar-se, sendo eliminados os mais fracos.
Enquanto nos domínios da Física, da Química, da Biologia e da Medicina ocorrem avanços significativos, são lançados os fundamentos de três novas disciplinas: a Sociologia, a Antropologia e a Psicologia.
▪ Mediante este quadro de ideias, os escritores sentem a necessidade de criar uma literatura sintonizada com a nova realidade, capaz de abordá-la de modo mais objetivo e realista do que até então vinha fazendo o Romantismo. As descobertas científicas, as ideias de reformas políticas e de revolução social exigiam dos escritores, por um lado, uma literatura de ação, comprometida com a crítica e a reforma da sociedade, e de outro, uma abordagem mais profunda e completa do ser humano, visto agora à luz dos conhecimentos das correntes científico-filosóficas da época. Aparece então o Realismo, cujas principais ações são o combate a toda a forma romântica e idealizada de ver a realidade; a crítica à sociedade burguesa e à falsidade dos seus valores e instituições (Estado, Igreja, casamento, família); o embasamento no materialismo, o emprego de ideias científicas; a introspeção psicológica das personagens; as descrições objetivas e minuciosas; a lentidão do ritmo narrativo ...).
▪ Os três movimentos (Realismo, Naturalismo e Parnasianismo) surgiram na França, com a publicação do romance realista Madame Bovary (1857), de Flaubert; do romance naturalista Thérèse Raquin (1867), de Zola, e das antologias parnasianas Parnasse Contemporain (a partir de 1866). Note-se que, também em 1867, Zola publicou a obra O romance experimental, encarada como um manifesto do movimento naturalista.


7. O Realismo em Portugal

▪ A Questão Coimbrã (1865) é apontada como o marco introdutório do Realismo em Portugal. Nessa época haviam cessado finalmente as lutas entre liberais e as fações que representavam a velha monarquia deposta pela revolução de 1820. Consolidado o liberalismo, Portugal conheceu, a partir de 1850, um período de estabilidade política, de progresso material e de intercâmbio com o resto da Europa. Coimbra, importante centro cultural e universitário da época, ligava-se em 1864 diretamente à comunidade europeia por meio do caminho de ferro. Contudo, do ponto de vista literário, predominavam ainda velhas ideias românticas.
▪ O primeiro romance realista português é O Crime do Padre Amaro, de Eça de Queirós, cuja primeira versão (de três) foi publicada em 1875.
▪ Em França, ao lado do realismo surgem também as correntes literária denominadas Naturalismo e Parnasianismo, de pequena penetração em Portugal. A primeira procura provar, através do romance de tese, as teorias científicas da época, particularmente o determinismo. O Parnasianismo, por sua vez, é uma corrente que combate os exageros de sentimento e de imaginação do Romantismo e tenta resgatar certos princípios clássicos de procedimento, como a busca do equilíbrio, da perfeição formal e o emprego da razão e da objetividade.


8. Características do Realismo

1.ª) O Realismo é uma reação contra o Romantismo, contra os excessos, contra o idealismo artificial e formalista e as atitudes emocionais enfáticas e hiperbólicas dos românticos, defendendo a análise, síntese e exposição da realidade com verdade e neutralidade do coração. Perante o bem e o mal, o vício e a virtude, o belo e o feio, o escritor realista não deixará transparecer qualquer emoção. É uma literatura anti-idealista e que combate a evasão romântica, interessando-se pela realidade circundante, pela análise social e pelo contemporâneo. Ao sentimento exacerbado opõe a análise do caráter humano.
2.ª) O Realismo é a negação da "arte pela arte".
3.ª) A obra de arte é vista como uma verdadeira tese com intenção científica.
4.ª) É uma literatura engagé, isto é, comprometida ou empenhada, humana e/ou socialmente. A arte realista mantém um compromisso com a sua época e com a observação do mundo objetivo e exato. Como proclamará Antero nas Odes Modernas, “A Poesia é a voz da Revolução”.
5.ª) Recurso à reflexão e análise: o Realismo visa uma análise corajosa, mas exata, da vida, do mundo e dos seus vícios. Os realistas desnudam e atacam a imoralidade, os vícios, os maus costumes, os aspetos baixos da vida/sociedade contemporâneas.
6.ª) Preconiza uma atitude descritiva e crítica em relação à sociedade.
7.ª) Defende a observação e análise de tipos humanos e costumes sociais, tentando representar objetivamente a realidade.
8.ª) Observação do pormenor: na representação da ação, quase sempre de implicações sociais, os espaços e as personagens são descritos de forma pormenorizada, pois isso permite uma reflexão crítica sobre o ser humano e os seus problemas concretos.
9.ª) Dá preferência ao presente contemporâneo do escritor. Assim, a crítica social ficaria mais próxima e mais concreta. Nesse sentido, a literatura ganha um papel de denúncia do que de mau existe na sociedade.
10.ª) Reflete ideais republicanos e socialistas e marcas da ideologia materialista e do reformismo liberal.
11.ª) Os temas mais cultivados pelos escritores realistas são temas cosmopolitas e de incidência coletiva:
▪ a representação da vida burguesa, naquilo que ela possa ter de mais desagradável ou negativo, em certos aspetos da sua existência económica (a usura, a ambição, a avareza, a cobiça, a corrupção, etc.);
▪ a representação da vida urbana, porque é nos grandes meios sociais, nas cidades, que as tensões sociais, políticas e económicas, resultantes ainda dum comportamento condenável da burguesia, mais se agudizam;
▪ a análise das relações e dos conflitos sociais, resultantes de grandes desníveis entre classes;
▪ a representação do sofrimento social e moral, da frustração, da opressão, da corrupção e do vício, em consequência de erros e injustiças sociais, económicas ou políticas;
▪ o adultério, a frivolidade;
▪ a educação, o jornalismo, a política, o parlamentarismo.
12.ª) A forma literária privilegiada pelo Realismo é o romance.
13.ª) A narração articula-se com a descrição, intercalando a representação de uma ação com a descrição de espaços sociais (Os Maias).
14.ª) O Realismo procura a objetividade, a análise impessoal e minuciosa/pormenorizada da realidade, que critica. É o gosto pelo real.
15.ª) Procura o retrato fidelíssimo da Natureza.
16.ª) Faz uso da personagem-tipo, que permite a reflexão crítica sobre o Homem e os seus problemas.
17.ª) Preconiza uma nova moral social: crítica de costumes, de temperamento, de ações.
18.ª) Visa a regeneração de costumes.
19.ª) A construção da personagem está em conexão com o mundo profissional, cultural, económico, social e psicológico.


