Português

sexta-feira, 27 de outubro de 2023

Personagens de "A Aia": papel e composição



1. Papel ou relevo

Protagonista ou personagem principal: a aia, que dá o título ao conto.

Secundárias: o rei, a rainha, o tio bastardo, o principezinho, o escravozinho.

Figurantes: as restantes personagens (a horda do tio, o capitão da guarda, o servo, as demais aias, os vassalos, os archeiros, a multidão, o mensageiro, o velho de casta nobre).

 
 
2. Composição

Personagem modelada: a aia, dado que mostra complexidade psicológica e moral.

Personagens planas: as demais personagens.

quinta-feira, 26 de outubro de 2023

Delimitação da ação de "A Aia"

    A ação deste conto é fechada, visto que a história conhece um desfecho: o suicídio da aia, a personagem principal.

Sequências narrativas de "A Aia"


 
1. Sequências narrativas
 

Situação inicial) Apresentação das personagens – o rei jovem que foi para a guerra e a rainha sozinha com o filho bebé (1.º parágrafo).

1.ª) Morte do rei e reação da rainha ao tomar conhecimento da sua morte (2.º e 3.º parágrafos).

2.ª) Apresentação do bastardo e da aia, cuidadora dos dois bebés, e da sua preocupação com a vida do príncipe (4.º a 7.º parágrafos).

3.ª) Preparativos para defender o palácio do ataque do «bastardo» (8.º parágrafo).

4.ª) Troca dos bebés de berço pela aia, para salvar o príncipe (9.º parágrafo).

5.ª) Rapto do bebé do berço onde dormia (10.º parágrafo).

6.ª) Descoberta da troca de bebés (o príncipe fica a salvo no berço de verga e a aia mostra-o à rainha, que julgara que o filho morrera) (11.º e 12.º parágrafos).

7.ª) Morte do «bastardo» e do escravozinho; aclamação da aia por ter salvado o príncipe (13.º e 14.º parágrafos).

8.ª) Ida ao tesouro real para a aia escolher a sua recompensa (15.º e 16.º parágrafos).

Desenlace: suicídio da aia – escolhe um punhal e crava-a no peito.

 
 
2. Articulação das sequências narrativas

 
    As sequências narrativas do conto articulam-se por encadeamento, dado que os acontecimentos se sucedem por ordem cronológica.

terça-feira, 24 de outubro de 2023

Análise do poema "Em Horas inda Louras, Lindas", de Fernando Pessoa

    Este poema é constituído por três sextilhas (isto é, três estrofes constituídas por seis versos), com rima cruzada, de acordo com o esquema ABABAB, ritmo regular e versos decassílabos.
    O tema do texto é a nostalgia da infância. Por outro lado, a composição poética constitui um exemplo da vertente simbolista da obra de Fernando Pessoa, como se pode verificar pelo recurso a imagens sensoriais, diversas sonoridades, aliterações e assonâncias, bem como de sugestões de significados ocultos.
    A infância que o sujeito poético recorda é representada pelas figuras femininas de Clorindas e Belindas, que brincam no...

 

 Continuação da análise aqui → Análise do poema "Em Horas inda Louras, Lindas".

segunda-feira, 23 de outubro de 2023

São José dando à luz


Alexandre Ballaman

Estrutura do conto "A Aia"

  
Situação inicial (1.º parágrafo):

Apresentação do rei e do reino.

Partida do... 


Análise da estrutura interna do conto → link.

Explicação do título "A Aia"

    O título do conto “A Aia” indica a personagem principal do texto. Por outro lado, o uso do determinante artigo definido «A» indicia...


Análise do título → explicação do título.

Resumo do conto "A Aia"


    Um rei jovem e valente tinha partido para batalhar em terras distantes em busca de conquistas e fama, deixando só e triste a rainha e um filho pequeno, ainda de berço. Numa das batalhas, o rei perdeu a vida e foi chorado pela esposa, sobretudo por deixar órfão o pequeno filho frágil e desamparado, herdeiro do trono.
    Sendo o herdeiro natural do trono, o bebé estava sujeito aos ataques dos inimigos do reino, nomeadamente do seu tio, irmão bastardo do falecido rei, que vivia num castelo sobre os montes, com uma horda de rebeldes.
    O pequeno príncipe era amamentado pela aia da rainha, mãe também de um bebé de berço, que alimentava e tratava as duas crianças com igual carinho, dado que um era seu filho e outro seria, futuramente, seu rei, demonstrando grande lealdade sem limites ao seu príncipe e verdadeiro amor maternal pela sua cria. A sua lealdade e dedicação eram tais que a aia também chorou copiosamente a perda do rei, no entanto acreditava na vida para além da morte, por isso julgava-o reinando num outro reino no Céu. Os meninos dormiam lado a lado no mesmo quarto, todavia, enquanto o filho da aia dormia num berço de verga, o príncipe dormia num berço de marfim.
    Como seria expectável, o tio bastardo desceu da serra com a sua horda e deu início a uma matança sem tréguas, não encontrando grande resistência. De facto, a defesa estava bastante fragilizada, pois a rainha não sabia como a promover, limitando-se a recear e a chorar a sua fraqueza de viúva sobre o berço do filho.
    Uma noite, quando estava prestes a adormecer, a aia ouviu um ruído de luta e pressentiu que o tio bastardo estava a invadir o palácio para matar o pequeno príncipe. Apercebendo-se do que se iria passar, sem hesitar, a serva trocou as crianças nos respetivos berços. Assim, salvaria a vida do futuro rei à custa do seu próprio filho. Nesse instante, um homem enorme entrou na câmara, arrancou a criança que dormia no berço de marfim e partiu, levando-a.
    A rainha, que entretanto chegara à câmara, ficou desesperada, enlouquecida, ao ver as roupas desmanchadas e o berço vazio. A aia mostrou-lhe, então, o berço de verga e o jovem príncipe que nele dormia. Entretanto, o capitão dos guardas veio dar notícia de que o tio bastardo tinha sido derrotado, mas infelizmente o príncipe também tinha perecido. A rainha mostrou, então, o futuro rei salvo e, depois de identificar a sua salvadora, abraçou-a e beijou-a, chamando-lhe irmã do seu coração.
    Todos a aclamaram e exigiram que fosse recompensada, por isso a rainha levou-a ao tesouro real, composto pelas mais variadas riquezas, para que a serva pudesse escolher a joia que mais lhe agradasse. A ama pegou num punham e, olhando o céu onde acreditava estar o seu filho, cravou-o no seu coração, afirmando que, agora que havia salvado o seu príncipe, tinha de ir amamentar o seu filho. Deste modo, pôs fim à sua dor de mãe, por fidelidade ao seu príncipe, e seria de novo feliz, no Além.


Ligações:

    . Título.

    . Estrutura da ação.

    . Delimitação da ação.

   

sábado, 21 de outubro de 2023

Apresentação do poema "O Sentimento dum Ocidental"

 
Objetivo da escrita do poema: homenagear e Camões a propósito da celebração do tricentenário do seu falecimento.
 
Contexto / Motivação para a escrita do poema: necessidade de denunciar a decadência histórica vivida por Portugal e pelos portugueses – “À exaltação formal a que oficialmente se aderiu [em resultado das celebrações em torno do tricentenário do falecimento de Camões], Cesário Verde contrapõe a denúncia da triste realidade em que o país se encontrava.” (Lino Silva, in Encontro Leituras em Português).
 
Data de publicação: 10 de junho de 1880.
 
Atitude do poeta: demarcação do ambiente festivo e do tom elogioso dominantes apresentação de uma visão de um Portugal decadente e em crise.
 
Em 1887, um ano após a morte do poeta, os seus poemas são publicados sob o título O Livro de Cesário Verde, por ação do seu amigo Silva Pinto, no entanto Cesário teria em mente o título Cânticos do Realismo, cuja primeira menção surgiu em 1873, que foi efetivamente adotado a partir de 2006 para designar a sua obra na edição de Teresa Sobral Cunha. Assim, adota-se como título para o livro do poeta Cânticos do Realismo e O Livro de Cesário Verde o seu subtítulo.
 
Os poemas que Cesário Verde foi publicado ao longo da sua curta vida foram sendo publicados em jornais e revistas de Lisboa e do Porto, mas não em livro. Foi apenas após a sua morte que, em 1887, Silva Pinto, amigo do poeta e crítico literário, reuniu em volume os poemas publicados de forma dispersa e os que estavam inéditos.
 