9. Características do Naturalismo

1.ª) A literatura naturalista é a expressão dos progressos da ciência (Fisiologia, Sociologia, estudo dos caracteres, da evolução, da influência do meio, etc.). O Naturalismo deve usar o método fisiológico, ou seja, deve descrever as emoções através das suas manifestações físicas, com base no estudo das fisiologias.
2.ª) O romance naturalista inspira-se na vida quotidiana, comum, procurando a análise rigorosa do meio social e de aspetos patológicos.
3.ª) É uma corrente influenciada pela ciência e pela filosofia do século XIX, nomeadamente pelo Determinismo (o Homem está preso a um destino que ele não consegue mudar) e pelo Positivismo de Comte.
4.ª) Traz a ciência para a obra de arte; tenta aplicar à literatura as descobertas e métodos da ciência da época. A obra literária surge como a ilustração das teses científicas.
5.ª) Os temas fundamentais do romance naturalista ("experimental") são:
▪ a opressão social e a miséria, como resultado de conflitos de interesses, denunciando as suas causas económicas, políticas e sociais;
▪ o adultério, como denúncia de determinado modo de vida resultante duma errada educação romântica;
▪ o alcoolismo, como deformação social e dos caracteres;
▪ o jogo, encarado como consequência de determinadas situações de injustiça;
▪ a doença (por exemplo, a loucura), enquanto manifestação de taras hereditárias.
6.ª) Procura explicar cientificamente o comportamento do homem com base em três fatores: a hereditariedade, o meio ambiente e a educação/momento histórico. Os fenómenos humanos são consequências inevitáveis destas determinações.
7.ª) A forma literária adotada foi o chamado "romance experimental" (seguido do conto), resultante da aplicação dos princípios da observação e da experimentação, adotados inicialmente na investigação científica.
8.ª) Procura a análise das circunstâncias sociais que envolvem as personagens. Através da análise experimental (do meio social), explica a decadência da sociedade.
9.ª) Manifesta preocupações socioculturais e objetiva a crítica dos costumes, como o Realismo.
10.ª) Usa a indução e os métodos experimentais; descreve, por exemplo, as emoções, justificando as manifestações físicas pelos estudos fisiológicos e de caracteres. Procura a anatomia do carácter.
11.ª) Dá relevo à importância das leis da Natureza.
12.ª) A arte deve representar objetivamente a realidade.


10. Semelhanças entre Realismo e Naturalismo

1.ª) A Arte é a representação mimética objetiva da realidade exterior (em contraste com a transfiguração imaginativa, impregnada de subjetivismo, praticada pelos românticos).
2.ª) A objetividade dos temas.
3.ª) A técnica impessoal de narrar.
4.ª) Servem-se dos mesmos preceitos científicos.


11. Diferenças

1.ª) O Naturalismo procura aplicar à obra literária as descobertas e métodos das ciências experimentais do século XIX (Biologia, Positivismo, Psicopatologia). Assim, transporta a ciência para a obra literária, fazendo desta um meio de demonstração de teses científicas, especialmente de psicopatologia. O Homem era um simples produto biológico cujo comportamento resultava da pressão do ambiente social e da hereditariedade psicofisiológica. O Realismo ignora a Patologia ou qualquer outra ciência como meio de explicar e ilustrar a obra de arte.
2.ª) O Naturalismo implica uma posição combativa, de análise dos problemas que a decadência social evidenciava, fazendo da obra de arte uma verdadeira tese com intenção científica. O Realismo limita-se a "fotografar" com certa isenção a realidade circundante, sem trazer a ciência para a obra de arte.
3.ª) O Realismo procura retratar o Homem interagindo no seu meio social; o Naturalismo pretende mostrá-lo como produto de um conjunto de forças “naturais”, instintivas, que, em determinado meio, raça e momento, pode gerar comportamento e situações específicas.
4.ª) No romance experimental naturalista, o indivíduo é mero produto da hereditariedade. Ao lado desta, o ambiente em que vive, e sobre o qual também age, determina o seu comportamento pessoal. Assim, predomina o elemento fisiológico, natural, instintivo: erotismo, agressividade e violência são os componentes.

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