O meio literário português, nomeadamente a lisboeta, não compreende o alcance e a novidade da poesia de Cesário Verde, o que se traduz também no facto de vários jornais e revistas recusarem publicar poemas seus.
 
O poema “O Sentimento dum Ocidental” foi publicado pela primeira vez em 1880, no suplemento “Portugal a Camões” do jornal do Porto Jornal de Viagens, por ocasião das celebrações em torno de Camões, tendo sido recebido com enorme silêncio.
 
O último poema de Cesário Verde foi publicado em 1884 e intitula-se “Nós”, refletindo os sinais do agravamento do seu estado de saúde.
 
Inicia ainda a escrita do poema “Provincianas”, que deixa, porém, incompleto. O poema procurava evocar o poeta épico através da expressão das mudanças ocorridas na cidade de Lisboa, desde a época do vate português. Como já foi referido, Cesário demarcou-se do ambiente festivo e do tom elogioso dominantes e apresentou a visão de um Portugal em crise, que contrasta com a imagem gloriosa e grandiosa presente na epopeia camoniana.
 

quarta-feira, 18 de outubro de 2023

Presente de Natal


Marian Kamensky

Fases poéticas de Cesário Verde


 
1.ª fase (1873 - 74): a "Crise Romanesca" ‑ o idealismo romântico temperado pelas tendências literárias e estéticas da época.

    Nesta fase, verifica-se a idealização romântica da mulher, que o poeta coloca num plano superior, como objeto de adoração, inacessível ao sujeito, que se limita a formular vagos desejos impossíveis (ex.: Responso). Estão presentes elementos como os cabelos louros, o luto, a tristeza, um grande sofrimento, o ambiente macabro do cemitério, o noturno, os castelos, os palácios e mosteiros silenciosos e abandonados, as «florestas tenebrosas», as «Velhas almas» errantes, o «locus horrendus» romântico em que se projeta um estado de alma, recordando alguns sonetos de Bocage.
    Noutros poemas (Esplêndida, Deslumbramentos), Cesário descreve a mulher fatal, artificial, citadina, que humilha, esmaga e fascina o sujeito poético, transportando consigo a artificialidade e a violência da vida da cidade, que pode levar à alienação e à perda da identidade do cidadão. A mulher é portadora da morte, não uma morte ambicionada, antes receada. A mulher é uma «vamp», produto do luxo, da moda, da despesa inútil e ostentatória. Ela é o agressor e dominador que é necessário vencer.


 
2.ª fase (1875 - 76): "Naturais" ‑ o antirromantismo e o naturalismo.

    Nesta fase, no poema Humilhações, surge o contraste entre o sujeito, «ignorado e só», e a mulher superior, distante e altiva que o atrai, sendo a distância entre homem e mulher sobretudo económica e social. Ela é uma burguesa rica que o atrai e fascina e ele é de baixa condição social; entre os dois instala-se, portanto, uma relação de opressão/humilhação, que impede qualquer hipótese de aproximação. Resta ao sujeito lírico a vingança, concretizada com o recurso ao retrato da velhinha «suja», «fanhosa, infecta, rota, má», que o poeta contrapõe como sucedâneo irreversível da mulher altiva e opressora.
    Cesário, por outro lado, em Contrariedades, critica a sociedade alienada e desumana através da denúncia de atitudes que ferem a sensibilidade do eu: o abandono a que são votados os doentes (ex.: a engomadeira tuberculosa) e os poetas (ex.: os jornais recusaram publicar os seus versos).

 
 
3.ª fase (1877 - 86): a maturidade ‑ "O real e a análise"  -  o campo e a cidade.

    Em Num Bairro Moderno, Cristalizações e O Sentimento dum Ocidental, Cesário é o pintor de Lisboa, que nos descreve quadros e tipos citadinos, sem deixar de exprimir as atitudes subjetivas provocadas pela vida exterior.
    O poeta é um burguês que se move na cidade e tudo encontra «alegremente exato», até que a tomada de consciência da dureza da vida dos trabalhadores o surpreende e fere, facto que o leva a denunciar a injustiça de que são vítimas.
    Nesta fase, desenvolve Cesário a dicotomia campo/cidade, sucedendo frequentemente a invasão simbólica da cidade pelo campo (ex.: a vendedeira). A cidade é simbolizada, por exemplo, pela atriz, pelos significados de luxo, artificialismo, teatralidade, mundanismo.
    Em O Sentimento dum Ocidental, nota-se uma revolta do sujeito perante as desigualdades sociais da sua época e um desencanto para com a cidade (vista como prisão, de que o sujeito procura fugir), onde há dor em busca de «amplos horizontes» ‑ o campo, espaço de liberdade.
    No poema Nós, Cesário retoma o elogio da vida campestre; a cidade surge identificada como «lívido flagelo, a moléstia horrenda», e oposta à salubridade do campo, à salvação da família. É provável que esta repulsa pela cidade e o entusiasmo pelo campo resultem da doença que desde cedo apoquentou Cesário, e da esperança de encontrar alívio na vida rústica, natural.


 
  
    Já segundo Joel Serrão, a produção poética de Cesário distribui-se por quatro fases:

 
1.ª fase (1873-74) – A Crise Romanesca: o idealismo romântico temperado pela ironia: o campo como “metáfora antinómica” da cidade.

 
    É a fase de iniciação literária de Cesário, caracterizada pela influência de João Penha, sendo marcado por um idealismo romântico (temas do amor e da mulher) que é atenuado pela ironia dos versos finais, e pelo rigor formal do Parnasianismo. São exemplos desta fase os poemas “A Forca” (1873), “Num tripudio de corte rigoroso” (1873), “Ó áridas Messalinas” (1873), “Cinismos” (1874), “Responso” (1874), “Esplêndida” (1874), “Setentrional” (1874), “Arrojos” (1874), “Vaidosa” (1874).

 
 
2.ª fase (1875-76) – O Naturalismo e a influência de Baudelaire.

 
    Cesário é agora influenciado pelo poeta francês Baudelaire, mostrando-se interessado pelo quotidiano citadino (os contrastes desse quotidiano são o seu alvo preferencial), do qual nos oferece belos quadros, bem ao jeito impressionista, repletos de plasticidade.
    Vários são os poemas em que isto sucede: “Deslumbramentos” (1875), “Frígida” (1875),”A Débil” (1875), “Contrariedades” (1876), “Humilhações” (1876).

 
 
3.ª fase (1877-80) – A maturidade poética – “o real e a análise”: o aprofundamento da oposição cidade/campo, sendo este ainda um “contraste idealizado” daquela.

 
    Esta é, provavelmente, a fase mais importante da sua produção poética, contemplando um conjunto de poemas que constituem uma busca febril das cores, das luzes, das sombras, dos ruídos, dos odores, das dores e dos fantasmas que pulsam na cidade de Lisboa.
    Exemplificam esta fase poemas como “Num Bairro Moderno” (1877), “Cristalizações” (1878), “Em Petiz” (1878), “O Sentimento dum Ocidental” (1889).

 
 
4.ª fase (1881-86) – O pictórico e a visão impressionista da realidade. A amplificação do contraste cidade/campo, tornando-se este uma alternativa àquela.

 
    A vida citadina aborrece-o e provoca-lhe mal-estar e o campo (o gosto das “coisas primitivas, sinceras, e a (…) boa paz regular”) substitui a cidade. A sua condição de agricultor proporciona-lhe não só a descoberta de novos temas e motivos de uma visão impressionista da realidade, mas também a evasão possível da cidade turbulenta. Ao “desejo de sofrer” e ao clima sombrio de “O Sentimento dum Ocidental” sucedem a claridade fecunda, o vigor, e a pureza dos ares do campo, que parecem antecipar uma ânsia de preservar a débil saúde do poeta.
    Exemplos deste derradeiro período são os textos “De Tarde” (?), “De Verão” (?), “Nós” (1884), “Provincianas” (derradeiro poema, incompleto).

segunda-feira, 9 de outubro de 2023

Análise do poema "Magro, de olhos azuis, carão moreno"


 Tema: autorretrato do sujeito poético.

 
 
 Assunto: descrição física e psicológica que o sujeito lírico faz de si próprio.

 
 
 Estrutura interna

 

 1.ª parte (2 quadras + 1.º terceto) – Autorretrato:


        Continuação da análise aqui 👉 "Magro, de olhos azuis, carão moreno".

Pai Natal patriot


Jürgén Tomicék

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